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FONTES DE FINANCIAMENTO E IMPACTO DO AUMENTO DOS INVESTIMENTOS NA ECONOMIA BRASILEIRA

4.2 FLORESTAS: MUDANÇAS CLIMÁTICAS E ECONOMIA

4.2.2 Quais os benefícios da preservação da floresta?

As atividades humanas têm impactos significativos sobre o ciclo do carbono florestal. O desmatamento e degradação florestal liberam carbono armazenado na atmosfera como as emissões de CO2. O florestamento, reflorestamento e restauração aumentam os estoques de carbono florestal, sequestrando e armazenando carbono da atmosfera à medida que novas florestas crescem (JOHAN, 2008). Para verificar a evolução das emissões deste setor, segue a Tabela 4.1 e a Figura 4.6.

Tabela 4.1 - Estimativa de emissões para os subsetores do setor de Mudança de Uso da Terra e Florestas

Setor TgCO2eq Variação

1990 1995 2000 2005 2011 2012 95-2005 2005-2012

LULUCF* 816 1.940 1.343 1.177 311 176 -39% -85%

Mudança no Uso da Terra 811 1.935 1.334 1.170 298 161 -39% -86%

Bioma Amazônia 492 1.477 876 848 169 33 -42% -96%

Bioma Cerrado 247 318 318 278 109 109 -12% -60%

Bioma Mata Atlântica 24 83 83 3 -5 -5 -96% -277%

Bioma Caatinga 29 40 40 12 6 6 -69,% -53%

Bioma Pantanal 19 17 17 12 3 2 -28,% -79%

Bioma Pampa 0 0 0 17 16 16 - -9%

Calagem** 5 5 9 7 13 15 38% 100%

Fonte: MCT, 2014. * LULUCF (land use, land use change and forestry) na tabela consiste na soma da linha “Mudança no Uso da Terra” mais “Calagem”. **Calagem é a etapa do preparo do solo para cultivo agrícola na qual se aplica calcário com os objetivos de elevar os teores de cálcio e magnésio, neutralização do alumínio trivalente (elemento tóxico para as plantas) e corrigir o pH do solo, para um desenvolvimento satisfatório das culturas.

A maioria dos subsetores de emissão de LULUCF (uso da terra, mudança no uso da terra e floresta) obteve decréscimo nos últimos anos, sendo que o Bioma Mata Atlântica obteve maior redução por volta de 277% de 2005 a 2012. O Bioma Amazônia também demonstrou queda considerável, cerca de 96% de decréscimo de 2005 a 2012. O único que apresentou aumento foi o setor de Calagem, com aumento de 100% de 2005 a 2012.

Figura 4.6 – Evolução das emissões líquidas* do setor de uso do solo, mudança do uso do solo e florestas

Fonte: Elaboração própria, dados MCT, 2014. *As remoções de carbono de cada bioma são descontadas do valor bruto das emissões.

As emissões do setor florestal vêm reduzindo consideravelmente nos últimos anos, obtendo queda considerável do ano de 2009 em diante. O Bioma Amazônia deteve a maior participação nas emissões até o ano de 2011. Em 2012 o Bioma Cerrado passa a ser responsável por maior parcela da emissão no setor. Se fossem consideradas as emissões brutas, o Bioma Amazônia teria maior participação em todo o período, o que evidencia que as remoções de emissão são importantes para impulsionar o decréscimo nos índices de emissão, tanto setoriais como globais.

Os ganhos privados da extração da madeira e da degradação da floresta não incluem os efeitos negativos do desmatamento. Segundo Tomaselli et. al. (2012), em muitos países tropicais florestas estão cada vez mais ameaçadas por práticas de exploração insustentáveis. Nas décadas de 1970 e 80, a exploração florestal foi em grande parte insustentável no Brasil. Fearnside (2005) cita alguns dos impactos que o desmatamento pode provocar, dentre eles: a) a perda da produtividade, causada pela erosão e a compactação do solo, assim como a exaustão dos nutrientes; b) mudanças no regime hidrológico, pois as funções da bacia hidrográfica são perdidas quando a floresta é convertida para outros usos, e a precipitação nas áreas desmatadas escoa rapidamente, formando as cheias, seguidas por períodos de grande redução ou interrupção do fluxo dos cursos d’água; c) perda da biodiversidade; e d) emissões de gases de efeito estufa resultantes dos incêndios florestais53.

