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H ISTÓRIA E NARRAÇÃO NA CONSTITUIÇÃO DO HOMEM CAPAZ DE AÇÕES JUSTAS

No documento U MA HERMENÊUTICA DOH OMEMJ USTO (páginas 154-178)

E M BUSCA DO HOMEM JUSTO : UM SUJEITO QUE JULGA , SUA FALA E SUAS PROMESSAS

3.2 H ISTÓRIA E NARRAÇÃO NA CONSTITUIÇÃO DO HOMEM CAPAZ DE AÇÕES JUSTAS

Até aqui, procurou-se desenvolver uma reflexão na sequência do roteiro proposto por Paul Ricoeur em Soi-même comme un autre. Apoiamo-nos mui- to mais sobre a avaliação que faz o autor sobre as questões da fala e da ação, pro- curando trilhar os caminhos acerca da busca de uma identidade para o sujeito que fala e para o agente da ação, então, considerados como quem fala e como quem age. No caminho dessa reflexão, foi visto que entre aproximações semânticas e pragmá- ticas, cresce um abismo de esvaziamento de sentido para a identidade do sujeito falante, o que torna seu referencial significante – a pessoa na qual ele se expressa – cada vez mais frágil do processo de identificação. Ocorre esse esvaziamento de sentido porque a pessoalidade perde sua capacidade referencial diante da multi- plicidade de designações decorrente das práticas discursivas – dos diálogos em seus vários contextos e circunstâncias, em suas várias temporalidades, entre as i- númeras possibilidades de confrontação dialógica dos sujeitos em discussão.

Na busca pelo preenchimento desse vazio, Ricoeur propõe uma terceira via – a da teoria narrativa – querendo transpor os referidos enfoques, tanto o semântico como o pragmático, para uma perspectiva onde o sujeito falante é, an- tes de tudo, identificado como o narrador de um plano de vida: (1) seja o narrador de acontecimentos e causas oriundos de um passado que se projeta para o presen- te, talvez, de coisas que já não sejam mais rigorosamente as mesmas dos fatos men- cionados; (2) seja o narrador de ações e de motivos, que parte do presente em dire-

143 ção a um futuro, então considerados como uma promessa (a iniciativa de uma rea- lização). É a partir dos conceitos de narrador e de identidade narrativa que se busca compreender sob quais condições é possível conceber um conceito de narrativa ju-

rídica, tomando como modelo a narrativa jurídica, ainda que se aproxime do inter- cruzamento com a narrativa ficcional, numa preeminência da primeira sobre a se- gunda, na forma como se pretende demonstrar nessa tese. O objetivo final é o de vislumbrar a narrativa jurídica possível como um processo de reconstrução das falas e das ações dos agentes em conflito: nesse processo os fatos são intercortados por rupturas temporais na própria ordem dos relatados, e reconstituídos por reencon- tros históricos dessas próprias falas, numa nova disposição do recontar o passado sob a perspectiva do sentido do justo. Enfim, o objetivo será o de abordar a concep- ção de identidade narrativa desenvolvida por Ricoeur, com vista a poder falar de uma narrativa jurídica possível, de como ela se constrói em termos de rupturas temporais e reencontros históricos. Posteriormente, a pretensão será a de conceber a identidade narrativa do julgador (o eu julgador) – portanto, a identidade daquele que é o responsável por decidir sobre as ações de agentes em conflito, qualifican- do-as como injustas ou justas, de modo a lhes determinar um sentido próprio para o mundo da vida – que, ao se colocar na ordem do enredo de uma narração como narrador e agente de ação (e, particularmente, como um agente do discurso em diálogo), também julga o comportamento próprio como algo de si mesmo dotado de um sentido, um comportamento com um sentido de injusto ou de justo.

Nos quinto e sexto estudos de Soi-même comme un autre, o autor se afasta daquele diálogo intenso entre a proposta de uma aproximação semântica e outra pragmática, procurando concentrar seu trabalho de reflexão sobre sua teoria narrativa228: agora, tratar-se-á de uma investigação acerca da identidade do narra-

228 Ver Temps et récit (3.V.). Neste trabalho, Paul Ricoeur desenvolve uma seqüência de estudos acer-

ca da relação da narrativa e sua interposição na temporalidade do discurso. Especificamente no terceiro volume, o autor fala da identidade narrativa como ipseidade ou, simplesmente, como um „si‟ da reflexão, o que volta a ser falado em Soi-même comme un autre nos quinto e sexto estu- dos.

