• Nenhum resultado encontrado

Regeneração Descobrimos que a aplicação da redenção inicia-se com a

vocação eficaz por meio da qual Deus o Pai introduz os homens na comunhão de seu Filho. Contudo, uma vocação eficaz deve levar consigo a resposta apropriada por parte da pessoa chamada. E Deus quem chama, porém não é Deus quem responde ao chamado, e, sim, a pessoa a quem o chamado é dirigido. E esta resposta deve incluir o exercício do coração, da mente e da vontade da pessoa envolvida. É neste ponto que somos compelidos a formular a pergunta: como pode uma pessoa que está morta em delitos e pecados, cuja mente está inimizada contra Deus, e que não pode fazer o que quer que seja para agradar a Deus, atender ao chamado para a comunhão de Cristo? A comunhão nunca pode ser unilateral; ela é sempre recíproca. Por isso, a comunhão de Cristo deve envolver a aceitação de Cristo em fé e amor. E como pode uma pessoa cujo coração é depravado e cuja mente é inimiga de Deus aceitar aquele que é a suprema manifestação da glória de Deus? A resposta a esta pergunta é que a resposta crente e amável que o chamado exige é uma impossibilidade moral e espiritual por parte daquele que está morto em delitos e pecados. “Os que estão na carne não podem agradar a Deus” (Rm 8.8). E quanto a esta impossibilidade, nosso Salvador mesmo se expressou de forma inequívoca quando disse: “Ninguém pode vir a mim se o Pai que me enviou não o trouxer”; “Ninguém poderá vir a mim, se pelo

Pai não lhe for concedido” (Jo 6.44,65). O fato é que existe uma completa incongruência entre a glória e a virtude às quais os pecadores são chamados, por um lado, e a condição moral e espiritual dos chamados, por outro. Como pode esta incongruência ser resolvida e a impossibilidade vencida?

É a glória do evangelho da graça de Deus que toma providên­ cia para eliminar esta incongruência. A vocação de Deus, visto ser eficaz, leva consigo a graça operante pela qual a pessoa chamada é capacitada a responder ao chamado e a aceitar a Jesus Cristo como ele é oferecido gratuitamente no evangelho. A graça de Deus alcança as necessidades mais profundas de nossas necessidades e satisfaz todas as exigências da impossibilidade moral e espiritual que é inerente à nossa depravação e incapacidade. E esta graça é a graça da regeneração. Quando levamos em consideração a graça e o poder recriadores de Deus é que a contradição entre a vocação de Deus e a condição pecaminosa daquele que é chamado são resolvidas. “Dar-vos-ei coração novo, e porei dentro em vós espí­ rito novo” (Ez 36.26). Deus efetua uma mudança que é radical e toda-difusa, uma mudança que não pode ser explicada em termos de qualquer combinação, permuta ou acúmulo de recursos huma­ nos, uma mudança que nada é senão uma nova criação por meio daquele que chama à existência as coisas que não existiam, que falou e tudo se fez, que ordenou e tudo se estabeleceu. Esta é, numa palavra, a regeneração.

Não há na Escritura uma passagem mais relevante do que as palavras que nosso Senhor dirigiu a Nicodemos. São palavras familiares, porém quão freqüentemente os seus mais cristalinos significados são ignorados ou distorcidos. O modo da regeneração é realmente um mistério, e a isto Jesus se refere nesta passagem quando diz: “O vento sopra onde quer, ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo o que é nascido do Espírito” (Jo 3.8). Porém, existem lições claras no tocante à j necessidade e ao caráter do novo nascimento que jazem na super­

Quando nosso Senhor diz que o nascimento supernatural aqui expresso é indispensável ao ato de ver e entrar no reino de Deus, certamente que este ver significa o discernimento espiritual que Paulo menciona em I Co 2.14, e que este entrar em se refere àquilo por meio do quê nos tomamos membros reais do reino de Deus e, portanto, participantes das bênçãos que a membresia vincula. Podemos focalizar a nossa atenção sobre o v. 5: “Quem não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus.”

