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O termo lazer provém do latim licere que significa “ser permitido”, e está associado a palavras como vagar, ócio, descanso e repouso (Homem, 2006; Guerreiro et al., 2008). Este significado não é de agora, já na civilização greco-romana era entendido como o oposto ao trabalho. O lúdico e a diversão sempre acompanharam a humanidade desde os seus primórdios, no entanto a democratização da cultura do lazer é um fenómeno relativamente recente. Lazer e tempo livre são termos que, embora com origens antigas, se adaptam cada vez mais à sociedade atual e a uma economia que levam a que o indivíduo se possa divertir e fazer o que melhor entender (Homem, 2006).

Embora o conceito de lazer seja recente, este tem, desde o seu aparecimento, sofrido alterações constantes, fruto das mudanças que se verificam na sociedade e do modo como os indivíduos o perspetivam. O tempo livre para as classes trabalhadoras só aparece após a Revolução Industrial, através da elaboração e aplicação das leis do trabalho. Assim, passaram a ter o direito a férias e as horas de trabalho estavam regulamentadas. Até então, apenas as classes nobres e burguesas tinham direito ao lazer (Guerreiro et al., 2008).

O quotidiano da criança e dos adolescentes dos nossos dias é bem diferente. Hoje vão cedo para a creche, a escola ocupa-lhes muito tempo, deixaram de brincar na rua. O Mundo hoje é outro, o telemóvel, o computador, Gameboy, Playstation e internet, são um conjunto de novas experiências para serem exploradas depois do cumprimento das obrigações (Matos & Sampaio, 2009).

Assim, o lazer corresponde a uma atitude, um comportamento, algo que tem lugar durante o tempo livre. Nesta perspetiva, não importa tanto a atividade concreta que se realiza num determinado tempo (definição objetiva de tempo livre), mas a forma como a realizamos e cujo desenvolvimento resulta em satisfação e prazer para o indivíduo (Homem, 2006).

Elias & Dunning (1992, cit. Homem, 2006), referem que não devemos confundir tempo livre com tempo de lazer, pois, segundo eles, o tempo livre deve ser entendido como tempo liberto das obrigações de trabalho, onde só parte dele é utilizado para a atividade de lazer que, é uma das atividade de tempo livre que aparece nele inserido. Todas as atividades de lazer são também atividades de tempo livre mas o inverso já não é verdade pois, o lazer está diretamente relacionado com o prazer e com as satisfações pessoais enquanto o tempo livre pode não ter essa relação já que muitas dessas atividades podem não ser agradáveis.

Embora muitas vezes confundidos, o tempo livre e o lazer não são e nem representam a mesma coisa. Para Dumazedier (1973, cit. Homem, 2006) a expressão “tempo livre” refere- se, geralmente, a um tempo concebido e definido segundo critérios de residualidade e de relação com o tempo de trabalho.

Segundo Dumazedier (2000, p. 21), o lazer “é uma realidade fundamentalmente ambígua e apresenta aspetos múltiplos e contraditórios”. Para este autor:

O lazer é um conjunto de ocupações às quais o indivíduo pode entregar-se de livre vontade, seja para repousar, seja para divertir-se, recrear-se e entreter-se ou, ainda, para desenvolver a sua informação ou formação desinteressada, a sua participação social voluntária ou a sua livre capacidade criadora, após livrar-se das obrigações profissionais, familiares e sociais (Dumazedier, 2000, p. 34).

Dumazedier (2000) refere que o conceito de lazer abrange diversas dimensões caracterizando-se por três principais funções: o descanso, o divertimento e o desenvolvimento da personalidade.

Para o autor, o descanso está relacionado com a fadiga e, neste sentido, o lazer é reparador das quebras físicas ou nervosas provocadas pelas tensões que resultam das obrigações quotidianas e particularmente do trabalho. É a função de recuperação pelo lazer.

O divertimento surge de aspetos relacionados com contrariedades. Neste sentido, segundo Dumazedier (2000), o divertimento pode funcionar como um fator de equilíbrio, um meio de suportar as contrariedades e constrangimentos da vida social, com um sentido mais forte e mais vincado, de acordo com o maior número de respostas a que ele próprio teve acesso nos questionários que levou a efeito.

O desenvolvimento da personalidade advém do automatismo do pensamento e da ação quotidiana. Permite uma participação social mais larga mais livre e uma cultura desinteressada do corpo, da sensibilidade, da razão, para além da formação prática e técnica. Oferece novas possibilidades de integração voluntária na vida dos grupos recreativos, culturais e sociais. Permite desenvolver livremente as aptidões adquiridas na escola. Permite acreditar na aprendizagem de novas formas voluntárias ao longo da vida (Dumazedier, 2000).

Para Dumazedier (2000), o importante é que o dia deixa de ser ocupado unicamente pelo trabalho, comportando horas de lazer. A gestão deste tempo que integra a vida de todos nós é da responsabilidade de cada um e não está sujeito a imposições de obrigatoriedade.

