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Jornal da Marinha Grande

No documento Tese final (páginas 170-174)

Capítulo 4 Análise de Conteúdo e Caracterização da Imprensa Regional de Leiria

5. Jornal da Marinha Grande

O JMG foi fundado em 1 de junho de 1963 por José Martins Pereira da Silva e Vergilio Oliveira de Lemos, redatores principais, dois antigos colaboradores da «Voz da Marinha Grande» publicada no semanário Região de Leiria. O periódico surge “numa altura em que parecia não ser viável um alvará para imprimir qualquer jornal local” (Neto, 2013, p. 29).

Tal só se conseguiu “demovidas algumas dificuldades junto da Gráfica Editora (de Rio Maior), proprietária do Alvará” (Azambuja, 1998, p. 298).

Nesta altura era extremamente difícil aceder a alvarás uma vez que o Estado Novo impunha condições aos proponentes e em muitos casos recusava os pedidos por temer informação menos favorável ao regime. Neste domínio, a Igreja e as gráficas com influência junto do poder político tinham mais facilidade.

A publicação, com direção de Fernando Duarte, tinha, inicialmente, apenas seis páginas. O proprietário era João Pereira e o editor R. Ricardo Lopes. Este jornal é uma emancipação de uma secção de outro na sede do distrito, o Região de Leiria.

O semanário regionalista, no nº 1, prometia estar ao serviço da indústria, comércio, escolas, coletividades, desportos, letras, ciências e de todas as curiosidades artísticas, históricas e etnográficas.

“O seu aparecimento, embora modesto, preenche uma lacuna e satisfaz, por isso, a legítima e antiga aspiração dos marinhenses; e como órgão informativo, tem deveres a cumprir: defender com estímulo e amor-próprio os direitos civis que as leis vigentes asseguram aos cidadãos portugueses e servir de porta-voz a todas as reivindicações consubstanciadas na razão e na legitimidade desses mesmos direitos”.187

No primeiro número é publicado um longo artigo denominado Gratidão no qual são homenageados antigos jornais e jornalistas marinhenses. Azambuja (1998, p. 298) chama-lhe “acto louvável”.

O primeiro diretor abandona o jornal vidreiro no final de 1963, por afazeres de ordem profissional noutras publicações da gráfica editora. Esta é a explicação oficial mas não será de todo descabido recordar que a Gráfica de Rio Maior foi uma espécie de «barriga de aluguer» do alvará do Jornal da Marinha Grande.

Falecido já o seu sucessor natural, José Martins Pereira da Silva, que a partir daí passa a figurar no cabeçalho como fundador, é escolhido para diretor Diamantino da Silva André, que fazia parte do corpo redatorial e que tinha experiência pois já colaborara noutros jornais, designadamente na página da Marinha Grande no Região de Leiria. Dirige o título durante dezoito longos anos.

Neste período integram a publicação Telmo Ferreira Neto, Vítor Ferreira, Padre Luciano Guerra, Álvaro da Silva André e, mais tarde, Adriano Ferreira Paiva188, este ainda

colaborador do JMG, que durante um curto período de tempo liderou o jornal, no ano de 1974. Antes, em 1971, o advogado Joaquim João Pereira189 chefiou o título, tendo contribuído

para a sua consolidação editorial, depois de alguns problemas de ordem financeira, política e editorial, que quase o levaram ao encerramento.

Entre 1968 e 1969, o Jornal da Marinha Grande vive problemas de redação e distribuição.

É nesta altura que o semanário é adquirido à Gráfica de Rio Maior, passando a ser detido pelo Património dos Pobres da Marinha Grande, instituição da paróquia local. Diamantino André190 passa a editor/diretor e o JMG é, finalmente, “um jornal feito por

marinhenses para marinhenses” (Azambuja, 1998, p. 299). Frise-se que o título, até então, pertencia a uma entidade exterior ao concelho, que «emprestou» o seu nome para que este pudesse chegar aos leitores.