Uma considerável diferença de opinião se transformou na pergunta: o que Jesus quis dizer por água neste texto? Alguns pensam que Jesus se referiu ao batismo cristão como o banho da regeneração, e aqueles que crêem na regeneração batismal costu­ mam apelar para este texto em apoio dessa doutrina.

De início, dever-se-ia notar que Jesus não fala de batismo; ele fala de água. Não devemos concluir que ele está falando de batismo a menos que haja alguma razão que nos leve à conclusão que, ao usar a palavra água, ele estava se referindo à água do batismo. Porém, não há neste texto nenhuma necessidade para considerar-se a palavra água como se referindo ao rito do batismo, e há boas razões para pensar-se que ela tem uma outra importância e refe­ rência. Devemos ter em vista a situação na qual Jesus pronunciou estas palavras. Ele estava empenhado num diálogo com Nicode­ mos sobre uma questão intensamente religiosa. Segundo os termos desta conversa, não há nada mais razoável e natural do que pressupor que Jesus quis transmitir a Nicodemos uma idéia de importância religiosa que seria diretamente relevante para o assun­ to em pauta. Ora, qual seria a idéia religiosa transmitida à mente de Nicodemos pelo uso da palavra água? Naturalmente, a idéia associada com o uso religioso de água naquela tradição e prática religiosas que forneceu o próprio contexto da vida e profissão de Nicodemos. É bom lembrarmos da importância religiosa da água no Velho Testamento, nos ritos do judaísmo e na prática contem­ porânea. Ao dizermos isto, só há uma resposta. O uso religioso de

água, ou seja, o significado religiosamente simbólico de água, apontava para uma só direção, e esta direção é a purificação. Todas as considerações relevantes concorreriam para comunicar essa mensagem a Nicodemos. E essa mensagem focalizaria em sua mente uma idéia central, a necessidade indispensável de purifica­ ção para a entrada no reino de Deus.

Era característica do ensino de Jesus pôr o seu dedo direta­ mente no pecado e necessidade característicos daqueles com quem ele tratava. O pecado característico dos fariseus era a auto-presun- ção e a auto-justiça. O de que eles precisavam era de se convencer de sua própria corrupção e da necessidade de uma purificação radical. Esta é a lição que a expressão, “nascido da água”, teria comunicado de forma eficaz. A entrada no reino de Deus poderia ser assegurada somente através da purificação da imundícia do pecado. A água da purificação é como se fosse o ventre materno, do qual deve emergir aquela nova vida que dá entrada e prepara para a membresia de Deus. Este é o aspecto purificador da rege­ neração. Esta deve repudiar o passado bem como reestruturar para o futuro. Ela deve purificar do pecado bem como recriar em justiça.

Não pode haver dúvida de que a expressão: “nascido do

Espírito" se refere ao nascimento do Espírito Santo (cf. v.8 e Jo

1.13; I Jo 2.29; 3.9; 4.7; 5.1,4,18). Portanto, este nascimento é de um caráter divino e supernatural. E é assim em virtude de o Espírito Santo ser a fonte e o agente dele.

Precisa-se observar especialmente o que está implícito nesta expressão familiar, “nascido do Espírito". Não é plenamente certo se o significado exato da palavra traduzida “nascido” é aquele do gerar ou dar à luz. Segundo o seu uso no Novo Testamento, poderia ser ambos. Se for o primeiro, então a idéia é exemplificada na ação do pai na procriação humana — o homem gera. Se for o último, então a idéia é exemplificada na ação da mãe — a mulher dá à luz, a criança é nascida da mãe. Não podemos ter certeza qual destes significados é mais preciso e está em vista aqui. Porém, não há

