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Justificação A questão religiosa básica é aquela de nossa relação com

Deus. Como pode o homem ser justo para com Deus? Como pode ser ele reto para com aquele que é Santo? Porém, em nossa situação, a questão é muito mais grave. Não é simplesmente como pode o homem ser justo para com Deus, e, sim, como pode o homem pecador ser justo para com Deus? Em última análise, o pecado é sempre contra Deus, e a essência do pecado é ser ele

contra Deus. A pessoa que é contra Deus não pode ser reta diante

de Deus. Porquanto, se somos contra Deus, então Deus é contra nós. Não pode ser de outra forma. Deus não pode ser indiferente ou ser complacente para com aquele que é a contradição de si mesmo. A sua própria perfeição requer a reação de justa indigna­ ção. E esta é a ira de Deus. “A ira de Deus se revela do céu contra toda impiedade e perversão dos homens” (Rtn 1.18). Esta é a nossa situação, e esta é a nossa relação para com Deus; como podemos ser justos aos olhos de Deus?

A resposta, naturalmente, é que não podemos ser justos para com ele; somos completamente antagônicos em relação a ele. E todos nós estamos neste estado diante dele em virtude de que todos pecamos e estamos destituídos da glória de Deus. Tão freqüente­ mente deixamos de encarar a gravidade deste fato. Por conseguin­ te, a realidade de nosso pecado e a realidade da ita de Deus que recai sobre nós em virtude de nosso estado pecaminoso não fazem

parte de nossas cogitações. Esta é a razão por que o grande assunto da justificação não toca os sininhos nos recônditos mais profundos do nosso espírito. E esta é a razão por que o evangelho da justificação, em boa medida, é um som sem sentido no mundo e na Igreja do século vinte [e vinte e um?!]. Não estamos imbuídos do profundo senso da realidade de Deus, de sua majetade e santidade. O pecado, quando reconhecido, não passa da idéia de mero infortúnio ou mau ajustamento.

Se temos de apreciar aquilo que é central no evangelho, se a trombeta de júbilo encontra novamente a sua ressonância em nossos corações, então o nosso pensamento terá de ser revolucio­ nado pelo realismo da ira de Deus, pela realidade e gravidade de nossa culpa e da condenação divina. Então, e somente então, é que o nosso pensamento e sentimento serão reabilitados para a com­ preensão da graça de Deus na justificação do ímpio. A pergunta, na realidade, não é tanto: como pode o homem ser justo para com Deus; e, sim, como pode o homem pecador tomar-se justo para com Deus. A pergunta formulada desta maneira se dirige para a necessidade de uma completa inversão de nossa relação com Deus. A justificação é a resposta, e esta justificação é o ato da livre graça de Deus. “É Deus quem os justifica. Quem os condenará?” (Rm 8.33,34).

Esta verdade de que é Deus quem justifica precisa ser subli­ nhada. Não justificamos a nós mesmos. A justificação não é a nossa apologia nem o efeito em nós de um processo de escusa pessoal. Ela nem ainda é a nossa confissão nem a agradável sensação de que pode ser produzida em nós pela confissão. A justificação não é algum exercício religioso em que nos empenhamos; ainda que ela seja um exercício nobre e louvável. Se queremos entender a justificação e apoderar-nos de sua graça, devemos dirigir o nosso pensamento para a ação de Deus em justificar o ímpio. A livre graça de Deus não se manifesta em nenhum outro ponto mais claramente do que em seu ato justificador — “sendo justificados

gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus” (Rm 3.24).

A verdade da justificação tem sofrido nas mãos da perversão humana mais do que qualquer outra doutrina da Escritura. Uma das formas nas quais ela tem sido pervertida é na falta de reconhe­ cimento do significado do termo. Justificação não significa tomar­ -se justo, bom, santo ou reto. É perfeitamente correto dizer que, na aplicação da redenção, Deus faz o seu povo santo e reto. Ele os renova segundo a sua própria imagem. Esta obra ele a inicia na regeneração, prossegue na obra de santificação e a aperfeiçoará na glorificação. Porém, a justificação não se refere a esta graça renovadora e santificadora de Deus. É um dos erros primordiais da igreja romana considerar a justificação como a infusão da graça, como a renovação e santificação, por meio das quais nos tomamos santos. E a seriedade do erro romanista não é tanto por ela confun­ dir justificação com renovação, e, sim, por ela confundir estes dois atos distintos da graça de Deus e eliminar da mensagem do evangelho a grande verdade da livre e plena justificação por meio da graça. Por esta razão foi que Lutero suportou tamanha angústia em sua alma durante o tempo em que foi dominado por esta distorção romanista. E a razão pela qual chegou a desfrutar de tão exultante alegria e certeza inabalável foi em virtude da emancipa­ ção das algemas pelas quais Roma o escravizou. Ele descobriu a grande verdade de que a justificação é algo completamente dife­ rente daquilo que lhe foi ensinado pela igreja de Roma.

