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INVESTIMENTO E MUDANÇA DO CLIMA: IMPORTÂNCIA E ATUAÇÃO DO SISTEMA FINANCEIRO PÚBLICO NO BRASIL

3.3 PROGRAMAS E FONTES DE FINANCIAMENTO NO BRASIL

O Fundo Nacional sobre Mudança do Clima (Fundo Clima) foi criado pela Lei n° 12.114/2009 e regulamentado pelo Decreto n° 7.343/2010. O Fundo é um instrumento da Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC), instituída pela Lei n° 12.187/2009. Ele tem por finalidade financiar projetos, estudos e empreendimentos que visem à mitigação (ou seja, à redução dos impactos) da mudança do clima e à adaptação a seus efeitos (MMA, 2015). O Fundo Clima é vinculado ao Ministério do Meio Ambiente (MMA) e disponibiliza recursos em duas modalidades: reembolsável e não-reembolsável. Os recursos reembolsáveis são administrados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Os recursos não-reembolsáveis são operados pelo MMA. Um percentual de 2% da verba anual fica reservado para o pagamento do agente financeiro e quitação de despesas relativas à administração e gestão (MMA, 2015). Para verificar a evolução dos investimentos do Fundo Clima segue a Figura 3.4.

Figura 3.4 – Evolução da execução dos recursos não reembolsáveis por área do Fundo Nacional sobre Mudança do Clima (Milhões de R$)

Fonte: MMA, 2015. - 5,00 10,00 15,00 20,00 25,00 30,00 35,00 2011 2012 2013 2014 2015 ÁREA 5 - Monitoramento e Avaliação

ÁREA 4 - Adaptação da Sociedade e Ecossistemas

ÁREA 3 - Educação, Capacitação, Treinamento e Mobilização ÁREA 2 - Práticas adaptativas para desenvolvimento sustentável do semi-árido

ÁREA 1 - Desenvolvimento e Difusão Tecnológica

Pode-se constatar (Figura 3.4) que o montante disponibilizado pelo fundo vem diminuindo nos últimos anos, pois em 2011 e 2012 liberou cerca de 29 milhões de reais por ano, já em 2015 foi pouco mais que R$ 7 milhões. Quanto às áreas de atuação do Fundo Clima, destaca-se a Área 5 – Monitoramento e Avaliação à qual recebeu, em 2011 e 2012, maior percentual de recursos R$ 12 milhões, cerca de 40%. Isso ocorreu em função de projetos estruturantes para a Política Nacional sobre Mudança do Clima, tais como estabelecimento de um sistema nacional de monitoramento de desastres naturais, incluindo-se um módulo para monitoramento de secas, um sistema de monitoramento de emissões de gases do efeito estufa para florestas e agricultura, bem como a aquisição de imagens de satélite para monitorar o desmatamento.

Nos últimos anos a maior quantidade de recursos foi destinada à Área 4 – Adaptação da Sociedade e Ecossistemas cujos valores foram cerca de R$ 7 milhões (43%) em 2014 e R$ 4 milhões (62%) em 2015. Os projetos favorecidos compreendem recuperação, proteção e restauração de nascentes e de ambientes naturais, construção de indicadores para ações do Plano Nacional de Adaptação, entre outros.

No que diz respeito ao investimento em adaptação no Brasil, o estudo de May e Vinha (2011, 2012) relata que o binômio água-clima tem concentrado a maior parte dos financiamentos. Os anos de 2010 e de 2011 obtiveram mais iniciativas relacionadas à água e clima, tanto no setor público quanto no setor privado. Quanto às ações promovidas pelas instituições financeiras públicas, os autores concluíram que, embora ainda muito associadas à mitigação, a temática da adaptação está em franco processo de internalização e várias iniciativas estão em andamento.