144 dor como aquele que porta um enredo (o mýthos) – que tem algo a contar sobre al- go ou sobre alguém, a respeito da realidade das pessoas e do mundo, conforme sua perspectiva de mundo e seu modo de perceber esse mundo; e não mais da mera identificação de um agente de discurso, daquele sujeito lógico portador do lógos. Essa primeira distinção entre o lógos e o mýthos é muito importante, uma vez que se trata de mudar a ótica da reflexão de um discurso estritamente lógico – o discurso pretensamente portador da verdade e comprometido com a realidade –, para um modo de narrar o mundo da vida, onde todas as permissões retóricas e razoáveis são permitidas àquele que fala.

Em Temps et récit, Paul Ricoeur fala de uma correlação entre narrar uma história229 e o caráter temporal da experiência humana230, ou seja, ele afirma

que “o tempo torna-se tempo humano na medida em que o é articulado sob um modo narrativo, e que a narrativa atinge sua significação plenamente quando ele se torna uma condição da existência temporal”231. Isso porque a temporalidade

torna-se apreensível quando e somente quando é possível recontar os fatos que se sucederam no curso temporal de suas ocorrências, de acordo com uma seqüencia- lidade e com uma ordem que são próprias do modo narrativo. Além do mais, essa dupla condição do modo narrativo apontará para a construção de sentido possí- vel232, em relação ao conjunto daquilo que é narrado e que constitui certo labor in-

229 Aqui o autor fala de história no sentido de relato de uma seqüência de acontecimentos, interliga-

dos por causas e circunstâncias que lhe conferem sentido.

230 Caráter temporal da experiência humana pode ser entendido como “vivência”, no sentido de

momento percebido, imediatidade, ou mesmo como o Da-sein – o “estar-aí” - heideggeriano.

231 TR, V.1, p. 105. Diz Ricoeur: “qu‟il existe entre l‟activité de raconter une histoire et le caractère

temporel de l‟expérience humaine une corrélation qui n‟est pas purement accidentelle, mais pré- sente une forme de nécessité transculturelle. Ou, pour le dire autrement: que le temps devient temps humain dans la mesure où il est articulé sur un mode narratif, et que le récit atteint as signification plénière quand il devient une condition de l‟existence temporelle”.

232 Aqui, quando falamos em construção de sentido possível – em possibilidade de sentido ou signi-

ficação - referimo-nos a idéia de razoabilidade do discurso. O que torna um discurso razoável ou aceitável é aquilo que determinada comunidade de comunicação está disposta a aceitar como e- lemento constituinte de sua maneira e forma de pensar a realidade. Ver APEL, K.-O. Transforma- ção da filosofia II: o a priori da comunidade de comunicação. Trad. Paulo Astor Soethe. São Paulo: Loyola, 2000 (Col. Leituras filosóficas). P. 249 e ss.; WITTGENSTEIN, L. Investigações filosóficas.

145 terpretativo, e que no plano ético se identifica como a sabedoria prática de uma comunidade de comunicação, que se constrói como o equilíbrio refletido das con- siderações bem ponderadas.

