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Como instrumento facilitador de compreensão dos princípios constitucionais aplicados às normas, inicialmente convém fazer distinção entre regras e princípios. A autora Márcia Zollinger41, calcada em Alexy, nos ensina que o papel dos princípios no ordenamento jurídico destina-se a resolução de questões centrais, possibilitando o raciocínio para se chegar num veredito justo e equânime, serem aplicados e cumpridos em diversos graus.

Assim, afirma a referida autora:

“ ...regras são mandados de determinação no âmbito do fático e juridicamente possível e, presentes seus pressupostos, ou a regra jurídica é aplicada por subsunção ou é completamente afastada, por invalidade ou pela inserção de um cláusula de exceção.

... princípios são mandamentos de otimização, ou seja, normas que ordenam que algo seja realizado na maior medida possível, sendo caracterizados pelo fato de poderem ser cumpridos em diferentes graus”.

Para David Diniz Dantas42, “princípios são normas de alto grau de generalidade, enquanto as regras são portadoras de baixo nível de generalidades”.

Na mesma linha de raciocínio, dotado de alto grau de clareza, nos ensina Rothenburg43:

41 A LEXY, Robert. Teoria de los derechos fundamentais. APUD: ZOLLINGER, Márcia. Proteção Processual aos Direitos Fundamentais, p. 103, Ed. Podivm, Salvador/BA, 2006.

42 DANTAS, David Diniz. Interpretação Constitucional no Pós-positivismo., p. 671, Ed. Masdras jurídico. São Paulo, 2007.

“Os princípios aplicam-se sempre e imediatamente às respectivas situações. Apenas que os princípios, mais do que tolerar, reclamam a integração por outras normas, enquanto estas, segundo o seu grau de minudência, podem mostrar-se relativamente suficientes e repelir então certas outras formas de integração....as regras aplicam integralmente os princípios, porém é impossível traduzi-los integralmente..nunca conseguem expressar e pormenorizar completamente os princípios...”.

Tal distinção facilita a aplicação do alcance da norma ao caso concreto, impondo ao operador do direito reflexão e análise do contexto fático e aplicação imediata da regra determinada; em caso de omissão legal, os princípios, como norma fundante, otimizarão a apreciação do caso concreto e aplicação do direito pautado na diretriz principiológica.

Essa premissa é de vital importância para aplicação, no caso concreto, da duração razoável do processo, uma vez que não há norma fixadora do que seja razoável ou que exprima a duração no tempo, ou seja, que seja julgado em um, dois ou três anos.

Com a leitura dos princípios constitucionais, entretanto, é conferida ao Poder Judiciário a facilitação da aplicabilidade da norma fundamental da duração razoável do processo. As Constituições promulgadas nas últimas décadas do Século XX, converteram os princípios em pedestal normativo sobre 44o qual assena o edifício jurídico dos novos sitemas constitucionais.45

Bonavides, cita o art. 38 do Estatuto da Corte Permanente de Justiça Internacional, de 1920 e afirma:

“ os princípios gerais de Direito, reconhecidos pelas nações civilizadas, como aptos ou idôneos a solverem controverséias, ao lado dos tatados e dos costumes internacionais.

... que os pincipios são o oxigênio das Constituições na época do pós- positivismo. É graças aos princípios que os sitema constitucionais grajeam a unidade de entido e auferem a valoração de sua ordem normativa.46”

Os princípios condensam valores ao sistema jurídico e foram contemplados no pós-positivismo como valores agregados e ideológicos, harmonizando e integrando todo o sistema.

A premissa hodierna é que os princípios são revestidos de valores sociais e, portanto, têm aplicação direta e imediata, gerando eficácia jurídica plena, em razão de sua grande abstração.

Bonavides47, nesse sentido nos ensina:

“ ...a constitucionalização dos princípios compreende duas fases distintas: a fase programática e a fase não programática, de concreção e objetividade. Na primeira, a normaividade constitucional dos princípios é mínima; na segnda, máxima. Ali, pairam ainda numa região abstrata e têm aplicaibilidade diferida; aqui, ocupam um espaço onde releva de imediao a sua aplicação direta e imediata.”

Logo, os princípios são integradores das normas e não possuem enumeração taxativa. Em caso de conflito entre si, busca-se a técnica da ponderação, mas não se exclui o outro princípio. Na apreciação do caso em concreto, deparando-se com dois princípios aplicáveis, busca-se a eleição

46 Idem, pág. 288.

daquele de maior concreção, mas não há exclusão permanente daquele que não foi aplicado.

Lois48, coordenando a obra “A Constituição como Espelho da Realidade”, nos ensina que a “ponderação é essencialmente um método para a solução de conflitos constitucionais, necessária quando temos pelo menos dois princípios com o mesmo valor in these”.

Nesse sentido, Geraldo Ataliba49cita que:

“ ...mesmo no nível constitucional, há uma ordem que faz com que as regras tenham sua interpretação e eficácia condicionadas pelos princípios. Este se harmonizam, em função da hierarquia entre eles estabelecida, de modo a assegurar plena coerência interna ao sistema...”.

Leonardo Tovar50, em seu artigo, menciona:

“...poderemos aceitar que existem princípios com diferentes níveis de concretização e densidade semântica, mas, a toda evidência, não se quer com isso dizer que há hierarquia normativa entre os mesmos. Podem, com efeito, existir casos em que haja normas constitucionais em aparente conflito, tencionadas entre si, o que não significa dizer que uma ou outra é hierarquicamente superior...princípios são espécie do gênero norma...”.

A norma, diferentemente, tem grau de abstração menor, pois sua aplicação é determinada (permissividade ou proibição), quando há colisão de conflitos entre duas, uma delas não será validada. Comporta enumeração taxativa ou exemplificativa. São mutáveis.

