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FONTES DE FINANCIAMENTO E IMPACTO DO AUMENTO DOS INVESTIMENTOS NA ECONOMIA BRASILEIRA

4.2 FLORESTAS: MUDANÇAS CLIMÁTICAS E ECONOMIA

4.2.1 Por que as florestas estão sendo cortadas?

As causas históricas e atuais do desmatamento podem ser descritas como resultado da interação de inúmeros fatores que variam ao longo de dois eixos: um geográfico e outro temporal (anual). É, portanto, um fenômeno complexo. Contudo, as causas do desmatamento parecem ser aparentemente as mesmas nas diferentes regiões tropicais do planeta. Segundo Moutinho (2009), as causas podem ser diretas e indiretas. As diretas estão ligadas a (1) conversão de áreas florestais para agricultura ou criação de gado, (2) mineração, (3) exploração madeireira e (4) incêndios florestais. As causas indiretas são os (5) subsídios para o agronegócio, (6) política inadequada de investimentos em infraestrutura, (7) problemas fundiários, (8) ausência de governança fiscalização adequada por parte do governo, (9) demanda por produtos florestais (madeira e outros produtos florestais) e (10) mercado (preço) favorável a produtos cultivados em áreas antes ocupados por florestas (grãos e carne, por exemplo).

As condições sociais e institucionais que operam em muitas nações com florestas tropicais, tais como isenções fiscais e subsídios que estimulam o desmatamento, podem exacerbar as pressões econômicas impostas a florestas pela demanda por madeira e commodities agrícolas (GRIEG-GRAN, 2008). Diante do incentivo econômico para o desmatamento e ambiente favorável no Brasil, nota-se grande desflorestamento. Para analisar qual área da Amazônia já foi desmatada, segue a Figura 4.1.

49 A taxa de preferência temporal pura de 0-2 % foi usada (valor mais provável de 1) com um peso patrimonial de

0,5-2 (mais provável valor de 1). Usando esses valores com intervalos de taxas de desconto para as várias regiões modeladas de 1-5 % (JOHAN, 2008: p.77).

Figura 4.1 - Mapa do desmatamento no bioma Amazônia até 2011

Fonte: IPAM, 2012. Dados: INPE, 2011.

Nota-se na Figura 4.1, que o desmatamento avançou muito em determinadas regiões. A combinação do desmatamento na região com o aquecimento global poderá trazer para a Amazônia fortes períodos de seca com reduções no volume de chuva da ordem de 20-30% (MALHI et al., 2008, OYAMA; NOBRE et al. 1991). Em boa medida, esta redução pode estar ligada aos eventos de El Niño50 que trazem mais seca para a região. Esses eventos estão se tornando mais frequentes e intensos com a aceleração do aquecimento global (HANSEN et al., 2006) e quando ocorrem, mais de 30% das florestas da Amazônia brasileira permanecem sob alto risco de incêndios (NEPSTAD et al. 2004; 2008). Para verificar a evolução da taxa de desmatamento nos estados da Amazônia Legal segue a Figura 4.2.

50 El Niño representa uma oscilação periódica na atmosfera e oceanos, como resultado do aquecimento das águas

Figura 4.2 – Taxa de desmatamento anual na Amazônia Legal (1991-2016) Km2/ano

Fonte: INPE-PRODES, 2017.

Nota-se, na Figura 4.2, que a taxa de desmatamento na Amazônia Legal apresentou um decréscimo de 82% de 2004 a 2014, apresentando o nível mínimo de 4,5 mil km2 em 2012 e aumentando para quase seis mil km2 em 2013 e voltando a reduzir para 4,8 mil km2 em 2014. Apesar desta redução, há dúvidas se o baixo desmatamento poderá ser mantido no futuro sem que alternativas de uso da floresta sejam identificadas e maior rigor seja implantado nos projetos para redução do impacto ambiental.

Além de conhecer a taxa de desmatamento, é importante também conhecer como as principais classes de cobertura e uso da terra são caracterizadas no país e como vem alterando no passar dos anos, pois as alterações que ocorrem na cobertura e uso da terra estão intrinsecamente relacionadas às atividades humanas, que se apropriam de seus recursos transformando-os para seu benefício. Este processo, na maioria das vezes, gera algum tipo de impacto sobre esses recursos, impactos que podem influenciar de forma decisiva sobre o ambiente natural. Neste contexto, segue a Figura 4.3 para analisar as variações das principais classes de cobertura e uso da terra51.

51 O período apresentado corresponde ao estudo publicado pelo IBGE (2015), no qual analisa a cobertura e uso da

terra em períodos regulares, a partir do mapeamento sistemático. 11.030 13.786 29.792 29.059 18.161 13.227 17.383 18.226 21.650 25.396 27.772 19.014 14.286 11.651 12.911 7.464 6.418 5.891 5.012 5.831 0 5000 10000 15000 20000 25000 30000 35000 1991 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014

Acre Amapá Amazonas Maranhão Mato Grosso

Figura 4.3 – Variação percentual das principais classes de cobertura e uso da terra, comparação entre 2000 e 2010.

Fonte: IBGE, 2015. Área artificial: constitui-se daquela com mais de 75% do polígono ocupado com uso urbano, estruturado por edificações e sistema viário, onde predominam superfícies artificiais não agrícolas. Para verificar as demais definições ver Anexo B.