Esse labor interpretativo somente é possível com o distanciamento que se toma entre o momento do qual se fala – quando se fala de algo que aconte- ceu num determinado tempo – e o tempo da própria fala – o que exige do narrador uma capacidade de dizer o passado em termos presentes, atuais, “renovadores”. Então, é possível afirmar que a questão central da narrativa é orientada por uma investigação acerca da temporalidade daquilo que é narrado e do momento tempo- ral próprio do narrar: uma investigação que aponta para a ipseidade. Trata-se de uma questão a respeito da relação entre o tempo da narrativa – ou o momento pre- sente em que ela fala dos acontecimentos passados, de acordo com um modelo que os atualiza e os tornam presentes – e o tempo da ação efetivamente praticada – o momento passado da ação praticada, reconstituído num modelo descritivo, tal co- mo se fosse possível recortar um quadro da paisagem do passado e deslocá-lo para o presente como uma “figuração fidedigna” da realidade, ou a mesmidade que tem- poralmente permanece dos fatos passados. Aqui, a expressão entre aspas serve para destacar o caráter de dever (em cumprir uma promessa) inerente a narração, pois a “figuração fidedigna” é, em verdade, apenas uma tentativa de ser fiel ao trabalho narrativo de recontar os fatos do modo mais ou menos próximo, ou o mais proximamente possível daquilo que eles foram quando aconteceram. Nesse sentido, o narrador age como quem promete dirigir seu discurso e todos os recur- sos de sua fala para que a correspondência entre a fala e os acontecimentos seja a mais verossímil possível, efetivando assim sua capacidade narrativa, enquanto al- guém que fala algo de alguém, isto é, como alguém capaz de ascrever.

Nessa direção, por meio da experiência da linguagem somos leva- dos à identificação de uma ordem do mundo – das experiências do mundo e dos

Trad. Marcos G. Montagnoli. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 1996; PERELMAN, C. Ética e direito. Trad. Maria Ermantina Galvão. São Paulo: Martins Fontes, 2000 (Col. Justiça e direito). P. 93-145.

146 respectivos planos de vida –, num exercício que acontece a partir de sua represen- tação textual, entre as percepções suscitadas pela experiência mesma da linguagem e as que nos levam aos sentidos decorrentes de sua interpretação. Então, a herme- nêutica presta o seu papel como mediadora e doadora de sentido ao discurso, a partir da percepção do texto da realidade. Ela opõe a tradição (que busca a sedi- mentação do entendimento) a um sentido (que inova a significação possível da rea- lidade), motivada pelas experiências da linguagem e dos elementos referenciais que podem ser experimentados na obra narrativa. Quer dizer, o intérprete de uma narrativa parte de uma pré-compreensão das coisas mesmas do agir humano (da- quilo que lhe pertence), em direção a uma nova configuração de sentido (agora sim, uma re-figuração), que deverá ocorrer a partir da interação entre o mundo do texto da realidade e o mundo próprio do sujeito – ou, propriamente, seu mundo de experiências. Segundo a proposta ricoeuriana, esse problema de interpretação pa- rece depender de uma referência cruzada233 que se constitui entre a historiografia

dos acontecimentos e a narrativa de ficção – entre o modo da narrativa histórica e o modo da narrativa ficcional –, o que nos coloca uma questão acerca dos limites que permeiam essas duas maneiras de narrar234, correspondente a duas perspectivas de

temporalidade narrativa.

No terceiro volume de Temps et récit, Ricoeur fala de um intercru- zamento entre a narrativa histórica e a narrativa de ficção235. Por intercruzamento

da história e da ficção o autor entende a “estrutura fundamental, tanto ontológica como epistemológica, em virtude da qual a história e a ficção concretizam algo de sua intencionalidade respectiva que emprestam a intencionalidade do outro. Essa concretização corresponde, na teoria narrativa, ao fenômeno do „ver como...‟ “236.

233 TR, V. 1, p. 154.

234 Como veremos mais adiante, é a partir dessas duas referências que se localizará uma narrativa

jurídica possível.

235 TR, V. 3, p. 329-348.

236 TR, V. 3, p. 330. Diz o autor: “Par entrecroisement de l‟histoire et de la fiction, nous entendons la

structure fondamentale, tant ontologique qu‟épistémologique, em vertu de laquelle l‟histoire et la fiction ne concrétisent chacune leur intentionnalité respective qu‟em empruntant à

