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INVESTIMENTO E MUDANÇA DO CLIMA: IMPORTÂNCIA E ATUAÇÃO DO SISTEMA FINANCEIRO PÚBLICO NO BRASIL

2.3 ASPECTOS AMBIENTAIS NA INTERMEDIAÇÃO FINANCEIRA

2.3.1 Risco ambiental e retorno financeiro nas Instituições Financeiras

As questões ambientais tornam-se cada vez mais importantes para as instituições financeiras. Algumas organizações ligadas ao sistema financeiro e preocupadas com questões ambientais, como a Environmental Bankers Association (EBA)29, afirmam que atentar para o meio ambiente não é importante apenas sob o aspecto de gerenciamento de risco, mas também representa oportunidades de negócio e pode se tornar uma vantagem competitiva tanto para as empresas, quanto para as instituições financeiras30.

29 A EBA é uma associação comercial sem fins lucrativos que representa a indústria de serviços financeiros,

incluindo bancos e instituições financeiras não-bancárias, seguradoras, e aqueles que prestam serviços a eles. Esta foi criada, em 1994 em resposta à crescente sensibilidade às questões de risco ambiental e à necessidade de seu gerenciamento e devido às políticas e procedimentos de prudência e cuidados nas instituições financeiras. Informação disponível no site: <www.envirobank.org>.

O risco ambiental pode ser definido como a medida de possíveis danos que uma atividade econômica pode causar ao meio ambiente. A relação entre risco ambiental e os demais riscos enfrentados pelas empresas está fundamentada no “'Princípio do Poluidor Pagador”31. Por esse princípio se busca internalizar os custos da degradação ambiental no processo produtivo de qualquer atividade econômica, a fim de evitar que apenas os lucros de uma atividade sejam privatizados e os custos do dano ambiental sejam socializados. Desta forma, risco ambiental passa a ser traduzido como custo financeiro.

A legislação ambiental, tanto brasileira quanto a dos demais países, sujeita os causadores de danos ao meio ambiente a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados. A legislação ambiental, ao aplicar o Princípio do Poluidor Pagador, estabelece a relação entre o risco ambiental e os demais riscos enfrentados pelas empresas. A reparação do dano ambiental, o cumprimento das sanções penais e administrativas, envolverá, necessariamente, dispêndio financeiro para o infrator. Além desses dispêndios financeiros, o infrator está sujeito a multas e indenizações e estas podem ser de grande magnitude, a ponto de levarem o infrator à falência.

A EBA identifica seis maneiras de como as instituições financeiras bancárias se relacionam com questões ambientais:

- Gerenciamento de risco: Os problemas ambientais gerados por tomadores de créditos e/ou emitentes podem ter sérios impactos sobre sua capacidade de liquidação dos débitos ou na realização de ganhos para os investidores. Por outro lado, a opinião pública negativa sobre financiamento de projetos de grande impacto ambiental repercute na reputação de instituições financeiras.

- Financiamento de infraestrutura: Os financiamentos de infraestrutura ambiental, tais como fornecimento de água tratada e tratamento de resíduos líquidos (efluentes) e resíduos sólidos, disposição de resíduos perigosos, construção de hidrelétricas e de estradas, são exemplos de financiamento que têm forte impacto ambiental.

- Operações internas: Muitas organizações reconhecem os benefícios da grande variedade de ações internas ambientalmente benéficas, que contribuem para melhorar os resultados e trazer outras vantagens corporativas para a companhia. Entre essas ações, podem-se incluir programas

31 Princípio do Poluidor Pagador é o princípio da responsabilidade pela qual o poluidor deve responder por suas

ações ou omissões, em prejuízo do meio ambiente, de maneira a mais ampla possível de forma que se possa recuperar a situação ambiental degradada e que a penalização aplicada tenha efeitos pedagógicos e impedindo-se que os custos recaiam sobre a sociedade (ANTUNES, 1997; 26).

de utilização eficiente de energia, reciclagem, redução de utilização de recursos e redução de desperdícios, bem como programas para educar e engajar empregados, fornecedores e clientes. - Responsabilidade comunitária: As instituições financeiras têm responsabilidade com a comunidade na qual elas operam. Seu relacionamento com a comunidade pode incluir atividades como participação em políticas públicas e trabalhos comunitários voluntários para trazer benefícios à coletividade.

- Marketing: Os bancos podem usar causas ambientais para marketing de seus serviços para consumidores interessados em fazer negócios com companhias ambientalmente proativas. - Financiamento de produtos sustentáveis: A indústria de produtos e serviços ambientais necessita de financiamento, particularmente para novas tecnologias que possam ajudar a resolver problemas ambientais. Os bancos podem ter bons retornos financiando recuperação de propriedades contaminadas (brown.fields) ou o desenvolvimento de métodos produtivos inteligentes em novas plantas (green.field).

O aprimoramento dos sistemas de análise e avaliação dos riscos de crédito, de mercado, e de operação constitui importante pilar de revisão das normas prudenciais financeiras nos diversos países. A inserção da variável ambiental sobre o risco de crédito, per se, revela a importância crescente do assunto nos controles internos dos bancos comerciais.

