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Como se pode perceber no estudo dos princípios, a tutela jurisdicional tem matiz constitucional aplicada a todos, indistintamente. Tutela jurídica significa proteção jurídica conferida pelo Estado às pessoas que vivem em sociedade. Em última análise, significa fazer justiça. O legislador constitucional trouxe a matéria no art. 5, inciso XXXV: “A lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”.

Revela-se, portanto, que o direito será ditado por ordem eminentemente Estatal, expungindo do mundo jurídico a realização da justiça através da autotutela. Porém, há que se observar a instrumentalidade para realização desses direitos através da ordem processual conferida por lei ordinária.

Nesse sentido no valemos das lições de Isis de Almeida80 :

“ em sentido lato, é o poder de aplicar o direito, de administrar a justiça, uma função do Estado, enfim. Refere-se ao órgão judiciário competente, mas pode-se estender, também, ao âmbito administrativo. Quando um processo tem andamento perante órgãos judicantes ou deliberativos do Poder Executivo, diz-se que desenvolve uma “jurisdição administrativa”. Na verdade, porém, quando se fala em ‘prestação jurisdicional do Estado‘, entende-se que é o exercício do Poder Judiciário em ação”.

Observamos que a tutela jurídica do direito é conceituo mais amplo do que tutela jurídica processual, e para alargamos ainda mais a compreensão trazemos os dizeres do renomado Dinamarco81 que versa: “tutela jurisdicional é a proteção em si mesma e consiste nos resultados que o processo projeta para fora de si e sobre a vida dos sujeitos que litiga”.

Extraímos das ilações declinadas que, na pretensão, tanto de direito material quanto processual, o obrigado dispõe de pretensão à tutela jurídica, ou seja, que se declare, se constitua, se execute ou mande. Hoje, quase todos os que discutiram o assunto têm a pretensão à tutela jurídica por pré-processual, ou seja, do lado de fora das relações processuais, como abrir as portas para essas.

A tutela jurisdicional processual é realizada pelo processo de cognição plena e exauriente, conforme preceitua o art. 5º, LIV, da Constituição Federal, remetendo à observância do procedimento ordinário. Nesse processo, a tutela jurisdicional somente é prestada após as partes terem

80 ALMEIDA, Isis. Manual de Direito Processual do Trabalho, p. 211, vol.1º, 10ª edição, Ed. LTr, 2002. 81 VER: DINAMARCO, Candido Rangel. A Reforma do Código de Processo Civil; CASTELO, Jorge Pinheiro, op. cit..

plena e exaustiva oportunidade de fazer valer suas próprias razões82, como ensina Pisani:

“O processo ordinário de conhecimento, tal como modernamente concebido, é fruto da concepção liberal do processo advinda da época da formação da moderna ciência processual, na segunda metade do século XIX. A ideologia liberal da igualdade formal de todos os cidadãos no contexto em que a moderna teoria a ação (autônoma do direito material) foi elaborada, aliada ao alto grau de abstração e elaboração dos conceitos formulados, levou à convicção de que, sendo o direito de ação algo unitário (ou somente possível de ser distinto em poucas categorias: ação declaratória, de condenação ou constitutiva, de execução e cautelar), conseqüentemente, o processo posto em desenvolvimento também pudesse ser configurado como uma categoria unitária e fosse sempre idôneo a oferecer tutela jurisdicional a todos os direitos, independentemente do seu conteúdo e dos titulares envolvidos”.

E segue informando que a técnica do processo de cognição plena (desenvolvida no procedimento ordinário) é caracterizada:

“a) pela predeterminação legal das formas e dos termos, bem com dos correspondentes poderes, deveres, faculdades processuais das partes e do juiz; b) pela realização plena do contraditório e momento anterior e prévio ao do proferimento da decisão da pretensão processual, garantindo-se as partes previamente fazer valer à exaustão todas as suas razões; c) em virtude dessas características, a decisão proferida faz coisa julgada formal e material”83.

Dessa forma, o princípio da proibição da autotutela e da inafastabilidade da tutela jurisdicional, consagrado constitucionalmente, corresponde a garantia do direito a adequada e efetiva tutela jurisdicional.

E, por essa razão, por ser a tutela ordinária plena, que comporta meio de prova amplo e robusto, necessitando, portanto, de largo espaço de tempo para busca da verdade e certeza, vai de encontro à norma de duração razoável do processo, comportando à reflexão dos aplicadores do direito a dar maior efetividade à justiça com apreciação da análise fática concreta, conduzindo o processo de forma rápida e célere, sem, contudo, afetar o princípio do devido processo legal, mas não deixando aos ligantes a condução do feito com a utilização de instrumentos processuais com finalidade procrastinatória.

Até porque, no processo do trabalho, há o princípio do impulso oficial, que também é ferramenta conferida ao juiz para fomentar a proteção e promoção do princípio fundamental da duração razoável do processo e efetividade da justiça, bem assim, que deve velar e zelar pelo andamento rápido das causas, conforme previsão do art. 765 da CLT.

A Constituição Federal estabeleceu a divisão da jurisdição em comum (art. 106 a 100) e especial (111 a 124); a Justiça do Trabalho foi inserida nesta última, conforme art. 111 a 117. A partir, portanto, desse mandamento constitucional, a Justiça do Trabalho passou a ser estruturada por competências: jurisdição trabalhista individual – decorrente da provocação por demandas individuais; normativa – demandas de interesses coletivos (dissídio coletivo); e metaindividual – direitos difusos e direito coletivo (stricto sensu), interesses individuais homogêneos 84, conforme Lei Complementar 75/93, Lei 7347/85, Lei 8078/90 Título III.

Jorge Pinheiro, op.cit., p. 47. 83 Idem, p. 52.

84BEZERRA LEITE, Carlos Henrique. Curso de Direito Processual do Trabalho, p. 145, 5ª edição, Ed. LTr, 2007.

Ressalte-se que o foco deste estudo é a Jurisdição Especial do Trabalho e, assim, discorreremos sobre instrumentos facilitadores das demandas individuais e coletivas, prescindindo das questões metaindividuais, por comportarem tese ampla.

Hoje, à luz dos valores sociais fomentados pelo pós-positivismo, em decorrência das necessidades contemporâneas, se entende que o direito à prestação jurisdicional é o direito a uma prestação justa, efetiva e eficaz. Na verdade, pouco importa se tenha sido concedida por meio de sentença transitada em julgado85.

Por essa razão, utilizar-se-ão aqui os princípios que nos revelam a amplitude da tutela jurisdicional, compatibilizando-os com as novas reformas neopositivistas e apreciar-se-ão os instrumentos facilitadores para entrega da jurisdição célere, eficaz e justa.