147 Nesse sentido, há algo de intencionalidade que a narrativa de ficção empresta a intencionalidade da narrativa histórica, tanto quanto esta empresta àquela, na mesma medida em que o recontar orienta-se por certa perspectiva, isto é, segundo um modo próprio de ver como237, de ver o mundo da vida como algo a ser compar-

tilhado, convivido, e acima de tudo, sentido. Então, o intercruzamento entre o his- tórico e o ficcional significa que, quando a narrativa histórica faz referência aos fatos passados, ela toma da narrativa de ficção uma intenção de contextualizar e de significar seus relatos, por meio de recursos da linguagem que permitem recriar situações e relações entre os componentes a que faz alusão, e a partir das atuações do imaginário, sem para tanto se recusar a imaginar uma cena do cotidiano da é- poca que eventualmente jamais acontecera. Tudo isso com vistas a permitir e con- ceder uma compreensão de sentido ao que é narrado. Todo esse processo ocorre no interior de uma trama de possibilidades minimamente criadas – de “possibilidades inventadas” – para que as ações narradas tomem uma dinâmica diferenciada, para que o relato seja capaz de contar o passado de uma maneira mais razoável para o destinatário da narração, que poderá aceitá-lo como algo razoável, digno de confi- ança e de plausibilidade. No entanto, ainda que a narrativa histórica tome por em- préstimo certos recursos da ficcional, ela mantém sua característica de contar um passado de fatos e de acontecimentos efetivamente ocorridos. O que se verá adian- te é que a concepção de narrativa histórica desvincula-se de uma concepção realis- ta de história mais ortodoxa e adquire uma espécie de personalidade narrativa própria, permitindo ao leitor uma melhor compreensão dos sentidos que relata.

Para aqueles que partem de uma concepção realista, a história re-

inscreve o tempo da narrativa no tempo do universo, com uma cronologia que se

l‟intentionnalité de l‟autre. Cette concrétisation correspond, dans la théorie narrative, au phénomène du „voir comme…‟ ”.

237 Falamos em perspectiva numa direta referência a idéia de referencial metafórico (TR, V. 3, p. 330.

Diz Ricoeur, a respeito de citado intercruzamento da história e da ficção, que o “ver como...” é como foi caracterizada a referência metafórica, em Metáfora viva). Cf. RICOEUR, P. Metáfora viva. Trad. Dion Davi Macedo. São Paulo: Loyola, 2000. P. 352 e ss.

148 submete a uma única escala temporal, num calendário padrão238. Então, essa escala

permite a determinação de lugares fixos para situar um certo “fato histórico” num sistema de datações possível, o que permite falar em passado, presente e futuro como instâncias lógicas, pré-determinadas e pré-ordenadas. Todas as lembranças acumuladas no imaginário coletivo podem ser assim devidamente datadas devido a sua re-inscrição no tempo do calendário, como um passado (de memórias ances- trais) que é buscado no presente (dos e pelos contemporâneos) e que se direciona para um futuro (de sucessores que receberão a narrativa acerca de determinadas ações como significações antropológicas das capacidades humanas). Porém, a de- terminação dessa temporalidade ainda dependerá da perspectiva de um “como se”

239 – de uma perspectiva que empresta sua condição do intercruzamento entre a

narrativa histórica e a de ficção –, que seja capaz de presentificar o que se narra mediante a ligação entre os diversos espaços temporais constatáveis na escala do calendário.

Esse processo de ligação, recepção e atualização do passado num presente se dá com a atuação de um imaginário atualizador, próprio da narrativa ficcional. Esse imaginário exerce um papel mediador importante, quando se passa da re-inscrição do tempo vivido (passé daté) àquele que dá a qualidade de passeidade do passado240 (passé refiguré). Mas é na re-figuração do passado que a referência

metafórica (o ver como) tem o seu lugar, quando a história imita em sua escritura os modos de enredamento que recebe da tradição literária241. Trata-se do emprego de

recursos poéticos e retóricos, dotados de uma função representativa da imaginação histórica, e que se manifestam como uma maneira de ver o passado. A aplicação de tais recursos contribui para a construção da narrativa histórica, conquistando a

238 TR, V. 3, p. 331. 239 TR, V. 3, p. 333.

240 TR, V. 3, p. 334 e 335. Aqui, Ricoeur propõe a expressão “la passéite du passé”. Como não existe

tradução literal para “passéite”, uma vez que se trata, também, de é um neologismo francês, propõem-se a tradução mais próxima da forma como consta no texto.

241 TR, V. 3, p. 337. Diz Ricoeur que “a história imite em sua escritura os tipos de colocação em enre-

do recebidos da tradição literária” (“que l‟histoire imite dans son écriture les types de mise en in- trigue reçus de la tradition littéraire”).

