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Região de Leiria

No documento Tese final (páginas 167-170)

Capítulo 4 Análise de Conteúdo e Caracterização da Imprensa Regional de Leiria

4. Região de Leiria

O Região de Leiria foi fundado em 10 de outubro de 1935, uma quinta-feira, por iniciativa de José Baptista dos Santos180, um homem influente, de fortes convicções,

pertencente a uma família tradicional da cidade, bastante influente, e que se dedicou de corpo e alma ao projeto jornalístico. Era, simultaneamente, editor, diretor e proprietário181.

A leitura do semanário, em formato reduzido, mostra uma postura assumida de jornal de anúncios, gratuito, através do qual se pretendia contribuir para “avolumar consideravelmente” as transações do comércio e indústria da região de Leiria, conforme se pode ler na primeira página da sua edição inaugural.

Assumia-se, assim, como “um jornal de propaganda, distribuído gratuitamente”182 e a

abrangência geográfica ia de Leiria à Batalha, Alcobaça, Nazaré, Marinha Grande, S. Pedro, Monte Real, Vieira, Figueira da Foz, Fátima, Torres Novas, entre outras localidades183.

Almeida (2008, p. 30) lembra que o Região de Leiria apresenta uma componente comercial “vincada, deixando claro que presidia a esta publicação um carácter empresarial, visando, portanto, a rentabilidade económica”. O primeiro número tem apenas uma referência informativa, intitulada «Ruas de Leiria». Esta edição, por outro lado, apresenta mais de quarenta anúncios, a esmagadora maioria de entidades locais.

Em 30 de março de 1939 é anunciado que o jornal deixará de ser gratuito e passará a custar 3$60 por trimestre. Nota-se imediatamente uma alteração no alinhamento do semanário, pois a capa passa a ser toda ela informativa, sem publicidade, que se confina ao interior do jornal.

Por um lado, cria “a primeira secção com verdadeira vocação territorial” (Almeida, 2008, p. 41), apostando no vizinho concelho da Marinha Grande, que “ganhou um jornal”, que não tinha há alguns anos. Melhor dizendo, passou a ter uma página num jornal.

180Em janeiro de 1927, José Baptista dos Santos funda com outros elementos ligados à imprensa republicana

local o jornal Notícias de Leiria. O projeto teve vida efémera pois encerrou cerca de um ano e meio depois. Teve quatro diretores: Teófilo da Costa Santos, Rebelo Alves, José Baptista dos Santos e Silvério dos Reis. Tinha como missão combater o atraso do desenvolvimento de Leiria e a republicanização do povo. O fundador do Região de Leiria, ligado à Tipografia Leiriense, era um republicano convicto e estava, assim, longe do enfeudamento que os jornais tinham à Igreja ou ao Estado Novo. Integrou a loja maçónica Gomes Freire de Leiria, fundada em 1907 mas interrompeu a sua atividade entre 1917 e 1922. Ainda reabriu mas fechou no ano de 1923. Reabriu após o 25 de Abril de 1974.

181 Manteve-se à frente do jornal até 23 de julho de 1966.

182 http://www.regiaodeleiria.pt/about/historia/, consultado em 28 de Outubro de 2015.

183 Almeida (2008, p. 123) lamenta que “muitos dos intervenientes na sua publicação já faleceram, outros têm

Por outro lado, passa a custar 1 escudo, abandonando a gratuitidade que o caracterizou durante quatro anos pois, para o editor, esse facto era uma garantia da sua larga circulação.

Com a nova estratégia, o Região de Leiria entra numa outra fase da sua existência, com maior receita, e começa a olhar para apostar em secções regionais.

Para além dos anúncios, que viabilizam financeiramente o projeto, começam a integrar o periódico as notícias, a que hoje chamamos conteúdos, e os leitores foram chamados a pagar por eles, tal como acontece atualmente, não só em papel como mais recentemente no formato digital, embora este «negócio», para alguns títulos, esteja numa fase embrionária.

Nos primeiros anos de existência, “a componente informativa foi conquistando algum espaço” (Almeida, 2008, p. 35) e nalguns casos, acrescenta, o jornal socorreu-se “dos textos de outros jornais”.

Todavia, a aposta na Marinha Grande foi ganha, apesar da capital do vidro conservar “a sua tradição operária” e rejeitar Leiria “por ela representar o capital e ali se encontrarem os órgãos do Estado e da repressão”.

O autor conclui: “ao contrário da generalidade dos jornais regionais que aqui chegava, o Região de Leiria / Voz da Marinha Grande não tinha qualquer ligação à Igreja Católica, e a Marinha Grande era pouco amistosa para com as questões religiosas”.

