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Para Ariés (1978, cit. por Sampaio, 1997) foi o aumento da escolaridade obrigatória o fator mais determinante da adolescência como etapa do desenvolvimento, fazendo com que tenha havido uma progressiva atenção, por parte dos estudiosos desta temática, sobre os problemas dos jovens.

Segundo Pappámikail, (2009, p. 108).

Com efeito, a escola passa a ser o único território legítimo para a vivência de grande parte da juventude, estando às crianças e jovens juridicamente vedado o acesso ao trabalho assalariado durante a escolaridade obrigatória. Assim, para além dos aspetos especificamente culturais e éticos que a modernidade introduziu na forma como se concebe os indivíduos, na vivência da família e no relacionamento inter-geracional foram, com efeito, fenómenos como a democratização do acesso ao ensino, bem como o prolongamento da sua obrigatoriedade e participação até aos níveis atuais, a contribuir para um maior realce da juventude (enquanto condição duplamente etária e cultural).

Estamos inseridos numa sociedade industrializada e urbanizada, que tem a necessidade de uma melhor educação para a sua população. Assim, foram criadas as escolas atuais, consideradas instituições socializantes proeminentes para os jovens. A escola traduz a visão democrática subjacente à origem de uma sociedade livre, oferecendo a todas as pessoas uma oportunidade de uma educação gratuita, para que seja desenvolvido o seu potencial intelectual e humano e se tornem cidadãos informados (Sprinthall & Collins, 2003).

Atualmente a escolarização é uma das condições para se adquirir o sucesso individual ou coletivo. A qualificação funciona, nesta sociedade, como um requisito essencial para obtenção das condições de que os indivíduos necessitam para subsistir: o trabalho, habitação, alimentação, entre outros. Guerreiro et al. (2008, p. 10) dizem “…a educação que se obtém no espaço ‘escola’ permite também aceder a outras componentes mais imateriais como a cultura. A educação confere aos indivíduos as ferramentas necessárias ao entendimento dos bens e produtos culturais despertando o interesse para os mesmos.”

Para Matos & Sampaio (2009) a escola é a segunda casa para muitas crianças e adolescentes. Mesmo para os jovens que têm um ambiente familiar harmonioso, o “território educativo” é fundamental para a construção da identidade, para a sociabilização e formação de valores. No entanto, a escola, não deve ser vista como uma substituta da família, ou de outros espaços importantes para o desenvolvimento dos adolescentes, como o bairro, o grupo desportivo, o café ou a internet, com esta ultima a ganhar cada vez mais importância.

Pappámikail (2009) refere que foi com a expansão da escola moderna (com destaque para os segmentos secundários e universitários) como espaço de socialização, interação e aprendizagem de uso exclusivo dos jovens, que se criam as condições para a legitimação de um tempo específico no ciclo de vida dos adolescentes. Menciona ainda que este tempo não é produtivo do ponto de vista do capital económico.

Os adolescentes incrementam as suas capacidades nos domínios físicos, emocional, social e intelectual e estão cada vez menos preparados para aceitar uma obediência passiva dos adultos. A escola procura orientar esta capacidade para a ação instituindo manuais de exercícios extremamente tradicionais, trabalhos escolares para serem realizados em casa e testes. Vulgarmente, as aprendizagens propostas pela escola requerem “não a criatividade, mas a conformidade; não a originalidade, mas atenção e obediência” (Sprinthall & Collins, 2003, p.574).

É imperativo que os jovens participem ativamente no dia-a-dia da escola e que contribuam para um bom clima e funcionamento da instituição em que estão inseridos. A participação juvenil em muitas escolas, limita-se a meras respostas a questões colocadas pelos professores, à organização de atividades de lazer, de consumo e de diversão, que não se refletem numa mudança do modelo de aprendizagem ou de ensino. Atualmente, a vida dos adolescentes sofre imensas alterações, desde a forma como são capazes de aprender até ao modo como se socializam. É esta a mudança que a escola precisa de integrar, para diminuir os índices de insucesso e abandono escolar. Muitos jovens estão na escola por obrigação, porque os pais assim o determinaram, ou porque não possuem alternativa. Seria bom que compreendessem a importância da escolarização e da qualificação profissional, como objetivo fundamental para as suas vidas. Sem estudar e sem aprenderem um ofício será muito difícil sobreviver num mundo imprevisível como o atual (Matos & Sampaio, 2009).

Para Daniel Sampaio (1997), todos os atores educativos devem insistir em melhorar a participação dos adolescentes na vida escolar, compreender a comunicação pais-alunos- professores e estar atentos à dimensão do grupo de jovens. Segundo ele, estas três linhas de investigação são essenciais para uma correta política de juventude.