No caso do Brasil, a participação no mercado de carbono ocorre por meio do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo – MDL, por ser o único mecanismo do Protocolo de Quioto que admite a participação voluntária de países em desenvolvimento. A responsável pela avaliação dos projetos de MDL é a Comissão Interministerial de Mudanças Globais de Clima (CIMGC), que considera os seguintes aspectos: participação voluntária por cada parte envolvida, Documento de Concepção de Projeto (DCP), Relatório de Validação e a contribuição do projeto para o desenvolvimento sustentável do país. Em relação ao último item (contribuição ao desenvolvimento sustentável) cinco critérios são avaliados: distribuição de renda, sustentabilidade ambiental local, desenvolvimento das condições de trabalho e geração líquida de emprego, capacitação e desenvolvimento tecnológico, e integração regional e articulação com outros setores.

Dentre os escopos setoriais que mais atraíram o interesse dos participantes de projetos do MDL no Brasil até 30 de novembro 2014 cita-se: a Indústria de Energia liderava com 197 projetos, seguida pelo Tratamento e eliminação de resíduos (82), Agricultura (59), Indústria Manufatureira (9), Indústria Química (6), Florestamento e Reflorestamento, Produção de Metal com (3) cada e Emissões Fugitivas com 1 projeto.

Alguns órgãos oferecem a possibilidade de financiamento integral ou parcial de atividades de projetos no âmbito do MDL. A FINEP (Financiadora de Estudos e Projetos), empresa pública ligada ao MCT, oferece um Programa de Apoio a Projetos do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, o Pró-MDL, que financia o pré-investimento e o desenvolvimento científico e tecnológico de atividades de projeto no âmbito do MDL por meio de linhas de financiamento reembolsáveis e não reembolsáveis (FINEP, 2017). O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) oferece uma linha de crédito para "estudos de viabilidade, custos de elaboração do projeto, Documentos de Concepção de Projeto (PDD) e demais custos relativos ao processo de validação e registro", além do Programa BNDES Desenvolvimento Limpo, que é um programa para a seleção de Gestores de Fundos de Investimento, com foco direcionado para empresas/projetos com potencial de gerar Reduções Certificadas de Emissão (RCEs) no âmbito do MDL.

Outro programa que prevê a disponibilização de recursos é o Programa para Redução da Emissão de Gases de Efeito Estufa na Agricultura – Programa ABC, um dos planos setoriais elaborados de acordo com o artigo 3° do Decreto n° 7.390/2010, que visa a Consolidação de uma Economia de Baixa Emissão de Carbono na Agricultura. O programa tem por finalidade a organização e o planejamento das ações a serem realizadas para a adoção das tecnologias de produção sustentáveis, selecionadas com o objetivo de responder aos compromissos de redução de emissão de GEE no setor agropecuário assumidos pelo país (MAPA, 2015a).

Os objetivos do Programa ABC consistem em: a) reduzir as emissões de gases de efeito estufa oriundas das atividades agropecuárias; b) reduzir o desmatamento; c) aumentar a produção agropecuária em bases sustentáveis; d) adequar as propriedades rurais à legislação ambiental; e) ampliar a área de florestas cultivadas; e f) estimular a recuperação de áreas degradadas. Para o alcance dos objetivos traçados pelo Plano ABC, no período compreendido entre 2011 e 2020, estima-se que serão necessários recursos da ordem de R$ 197 bilhões, financiados com fontes orçamentárias ou por meio de linhas de crédito (MAPA, 2015a).

O Plano Agricultura de Baixa Emissão de Carbono (ABC) realizou, entre julho de 2014 e fevereiro de 2015, 5,3 mil contratos com a liberação de R$ 2,5 bilhões em crédito. De julho de 2010 até junho de 2014, o programa financiou 27 mil contratos no valor de R$ 7,5 bilhões.

Somando esses dados, o total geral financiado pelo Plano ABC foi de aproximadamente 32 mil contratos no valor de R$10 bilhões (MAPA, 2015b).