nenhuma diferença essencial à verdade expressa. Seja gerado do Espírito ou nascido do Espírito, uma coisa é certa — somos instruídos por nosso Senhor de que a entrada no reino de Deus depende inteiramente da ação do Espírito Santo, uma ação que é comparada àquela por parte de nossos pais pela qual nascemos neste mundo. Somos tão dependentes do Espírito Santo quanto o somos da ação de nossos pais em conexão com o nosso nascimento natural. Não fomos gerados por nosso pai porque assim decidimos. - E não nascemos de nossa mãe porque assim decidimos. Fomos simplesmente gerados e nascemos. O nosso nascimento não foi um ato de nossa livre vontade. Esta verdade aqui ensinada por nosso Senhor é tão simples, porém freqüentemente tão negligenciada. Não temos percepção espiritual do reino de Deus e nem entramos nele porque foi da nossa vontade ou da nossa escolha. Se este privilégio é nosso, é pelo simples fato de que foi da vontade do Espírito Santo, e aqui tudo repousa sobre a decisão e ação do Espírito Santo. Ele gera ou dá à luz quando e onde lhe apraz. Não é esta a ênfase do v. 8? Jesus, nesta referência, compara a ação do Espírito à ação do vento. O vento sopra — isto serve para ilustrar a realidade, a certeza, a eficácia da ação do Espírito. O vento sopra onde quer — isto põe em relevo a soberania da ação do Espírito. Assim como o vento não atende ao nosso aceno e chamado, assim também a operação regeneradora do Espírito. “Não sabes donde vem, nem para onde vai” — a obra do Espírito é misteriosa. Tudo isto realça a soberania, eficácia e inescrutabilidade da obra do Espírito Santo na regeneração.

E o Espírito Santo quem efetua esta mudança. Ele a efetua em virtude de ser ele a fonte dela. Ele a efetua pelo exemplo da geração. E visto que a efetua desta maneira, ele é o seu único autor e agente ativo.

Tem-se afirmado várias vezes que somos passivos na regene­ ração. Esta é uma declaração apropriada e verdadeira, mas é simplesmente precipitar o que nosso Senhor nos ensinou aqui.

Talvez não gostemos da idéia. Podemos recuar dela. Talvez ela não caiba em nosso modo de pensar, ou não esteja de acordo com as expressões populares que são os chavões de nosso evangelismo moderno. Porém, se recuarmos diante dela, convém lembrar que este recuo é um ato contra Cristo. E qual será a nossa resposta quando comparecermos diante dele, cuja verdade foi rejeitada e cujo evangelho foi adulterado? Porém, bendito seja Deus porque o evangelho de Cristo é uma regeneração irresistível, soberana e eficaz. Se não fosse o caso de na regeneração sermos passivos, os objetos de uma ação da qual unicamente Deus é o agente, não existiria nenhum evangelho. Pois, a não ser que Deus, pela graça operante e soberana, transforme a nossa inimizade em amor, e a nossa incredulidade em fé, jamais daremos uma resposta de fé e amor.

João 3.5 revela os dois aspectos dos quais o novo nascimento deve ser apreciado — ele expurga a imundícia dos nossos corações e cria uma nova vida. Os dois elementos deste texto — “nascido

da água" e “nascido do Espírito" — correspondem aos dois

elementos do Velho Testamento: “Então aspergirei água pura sobre vós, e ficareis purificados; de todas as vossas imundícias e de todos os vossos ídolos vos purificarei. Dar-vos-ei coração novo, e porei dentro em vós espírito novo; tirarei de vós o coração de pedra e vos darei coração de carne” (Ez 36.25,26). Podemos considerar esta passagem, com toda propriedade, como o paralelo veterotestamentário de Jo 3.5, e não há nenhuma razão e nem justificativa para impor qualquer outra interpretação sobre: “nas­

cido da água” além daquela de Ez 36.25: “Então aspergirei água

pura sobre vós, e ficareis purificados.” Estes elementos, o purifi­ cador e o renovador, não devem ser considerados como eventos separáveis. Eles são simplesmente os aspectos constitutivos desta mudança total por meio da qual os chamados por Deus são trans­ feridos da morte para a vida e do reino de Satanás para o reino de Deus, uma mudança que satisfaz todas as exigências da nossa condição anterior e as exigências da nova vida em Cristo, uma

mudança que remove a contradição do pecado e adequa para a comunhão do Filho de Deus.