Que a justificação não significa tomar-se santo ou reto pode­ -se provar pelo evidente uso comum da palavra. Quando justifica­ mos uma pessoa, não a tomamos santa ou reta. Quando um juiz justifica uma pessoa acusada, ele não toma aquela pessoa um ser reto. Ele simplesmente declara que, segundo o seu parecer, aquela pessoa não é culpada da acusação, antes é reta nos termos da lei relativa ao caso. Em outras palavras, justificação é simplesmente uma declaração ou pronunciamento quanto à relação da pessoa à

luz da lei que ele, o juiz, tem por obrigação administrar. É possível que o nosso uso comum não seja o mesmo que é empregado na Escritura. Esta deve ser a sua própria intérprete. Eis a pergunta: O uso bíblico está de acordo com o uso comum? Esta pergunta é facilmente respondida. A resposta é que a Escritura usa o termo na mesma forma. Há várias considerações que provam esta conclusão.

1. Em ambos os Testamentos há numerosas passagens onde o termo justificar não admite nenhuma outra interpretação senão o ato de declarar alguém justo. Por exemplo: “Em havendo con­ tenda entre alguns, e vierem a juízo, os juizes os julgarão, justifi­ cando ao justo e condenando ao culpado” (Dt 25.1). Não era função dos juizes tomar o povo justo. O significado é simples e unicamen­ te que os juizes tinham de pronunciar um julgamento justo e, portanto, tinham de declarar o inocente justo, assim como tinham de declarar o culpado injusto. Outra vez, lemos: “O que justifica o perverso e o que condena o justo, abominação são para o Senhor, tanto um como o outro” (Pv 17.15). Ora, não seria abominação para o Senhor tomar o ímpio justo. Seria algo extremamente recomendável se pudéssemos converter um ímpio e tomá-lo justo. É isto que Deus faz quando regenera um homem. O sentido é mais do que óbvio; justificar o ímpio não é tomá-lo justo, mas simples­ mente declará-lo justo quando ele não o é. A abominação consiste em dar um julgamento contrário à verdade do fato. Daí, a justifi­ cação, neste caso, se refere somente ao julgamento proferido. Ele é declarativo. No Novo Testamento, de forma semelhante, temos a mesma idéia. “Todo o povo que o ouviu, e até os publicanos, reconheceram a justiça de Deus” (Lc 7.29). Será que o povo e os publicanos tomaram Deus justo ou reto? A idéia seria blasfêmia. Significa que eles declararam que Deus é justo; uma ação perfei­ tamente adequada. Eles declararam que Deus era justo; uma ação perfeitamente louvável. Declararam a justiça de Deus; eles o justificaram. Muitas outras passagens em ambos os Testamentos têm o mesmo efeito. Porém, estas são suficientes para provar que justificar não significa tomar alguém reto.

2. A justificação é contrastada com a condenação (cf. Dt 25.1; Pv 17.15; Rin 8.33,34). Condenar jamais significa tomar alguém ímpio; e, assim, justificar não pode significar tomar alguém bom ou reto.

3. Há passagens nas quais a idéia de julgar nos fornece o sentido no qual podemos compreender a palavra justificação. “Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? É Deus quem os justifica” (Rm 8.33). A idéia não é a de fazer algo interiormente no eleito de Deus. O que está em questão é a acusação que um adversário possa apresentar contra o eleito de Deus, e o que é asseverado é que o tribunal e o julgamento de Deus são finais. É o juízo de Deus que está em questão quando o texto diz: “É Deus quem os justifica.”

