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III. Actividade organeira no período da Monarquia Constitucional

III. 2 Joaquim Silvestre Serrão e João Nicolau Ferreira

Em 1841 chega a Ponta Delgada Joaquim Silvestre Serrão (1801-1877),251 freire da ordem de Santigo da Espada no Convento de Palmela (Setúbal), onde assumira funções de organista e compositor.252 Graças a esses requisitos e provavelmente à relação de amizade que entretanto desenvolvera com o bispo da diocese de Angra, D. Frei Estevam de Jesus Maria – por ocasião da passagem de ambos por Rilhafoles –, Serrão ocupou o cargo de organista titular da Igreja Matriz de Ponta Delgada até ao final da década de sessenta e, ao longo de quase quarenta anos (1841-1877), assumiu um lugar cimeiro na paisagem musical sacra e profana dos Açores.

Também é provável que se tenha devido à relação próxima com o bispo de Angra a construção do seu primeiro instrumento nos Açores, destinado à Sé de Angra, ali colocado numa tribuna do lado do Evangelho e inaugurado em 1854, embora a

249 A referida igreja, apesar de dimensões reduzidas, encerra um importante património artístico.

Encontra-se actualmente em processo de restauro pelo Atelier de Conservação e Restauro de Obras de Arte São Jorge Lda.

250 Cf. AMRG, Arquivo da Junta da Paróquia, Livro dos Inventários da Paróquia de Nossa Senhora da

Estrela na Ribeira Grande (1839-1866), fl. 91.

251 P-PD, Registo de Óbitos de 1877 – S. Pedro de Ponta Delgada, assento nº 13, fls. 15 v. e 16. 252 No cap. V.3.1 desta tese é apresentada uma síntese biográfica de Silvestre Serrão.

imprensa coetânea não relate com pormenor esse acontecimento.253 Por oposição ao

outro órgão que a Sé já dispunha no lado da Epístola, atribuído a Peres Fontanes, o órgão de Serrão era comummente designado de ‘pequeno’.254 Na década de sessenta,

mais concretamente em 1867, surge um pagamento “ao pintor q esta pintando o orgão pequeno” no valor de 63$000.255

Antes desse instrumento, porém, há registo de um pagamento efectuado a Silvestre Serrão, em Agosto de 1844, para “limpação do orgão” da Igreja Matriz de Ponta Delgada.256

Visto que ambos os instrumentos da Sé de Angra foram destruídos por um incêndio que ali ocorreu em 1983, os dados aqui apresentados baseiam-se nas duas únicas fontes que, independentemente do nível de fiabilidade, descrevem as suas características. A primeira é da autoria de António Teixeira de Macedo e, dado o nível de descrição, é aqui transcrita na íntegra:

ORGÃO APERFEIÇOADO

Em 1850 o Reverendo Joaquim Silvestre Serrão, natural de Setubal tentou nesta ilha alguns melhoramentos no mechanismo dos orgãos. Este profundo compositor sagrado, e distincto organista, fez naquela epocha construir um órgão de calibre 12, aberto, com grande prespectiva em grupos, batarias dobradas; columnatas; ornatos etc. como se deparam em quasi todos deste calibre, e dahi para cima. O plano, desta obra devido ao talento do Sr. Serrão, foi plenamente executado pelo mestre João Nicoláo, desta cidade.

Tem este orgão 22 registos de mão; onze por cada lado; porem como 3 servem a duas vozes de timbre, devem reputar-se 25, os quaes, quasi todos, são de mechanismo dobrado, porque vão também a pedaes geraes, contendo quasi mil vozes distribuídas pelos jogos seguintes.

253 Cf. Teófilo de Braga, “Joaquim Silvestre Serrão e a Música Religiosa em Portugal”, Arte Musical

(separata), Lisboa, Typographia do Annuario Commercial, 1906, p. 35. Uma notícia no período O Angrense, em 25 de Janeiro 1855, informa da partida de Serrão para S. Miguel, “onde reside, distincto organista, e organeiro e autor do novo órgão da sé desta cidade.” Segundo uma cronologia imprensa sob o título “Algumas datas significativas da Sé de Angra”, exposta numa das salas da catedral, o órgão foi inaugurado em 1854. Não foram localizadas informações sobre os procedimentos contratuais.

254 P-AN, Cartório da Mitra de Angra, Casa Forte, Livro n.º 40 (1853-1872), fl. 15 (1872): referência a

dois órgãos, um grande e outro pequeno. Também o padre Manuel d’Azevedo da Cunha identifica-o como “pequeno”. Cf. op.cit., p. 272.