Foi o apóstolo João quem registrou para nós este discurso dirigido a Nicodemos. João aprendera bem a lição, especialmente a lição de que a regeneração é um ato de Deus, e unicamente de Deus, ou seja, que os homens são nascidos de novo, não “'do

sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus" (Jo 1.13). Ele gravou indelevelmente este ensino também

na sua primeira epístola. Uma referência explícita à regeneração aparece várias vezes naquela epístola (I Jo 2.29; 3.9; 4.7; 5.1,4,18). A ênfase principal nestes textos repousa sobre o fato de que existe uma concomitância invariável ou coordenação da regeneração e outros frutos da graça. Em 2.29, é a concomitância ^simultanei­ dade) da geração divina e a prática da justiça; em 3.9, por um lado, é geração divina, e, por outro, o não cometer pecado e a incapaci­ dade de pecar; em 4.7, é a geração divina e o amor; em 5.1, a geração divina e o crer que Jesus é o Cristo; em 5.4, é a geração divina e a vitória sobre o mundo; em 5.18, é a geração divina e o não pecar e não ser tocado pelo maligno. Como veremos mais adiante, esta ênfase é muito significtiva e nos adverte contra qualquer conceito de regeneração que a afaste dos outros elemen­ tos da aplicação da redenção.

Na maioria destas passagens, tudo o que e expressamente declarado é a verdade da concomitância da regeneração e estas outras bênçãos da graça. Porém, em 3.9 somos expressamente informados de algo mais, ou seja, a relação que a regeneração mantem com as outras graças particulares mencionadas neste texto: “Todo aquele que é nascido de Deus não vive na prática do pecado, pois o que permanece nele é a divina semente; ora, esse não pode viver pecando, porque é nascido de Deus.” Não só é declarado que a pessoa nascida de novo não peca, mas ainda somos informados da razão por que ela não peca. Ela não peca porque a semente de Deus permanece nela. Ora, esta semente permanente

se refere claramente à comunicação divina que ocorre na geração divina. Esta geração divina, com a sua conseqüência permanente, é a causa do não pecar. Assim, a regeneração é lógica e causativa- mente anterior ao não pecar. E, outra vez, João nos informa que o nascido de novo “não pode viver pecando, porque é nascido [=gerado] de Deus”, uma expressa declaração de que a regeneração é a causa por que essa pessoa não pode pecar. Assim, a razão por que uma pessoa não pode pecar é porque ela está regenerada — a ordem não pode ser invertida. Portanto, neste versículo somos informados de que a regeneração é a fonte e a explicação do rompimento com o pecado que é o característico de toda pessoa regenerada.

Assim, em I Jo 3.9 descobrimos um princípio que deve ser aplicado aos outros textos citados nesta epístola, mesmo que o princípio não esteja expressamente mencionado nestes outros tex­ tos. A inferência é confirmada quando comparamos 3.9 com 5.18. Transcrevemos a última. “Sabemos que todo aquele que é nascido de Deus não vive em pecado; antes, Aquele que nasceu de Deus o guarda, e o maligno não lhe toca.” A idéia aqui é muito semelhante àquela que está em 3.9. De fato, em parte é idêntica, com uma pequena variação de termos. Se o que temos observado como a verdade em 3.9 se aplica ao que está ensinado em 3.9, então o mesmo deve aplicar-se ao que está ensinado em 5.18. E isto significa que a razão por que uma pessoa não peca é porque ela é nascida de Deus, e a razão por que o maligno não lhe toca é porque ela é nascida de Deus. A regeneração é a explicação lógica e causal da abstenção do pecado e da isenção do toque do maligno.

No momento não é nosso propósito determinar o significado preciso desta abstenção do pecado, desta incapacidade de pecar e desta imunidade contra a invasão do maligno. Todo o nosso interesse no momento se limita ao estabelecimento da relação que a regeneração mantém com estes característicos da pessoa regene­ rada.