Romanos 8.33,34 é importante noutro aspecto. O termo jus­

tificar não é apenas para ser claramente demonstrado, isto é, que

ele é judicial em sua significação, mas o texto mostra também que é este sentido judicial que prevalece quando Deus justifica o ímpio. Certamente, Paulo está usando a palavra justificar, aqui, no mesmo sentido em que ele o faz na primeira parte da epístola. A epístola aos Romanos preocupa-se com este mesmo tema — a justificação dos pecadores. Este é o grande tema especialmente dos primeiros cinco capítulos. Romanos 8.33,34 mostra conclusivamente que o significado é aquele que é contrastado com a palavra condenar e aquilo que está relacionado com o ato de refutar uma acusação judicial. Portanto, o significado da palavra justificar, na epístola aos Romanos, e, portanto, na epístola que mais do que qualquer outro livro da Bíblia desenvolve a doutrina, é declarar alguém justo. O seu significado é completamente removido da idéia de

tornar alguém reto ou santo, bom ou justo.

É este o significado quando insistimos que a justificação é

forense. Ela tem a ver com um julgamento dado, declarado,

de tais termos é distinguir entre o tipo de ação que envolve a justificação e o tipo de ação envolvida na regeneração. Regenera­ ção é um ato de Deus em nós; justificação é um julgamento de Deus a respeito de nós. A distinção é semelhante àquela entre o ato do cirurgião e o ato do juiz. O cirurgião, quando ele remove um câncer interno, faz algo em nós. Não é assim que procede um juiz — ele declara o veredito a respeito de nosso estado judicial.

Se somos inocentes, ele declara concordemente.

A pureza do evangelho é circunscrita pelo reconhecimento desta distinção. Se a justificação é confundida com a regeneração ou a santificação, a porta se abre para a perversão do evangelho em seu centro. A justificação continua sendo o artigo pelo qual a Igreja permanece de pé ou cai.

A justificação significa declarar ou pronunciar alguém como sendo justo. Quando a eqüidade é mantida, esta declaração ou pronunciamento implica que a posição ou estado justo é pressu­ posto na declaração. Por exemplo, quando um juiz declara justa uma pessoa nos termos da lei a que está administrando, o juiz simplesmente declara o que ele descobriu no caso; ele não confere à pessoa um estado justo. Por esta razão os juizes devem justificar o inocente e condenar o culpado (Dt 25.1). Neste caso, a justifica­ ção simplesmente leva em conta o caráter e a conduta da pessoa em questão, e o juiz dá o seu veredito concordemente. Ele justifica aqueles que são justos. A declaração pressupõe o fato que é para ser declarado.

Entretanto, a justificação que ora nos interessa é aquela pela qual Deus justifica o ímpio. Não é a justificação de pessoas que são justas, mas a justificação de pessoas que são ímpias; portanto, de pessoas que já estão sob a condenação e maldição de Deus. Como pode ser isto? O juízo de Deus é sempre de acordo com a verdade; não é somente de eqüidade, mas de perfeita eqüidade. Como, pois, pode ele justificar àqueles que são injustos, sim, totalmente injustos?

Neste ponto focalizamos algo completamente singular. Não se pode negar que Deus justifica o ímpio (Rm 4.5; cf. Rm 3.19-24). Se o homem fizesse isto, seria uma abominação aos olhos de Deus. O homem deve condenar o ímpio e pode justificar somente o justo. Deus justifica o ímpio e faz aquilo que nenhum homem pode fazer. Todavia, Deus não é injusto. Ele é justo quando justifica o ímpio (Rm 3.26). O que é que lhe permite ser justo ao justificar os pecadores?

E neste ponto que a mera noção de declarar ser alguém justo se revela inadequada em si mesma para expressar a plenitude do que está envolvido quando Deus justifica o ímpio. Muito mais está envolvido do que denota a nossa expressão portuguesa declarar

justo. Na justificação do pecador que Deus efetua há um fator

inteiramente novo que não existe nos outros casos de justificação. E este novo fator surge de uma situação totalmente diferente, contemplada no fato de Deus justificar o pecador, e das maravi­ lhosas provisões da graça e da justiça de Deus que satisfazem tal situação. Deus faz o que nenhum outro poderia fazer, e ele faz aqui o que não faz em nenhum outro lugar. O que é este algo único e incomparável?