53 O desmatamento em uma taxa igual à de 2003 implica na emissão de, aproximadamente, 429 x 106 toneladas de

carbono equivalente ao carbono de CO2. 0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 2000 Pampa Pantanal Caatinga Mata Atlântica Cerrado Amazônia

A retirada de uma floresta tem grande impacto sobre os fluxos e disponibilidade de água, dentre outros impactos incalculáveis. Grande parte da água disponível na atmosfera é fornecida pela vegetação, por meio do processo de evapotranspiração, que acontece principalmente nas folhas. A fumaça emitida por uma queimada também compromete a formação de nuvens e chuva, podendo afetar o fluxo das chuvas em lugares distantes (MMA, 2015). Além de seu papel na luta contra as alterações climáticas, as florestas fornecem muitos outros serviços. Segundo Johan (2008) elas são o lar de 350 milhões de pessoas, e mais de 90% das pessoas que vivem com menos de US $ 1 por dia dependem das florestas, em certa medida para a sua subsistência. Elas fornecem produtos florestais como lenha, plantas medicinais, alimentos da floresta, abrigo e muitos outros serviços para as comunidades. Além de abrigar a maioria da biodiversidade terrestre, com florestas tropicais que suportam uma estimativa de 50- 90% de espécies do mundo. A Figura 4.7 mostra um resumo dos serviços ecossistêmicos da floresta.

Figura 4.7 - As principais classes de serviços florestais

Fonte: Millennium Ecosystem Assessment, 2005.

As florestas fornecem uma gama de serviços ecológicos, incluindo a proteção contra cheias, polinização, formação do solo e controle de erosão. As florestas estabilizam suas paisagens e oferecem proteção contra eventos extremos como tempestades, inundações e secas, que estão previstos para se tornar cada vez mais frequentes e intensos no âmbito de futuras alterações climáticas. As florestas regulam o abastecimento de água, manutenção dos lencóis freáticos e precipitação, o que pode ser particularmente importante para a agricultura. Segundo

Johan (2008), a floresta amazônica fornece água para a bacia do Rio da Prata, que gera 70% do PIB do sul da América do Sul por meio de produtos agrícolas.

Existem alguns obstáculos em associar a biodiversidade com um valor monetário: em primeiro lugar “hotspots” de biodiversidade, como a floresta tropical, são extremamente diversificadas em número de espécies e conteúdo genético e, em segundo lugar, essas áreas são muitas vezes de difícil acesso. Para Mendonça et al., (2003), o utilitário de diversidade biológica reside em diversos fatores, tais como a manutenção da integridade de um sistema ecológico, distinções estéticas, a opção de futura descoberta de um produto entre outros. Assim, o preço preservação deve representar o valor da contribuição dos benefícios provenientes da biodiversidade que foram produzidas por uma mudança no habitat para uma única unidade de terra (MENDONÇA et al., 2003).

As atividades econômicas na Amazônia envolvem quase exclusivamente bens de uso direto para consumo ou como insumos em processos produtivos54. Encontrar maneiras de explorar os serviços ambientais da floresta, tanto para mantê-la quanto para sustentar a população humana, tem um grande potencial em longo prazo. Segundo Fearnside (2005), a floresta Amazônica fornece, no mínimo, três classes de serviços ecossistêmicos: a manutenção da biodiversidade, o estoque de carbono e a ciclagem da água. A magnitude e o valor desses serviços são pobremente quantificados. As tentativas de torná-los bens (ou serviços) econômicos ainda são incipientes, apesar de sua importância ou da necessidade de integrá-los na economia, de modo a preservar a floresta, em vez de destruí-la.