A dinâmica de crescimento das áreas de pastagem plantada foi significativamente maior que o incremento de áreas agrícolas. Considerando todo o período (2000 a 2012), conforme a Figura 4.3, o maior incremento foi observado nas pastagens plantadas (336.240 km2 ou 54,4%), seguido das áreas agrícolas (117.440 km2 ou 29,4%). As pastagens naturais foram os ambientes que mais perderam cobertura (-308.410 km2 ou -14,8%), embora em termos absolutos as vegetações florestais também tenham apresentado grande redução (-313.450 km2 ou -8,9%). Também se observa que a diminuição de área florestal foi equivalente a área de pastagem natural até 2010.

Quando as principais classes de cobertura e uso da terra são comparadas entre 2010 e 2012 observa-se significativo aumento da área agrícola se comparado com a área de pastagem plantada, embora essa última ainda apresente maior percentual. Diferente do período de comparação anterior, o período de 2010 para 2012 demonstrou que a perda de área de pastagem natural foi quatro vezes a área de vegetação florestal, sendo essas áreas absorvidas, especialmente pelo processo produtivo da expansão agrícola.

De acordo com o procedimento de detecção de mudanças, observou-se que as alterações no período 2000-2010 ocorreram em cerca de 7% da área do território nacional. Em ambiente florestal, o destaque no período fica para a expansão agrícola responsável por mais da metade dos desflorestamentos, conforme Figura 4.4.

5,8 19,2 38,8 20,4 -7,2 -7,7 2,5 8,6 11,1 4,6 -1,8 -7,8 -20 -10 0 10 20 30 40 50 60

Área Artificial Área Agrícola Pastagem Plantada Silvicultura Vegetação

Florestal Pastagem Natural

Figura 4.4 - Principais processos em áreas florestais, (2000-2010) e (2010-2012).

Fonte: IBGE, 2015.

Como mostra a Figura 4.4 o desflorestamento vem ocorrendo principalmente por expansão da área agrícola, por expansão de pastagem plantada e por expansão da silvicultura. Nas áreas florestais, entre 2000 e 2010, a expansão agrícola foi o processo predominante, respondendo por 65% (236.600 km²) do desflorestamento, seguido pela expansão das pastagens plantadas (35% ou 127.200km²) e silvicultura em 1%.

No período 2010-2012, a expansão agrícola novamente foi a responsável pela maior parte do desflorestamento (68% ou 77.520 km2), seguido pela expansão das pastagens plantadas (28% ou 32.120 km2). Esses dois processos também foram os principais responsáveis pela redução das pastagens naturais conforme Figura 4.5, sendo que a expansão agrícola respondeu por 65% (101.710 km2) desta alteração, contra os 48% do período anterior, o que representa um incremento significativo. A expansão de pastagem plantada foi responsável por apenas 32% (50.240 km2) da retração das pastagens naturais.

A Figura 4.5 detalha os principais processos em áreas de pastagem natural. Nota-se nas pastagens naturais52, de 2000 a 2010 tanto a expansão agrícola (89.500 km2) quanto a expansão das pastagens plantadas (89.780 km2) foram responsáveis pela redução da cobertura, já que cada um dos processos apresentou taxa de 48%. E a expansão da silvicultura responsável por 4% nas áreas de pastagem natural.

Figura 4.5 - Principais processos em área de pastagem natural (2000-2010) e (2010-2012) (%)

Fonte: IBGE, 2015.

De 2010 a 2012, as pastagens naturais, que predominam nos biomas cerrado, caatinga e pampa, apresentaram uma redução de 7,8% em sua cobertura, com uma perda de aproximadamente 149.670 km2. Nas vegetações florestais, que predominam nos biomas Mata Atlântica e Amazônia, nesse período, o percentual de desflorestamento foi quatro vezes menor (1,8%), e correspondeu a cerca de 59.230 km2. Observou-se uma aceleração nos processos de mudanças na cobertura e uso da terra, uma vez que nos dois anos compreendidos entre 2010 e 2012, houve alterações em 3,5% do território nacional, a metade do observado nos dez anos compreendidos entre 2000 e 2010 (7,0%). Entre as áreas que sofreram alteração, o principal processo observado foi a expansão agrícola, responsável por 68,0% (77.520 km2) dos avanços em áreas florestais e áreas florestais mistas e 66,0% (101.710 km2) das mudanças nas pastagens naturais e campestres mistas.

É importante mencionar também o desmatamento ilegal, aquele que, além de não respeitar as leis ambientais, é utilizado para finalidades apenas especulativas e/ou para finalidades inapropriadas para as condições locais. Para Johan (2008), a fraca aplicação da lei em muitos países permite que a exploração madeireira ilegal tenha lugar em grande escala. Estima-se que, em cinco dos dez países com a maior cobertura florestal do mundo, mais da metade das árvores cortadas são derrubadas ilegalmente.

Os dados sobre o desmatamento ilegal no Brasil são estimativas frágeis, no entanto, sabe-se que ainda está fortemente presente no país, devido aos relatos de pessoas que fiscalizam e trabalham nesta área. Diante do compromisso que o governo assumiu na COP-21 de zerar o desmatamento ilegal da Amazônia até 2030, um conjunto de políticas de controle e de incentivo ao desenvolvimento sustentável devem ser implementadas, com objetivo de envolver, de forma

continuada, e não apenas circunstancial, os órgãos ambientais e os vários segmentos sociais e produtivos correlatos.

Enquanto os custos de perder carbono florestal e outros serviços dos ecossistemas não são refletidos no preço dos produtos fornecidos a partir da terra e da floresta convertida, as florestas, muitas vezes, irão valer mais para proprietários de terras cortadas do que em pé, e se a política e fiscalização das leis não forem adequadas, a exploração destas florestas não será sustentável.