Quando Deus justifica o pecador, não há nenhum desvio da regra de que o que se declara ser pressupõe-se que é. O juízo de Deus é segundo a verdade, tanto aqui como alhures. A peculiari­ dade da ação de Deus consiste do fato de que ele é a causa do estado ou relação justa que se declara ser. Devemos lembrar que a justificação é sempre forense ou judicial. Portanto, o que Deus faz neste caso é que ele constitui a nova e justa relação judicial, bem como declara que esta nova relação existe. Ele constitui o ímpio em justo, e conseqüentemente pode declarar que ele é justo. Na justificação do pecador existe um ato constitutivo bem como um

declarativo. Ou, se preferirmos, podemos dizer que o ato declara­

tivo de Deus na justificação do ímpio é constitutivo. Nisto consiste o seu caráter incomparável.

Esta conclusão de que a justificação é constitutiva não é apenas uma inferência deduzida das considerações da verdade e da eqüidade de Deus; ela é expressamente confirmada na própria Escritura. Paulo está tratando do tema da justificação, quando diz: “Porque, como pela desobediência de um só homem muitos se tomaram [=foram constituídos] pecadores, assim também por meio da obediência de um só muitos se tomaram [=foram consti­ tuídos] justos” (Rm 5.19). As expressões paralelas que Paulo emprega neste capítulo têm o mesmo efeito. Em Rm 5.17, ele fala daqueles que recebem “o dom gratuito da justiça"; e no v. 18, do juízo que sobrevêm a todos os homens para a justificação que confere vida, “por um só ato de justiça". É evidente que a justifi­ cação que confere a vida eterna, segundo Paulo, consiste em sermos constituídos justos, em recebermos a justiça como dom gratuito, e esta justiça não é outra senão aquela justiça do homem Jesus Cristo; é a justiça de sua obediência. Por conseguinte, a graça reina por meio da justiça que confere a vida etema através de Jesus Cristo nosso Senhor (Rm 5.21). Esta é a verdade que tem sido expressa como a imputação da justiça de Cristo a nós. Portanto, justificação é um ato constitutivo pelo qual a justiça de Cristo é imputada à nossa conta, e conseqüentemente somos aceitos como justos aos olhos de Deus. Quando meditamos sobre este ato da graça de Deus, então temos a resposta à nossa pergunta: como pode Deus justificar o ímpio? A justiça de Cristo é a justiça da sua perfeita obebiência, uma justiça imaculada e imaculável, uma justiça que não somente garante a justificação do ímpio, mas também aquela que necessariamente suscita e compele tal justifi­ cação. Deus não pode senão receber em seu favor aos que são vestidos da justiça de seu próprio Filho. Embora a ira de Deus seja revelada do céu contra toda impiedade e perversão dos homens ímpios, o seu beneplácito é também revelado do céu sobre a justiça de seu Bem-amado e Unigénito Filho. Os justificados, com toda razão, podem regozijar-se nas palavras do profeta: “Tão-somente no Senhor há justiça e força;... Mas no Senhor será justificada toda

zijar-me-ei muito no Senhor, a minha alma se alegra no meu Deus; porque me cobriu de vestes de salvação, e me envolveu com o manto de justiça, como noivo que se adorna de turbante, como noiva que se enfeita com as suas jóias” (Is 61.10). “Toda arma foqada contra ti não prosperará; toda língua que ousar contra ti em juízo tu a condenarás; esta é a herança dos servos do Senhor, e o seu direito [=a sua justiça] que de mim procede, diz o Senhor” (Is 54.17). E o protesto do apóstolo se toma mais significativo: “quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? É Deus quem os justifica” (Rm 8.33).

A justificação é tanto um ato declarativo e constitutivo como um ato da livre graça de Deus. É constitutivo para que possa ser verdadeiramente declarativo. Deus deve constituir a nova relação como também declarar que ela existe. O ato constitutivo consiste na imputação da obediência e justiça de Cristo feita a nós. Portanto, a obediência de Cristo deve ser considerada como a base da justificação; é a justiça que Deus não somente leva em conta, mas também credita à nossa conta quando ele justifica o ímpio. Contu­ do, esta doutrina precisa ser melhor examinada se a sua base bíblica deve tomar-se mais evidente.