188 Nasceu em Miragaia, no distrito do Porto, em 4 de agosto de 1936, mas veio trabalhar para a Marinha Grande

em 1963. Esteve ligado à empresa vidreira Ricardo dos Santos Gallo e colaborou com o JMG alguns anos depois, com pequenos apontamentos. Foi diretor do Jornal da Marinha Grande alguns meses, numa fase de transição. A sua vida profissional passou também pelo Externato Afonso Lopes Vieira, ligado à Igreja, mas acabou por regressar à empresa Ricardo Gallo, hoje GalloVidro, do grupo espanhol Vidrala. É ainda colaborador do JMG. Conta 81 anos, completados em 4 de agosto de 2017. Politicamente assume-se como um homem de esquerda.

189 O advogado não é natural da Marinha Grande. Veio para a vila ainda jovem. Trabalhava e simultaneamente

estudava. Aulas, era coisa que não frequentava, limitando-se a fazer os exames da licenciatura de Direito, em Coimbra. Para além de advogado, esteve envolvido em vários negócios, dos quais se destacam as piscinas de S. Pedro de Moel e a fábrica de plásticos Upla, mais tarde Grandupla. É militante do PSD, foi presidente da Comissão Política Concelhia e membro da Assembleia Municipal da Marinha Grande, da qual foi seu presidente. Foi ainda vereador na autarquia marinhense. Liderou o JMG entre 1971 e 1974.

190 Diamantino da Silva André nasceu no lugar de Pedrulheira - Marinha Grande, em 27 de outubro de 1925. É o

mais velho de nove irmãos. Filho de um oficial de vidraça e mãe doméstica, experimenta várias profissões ainda criança, aos 7 anos. Fez um pouco de tudo, desde ajudante de pedreiro a moço de recados. Aos 8 ingressa na escola e conclui a 4ª Classe três anos depois. Tinha veia poética e vocação para as letras. Lia o jornal O Seculo, foi correspondente do Região de Leiria e do Diário de Notícias, e dirigiu o Jornal da Marinha Grande durante vários anos. Participou na execução do livro do centenário da empresa Ricardo Gallo. Casou em 1948 e teve oito filhos. Trabalhou 16 anos na Caixa de Previdência. Politicamente, foi tesoureiro da Junta de Freguesia e membro do Conselho Municipal. Era um homem inteligente, que dissertava sobre vários assuntos. Foi sócio de diversas coletividades e auxiliou-as na elaboração dos seus estatutos. Fonte: Jornal da Marinha Grande de 24 de Fevereiro de 2000 e http://mgrande.net/mg/palavras/diamantino-da-silva-andre/, consultado em 15 de outubro de 2016.

O jornal, como tantos outros, “foi também objeto de censura, com cortes parciais, cortes completos, proibições, e até com ‘cortes de palavras que distorciam o sentido do texto’” (Neto, 2013, p. 30). Entre os seus desígnios estão os interesses do povo, entre os quais as causas sociais, a construção de um hospital e o tão ambicionado Museu do Vidro, que só muitos anos mais tarde seria uma realidade: 1998.

Alegando motivos de ordem profissional, Diamantino André sai em 1971 da direção do jornal, cargo que sempre desempenhara de forma desinteressada. Sucede-lhe então o jovem Joaquim João Pereira, que na altura era trabalhador-estudante. Cursou Direito em Coimbra e tornar-se-ia num dos mais ilustres advogados da terra.

Deu um forte impulso ao jornal mas acabaria por sair em 1974, já depois de concluir os estudos. Este foi um período “muito conturbado”, lembra Azambuja (1998, p. 299), “tornando-se difícil ao novo director conciliar os interesses dos muitos leitores, todos obviamente pretendendo que o jornal tivesse uma orientação consentânea com os seus ideais políticos”. Esta situação acabou por colocar em perigo a sobrevivência do jornal, que perderia muitos assinantes.

Na edição de 3 de outubro de 1975, o JMG informa os leitores que está a atravessar uma crise motivada pelo aumento dos custos de produção aos quais se junta a redução do número de assinantes: “após a saída do número 602 desistiram 58 assinantes; e após a saída do número 603 desistiram mais 84 assinantes. Novos assinantes, nem um sequer”.

Em função deste cenário questiona: “Que decisões se terão de tomar? Continuar? Suspender temporariamente ou definitivamente? A atitude dos assinantes do Jornal da Marinha Grande é que o vai determinar”.