255 Cf. P-AN, Cartório da Mitra de Angra, Casa Forte, Livro n.º 65, Contas e despesas Sé 1864, fl. 15. Na

mesma fonte (fl. 15 v.) lê-se: “Ao pintor Marcellino Ivo Per.ª pr. Conta da pintura do orgão, mais 4$800”.

256 Cf. AIMPD, Ordem de Pagamentos da Confraria do Santíssimo Sacramento, mç. 2, documento

avulso onde se regista a quantia de 81.520 réis para a referida despesa, a qual parece exorbitante face ao custo da construção do instrumento (ver cap. II).

Quatro flautados na esquerda, e três na direita: três jogos de palhetarias na esquerda, e três na direita: seis registos de cheios de cada lado: cinco pedaes geraes para diversos usos, e um para o trémulo.

Apresenta este magnifico instrumento as inovações, e singularidades que passamos a descrever.

Primeiro. – Um registo que, com summa facilidade, transporta a musica meio

ponto, e um ponto para cima, e o mesmo para baixo; podendo fazer diferença de dous pontos. Esta notavel invenção consiste em um jogo dobrado, e fixo que prende nas varetas da reducção, ficando o próprio teclado livre, para se mover por meio de uma manivella.

Se outras bellezas não se admirassem no grandioso instrumento, de que nos occupamos, bastaria só a invenção do transporte, para o tornar digno de singular mensão, e para dar a seu autor a maior e mais bem merecida nomeada.

Segundo. – Um teclado de cinco oitavas completas, que, á maneira do pianos

verticaes, sahe á frente, ficando assim mais elegante, e commodo para tocador e vozes.

Terceiro. – Doze pedaes, ou tastos para notas sustentadas, que ferem a primeira

oitava do orgão, podendo o organista fazer o baixo fundamental com os pés, ficando dest’arte as mãos livres para o resto do teclado, de que se póde tirar não pequeno partido. Consta-nos haverem orgãos em paizes estrangeiros com este recurso, mas em Portugal não temos noticia de nenhum.

Quarto. – Toda a canaria de pau contendo, como já asseveramos, perto de mil

canudos, ou vozes. Advirta-se porem que constumando ter os orgãos alguns flautados de pau, especialmente na esquerda, pôde o Sr. Serrão conseguir outro tanto em quanto á direita.

Mais algumas inovações existem, em quanto aos cheios, que, por brevidade, ommittimos, e que melhor se farão sensiveis ao homem intelligente, que as examinar no instrumento.

Quem prestar verdadeiro valor a estes trabalhos, facilmente acreditará nos muitos estorvos e dificuldades com que teve de luctar o autor, achando-se numa terra onde tão escassos são os recursos, para levar a cabo a empreza que se propoz, para provar que, bastará dizer-se que o mestre executor da obra, unico que lhe poz mão, não obstante ser habil no seu officio, no que praticava era inteiramente hóspede, pois nem sequer havia ainda aberto um orgão.

Se este orgão não excede os do seu calibre, e melhores da ilha em poder de canaria, força de vozes metalicas, e em riqueza de ornatos, excede-os, sem duvida, na doçura, e sonoridade de suas vozes, nos recursos, e invenções acima designadas, e muito mais no diminuto do seu preço, estipulado em muito menos de metade do valor em que teem importando os iguaes em calibre, e ainda outros menores, que existem nesta ilha. 257

À parte o nível de precisão, reconhecem-se características da organaria portuguesa, nomeadamente a existência de meios registos e registos inteiros (à semelhança da concepção de Peres Fontanes), uma estrutura fónica baseada em registos

257 António Teixeira de Macedo, Breve Memoria sobre o Estado da Agricultura, Commercio e Industria

do Districto de Ponta Delgada offerecida Ao Exm.o Sr. Antonio Maria de Fontes Pereira de Mello, Ministro e Secretário d’Estado das Obras Publicas Commercio e Industria, Ponta Delgada, 1853, pp. 26 e 27.

simples, compostos e de palhetas, pedais anuladores, e ainda uma pedaleira com doze notas acopladas à primeira oitava do teclado, uma particularidade visível também no órgão de Peres Fontanes da Igreja de S. José em Ponta Delgada, um instrumento familiar a Silvestre Serrão (vide cap. V). Paralelamente, evidenciam-se inovações que Silvestre Serrão entendeu integrar possivelmente para facilitar a execução das suas próprias composições, como o sistema de transposição, e a ampliação do âmbito do teclado.258