Segundo Cordeiro (2009, p. 483),

…a escola tem de ser mais do que um local onde se exige a formatação de pequenos empresários, gestores ou diretores. Tem que ser um local onde também se formem pastores e lenhadores e que, acima de tudo, contribua para o desenvolvimento de pessoas livres e felizes, assertivas e solidárias, e que vivam uma vida própria e relacional nas futuras décadas.

Hoje, a escola é um local que está em constante mudança e reflexão, que acompanha a sociedade com movimentos de estagnação e regressão demográfica, crescimento desigual, obrigando a uma reorganização da rede educativa. A escola contemporânea é responsável pela transmissão de normas e de comportamentos, e representa um papel importantíssimo no processo de socialização das crianças e dos adolescentes. A entrada na escola acarreta ambientes físicos e sociais externos ao espaço casa/família, realçando a importância do grupo de pares e constitui um tempo de aprendizagem e de teste das competências pessoais e sociais (Matos & Sampaio, 2009).

Na opinião de Sprinthall & Collins (2003) os jovens durante a adolescência estão num processo de crescimento, de mudança, de questionamento e busca ativa. As escolas têm, na

sua maioria, negligenciado e renunciado a qualquer abordagem do adolescente enquanto pessoa. Estas permanecem entrincheiradas no arquétipo - uma separação entre a aprendizagem académica e o desenvolvimento psicológico dos jovens.

O objetivo da escola não é hoje completamente claro. Mesmo sendo obrigatória (em Portugal) até ao 12.º ano, esta não garante um emprego nem mobilidade social e muitos alunos questionam-se sobre a real vantagem do prosseguimento de estudos, já que o acesso ao ensino superior e universitário é limitado e as opções profissionais não são abundantes (Sampaio, 1997).

Os resultados do estudo Health Behaviour in School Aged Children (2006, cit. Matos & Sampaio, 2009), realizado em Portugal em 2006, com a colaboração da OMS, onde foi utilizada uma amostra constituída por 4877 adolescentes que frequentavam o 6.º, 8.º e 10.º anos de escolaridade de 144 escolas públicas de cinco regiões do país ( Lisboa e Vale do Tejo, Norte, Centro, Alentejo e Algarve), revelou que a maioria dos adolescentes gosta da escola, sendo que as raparigas e os jovens mais novos são os que mais gostam da escola. Também a maior parte dos adolescentes referiram que pensa que os professores consideram a sua capacidade académica boa/média e os rapazes são os que mais vezes percecionam que os professores consideram a sua capacidade académica inferior à média. Relativamente à relação com os professores, verificou-se a sua diminuição entre o estudo realizado em 2002 e o estudo de 2006, indicando um afastamento dos jovens relativamente àqueles. Os adolescentes portugueses, quando comparados com os adolescentes dos outros países que participam no estudo HBSC, são dos que mais referem o gosto pela escola, mas são também dos que mais relatam que se sentem «stressados» com os trabalhos de casa e que dizem que os professores os acham pouco competentes.

As aspirações do renovado sistema educativo português, que acabariam consolidadas com a Lei de Bases do Sistema Educativo [LBSE] (Lei 46/1986), vieram favorecer a permanência na escola por mais tempo dos jovens e, como consequência, veio adiar a entrada na vida ativa, prolongando a sua dependência da família. É do conhecimento público que a escolaridade afeta positivamente os comportamentos dos jovens e que a aquisição de conhecimentos é fundamental para inserção na sociedade e mercado de trabalho. No entanto, esta não é a única responsável de uma perfeita inserção. É necessário que “…a aquisição de conhecimentos/conteúdos se integre num conjunto mais amplo de aprendizagens e seja enquadrada por uma perspetiva que coloque em primeiro plano o desenvolvimento de

capacidades de pensamento e de atitudes favoráveis à aprendizagem…”, como é citado na introdução do documento Competências Gerais e Transversais elaborado pelo Departamento do Ensino Básico [DEB] (s.d., p.9). A escola tem de se recrear para se moldar à heterogeneidade cultural e a públicos que a frequentam sem clivar ou estigmatizar parcelas da população, pois é com todos que o espirito democrático se constrói e é esta a mensagem que a escola tem de passar e de construir (Matos & Sampaio, 2009).

