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MACROECONOMIA AMBIENTAL, INVESTIMENTO E MEIO AMBIENTE: INTERFACES COM MITIGAÇÃO E ADAPTAÇÃO ÀS MUDANÇAS CLIMÁTICAS

1.5 INVESTIMENTO E MUDANÇA CLIMÁTICA – ESTADO DA ARTE

1.5.1 Investimentos realizados e necessários no futuro

Os resultados de uma análise de estimativas de investimento realizada pelo IPCC (2014b) mostram que a política climática deve induzir uma grande realocação de investimentos no setor de energia. Os investimentos em usinas movidas a combustíveis fósseis (sem CCS22) foram iguais a cerca de US$137 bilhões por ano em 2010. O investimento cairia para 30 bilhões de dólares por ano (cerca de -20% para a mediana), durante o período de 2010-2029, em comparação com os cenários de referência. O investimento em tecnologias com baixa emissão (renovável, nuclear, e geração de eletricidade com CCS) aumentaria em US$ 147 bilhões por ano (cerca de 100% para a mediana) durante o mesmo período (IPCC, 2014b).

Enquanto é estimada uma redução de cerca de US$ 30 bilhões por ano em 2010-2029 no investimento anual em usinas movidas a combustíveis fósseis convencionais, sem CCS, o investimento anual em tecnologias de produção de baixa emissão deverá aumentar cerca de

22 Carbon Capture and Storage (CCS) é uma tecnologia capaz de capturar até 90% das emissões de dióxido de

carbono decorrentes da queima de combustíveis fósseis nos processos industriais ou na geração de eletricidade. O CCS consiste em três partes principais: captura, transporte e armazenamento.

US$ 147 bilhões por ano (ou seja, em 100% em relação a 2010), durante o mesmo período (IPCC, 2014b).

Enquanto os modelos tendem a concordar sobre a importância relativa dos investimentos em combustíveis fósseis e geração de energia não fóssil, eles diferem no que diz respeito à combinação de tecnologias de geração de energia de baixa emissão e investimento gradual em geral. Isto é principalmente devido a diferentes cenários de referência (por exemplo, população, crescimento econômico, o progresso tecnológico exógeno) e suposições sobre (1) a estrutura do sistema de energia e os custos de redução da intensidade energética da economia versus reduzir a intensidade de energia de carbono, (2) os custos de investimento de tecnologias alternativas ao longo do tempo, e (3) restrições tecnológicas ou políticas sobre as tecnologias. Limites para a implantação de algumas opções tecnológicas fundamentais ou a presença de restrições políticas (por exemplo, ação retardada, a participação geográfica limitada) aumentaria as necessidades de investimento (RIAHI et al, 2012; MCCOLLUM et al, 2013).

O aumento do apoio financeiro será necessário por parte dos países desenvolvidos para a mitigação e adaptação nos países em desenvolvimento para estimular o aumento do investimento. Este financiamento virá de uma ampla variedade de fontes, públicas e privadas, bilaterais e multilaterais, incluindo fontes alternativas de financiamento (UNFCCC, 2008; 2009). Quanto aos fundos para adaptação, chegaram a cerca de € 10 bilhões em 2014, com menos de € 2 bilhões em doações segundo OCDE (2015). Em contrapartida, os fundos atribuídos à mitigação das alterações climáticas nos países em desenvolvimento são quatro vezes maior. A OCDE e a UNEP antecipam uma lacuna de financiamento de adaptação climática, apesar da diversidade de fundos globais existentes para financiar a adaptação nos países em desenvolvimento: o recém-criado Fundo Verde para o Clima deve, em teoria, dedicar metade de seus recursos para a adaptação, mas apenas 20% do €4,3 bilhões prometidos atualmente apoiam programas de adaptação. Outros fundos internacionais são especificamente dirigidos para a adaptação, como o Programa Piloto do Banco Mundial para a Resiliência do Clima (PIKETTY; CHANCEL, 2015).

De acordo com estimativas, a repartição regional dos fundos de adaptação ao clima por contribuintes globais é distribuída da seguinte forma: a União Europeia fornece mais de 61% dos fundos, os EUA 25%, outros países ricos que compõem 13% do esforço e 0,8% de países em desenvolvimento. Esses dados são imperfeitos devido à dificuldade de medir tais fluxos financeiros, mas continua a ser uma referência útil (PIKETTY; CHANCEL, 2015).

Enquanto a orientação do governo é essencial, o financiamento necessário para investir na nova economia verde deve ser realizado pelo setor privado ao invés de baseado nos impostos

das finanças públicas. A OCDE estima que a escala dos investimentos necessários nas energias renováveis, na década 2010-2020 está em torno de US$ 6,3 trilhões (isto é, bem além de qualquer valor previsto pelos fundos públicos), enquanto o tamanho do potencial de investimento é estimado em US$ 71,1 trilhões em 2010, e crescendo rapidamente, originários de fundos de investimento, companhias de seguros e fundos de pensões. A OCDE está dando maior atenção para as barreiras que estão no caminho da implantação de tais fundos em grande escala em acelerar a introdução das energias renováveis em todo o mundo (MATHEWS, 2014). Mathews (2014) afirma que os mercados de títulos poderiam emergir como vitais na transição para uma economia verde. O enorme potencial de investimento nos mercados de obrigações poderia também ser explorado para financiar investimentos verdes - mas foi feito apenas de forma mínima até agora. A insistência ideológica da ONU e as partes no processo de Quioto que todos os investimentos verdes devem emanar de fontes públicas baseadas em impostos (que não podia manifestamente financiar a transição de qualquer maneira realista) já foram superadas.

O investimento em eficiência energética na construção, transporte e setor da indústria terá de aumentar em várias centenas de bilhões de dólares por ano 2010-2029. Informações sobre o investimento necessário em outros setores, por exemplo, na redução de emissões de CO2 ou emissões não-CO2, é escassa. Os resultados do modelo sugerem que o desmatamento poderia ser reduzido contra as tendências atuais de desmatamento em 50% com um investimento de US$ 21-35 bilhões anualmente (IPCC, 2014b).

Segundo relatório CPD23 (2014) as empresas obtiveram maior eficiência no período, com menos investimentos reduziram mais as emissões. Por volta de R$ 3,7 bilhões foram investidos em iniciativas de redução de emissões em 2014, valor 38% inferior ao de 2013. Contudo, esses investimentos foram mais efetivos em termos de redução das emissões, pois representaram um decréscimo anual de 103%, superior à redução alcançada em 2013. O foco destes investimentos foi em eficiência energética e geração de energia de baixo carbono. Enfatiza também que a redução de emissões pode trazer benefícios financeiros, pois as empresas em conjunto obtiveram economia monetária anual de R$ 118,7 milhões decorrente de ações de mitigação de emissões (CPD, 2014).

23 CDP, antigamente, Carbon Disclosure Project é uma organização internacional, sem fins lucrativos fornecendo

o único sistema global para empresas e cidades de medir, divulgar, gerenciar e compartilhar informação ambiental vital. Ver mais em: <http://www.cdpla.net/>.