A segunda fonte que fornece dados sobre o órgão de Silvestre Serrão para a Sé de Angra é da autoria de um estrangeiro (não identificado) que visitou os órgãos da Sé em 1959, e apresenta uma descrição sucinta que não fornece muito mais indicações morfológicas do que a anterior:

Contrary to Cerveira’s tradition, front of this “orgão pequeno”, as the people of Angra call it, is filled with square wooden pipes, arranged in even flat surface, although painted faces on each pipe seem to be a bold copy of Cerveira. “En chamade” pipes are in double row and parallel to each other. The build-in manual has the compass of 6 octaves, stops knobs are again placed on both sides of the music rack and the accompanying pictures show well the arrangement as well as the interesting pedalboard. Compass of the pedalboard extends to 12 tones, unusual is the arrangement added to the lowest pedal: something of a set screw, probably used to keep the pedal down while both feet could be used for playing other pedal or operating “stirrup” couplers. These couplers are more numerous than in Cerveira’s great organ, two of them work vertically. 259

Deste texto sobressaem dois aspectos interessantes, ambos aparentemente pouco fidedignos. Um deles tem a ver com a extensão de seis oitavas no teclado, o que se

258 Como se verá no capítulo dedicado ao repertório, as composições sacras de Silvestre Serrão não

ultrapassam o g’’’, pelo que a referência a cinco oitavas deve ser interpretada com reserva. Também com base nas obras de Serrão, o pedal de trémulo mencionado na descrição deverá corresponder ao pedal de tambores, outra característica muito presente nos órgãos de Peres Fontanes e Machado e Cerveira.

259 Cf. “Organs of two Islands”, p. 505. Tradução da autora: “Contrariamente à tradição de Cerveira, a

fachada deste “órgão pequeno”, como as pessoas de Angra lhe chamam, é composta por tubos de madeira de secção quadrada, dispostos numa superfície plana, embora as caras pintadas em cada tubo pareçam ser uma cópia atrevida do Cerveira. Há duas filas de tubos “en chamade” paralelas entre si. O teclado integrado tem extensão de 6 oitavas. Os manípulos dos registos estão situados em ambos os lados da estante e as imagens anexas mostram bem esse arranjo assim como a interessante pedaleira. A extensão do pedal estende-se a 12 notas. Invulgar é o dispositivo adicionado ao pedal mais grave: alguma coisa como um parafuso, provavelmente usado para manter o pedal em baixo enquanto ambos os pés podiam ser usados para tocar outros pedais ou operar os acoplamentos em “estribo”. Estes acoplamentos são mais numerosos do que no órgão grande de Cerveira, dois deles funcionam verticalmente.”

afigura pouco provável tendo em conta que o órgão da Igreja de S. Pedro em Ponta Delgada, construído quatro anos depois pela mesma dupla de organeiros (Silvestre Serrão e João Nicolau Ferreira), apresenta uma extensão mais reduzida (cinquenta e seis notas). O outro aspecto está relacionado com o material e configuração dos tubos da fachada. A partir da única reprodução do órgão que se conhece, verifica-se efectivamente a presença de caras pintadas nas bocas dos tubos de metal.

Fig. 3.3

Órgão da Sé de Angra260

Joaquim Silvestre Serrão / João Nicolau Ferreira, 1854

Por intermédio do protector de Silvestre Serrão na ilha de S. Miguel, o 1.º Visconde da Praia – Duarte Borges de Medeiros Dias da Câmara (1799-1872),261 Serrão

260 Reprodução extraída do livro de Valdemar Mota, Santa Sé do Salvador – Igreja Catedral dos Açores,

Sé de Angra, Angra do Heroísmo, 2007, p. 39.