A LBSE estabelece o quadro geral do sistema educativo que se organiza de forma a contribuir para a realização do educando, através do pleno desenvolvimento da personalidade, da formação do carácter e da cidadania, preparando-o para uma reflexão consciente sobre os valores espirituais, estéticos, morais e cívicos e proporcionando-lhe um equilibrado desenvolvimento físico (art.º 3º,b). Deve ainda contribuir entre outras coisas para a realização pessoal e comunitária dos indivíduos, não só pela formação para o sistema de ocupações socialmente úteis, mais ainda pela prática e aprendizagem da utilização criativa dos tempos livres (art.º 3º, alínea f).

Também a LBSE refere no seu art.53º que a educação física e o desporto, devem ser promovidos na escola nos âmbitos curricular e de complemento curricular, tendo em conta as necessidades de expressão física, de educação e de prática desportiva, visando o fomento da prática do exercício físico para o aumento do interesse do aluno pelo desporto e consequentemente proporcionar o seu desenvolvimento físico e pessoal.

A Educação Física, com a sua essência no movimento corporal impede que a Escola fique ainda mais intelectual e inimiga do corpo. A Educação Física distingue-se das outras áreas, no que respeita à sua tarefa educativa, porque possibilita experiencias a partir do corpo. Esta disciplina pode dar um contributo importante no que concerne à aquisição de um estilo de vida saudável, também pode influenciar positivamente o desenvolvimento e o bem-estar motor e psicossocial. Educação Física é uma das disciplinas a que os alunos atribuem maior preferência (Bento, 1999).

Neto (1994) refere que a prática desportiva regular oferece imensos benefícios no desenvolvimento da criança, ao nível: do crescimento físico; das capacidades físico-motoras; da criação de novas amizades (cooperação); e da valorização da autoestima.

Segundo Graham (1995, cit. Lopes & Cunha, 2007) os estudos sobre as atitudes dos alunos fornecem informações valiosas sobre o que estes sentem, pensam e sabem acerca da

Educação Física. É também fundamental conhecerem-se as representações, atitudes e as necessidades dos alunos em relação à Educação Física, para entendermos as suas atitudes face à disciplina e à atividade física em geral (Lopes & Cunha, 2007).

Os resultados do estudo conduzido por Dyson (1995, cit. por Henrique & Januário, 2005) com alunos de duas escolas urbanas de ensino elementar, mostram atitudes bastante positivas dos alunos face à Educação Física, em função do ambiente agradável e divertido em que decorrem as aulas. A disciplina mobilizou sentimentos mais positivos que outras experiências escolares e, na opinião dos alunos, deveria ocupar maior espaço nas atividades letivas. Contudo, mostraram atitudes bastante críticas quanto à ênfase excessiva da competição durante as aulas, atribuindo a este fator efeitos redutores da participação e do prazer nas aulas de Educação Física.

Brandão (2002) no seu trabalho pretendeu identificar as atitudes dos alunos do Ensino Secundário face à Educação Física escolar e aos currículos estabelecidos para a disciplina. A sua amostra foi constituída por 410 jovens de ambos os sexos, com idades compreendidas entre os 16 e os 20 anos, pertencentes ao 12° ano de escolaridade do Ensino Secundário. As conclusões mais relevantes a que chegou o autor são: os alunos do género masculino manifestaram uma disposição favorável para com a Educação Física escolar; os alunos também manifestaram uma atitude mais favorável para com atividades curriculares diversificadas, propiciadoras de prazer; ter êxito nas atividades revelou-se o fator mais significativo no desenvolvimento de atitudes distintas do género, para com a Educação Física; os alunos manifestaram uma atitude, nitidamente mais desfavorável, para com o escasso tempo de aulas; a aquisição de técnicas e habilidades e a sua aplicação bem-sucedida na prática de Desportos Coletivos constituiu-se como um legítimo e importante objetivo da Educação Física; os alunos consideraram a Educação Física escolar importante na sua formação.

Numa investigação realizada por Henrique & Januário (2005), com o objetivo de caracterizar as perceções de alunos de alta e baixa habilidade na disciplina de educação física, os resultados obtidos mostraram que os alunos de alta e baixa perceção de habilidade se distinguiram significativamente em relação à perceção de competência, perceção de envolvimento académico e perceção de expectativas dos professores. Estes resultados também confirmaram a importância de considerar os traços psicológicos dos alunos na interpretação do seu comportamento nas aulas e desempenho académico.

O trabalho de investigação de Moreira (2006) permitiu analisar a relação dos alunos com as atividades lúdico-desportivas. A amostra neste estudo, foi constituída por 344 alunos entre os 7 e os 12 anos de idade, de ambos os sexos. As conclusões de maior relevo são: é significativo o gosto pelo desporto em função do sexo; as modalidades identificadas como oferta são diversificadas; as crianças do sexo masculino praticam mais vezes por semana atividades lúdico-desportivas que as raparigas; as atividades lúdico-desportivas preferidas, para a maioria, são as praticadas na escola; as razões que levam as crianças a praticar desporto não se prendem com fatores de imposição parental, assim como as razões que levam as crianças a não praticar desporto encontram-se diretamente relacionadas ou dependentes da decisão dos seus pais.