149 atenção, a suspeita ou a confiança do leitor. O fato é que, pelo intercruzamento que a narrativa histórica faz com a de ficção, o historiador expressa um pensamento com toda a vivacidade de um discurso interior – dotado de força ilocutória sufici- ente para que sua narrativa seja habilmente capaz de despertar, no espírito de seu leitor, os sentidos que este possa ter em relação ao que aquele diz242.

Paul Ricoeur alerta sobre a necessidade de compreensão da dimen- são temporal do si e da ação no ato de narrar. Isso porque, tanto a pessoa da qual se fala quanto o sujeito da narrativa, têm uma história, são sua própria história243.

Quer-se dizer que a narrativa acontece na existência, num tempo e num espaço determinados, na própria ação de falar e a partir de toda uma estrutura de compo- sição do enredo onde se desenvolve a história. Nesse sentido, a possibilidade de uma narrativa eticamente neutra é descartada pelo modo como a narrativa se cons- titui: uma narração em perspectiva. Eis o resultado que é possível obter, até o mo- mento, com a noção de intercruzamento entre história e ficção: a narrativa sob uma perspectiva que encaminha o olhar do narrador para um sentido possível da vida.

Quanto ao papel da narrativa enquanto um modo de dizer a reali- dade segundo uma perspectiva própria, diz o autor que

“a teoria narrativa faz verdadeiramente a mediação entre a descrição e a prescrição se uma ampliação do campo prático e a antecipação de considerações éticas são implicadas numa estrutura mesma do ato de narrar. Que é o suficiente para o momento dizer que em muitas narrativas, é na escala de uma vida inteira que o si procura sua identidade; entre as ações curtas (...) e a conexão de uma vida (...), dispõem-se graus de complexidade que levam a teoria da ação ao nível requerido pela teoria narrativa. É do mesmo modo que eu direi por antecipação que não existe narrativa etica- mente neutra. A literatura é um vasto laboratório onde são ensaiadas as es-

242 TR, V. 3, p. 338 e 339. 243 SA, p. 137.

150 timações, as valorações, os julgamentos de aprovação e de condenação pelos quais a narratividade serve de propedêutica à ética” 244.

A narrativa é a fala que encontra o seu lugar entre o descrever e o prescrever. É no ato de narrar que o sujeito pondera sobre as ações possíveis de serem realizadas, sobre os seus sentidos e sobre os valores de cada uma delas. A narrativa é esse espaço de ponderações sobre as atitudes mais ou menos valorosas, onde os julgamentos morais que podem determinar uma conduta como injusta ou

justa atuam livremente sobre uma gama de possibilidades lógicas e fenomenológi- cas da ação. Literalmente, é a narrativa um laboratório intelectual de experimenta- ções, no sentido de que ela permite pôr a prova toda sorte de juízos de valor e de reflexões éticas, sem deixar perder a identidade do sujeito do discurso e do agente da ação com as mudanças de significação decorrentes da temporalidade245. Segun-

do o autor, é em certo sentido que

“a literatura se verifica consistir num vasto laboratório para as experiências do pensamento onde são colocados à prova da narrativa os recursos de variação da identidade narrativa. O benefício dessas experiên- cias do pensamento é o de ter manifesta a diferença entre as duas significa-

244 SA, p. 139. Diz Ricoeur: “la théorie narrative ne fait véritablement médiation entre la description

et la prescription que si l‟élargissement du champ pratique et l‟anticipation de considérations éthique sont impliqués dans la structure même de l‟acte de raconter. Qu‟il suffise pour le mo- ment de dire qu‟en maints récits, c‟est à l‟échelle d‟une vie entière que le soi cherche son identité; entre les actions courtes (...) et la connexion d‟une vie (...), s‟étagent des degrés de complexité qui portent la théorie de l‟action au niveau requis par la théorie narrative. C‟est de la même façon que je dirai par antecipation qu‟il n‟est pas de récit éthiquement neutre. La littérature est un vas- te laboratoire où sont essayés des estimations, des évaluations, des julgements d‟approbation et de condamnation par quoi la narrativité sert de propédeutique à l‟éthique”.

No documento U MA HERMENÊUTICA DOH OMEMJ USTO (páginas 154-178)