Ainda para o referido autor, o lazer, qualquer que seja a sua função, é, essencialmente libertação e prazer, é descanso, divertimento e desenvolvimento.

O lazer, entendido como o tempo que sobra do horário de trabalho e/ou cumprimento de obrigações, aproveitável para o exercício de atividades prazerosas, deve fazer parte da vida de qualquer pessoa. Este, ganha especial importância na adolescência, porque é muitas vezes usado para o convívio interpessoal, que é fundamental nesta etapa de desenvolvimento. Sem muita rigidez, é importante descansar e conviver quando o trabalho ou a obrigação estão cumpridos. O principal é que cada adolescente se responsabilize pelas suas atividades de lazer, sem necessitar da fiscalização permanente de um adulto (Matos & Sampaio, 2009).

Cordeiro (2009) afirma que para a promoção e desenvolvimento do bem-estar dos adolescentes, é essencial criar hábitos de ocupação de tempos de ócio e fazer uma boa utilização dos tempos de lazer, com evidência para as atividades de grupo, porque ajudam a modular a propensão isolacionista e individualista própria da adolescência.

O lazer fomenta a saúde e o bem-estar geral consagrando uma variedade de oportunidades que possibilitam aos indivíduos e grupos escolherem atividades e experiências que se adequem às suas próprias necessidades, interesses e preferências (Homem, 2006).

A busca desenfreada por diferentes práticas de lazer é resultado da crescente urbanização e industrialização. A cidade é cada vez mais um local de desenvolvimento de lazeres comerciais e culturais que apela ao seu consumo. Não se deve descurar a ideia de que os jovens são um grupo etário por excelência na aquisição de capital cultural (Guerreiro et al., 2008).

Qualquer que seja a natureza das atividades de lazer, são praticadas livre e espontaneamente, sendo a sua eleição da inteira responsabilidade do praticante numa atitude de alegria e entusiasmo, onde se procura retirar satisfação pela prática, retirando tensões próprias da vida quotidiana. Mais que o resultado final, procura-se o prazer e o gosto pela participação (Homem, 2006).

Todavia, segundo Pais (2003a) é necessário ter presente que os jovens não participam no mesmo tipo de rotinas sociais e culturais; vivem-nas de forma diferente; as diferentes práticas de lazer estão na base de diferentes culturas juvenis, e vice-versa; os fundamentos de constituição, instituição e legitimação social dessas práticas variam de contexto para contexto;

essas práticas sociais e culturais – embora consagrando e legitimando diferenciações entre gerações – também consagram e legitimam diferenciações intergeracionais; enfim, a socialização dos jovens, no domínio do lazer, origina diferentes culturas juvenis.

Conforme afirmam Ferreira, Matos, & Costa (2009, p.65) “…Vários são os comportamentos descritos na ocupação dos tempos livres e lazer, destacando-se os seguintes como mais frequentes: ver televisão [TV], navegar na internet, jogar com consolas ou no computador, ouvir música, estar com os amigos e dormir.” Ainda segundo os autores, estes comportamentos realizados no período de lazer são resultantes da influência dos pares e de todas as pessoas com quem os adolescentes interagem. Geralmente identificam-se com determinado grupo através dos gostos comuns, como o estilo de roupa, preferências musicais, ou até pelos locais que frequentam, criando culturas de grupo.

Segundo os resultados de um inquérito realizado em 2000, a 2008 jovens portugueses residentes em Portugal continental, com idades compreendidas entre os 15 e os 29 anos de idade demonstraram, de acordo com Pais (2003b), que os tempos livres juvenis são vincadamente marcados pelas sociabilidades, tendo 42% dos jovens portugueses inquiridos sobre a sua ocupação preferencial nesses momentos, indicado o convívio com amigos como escolha. Abaixo deste nível situam-se outras opções como diversão (18%), convívio familiar (16%), descanso (12%) e a fuga à rotina (8%). Neste estudo concluiu-se que, até aos 20 anos, as sociabilidades se afiguram como pólo claramente dominante. Concluiu-se ainda que são condicionantes limitadoras das oportunidades de acesso ao lazer escolar, o tempo que os alunos passam na escola, o tempo dedicado às tarefas do lar e o transporte utilizado na deslocação para a escola.

De acordo com o estudo de Guerreiro et al. (2008), sobre as necessidades dos jovens do concelho de Olhão, num universo de 263 alunos de duas escolas, destaca que, relativamente aos tempos de lazer e às atividades que não existem nas suas escolas, as principais atividades desenvolvidas pelos jovens estão relacionadas, de um modo geral, com a prática de atividades desportivas, o visionamento de televisão [TV], utilização da internet e ouvir música. No entanto, quando questionados sobre as atividades lúdicas que gostariam de desenvolver, verificou-se que as jovens do género feminino interessam-se por outras atividades, a dança (Hip Hop), fotografia e que os jovens do género masculino interessam-se pela prática de desportos radicais e pela participação em torneios de futebol.

