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FONTES DE FINANCIAMENTO E IMPACTO DO AUMENTO DOS INVESTIMENTOS NA ECONOMIA BRASILEIRA

4.3 O DESAFIO DA MITIGAÇÃO PARA O SETOR FLORESTAL

4.3.1 Medidas e ações para mitigação de GEE no setor florestal

4.3.1.3 Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) e Bolsa Floresta

Pagamento por Serviços Ambientais (PSA ou PES da sigla inglês) é uma ferramenta usada para lidar com problemas específicos em que os ecossistemas são mal administrados porque muitos de seus benefícios são externalidades positivas a partir da perspectiva dos gestores de ecossistema (Engel, 2008). O PSA não se baseia no princípio do poluidor-pagador, mas ao beneficiário-recebedor. Como tal é atraente em contextos onde os prestadores de serviços ambientais são pessoas de baixa renda, proprietários de terras marginalizadas ou grupos de pessoas. Uma distinção importante dentro do PSA é entre PSA financiado pelo usuário em que os compradores são os usuários dos serviços ou financiados pelo governo, em que o comprador é tipicamente o governo, agindo em nome dos usuários dos serviços ambientais. Na prática, os programas de PSA diferem no tipo e tamanho da demanda, a fonte de pagamento, o tipo de atividade, a medida de desempenho utilizada, bem como o modo de pagamento e quantidade (LUCAS, 2013).

A eficácia e a eficiência do PSA dependem significativamente da concepção do programa. Os PSAs são usados como um mecanismo importante para traduzir valores externos,

fora do mercado, em incentivos econômicos reais para que os intervenientes locais possibilitem a prestação destes serviços (LUCAS, 2013). Börner et al. (2009) argumentam que uma condição importante para a economia do PSA é que a Disponibilidade de Pagar (DAP) dos beneficiários exceda a Disponibilidade de Aceitar (DAC). O valor pago pelos serviços deve exceder os custos de oportunidade de outros usos da terra.

O Programa Bolsa Floresta (PBF)59 é uma política pública estadual instituída pelo Governo do Amazonas em 2007, se deu por intermédio da Lei 3.135, sobre Mudanças Climáticas, Conservação Ambiental e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas, e da Lei Complementar 53, sobre o Sistema Estadual de Unidades de Conservação (Seuc), ambas promulgadas em 5 de junho de 2007. Essas leis tiveram forte caráter de inovação e respaldam um ambiente jurídico na legislação estadual, que permita a estruturação da economia dos serviços e produtos ambientais de origem florestal e o alcance da justiça social com conservação ambiental (FAS, 2016).

O PBF recompensa comunidades por seu compromisso de deter o desmatamento por meio da distribuição de pagamentos por serviços ambientais para as famílias, as comunidades e as associações de famílias. As famílias devem participar de programas de formação, oficinas, capacitação em mudanças climáticas e serviços ambientais, fazer um compromisso de desmatamento zero, além de manter seus filhos na escola, para receber os valores acordados. A partir do engajamento das famílias dentro e no entorno de unidades de conservação estaduais, os componentes lhes asseguram ganhos diretos, benefícios sociais em nível comunitário, apoio ao associativismo, atividades de produção e geração de renda sustentável.

O programa visa a apoiar e potencializar respostas às demandas sociais e econômicas das populações ribeirinhas das Unidades de Conservação (UCs) estaduais do Amazonas. A visão estratégica é melhorar a qualidade de vida por meio da valorização da floresta em pé (ou seja, da floresta conservada). O PBF é constituído por quatro componentes: (i) Renda: incentiva a inserção das populações locais nas cadeias produtivas florestais sustentáveis; (ii) Social: melhoria da educação, saúde, comunicação e transporte; (iii) Associação: fortalecimento das associações das UCs e (iv) Familiar, neste último compone é fornecido uma recompensa mensal de R$ 50 às mães de família que assumem o compromisso com desmatamento zero e desenvolvimento sustentável (FAS, 2013).

59 A implementação do PBF foi iniciada pela Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (SDS),

O PBF é um dos maiores programas de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) do mundo, segundo FAZ (2016), mais de 40 mil pessoas foram atendidas, mais de 9 mil famílias beneficiadas em 16 Unidades de Conservação Estaduais (UCs) do Amazonas em mais de 10 milhões de hectares.

Um esquema PSA como este faz sentido econômico se o pagamento de compensação excede os custos de oportunidade. O custo mínimo de oportunidade encontrado por Lucas (2013) foi de US$ 23,42 e o máximo de US$ 25,95. O benefício direto recebido pelas famílias representa 42% do custo mínimo oportunidade. No entanto, se comparadas com o nível total de pagamento real (quando dividido o custo por hectare), 95% do valor mínimo é alcançado. Segundo Lucas (2013) os benefícios totais concedidos pelo PBF não compensam totalmente os lucros das famílias quando do uso alternativo do solo, tais como soja e pecuária.

Apesar do valor fornecido pelo PBF não ser o ideal como dito anteriormente, há uma percepção pelos beneficiários de algumas áreas de conservação sobre uma mudança positiva após o início do programa e tanto beneficiários quanto não beneficiários entrevistados no estudo da FAS (2013) apoiam a continuidade do programa. Isto representa a importância do programa e a necessidade de sua expansão e contínuo aprimoramento.

Ao comparar esquemas de PSA com outros instrumentos de política ambiental alguns problemas podem surgir. Os esquemas de subsídios podem sofrer de falta de adicionalidade, pagando por atividades que teriam sido realizadas de qualquer maneira. Outro problema é o “vazamento” quando as atividades ambientais prejudiciais podem ser deslocadas para outros lugares. Ambos os problemas são menos prováveis de acontecer em uma política de impostos e taxas, por exemplo. Outra questão é o pagamento de valores inferiores ao custo de oportunidade, o que pode em um primeiro momento ser benéfico como evidenciado no estudo, no entanto, não sustente os benefícios do investimento por muito tempo.