Do crédito rural destinado ao programa, foram liberados R$ 398,8 milhões em julho e agosto de 2012 – ou 11,7% dos R$ 3,4 bilhões disponibilizados pelo Plano Agrícola e Pecuário 2012/2013. O volume é 357% superior ao contratado nos mesmos meses de 2011 (R$ 87,3 milhões). Na safra 2011/12, foram firmados mais de cinco mil contratos em todo o País. São Paulo, que recebeu R$ 314,2 milhões, foi o estado com o maior valor liberado, seguido por Minas Gerais (R$ 256 milhões), Paraná (R$ 188,9 milhões), Goiás (R$ 172,9 milhões) e Rio Grande do Sul (R$ 168,2 milhões) (Brasil - MAPA, 2012).

O Projeto FIP-ABC40 (Programa de Investimentos Florestais, FIP, na sigla em inglês), a ser executado conjuntamente pelo MAPA, EMBRAPA e SENAR, tem o objetivo de capacitar produtores rurais e técnicos do bioma Cerrado nas tecnologias preconizadas pelo Plano ABC, visando aumentar a área produzida sob sistemas sustentáveis de produção e diminuir a pressão sobre as florestas nativas, contribuindo para a redução da emissão de gases de efeito estufa. Serão aportados US$ 10,62 milhões em recursos oriundos do FIP e administrados pelo Banco Mundial para realização de cursos sobre recuperação de pastagens degradadas, integração lavoura-pecuária-floresta, sistema plantio direto na palha e florestas plantadas a serem ministrados para produtores rurais localizados no bioma Cerrado. Adicionalmente, o projeto prevê a formação de prestadores de assistência técnica nessas tecnologias para assessoria a produtores selecionados (MAPA, 2015a).

Lançado em 2009, o PPCerrado visa a coordenar, articular e executar iniciativas de redução do desmatamento na região, definir as metas de redução das taxas de desmatamento e servir como base para o cálculo das emissões de gases de efeito estufa. Esse cálculo será utilizado para a definição de metas de diminuição de emissões no âmbito do Plano Nacional sobre Mudanças Climáticas (BRASIL. MMA, 2009).

Criado em 1996, o Pronaf é o principal instrumento de apoio à agricultura familiar. Executado pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) tem como objetivo o fortalecimento das atividades produtivas geradoras de renda das unidades familiares de produção, com linhas de financiamento rural adequadas às suas necessidades. Financia projetos individuais ou coletivos, que gerem renda aos agricultores familiares e assentados da reforma agrária. Das oito linhas de financiamento do Pronaf, quatro financiam projetos de investimento

40 Projeto FIP-ABC: produção sustentável em áreas já convertidas para o uso agropecuário (com base no Plano

particularmente apropriados a fortalecer a capacidade adaptativa do produtor familiar. São elas: 1) Semiárido: projeto de convivência com o semiárido, priorizando a infraestrutura hídrica; 2)

Agroecologia: projetos de sistemas de produção agroecológicos ou orgânicos, incluindo os

custos de implantação e manutenção dos empreendimentos; 3) Florestal: projetos de implantação de sistemas agroflorestais; 4) Eco: projetos de tecnologias de energia renovável e ambientais, silvicultura, armazenamento hídrico, pequenos aproveitamentos hidroenergéticos e adoção de práticas conservacionistas e de correção da acidez e fertilidade do solo.

Alguns fundos internacionais atuam de forma a efetuar trocas financeiras diretas, fornecendo dinheiro ou financiamento em troca de direitos de desenvolvimento, como uma abordagem para facilitar a proteção ambiental transfronteiriça. Os exemplos incluem: a) Debt-

for-nature-swaps; b) O Global Environmental Facility (GEF)41, c) direitos de bioprospecção

compradas pela Merck Pharmaceutical Company, na Costa Rica, d) O EcoFund na Polônia criado mediante a dívida de conversão pelo Clube de Paris42. Estes mecanismos internacionais de financiamento dependem em grande parte de contribuições voluntárias, e como tal, eles enfrentam o risco de fluxos de recursos instáveis para investimentos ambientais internacionais (UNEP, 2009).