China (2011) realizou um trabalho que pretendeu analisar os estilos de vida dos adolescentes do 8º e 9º ano de escolaridade, do Agrupamento de Escolas Sophia de Mello Breyner Andresen, ao nível da atividade física, prática desportiva, lazer e ocupação de tempos livres. A autora constatou que um dos comportamentos mais usuais na ocupação dos tempos de lazer é o tempo passado a ver TV e a usar o Computador [PC]. Relativamente ao tempo gasto a ver televisão constatou-se que, durante a semana, 45% dos jovens passa entre 2 a 3 horas por dia a ver televisão. No fim de semana, 50% dos questionados vê, diariamente, 4 horas ou mais. Durante a semana, a diferença percentual entre rapazes e raparigas que ficam à frente do televisor são estatisticamente insignificantes. Também no fim de semana e à imagem do mesmo estudo, é maior a percentagem de raparigas a ver televisão, consumindo também mais horas que os rapazes em frente ao aparelho. Numa análise global, em termos de grupo etário e durante a semana, são os jovens com 13 anos que vêm mais horas de televisão e ao fim de semana são os jovens do grupo dos 15 anos. Quando analisou a forma como o grupo de adolescentes inquiridos lida com as novas tecnologias verificou que, no que respeita à utilização do PC o número de horas que a maior parte dos jovens passa no computador para “conversar” e navegar na Internet, é de 2 a 4 horas diárias, durante a semana, e cerca de 5 ou mais, durante o fim de semana. Constatou também que é maior a percentagem de rapazes a usar o PC e que são os alunos mais velhos que passam mais horas a usar o computador durante a semana e fim de semana. No que diz respeito ao uso dos videojogos observou-se na amostra que 93% dos inquiridos simpatizam com os videojogos e que passam 1 hora ou menos por dia a jogar, durante a semana e fim de semana. A maior percentagem de utilizadores são rapazes sendo o grupo dos 16 anos que dedica mais tempo a jogar no computador ou consola durante a semana e fim de semana. De uma maneira geral, os adolescentes deste estudo caracterizam-se por praticarem atividades passivas nos seus tempos de lazer sendo comum a todos, atividades como ver televisão, usar o computador e jogar videojogos.

Pereira (2011) efetuou um estudo que pretendeu identificar as representações que os pais têm sobre o lazer dos filhos. Para isso, foram entrevistados 70 pais de alunos do 9 º ano de escolaridade, das escolas públicas das cidades de Coimbra e Santarém. Os resultados obtidos permitem afirmar que para a maioria dos pais, o lazer de seus filhos é visto como parte do seu desenvolvimento. Neste período de tempo, os adolescentes devem experimentar uma grande variedade de experiências orientadas por um conjunto de princípios para que o

seu desenvolvimento global seja completo. Estes pais sentem que devem ser um modelo para os seus filhos e, portanto, devem desenvolver certas características, como as atitudes, valores, comportamentos e iniciativas capazes de influenciar os comportamentos e as opções dos seus educandos. Relativamente às atividades para o lazer dos seus filhos, a maior parte dos pais preferem os desportos, por razões de saúde e porque sua prática é supervisionada por adultos. Ribeiro, Moreno, & Fernandes (2011) elaboraram um estudo cujo objetivo principal era saber como os alunos do quinto ao nono ano de escolaridade do concelho de Bragança utilizam o seu tempo livre. Para este estudo, foi realizada uma pesquisa que envolveu 536 adolescentes com idades compreendidas entre os 10 e 18 anos. Durante a semana, mais de 90% dos entrevistados ocupam o seu tempo livre em atividades como ver televisão, conversar com amigos, estudar/fazer trabalhos para casa [TPC] e fazer exercício físico. Os resultados provaram que existem diferenças, estatisticamente, significativas quando o género é tido em consideração em atividades como ouvir música, usar o computador, ir ao salão de jogos, ler, fazer exercício físico, estudar, ir ao cinema/teatro, ajudar nas tarefas da casa, ir às compras/ver montras, assistir a aulas de pintura/fotografia e namorar. Tendo em conta as classes etárias, as diferenças encontradas dizem respeito a atividades como tocar um instrumento musical, ler, estudar/fazer os TPC, ir à catequese/escuteiros, ter aulas de pintura/fotografia, ouvir música, usar o computador, navegar na internet, passar tempo com amigos, ir ao salão de jogos, ir ao café e namorar. Por fim, verificou-se a existência de correlação direta entre o índice de massa corporal [IMC] e as atividades, ouvir música, usar o computador, ajudar nas tarefas da casa, namorar e usar o telemóvel. No entanto, a prática de exercício físico tem uma correlação inversa com o IMC.

Com base nos estudos apresentados, poderemos afirmar que as atividades que os jovens mais desenvolvem nos seus tempos livres, são a prática de desportos, conviver com os amigos, ver televisão, usar o computador e jogar videojogos. A utilização do computador tem vindo ao longo dos anos, a ganhar preponderância junto das novas tecnologias, sendo neste momento a ferramenta que os jovens adolescentes mais usam nos seus tempos livres.

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