Fernando Augusto de Sousa Lopes191, em dezembro de 1975, assume a chefia do Jornal da Marinha Grande, cargo que ocupou durante mais de vinte anos, sucedendo-lhe António

José Ferreira192, em janeiro de 2001.

191 Nasceu em 1948 na freguesia de Sejães, concelho de Oliveira de Frades, distrito de Viseu, é casado e tem quatro filhos de dois casamentos. É jornalista (Carteira Profissional 1772) aposentado. Frequentou o 2º ano do curso de Sociologia (Faculdade de Ciências Humanas), pós graduações em Direito da Comunicação e Direito de Consumo (Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra). Tem o Curso de Jornalismo do CENJOR, Curso de Jornalismo no CFJ (Centro de Formação de Jornalistas/Paris), estágio na Universidade de Marselha. Foi Diretor do Jornal da Marinha Grande até janeiro de 2001. Foi docente de Jornalismo/Turismo no 11º e 12ºanos da Escola Secundária da Marinha Grande. Dirigiu asrevistas “Paisagem Regional” e “Saber Mais” e foi membro do Conselho Consultivo da Imprensa Regional (AIND), no período 1990-1992. Foi colaborador/correspondente dos jornais Expresso e Tempo. Politicamente, concorreu às Eleições Autárquicas de 1997, como independente, numa lista do CDS/PP. É militante do PSD e integrou a respetiva Comissão Política da Marinha Grande.

Nesta altura o título é adquirido, em partes iguais, pelo novo diretor, pelo economista João Cruz e pelo advogado Mário Francisco. Este último alienou a sua participação poucos anos depois.

O JMG passou, em janeiro de 2001, a ser um jornal fundamentalmente de notícias, com forte componente de opinião, aberto à comunidade da Marinha Grande, em geral, e aos seus assinantes e leitores, em particular.

Em 2014, o semanário mantém-se generalista, fiel aos princípios dos fundadores, aos quais se juntam desafios mais contemporâneos, como sejam as novas tecnologias. Além da edição em papel, o JMG é distribuído em versão digital e tem ainda uma edição on-line.

A tiragem média mensal ronda os 14 mil exemplares. Partilha instalações na Travessa Vieira de Leiria, na Marinha Grande, com a Rádio Clube Marinhense (RCM 96fm), da qual é proprietária.

O Jornal da Marinha Grande dedica-se à edição semanal de jornais e à publicação de revistas, entre as quais as Páginas Verdes, a lista telefónica do concelho da Marinha Grande, que se publica há cerca de 30 anos, embora as novas tecnologias tenham vindo a afastar alguns anunciantes.

O estatuto editorial do JMG, publicado no sítio eletrónico, por imposição da ERC - Entidade Reguladora para a Comunicação Social, está “vocacionado para servir a comunidade do concelho da Marinha Grande e dos concelhos limítrofes, nomeadamente prestando informação sobre os vários domínios da vida social e colectiva”, regendo-se por “parâmetros de deontologia e de ética inerentes ao serviço público que presta”.

O Jornal da Marinha Grande olha para o “rigor, isenção e objectividade” como valores essenciais, garantindo “independência política, religiosa e económica”, além do pluralismo na informação, tratando “em pé de igualdade, informações políticas e sindicais, credos religiosos e forças económicas”.

Ainda de acordo com o seu atual estatuto editorial, o Jornal da Marinha Grande dá uma especial atenção aos “aspectos recreativos e culturais apoiando-os, divulgando-os e promovendo-os”, apostando “numa informação diversificada, abrangendo os mais variados campos de actividade, correspondendo às motivações e interesses de um público plural”.

O Jornal da Marinha Grande reconhece como seu único limite “o espaço privado dos cidadãos e tem como limiar de existência a sua credibilidade pública”. Ao longo dos seus mais de 50 anos de vida, o JMG tem dado um contributo importante na prossecução deste

objetivo, dando voz aos atores económicos, políticos, sociais e culturais do concelho e região da Marinha Grande. O JMG apresenta atualmente 24 páginas, com diversas secções: da sociedade à economia, do desporto aos classificados.

No documento Tese final (páginas 170-174)