Lopes & Cunha (2007) realizaram um trabalho que tinha como objetivo identificar as atitudes dos alunos do Ensino Secundário face à Educação Física e aos currículos estabelecidos para a disciplina. Participaram no estudo 259 jovens de ambos os sexos, com idades compreendidas entre os 15 e os 21 anos, pertencentes ao 10º, 11º e 12º anos de escolaridade. Os resultados e conclusões obtidos neste estudo foram os seguintes: os alunos manifestaram uma disposição favorável para com a Educação Física; a diversão nas aulas e as atividades diversificadas são os mais importantes fatores de agradabilidade; os alunos mostraram uma atitude desfavorável para com o escasso tempo de aula; os conteúdos curriculares foram identificados pelos alunos como os fatores mais determinantes de experiências positivas e negativas, nas aulas de Educação Física; os alunos consideraram a Educação Física escolar importante na sua formação.

O estudo de Rebelo (2010a) teve como objetivo principal compreender as representações, práticas e aspirações dos alunos do 9.º de escolaridade, relativamente à disciplina de Educação Física. Participaram 10 alunos de uma escola do Norte Interior de Portugal. Os resultados deste estudo revelaram que os alunos relacionam a disciplina de Educação Física com Desporto, classificando-a como sendo essencialmente prática. Os alunos estabeleceram uma associação estreita entre as aulas de Educação Física e a Saúde, concebendo a Educação Física como uma disciplina capaz de ajudar na prevenção de doenças e promoção da saúde e bem-estar. Os alunos consideraram a Educação Física importante porque esta intervém na criação, configuração e modelação do corpo, afirmando sentir gosto e prazer aquando da realização das aulas. Salientaram a relação professor/aluno como elemento fundamental a ser valorizado nas aulas. Os alunos revelaram preferência pelos Desportos

Coletivos, destacando as modalidades de Futebol e Andebol. A falta de aptidão para a prática e a não obtenção de vivências de sucesso durante as aulas são apontados pelos alunos como os principais motivos da menor preferência pela Ginástica. No futuro, os alunos gostariam de praticar Desportos Radicais como a Escalada, BTT, Rappel e modalidades como a Natação, Esgrima, Luta e Musculação. Para estes, a melhoria das infraestruturas, bem como a existência de uma maior variedade de desportos e interação entre turmas e escolas, constituem os principais aspetos a desenvolver para que as aulas de Educação Física se tornem mais motivadoras e atraentes.

Rebelo (2010b) efetuou um estudo que pretendeu descrever e compreender as representações, práticas e aspirações de alunos do 12º ano de Escolaridade Face à Disciplina de Educação Física. Os principais resultados do seu estudo revelaram que os alunos conceptualizam a educação física como uma disciplina essencialmente prática e diferente das restantes. Para os discentes, esta possui um papel importante ao nível da socialização, na formação de cidadãos e transmissão de valores. Os alunos explicam o gosto pela disciplina, pelo seu envolvimento social, divertimento, benefícios para a saúde e por quererem manter a forma física. Afirmam ainda, que um dos principais objetivos da educação Física é a promoção da saúde e do bem-estar, o desenvolvimento e melhoria da condição física e a capacidade de proporcionar momentos de diversão, convívio e distração. Também consideram que a disciplina deve ser obrigatória e que a sua carga horária é insuficiente. No futuro, os alunos gostariam de praticar novas modalidades e desportos radicais.

Em síntese, podemos referir que nos estudos por nós supramencionados, os resultados demonstram que os jovens possuem representações bastante positivas da disciplina de Educação física, evidenciando gosto e prazer na realização das atividades desenvolvidas nas aulas. Este gosto pela disciplina é estimulado pelo divertimento, pelo envolvimento social e pelos benefícios para a saúde que esta provoca. Classificam-na como sendo essencialmente prática e estabelecem uma associação estreita entre as aulas de Educação Física e a Saúde, concebendo a Educação Física como uma disciplina capaz de ajudar na prevenção de doenças e promoção da saúde e bem-estar. Em relação às preferências de prática desportiva, os jovens destes estudos demonstram uma predileção pelos desportos coletivos. Referem ainda, que no futuro gostariam de praticar desportos radicais e novas modalidades.

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