48 LOIS, Cecília Caballero. A Constituição como Espelho da Realidade, p. 235, Ed. Ltr, São Paulo, 2007. 49 APUD: TOVAR, Leonardo Zehuir, artigo publicado no site do Superior Tribunal de Justiça, março de 2005.

Essas características, explanadas de forma suscinta, revelam o hiato entre norma e princípio, caminham pari passu, mas não se confundem em razão da especificidade ímpar que recai sobre aplicabilidade e alcance.

Dantas51 afirma que os princípios possuem três funções precípuas: explicativa, justificadora e limitadora. Explicativa, porque cumpre a síntese de grande quantidade de informação; justificadora, porque propicia critérios de aplicação, interpretação e modificação de direito; e limitadora, porque faz conexão com outras partes do sistema jurídico.

O autor52 conclui, ainda, que os princípios possuem pluralidade de significados (núcleo básico, guia/orientação, fonte geradora, finalidade/meta, premissa/axioma, verdade ética inquestionável, máxima/aforismo), que se destacam pelo papel de integrar e corrigir o ordenamento constitucional (funções explicativas e justificadora), atribuição valorativa própria à realidade, veículos de valores, porém pertencentes à axiologia e à deontologia. São, portanto, fontes do direito lato sensu.

Essa breve reflexão, contudo, revela-se de grande valia para o objeto deste estudo, pois o princípio da celeridade processual recebeu novo brilho com a inserção do texto fundamental da duração razoável do processo, devendo, assim, ser feita uma leitura à luz da Constituição Federal e demais normas integradoras, aplicáveis ao processo do trabalho.

Em suma, a validade de um princípio aplicado ao caso concreto não refuta os demais princípios existentes, não tendo sua aplicação caráter definitivo, devendo, destarte, ser balizado e apreciado em conjunto com os

51 DANTAS, David Diniz, Op. cit., p. 65. 52 Idem, p. 67.

demais princípios existentes; chamado pela doutrina humanista, de técnica da ponderação53.

No mesmo sentido, Canotilho54 destaca:

“Em primeiro lugar, os princípios são normas jurídicas impositivas de uma optimização, combatíveis com vários graus de concretização, consoante os condicionalismos fácticos e jurídicos; as regras são normas que prescrevem imperativamente uma exigência (impõem, permitem ou proíbem) que é ou não cumprida (nos termos de Dworkin: apllicabel in all-or-nothing fashion); a convivência dos princípios coexistem, as regras antinômicas excluem-se. Conseqüentemente, os princípios, ao constituírem exigências de optimização, permitem o balanceamento de valores e interesses (não obedecem, como as regras, à lógica do tudo ou anda), consoante o seu peso e a ponderação de outros princípios eventualmente conflitantes; as regras não deixam espaço para qualquer outra solução, pois se uma regra vale (tem validade) deve cumprir-se na exacta medida das suas prescrições, nem mais nem menos...em caso de conflito entre princípios, estes podem ser objeto de ponderação, de harmonização, pois eles contêm apenas exigências ou standards que, em primeira linha ( prima facie) devem ser realizados; as regras contêm fixações normativas definitivas, sendo insuscetível a validade simultânea de regras contraditórias. Realça-se também que os princípios suscitam problemas de valide (sic) e peso (importância, ponderação, valia); as regras colocam apenas questões de validade (se elas não são correctas devem ser alteradas)”.

E, para findar esse tópico com preciosidade e relevo, destacamos as lições de Celso Antonio Bandeira de Mello55:

53 VER: SARMENTO, Daniel; PIOVESAN, Flávia; SARLET, Ingo Wolfgang; ZOLLIN GER, Márcia; TEPEDINO, Gustavo.

54. CANOTILHO, J.J. Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. 3ª ed. Ed. Lisboa: Almedina, 1999.

55 BANDEIRA DE MELLO, Celso Antonio, Elementos de Direito Administrativo, Ed. Revista dos Tribunais, São Paulo, pág. 230.

“...violar um princípio é muito mais grave do que transgredir uma norma. A desatenção ao princípio implica ofensa não apenas a um específico mandamento obrigatório, mas a todo o sistema de comandos. É a mais grave forma de ilegalidade ou inconstitucionalidade, conforme o escalão do princípio atingido, porque representa insurgência contra todo o sistema, subversão de seus valores fundamentais...”

Com a corrente pós-positivista, os princípios passaram a ter maior enfoque no mundo jurídico, conferindo ampla aplicabilidade para solução de litígios.

Alguns afirmam ser os princípios fonte material do direito, não se destinando apenas a instituição, inspiração de norma, e aplicação em casos de lacuna da lei, destinando a eles toda força e eficácia para balizamento com as normas vigentes. Destarte, podemos verificar com as lições extraídas das autoridades mencionadas, que princípios são imutáveis, destinados à realização do direito, pois estabelecem comunicação direta entre o sistema de valores sociais e o sistema jurídico-normativo.

CAPÍTULO III

3.1 Da Duração Razoável do Processo

Desde a deflagração da Segunda Guerra Mundial, como vimos no primeiro capítulo, a duração razoável do processo vem sendo fixada em Tratados e Convenções como um direito fundamental do homem.

O pós-positivismo, com adequação e integração do sistema, deu nova vida ao princípios norteadores do sistema jurídico para a efetividade da justiça, levando o legislador a pensar e repensar nas normas, para que fossem abarcados os valores sociais, fomentando o legado de Miguel Reale, que, com grande maestria, nos revelou (fato, valor e norma) como integrantes do sistema jurídico e, recentemente, nossa Constituição recebeu como valor fundante a duração razoável do processo, norma integradora de aplicabilidade imediata, que merece apreciação pautada nos mecanismos e instrumentos viáveis a sua efetividade no cerne social.