Em 1939 a secção denomina-se «Notícias da Marinha Grande» mas mudará de designação para «Correio da Marinha Grande», em 1940 e, finalmente, para «A Voz da Marinha Grande», em 1943.

A página da Marinha Grande deixa de ser publicada até entre 5 de setembro e 10 de outubro de 1940, regressando com o redator-correspondente Júlio de Oliveira Baio184.

Apresenta quatro páginas, com informação muito diversificada. Surge com uma nova secção: «Coisas da Marinha».

O corpo de letra cresce o que aumenta a leitura dos textos. O jornal apresenta igualmente a Página de Alcobaça.

184 Nasceu em 19 de dezembro de 1910. Foi responsável, em 1940, pelo posto de socorros da Associação

Humanitária dos Bombeiros Voluntários da Marinha Grande, onde praticava todos os atos de enfermagem. Comerciante com loja de artigos fotográficos, livraria e brinquedos, era “proprietário da Casa Havaneza” (Almeida, 2008, p. 43). Tinha igualmente o gosto pela fotografia. A fotografia era, aliás, uma das suas grandes paixões. Passou pela empresa Santos Barosa, na Marinha Grande, onde foi enfermeiro. Grande associativista, foi correspondente de diversos jornais da região e não só. Colaborou com A Legenda, de Coimbra, o 1º de Janeiro do Porto e a revista Stadium de Lisboa. Esteve ligado ao teatro, entrando na peça «Cantigas e Cristais», em 1955, exibida no Teatro Stephens. Faleceu na Marinha Grande em 14 de dezembro de 2004. Fonte: Luís de Abreu e Sousa.

A mudança de correspondente leva a uma alteração do conteúdo e, claro, os temas passam a ser outros. Baio opta pela diversidade, optando por pequenos apontamentos, pela diversificação das temáticas a abordar. Segundo Almeida (2008, p. 45), existiam “dificuldades em encontrar correspondentes na Marinha Grande”, que levaram inclusivamente a que “de Março a Maio de 1949, o Voz da Marinha Grande esteve ‘afónico’, sem qualquer correspondente em funções”. Apesar destes contratempos, era um “autêntico jornal dentro de um jornal” (Almeida, 2008, p. 47)185. Esta secção manter-se-á por várias décadas.

No ano de 1966, José Ângelo Baptista assume a direção, cargo que manteve até 1990. Joaquim Santos, sobre o novo responsável editorial, escreve:

“Vivia no Terreiro, no edifício que pertenceu ao Barão do Salgueiro, no piso de cima. Era uma pessoa espiritual por profunda convicção, tinha o hábito dos produtos naturais, gostava do convívio e de dançar em discotecas, mas, acima de tudo, amava Leiria e o jornalismo”.186

Ainda segundo o jornalista leiriense, o Região de Leiria foi “um veículo que promoveu a história local e as colunas de opinião, diversificando assuntos, informando e formando. O jornal era feito na Tipografia Leiriense”, local onde funcionou durante vários anos. Segundo Almeida (2008, p. 98), durante o Estado Novo, na redação do jornal, “tendia a adoptar-se uma postura cautelosa, procurando transmitir pelas entrelinhas as mensagens que não podia escrever objectivamente por linhas direitas”.

A família, durante décadas, dirigiu o jornal, uma intenção do fundador que perdurou no tempo. Em abril de 1990, Lucínia Azambuja, sobrinha do fundador, assume a direção do jornal. Dirigiu o Região de Leiria até outubro de 1998 e foi a última diretora da linhagem fundadora do jornal, “dando-lhe um carácter mais moderno, fomentando a passagem do jornal para a era da informática”. Desde cedo, “Lucínia Azambuja percebeu que era necessário clarificar as fronteiras entre informação e opinião” e que a qualidade de um jornal se media pela qualidade dos seus jornalistas. Lançou-se à descoberta de novos talentos, apostou na qualificação dos jornalistas e constituiu uma redacção profissional. A ela se deve também a adesão às novas tecnologias, a transferência para a impressão em rotativa, a introdução da cor e o abandono do espírito amador que caracterizava as redacções da época. Em julho de 1996, o Grupo Lena assume a gestão do Região de Leiria, que se mantém na atualidade.

185 O autor acrescenta que “o verdadeiro jornal dentro do jornal haveria de durar até à década de 90 do século

XX. «A Voz da Marinha Grande» foi publicado pela última vez em 22 de Fevereiro de 1991”.

No documento Tese final (páginas 167-170)