Segundo Tosini (2005) os bancos devem atentar para as questões ambientais para mitigar o risco de reputação. Estudos empíricos têm mostrado forte correlação entre valor de mercado das ações e a performance ambiental das empresas, o que sugere que a responsabilidade ambiental agrega valor e é uma variável independente de retorno. Os bancos também devem agregar o risco ambiental, em seus modelos de gerenciamento de risco, para efeito de cálculo de capital regulamentar, uma vez que o II Acordo de Capitais da Basiléia determina que os bancos, ao avaliarem seus riscos, devem ter em conta todos os tipos de riscos a que estão expostos.

Uma das dificuldades das instituições financeiras brasileiras é a falta de uma compreensão, ao mesmo tempo ampla e profunda, do risco das mudanças climáticas para um financiamento, antes da sua aprovação. É preciso inicialmente compreender quais são esses riscos para uma instituição financeira, o que inclui, por exemplo, como essas mudanças podem afetar a capacidade de pagamento de seus clientes, por terem sido impactados por novas regulamentações, por demandas de mercado com relação a suas emissões, ou mesmo fisicamente por desastres naturais resultantes das mudanças do clima, o que pode afetar também outros clientes da própria carteira do banco. Deve-se ainda levar em consideração a

possibilidade de que os financiadores venham a ser responsabilizados por passivos ainda não mapeados, mas que o sejam no futuro (PNUMA e GVces, 2011).

Alguns estudos reforçam a questão da importância da análise do risco ambiental como o de Plantinga et al. (2002) o qual analisou a gestão de fundos e exposição nas bolsas de valores Euronext, verificando em que medida os fundos mútuos (800 fundos de investimento na década de 1990) da Bélgica, França e Países Baixos estavam envolvidos em investimento socialmente responsável (SRI). Concluíram que a maioria dos fundos tinha uma exposição significativa ao índice SRI. Concluíram também que, ao aplicar em investimentos socialmente responsáveis/sustentáveis, o investidor não sacrifica seu retorno. Os resultados deste estudo assim como o de Nogueira et al (2015), mostram que é relevante para os bancos se preocuparem com a performance ambiental e social das empresas tanto para responder à demanda dos investidores quanto para usá-las como estratégia long-short e melhorar o retorno das carteiras por eles administradas, especialmente para reduzir perdas quando o mercado está em baixa, e reduzir também os índices de inadimplência.

Algumas pesquisas têm estudado a relação entre nível de responsabilidade social das empresas (em que o impacto sobre o meio ambiente é uma das dimensões) e o desempenho financeiro, como os estudos de Cochran e Wood (1984), McGuire, Sundgren e Schneeweis (1988), Griffin e Mahon (1997), Preston e O’Bannon (1997), Pava e Krausz (1997), Moore (2001) e Ruf et al. (2001). Os próprios autores, porém, concordam que os resultados são contraditórios. Para Cochran e Wood (1984, p.42), os pesquisadores não têm chegado a um real consenso sobre o relacionamento entre os desempenhos social e financeiro, e consideram que verificar se o relacionamento existe ou não é uma importante questão para a administração corporativa. Segundo Preston e O’Bannon (1997, p.419), o relacionamento entre os desempenhos social e financeiro nos negócios das empresas tem sido um tópico de interesse há mais de meio século e várias pesquisas empíricas sobre essa associação têm sido feitas há décadas. No entanto, ainda de acordo com eles, apesar do longo registro de discussão e análise, a conexão entre desempenho social e desempenho financeiro não foi completamente estabelecida (ALBERTON, 2003).

Utilizando análise de regressão e correlação, McGuire, Sundgren e Schneeweis (1988, p.861) concluíram que a associação entre rentabilidade e responsabilidade social corporativa suporta a ideia de que essa última afeta o desempenho financeiro. Também concluíram que o desempenho financeiro influencia a responsabilidade social mais do que o contrário, ao que corrobora o estudo de Moore (2001, p.307), e que o risco é um importante benefício da responsabilidade social, pois afeta as medidas de desempenho (ALBERTON, 2003).

Na área ambiental, estudos como os de Freedman e Jaggi (1982), Cormier, Magnan e Morard (1993), Cohen, Fenn e Konar (1995), Hamilton (1995), Bonifant, Arnold e Long (1995), Klassen e McLaughlin (1996), Russo e Fouts (1997), Lanoie, Laplante e Roy (1997), Miles e Covin (2000), Karagozoglu e Lindell (2000), entre outros, dedicaram-se a pesquisar se investimentos que buscam melhorar o desempenho ambiental poderiam, também, promover a imagem e performance organizacional como um todo, revertendo-se em benefícios financeiros. Porém, da mesma forma que ao tratar de responsabilidade social, as metodologias empregadas, bem como os resultados, são contraditórias (ALBERTON, 2003).

Há desta forma, vários motivos para que os bancos, como gerenciadores de carteiras, fiquem atentos às questões ambientais e sociais das empresas, pois os investimentos sustentáveis podem servir de estratégias para compor seus portfólios reduzindo a exposição ao risco de mercado. Destacam também, que a sustentabilidade é uma variável independente de retorno e tem impacto positivo sobre o valor para os acionistas, além da influência dos componentes de valor, crescimento e tamanho.