261 Teófilo de Braga descreve o seguinte: “Ainda conheci mestre Nicoláu, com a sua grande officina de

marcenaria; tinha aprendido na officina de mestre Kines, marceneiro holandez eximio, que o Visconde da Praia trouxera para a ilha de S. Miguel, e occupara nos trabalhos do seu mobiliario. Mestre Kines levou a um alto gráo de perfeição a marcenaria em Ponta Delgada, creando eximios officiaes que se estabeleceram, como este mestre Nicoláu, Hortas, e alguns mais.” Cf. op.cit., p. 36, nota 1. Através dessa afirmação e ainda de uma peça a dois pianos, composta por Serrão, e dedicada ao Visconde e Viscondessa da Praia, cuja cópia impressa se encontra no Arquivo Paroquial da Igreja Matriz de Ponta Delgada, confirma-se a ligação de João Nicolau Ferreira ao Visconde da Praia e não ao Barão da Fonte Bela, tal como referem Dinarte Machado e Gerhard Doderer no Inventário dos Órgãos Açores, p. 18. Sendo comum encontrar na bibliografia sobre Serrão a referência ao Visconde da Praia, e, tendo em conta o tempo de vida do 1.º Visconde, Duarte Borges da Câmara e Medeiros (1799-1872), e do 2.º, António

conheceu um carpinteiro que o auxiliou na construção dos órgãos, tornando-se depois construtor independente: João Nicolau Ferreira (1820-1878).262 A sua identificação

consta em seis instrumentos (Tabela 3.1). O facto de ter numerado com o n.º 2 o primeiro instrumento que se conhece com a sua assinatura (Igreja de S. Pedro em Ponta Delgada) corrobora a colaboração no órgão da Sé de Angra e sugere a vontade de Silvestre Serrão em omitir a sua própria identificação, que não consta em nenhum instrumento.263

Número Igreja Data Extensão Palhetas Corneta Voz

humana [1] Sé (AH – TER) 1854 C-g’’’ • • • 2 São Pedro (PD – SM) 1858 C-g’’’ • • 3 Santa Luzia (Feteiras – SM) 1860 C-g’’’ • 4 Convento S. Francisco (RG – SM) 1863 C-g’’’ • 5 ? 6 ?

7 N.ª Sr.ª das Vitórias (Vila do Porto – S. Maria) 1867 C-g’’’ 8 Santo António (Capelas – SM) 1875 C-g’’’ 9 N.ª Sr.ª da Ajuda (Bretanha – SM) 1877 C-g’’’

Tabela 3.1 – Órgãos de Silvestre Serrão / João Nicolau Ferreira

Em acta de 18 de Fevereiro de 1863, a assembleia da Santa Casa da Misericórdia da Ribeira Grande (S. Miguel), proprietária da Igreja do Convento de S. Francisco na mesma cidade, delibera pagar metade das despesas necessárias à consolidação da estrutura do coro alto para acolher o órgão (n.º 4) que estava em construção, sendo que a outra metade ficaria a cargo da Ordem Terceira.264 De facto, o periódico A Estrella

Borges de Medeiros (1829-1913), seu filho, a ligação de Serrão terá sido certamente com o 1.º Visconde, embora a faceta mecenática seja igualmente reconhecida ao filho.

262 P-PD, Registo de Óbitos de 1878 – Matriz de Ponta Delgada, assento nº 67, fls. 24 v. e 25. A profissão

registada na certidão é de carpinteiro.

263 Manuel d’Azevedo da Cunha também afirma a colaboração de João Nicolau Ferreira na construção do

órgão da Sé. Cf. op.cit., pp. 293 e 294.

264 Arquivo da Santa Casa da Misericórdia da Ribeira Grande (ASCMRG), Livro de Acordãos da Mesa

1863-1867, n.º de inventário 02G-294, fl. 88. Noutra ata, de 28 de Maio de 1863 (fl. 96), a mesa da Irmandade delibera o pagamento de 30 mil réis a José Venâncio da Costa pela madeira de pinho para o coro da igreja, a fim de ser colocado o órgão da Irmandade Terceira.A consulta deste arquivo, efectuada no ano de 2011, foi-me gentilmente autorizada pelo então Provedor da Santa Casa da Misericórdia da

Oriental, em notícia de 25 de Janeiro de 1863 refere: “A imagem do Senhor Sancto

Christo dos milagres tem sahido a tirar esmola para a compra de um orgão”, e descreve os donativos angariados desde Dezembro de 1862, quer por particulares quer pela venda de géneros oferecidos. Além disso, informa que o custo da construção do órgão ascenderia a 700$000 réis.265 No entanto, não há referência ao nome do construtor nem foi encontrada documentação contratual. O mesmo sucede, de resto, com todos os outros instrumento, à excepção do n.º 8, para a paróquia de Santo António (Capelas). Na deliberação da Junta dessa paróquia, em 1874, lê-se que a respectiva igreja tinha necessidade de um órgão para as solenidades do culto divino, tendo sido adjudicada a construção a João Nicolau Ferreira. Nessa mesma deliberação consta a entrega de um órgão “velho arruinado” em troca de outro novo, por 550$ réis.266 Não obstante a

menção a um contrato, este não foi localizado.