Em Gn 15.6 é dito de Abraão que ele creu no Senhor, e isso lhe foi computado para justiça. Este texto é citado várias vezes no Novo Testamento (Rm 4.3,9,22; G1 3.6; Tg 2.23) e pode parecer que foi a fé de Abraão que lhe foi computada como justiça e esta serviu de base na qual ele foi justificado, que a própria fé foi aceita por Deus como o cumprimento das exigências necessárias à sua plena e perfeita justificação. Se este foi o caso, então Abraão e todos os demais crentes são justificados sobre a base da fé e em virtude da fé. E importante observar nesta conexão que a Escritura nunca usa tais termos. Ela sempre fala que somos justificados pela fé, através da fé ou sobre a fé; porém, jamais fala de sermos justificados por causa da fé ou em virtude da fé. Se fôssemos justificados na base da fé, a expressão que expressaria com mais

precisão tal idéia seria que somos justificados por causa da fé. O fato de que a Escritura, e especialmente o apóstolo Paulo, se abstém de usar tais termos, deve ser suficiente a fim de sermos cuidadosos em pensar ou falar de maneira que seja sugerido tal conceito de justificação. Mas há também muitas outras considerações que revelam que a fé não é em si mesma a justiça, como também revela que a justiça da justificação não é nada realizado em nós ou feito por nós. Há vários argumentos que podem ser apresentados.

1. Uma justiça operada em nós, ainda que fosse perfeita e eliminasse todo pecado futuro, não estaria à altura das exigências da justificação plena e irrevogável que a Escritura apresenta. Tal justiça não eliminaria o pecado e a injustiça do passado, nem a condenação do passado que paira sobre nós. Porém, a justificação inclui a remissão de todo pecado e condenação. Conseqüentemen­ te, a justiça que é a base desta justificação deve ser aquela que cuidará do pecado do passado, tanto quanto fará provisão para o futuro. Uma justiça fabricada não está à altura desta necessidade. E devemos lembrar também que a justiça operada em nós pela regeneração e santificação nunca é perfeita nesta vida. Por conse­ guinte, ela não pode, em qualquer sentido, satisfazer o tipo de justiça requerida. Somente uma justiça perfeita pode fornecer a base para uma justificação plena, perfeita e irreversível. Além do mais, a justificação confere um título para e garante a vida eterna (Rm 5.17,18,21). Uma justiça operada em nós pode equipar-nos para o desfruto da vida eterna, porém não pode ser a base de tal recompensa.

2. A justificação não é pela justiça que conquistamos; ela não provém das obras (Rm 3.20; 4.2; 10.3,4; G1 2.16; 3.11; 5.4; Fp 3.9). A Escritura insiste tanto sobre este ponto, que é só por meio de cegueira espiritual e distorção da pior espécie que uma justifi­ cação por meio das obras poderia ser adotada ou proposta em qualquer forma ou grau. A doutrina romanista possui a patente carimbada de tal distorção.

3. Somos justificados pela graça. Não é recompensa por algo existente em nós ou realizado por nós, mas aquela que procede do favor livre e imerecido de Deus (Rm 3.24ss; 5.15-21).

Portanto, se quisermos descobrir a justiça que fornece, e as bases da justificação plena e perfeita que Deus confere aos ímpios, não podemos descobri-la em algo que resida em nós, nem em algo que Deus faça em nós e nem em algo que nós realizemos. Precisa­ mos desviar-nos de nós mesmos e direcionar-nos em direção inteiramente diferente e para algo inteiramente diferente. E qual é a direção indicada pela Escritura?

1. É em Cristo que somos justificados (At 13.39; Rm 8.1; I Co 6.11; G1 2.17). Desde o início estamos sendo avisados de que é por meio da união com Cristo e por meio de alguma relação específica para com ele envolvida nessa união que podemos ser justificados.

2. E por intermédio da obra redentiva e sacrificial de Cristo (Rm 3.24; 5.9; 8.33,34). Somos justificados no sangue de Jesus. A significação especial desta verdade, nesta conexão, é que a reali­ zação redentiva de Cristo, uma vez por todas, é conduzida ao centro das atenções quando pensamos na justificação. Portanto, é algo