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Como afirma Pais (2003a), a juventude aparece cada vez menos associada a uma categoria de idade e cada vez mais a um conjunto diversificado de modos de vida. Hoje a condição de jovem corresponde a um tempo alargado devido, entre outros fatores, ao prolongamento da escolaridade obrigatória e das carreiras formativas, bem como, ao retardamento na entrada no mercado de trabalho, onde estão cada vez mais sujeitos ao desemprego, ao subemprego, ao emprego temporário e a empregos onde as habilitações que possuem não são necessárias. Hoje em dia, a saída dos jovens da casa dos pais acontece cada

vez mais tarde. Os projetos de casamento e de constituir família protelam-se no tempo e os investimentos são efetuados no imediatismo dos consumos, dos lazeres, das sociabilidades e dos afetos. A classe juvenil diversificou-se e deixou de ser um grupo homogéneo.

A partir desta afirmação, constatamos que é difícil estabelecer limites cronológicos, quer no que respeita ao início e ao fim da adolescência. Todas as transformações que ocorrem nesta fase variam consideravelmente de indivíduo para indivíduo. Nas sociedades mais antigas a função reprodutora e a sua consumação ocorriam mais ou menos em simultâneo, hoje em dia, a puberdade começa cada vez mais cedo e a idade adulta vai-se atingindo cada vez mais tarde, assistindo-se a um prolongamento da situação de dependência em relação aos pais, devido a fatores de ordem social, educativa, pessoal e económica (Sampaio, 1997; Grossman, 2010).

Almeida (1987) refere que os adolescentes são hoje confrontados com uma sociedade caótica, em que as fronteiras tradicionais estão em permanente deslocação, os princípios são cada vez menos nítidos e os seus objetivos se alteram radicalmente. Em algumas décadas deram-se, com uma velocidade vertiginosa, acontecimentos que modificaram totalmente as relações dos jovens entre si, e também com o seu ambiente. Para tudo isto contribuiu a invenção dos sistemas computorizados, a comunicação instantânea entre os pontos mais longínquos da terra, etc.

O século XXI é caracterizado pelos atrativos tecnológicos e pela procura desenfreada de bens de consumo. A oferta é constante, mas nada é suficiente. Os adolescentes aprendem que há duas qualidades subjetivas para ser reconhecido e valorizado na sociedade atual: uma é que é necessário ser desejável e a outra que tem que ser invejável. A contemporaneidade tem como marcas para a adolescência a dissolução das suas certezas e um estado de desamparo coletivo, que implicam uma experiência complexa e plural de adolescer (Grossman, 2010).

Estas características e as transformações económicas, sociais e culturais afetam a população no seu conjunto e, de um modo especial, os jovens. Tudo isto, tem exercido fortes influências sobre as condições e formas de vida das novas gerações, o que fez mudar a identidade dos próprios jovens e da própria sociedade. Uma particularidade de muitos jovens contemporâneos é a de viverem um tempo de instabilidade e de incertezas, de tensão entre o presente e o futuro, de laços persistentes de dependência e de anseios insistentes de independência (Pais, 2003a).

Alguns jovens deste mundo, que pertencem a famílias que nos seus primórdios eram rurais e que a industrialização arrancou do seu habitat natural e deslocou para as zonas suburbanas, desenraizando-as e afastando-as dos seus usos e costumes tradicionais, habitam em bairros sociais sem apoio de parte da família e privados de identidade social. A exclusão, a vergonha, a desconfiança, o medo e a revolta são as leis que os regem (Sá, 2003).

Embora as nossas sociedades sejam cada vez mais ricas, um grande número de pessoas vive em condições precárias e têm de economizar muito no seu orçamento, com o dinheiro a ser uma preocupação cada vez mais obsessiva. Hoje temos acesso a cuidados de saúde cada vez melhores, mas isto não impede que muitas das pessoas se tornem hipocondríacos crónicos. A inquietação, a deceção, a insegurança social e pessoal aumentam. Estes são alguns dos aspetos que fazem da sociedade de hiperconsumo a civilização da felicidade paradoxal (Lipovetsky, 2007).

Na sociedade contemporânea a juventude não goza apenas de uma ampla aceitação. Constitui também uma referência na arte, no consumo e nos estilos de vida. Os jovens têm aumentando o seu envolvimento no consumo e no lazer, que leva a que exista, por parte de alguns adolescentes, uma desvalorização da escola (Guerreiro et al., 2008).

Os jovens de hoje aprenderam, há muito, a lutar e reivindicar os seus direitos e a defender os seus pontos de vista, facto nem sempre bem compreendido e aceite pelos pais e professores. Os pais, que tiveram a sua própria adolescência num contexto cultural bem diferente, oscilam hoje na forma de educar os seus filhos, hesitando entre o modelo mais autoritário, herdado dos seus próprios progenitores, e de um modo mais democrático, aparentemente mais adequado aos dias de hoje (Sampaio, 1997).

Vivemos hoje em dia numa civilização consumista que se distingue pelo lugar central que ocupam os objetivos do bem-estar e a procura de uma vida melhor para nós e para os que nos são chegados. Hoje, consegue-se chegar a uma idade mais avançada, em melhor forma e beneficiando de melhores condições materiais. O tempo e o dinheiro consagrados às atividades de lazer estão em constante subida. As festas, os jogos, as atividades de lazer, as incitações aos prazeres invadem o espaço da vida quotidiana (Lipovetsky, 2007).

Na opinião de Moita (2007, cit. Faria, 2010) existem, nesta sociedade, muitos fatores que contribuem para que os jovens tenham um estilo de vida menos ativo que outrora: o aumento da insegurança, a sucessiva redução dos espaços livres nas grandes cidades (que

reduz a oportunidade de se ter uma vida fisicamente ativa), a disponibilidade das novas tecnologias, que favorecem a prática de atividades sedentárias, como jogar de computador ou consola (Playstation, Xbox, etc.), chats, navegar na Internet ou enviar emails, ver televisão, etc.

Sáez et al. (2006, cit. por Faria, 2010) atribuem, neste século, a mudança da vivência da juventude, a um conjunto de várias causas, todas elas interligadas. O prolongamento da escolaridade obrigatória, que se tem vindo a universalizar consecutivamente, provocou, nos últimos cinquenta anos, um extraordinário atraso na inserção dos jovens no mundo do trabalho. A conjuntura mundial também não favorece a relação com o trabalho concebida como um vínculo para toda a vida. Hoje a incerteza prevalece. Os contextos instáveis e competitivos são uma realidade. Nada parece adquirido com um carácter permanente, nem a formação, nem o saber e nem a competência parecem definitivas. Estes autores referem, ainda, que os valores da juventude europeia atual são discretos e moderados, comparativamente com os da juventude dos finais dos anos sessenta. Os jovens de hoje estão menos politizados, comprometem-se menos com os movimentos políticos e sindicais. Na generalidade os jovens mostram-se pouco incisivos na sua crítica em relação às ideias liberais na economia, mantendo um elevado nível de confiança no sistema educativo.

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