Embora seja difícil determinar quais os órgãos construídos em parceria com Joaquim Silvestre Serrão e quais os da exclusiva responsabilidade de João Nicolau Ferreira,267 uma análise aos planos fónicos dos instrumentos evidencia o seguinte (Tabela 3.1): a partir do n.º 2, inclusive, deixa de existir o registo de Voz humana; a partir do n.º 3, década de 1860, não existe qualquer tipo de registo de palheta; o registo de Corneta é excluído a partir do órgão n.º 7, na segunda metade da década de sessenta; os três instrumentos dessa década são integralmente construídos com tubos de madeira.

Dado o estado de saúde de Silvestre Serrão a partir de 1866,268 depreende-se que

os instrumentos n.os 7, 8 e 9 tenham sido da exclusiva responsabilidade de João Nicolau

Ribeira Grande, João Cabral de Melo. O órgão de S. Francisco encontra-se presentemente em fase de restauro, a cargo da empresa Dinarte Machado – Atelier Português de Organaria Lda, e, tal como o órgão n.º 7 (Igreja de N.ª Sr.ª das Vitórias), foi adquirido pela Ordem Terceira, a qual, após a extinção dos conventos masculinos, assumiu a administração de algumas igrejas. No rol de bens móveis e imóveis do extinto Convento de Nossa Senhora da Vitória, em Santa Maria, datado de 1835, não existe órgão. Cf. Arquivo dos Açores, vol. XV, Ponta Delgada, Universidade dos Açores, 1983, p. 108.

265 A Estrella Oriental, 25 de Janeiro de 1863, n.º 345, ano VI.

266 P-PD, Governo Civil de Ponta Delgada, Lv. 558, Registo de Alvarás, fls. 56 e 56 v. Não foi possível

verificar a presença de tubos antigos porque o instrumento encontra-se encaixotado. No entanto, a reutilização de tubos antigos é visível no órgão n.º 9 (N.ª Sr.ª da Ajuda – Bretanha), como se verá no capítulo seguinte.

267 Segundo as informações de Teófilo de Braga, op. cit., p. 37, João Nicolau Ferreira já tinha construído

quatro órgãos em 1862, sendo que o Inventário dos Órgãos dos Açores indica três, todos em S. Miguel: n.º 2, 1858 – Igreja de S. Pedro (Ponta Delgada); n.º 3, 1860 – Igreja de Santa Luzia (Feteiras); n.º 4, 1863 – Convento de São Francisco (Ribeira Grande).

268 Não obstante Ernesto Vieira referir o ano de 1868 (cf. op. cit., vol. II, Lisboa, Lambertini, 1900, p.

293) um periódico local anuncia, em 1866, que Silvestre Serrão se encontra doente. Cf. A Aurora dos Açores, 10 de Março de 1866, ano 11, n.º 667.

Ferreira. Considerando ainda o tipo de caixa, a composição fónica e o material dos tubos (integralmente de madeira) dos instrumentos da década de sessenta, é igualmente plausível que os órgãos n.os 3 e 4 também não tenham tido a colaboração de Serrão.

Assim, a parceria com Silvestre Serrão recai sobretudo nos dois primeiros instrumentos, na década de cinquenta (Sé de Angra e S. Pedro de Ponta Delgada).

A numeração dos instrumentos sobreviventes revela a construção de outros dois órgãos actualmente desconhecidos – números 5 e 6 – dos quais não restam vestígios nem indicações sobre as igrejas onde foram instalados. Porém, atendendo a que a área de acção de João Nicolau Ferreira se concentrou nas ilhas do grupo oriental, deduz-se que aqueles instrumentos tenham sido construídos para as igrejas micaelenses ou marienses.

Os instrumentos de João Nicolau Ferreira reflectem a tendência da organaria insular nas décadas de 60 e 70: someiro duplo – principal e secundário – com o respectivo sistema de pedais para anular o cheio, divisão do teclado entre o Dó e Dó# centrais e a presença de meios registos, gradual exclusão do plano fónico dos registos de palheta e dos registos solistas da mão direita Voz humana e Corneta, fixação da extensão do teclado em cinquenta e seis notas (C-g’’’).