Portanto, somos forçados a concluir, sobre a base de 3.9 e 5.18, que a relação estabelecida nestes dois textos se aplica também aos demais. Em 2.29, devemos inferir que a razão que explica a prática da justiça é porque a pessoa é nascida de Deus. E seme­ lhantemente nos demais. Em 4.7, a regeneração deve ser conside­ rada como a causa do amor; em 5.1, a causa da fé em que Jesus é o Cristo; em 5.4, a causa da vitória sobre o mundo. Temos, portanto, todo um catálogo de virtudes — fé em que Jesus é o Cristo, vitória sobre o muíido, abstenção do pecado, domínio próprio, incapacidade de pecar, isenção do toque do maligno, a prática da justiça, amor a Deus e ao próximo. E estes são todos frutos da regeneração. Devemos observar quão abrangente e rep­ resentativo é este catálogo. Ele cobre uma ampla extensão da virtude exigida pela vocação sublime de Deus em Cristo Jesus. Na ordem em que as virtudes foram acima enumeradas, Bengel, em outra conexão, disse: a fé dirige a orquestra e o amor vem na retaguarda.

Deve-se notar especialmente que mesmo a fé em que Jesus é o Cristo é produto da regeneração. Naturalmente que esta é uma implicação clara de Jo 3.3-8. Mas, aqui, João, o apóstolo, se esforça por esclarecer este fato. A regeneração é o princípio de toda a graça salvífica em nós, e toda a graça salvífica em exercício, de nossa parte, procede da fonte da regeneração. Não nascemos de novo pela fé ou pelo arrependimento ou pela conversão; nós arrepende­ mo-nos e cremos porque fomos regenerados. Ninguém pode afir­ mar genuinamente que Jesus é o Cristo senão pela regeneração do Espírito, que é um dos meios pelos quais o Espírito Santo glorifica a Cristo. Seguir a Cristo pela fé é a primeira evidência da regene­ ração, e somente assim podemos saber que fomos regenerados.

A prioridade da regeneração pode dar a impressão de que uma pessoa poderia ser regenerada e ao mesmo tempo não convertida. Os textos em I João devem corrigir qualquer mal-entendido. Precisamos lembrar novamente de que a ênfase principal nestes textos é a concomitância invariável da regeneração e as demais

graças mencionadas. “Todo aquele que é nascido de Deus não vive na prática do pecado; pois o que permanece nele é a divina semente; ora, esse não pode viver pecando, porque é nascido de Deus” (3.9). “Porque tudo o que é nascido de Deus vence o mundo; e esta é a vitória que vence o mundo, a nossa fé” (5.4). “Sabemos que todo aquele que é nascido de Deus não vive em pecado; antes, Aquele que nasceu de Deus o guarda, e o maligno não lhe toca” (5.8). Quando reunimos estes textos, eles declaram expressamente que toda pessoa regenerada foi libertada do poder do pecado, vence o mundo pela fé em Cristo e exerce o domínio próprio, por meio do quê ela não é mais escrava do pecado e do maligno. Quando reduzido a seus termos mais simples, significa que a pessoa regenerada é convertida e exerce fé e arrependimento. Não deve­ mos considerar a regeneração como algo que pode ser separado dos exercícios salvíficos que são os seus efeitos. Assim, teremos de concluir que nas demais passagens (2.29; 4.7; 5.1) os frutos mencionados — prática da justiça, o amor e o conhecimento de Deus, crer que Jesus é o Cristo — são tão necessariamente os acompanhantes da regeneração como aqueles mencionados em 3.9; 5.4,18. Isto simplesmente significa que todas as graças men­ cionadas nestas passagens são as conseqüências da regeneração, e não apenas as conseqüências que mais cedo ou mais tarde seguem a regeneração, mas os frutos que são inseparáveis da regeneração. Portanto, somos advertidos e aconselhados de que embora a rege­ neração é a ação de Deus, e unicamente de Deus, jamais devemos conceber esta ação como algo separável das atividades da graça salvadora, de nossa parte, que são os efeitos necessários e apro­ priados da graça de Deus em nós. O apóstolo João aprendera de seu Senhor, e o que ele ensina nesta epístola é, em outros termos, exatamente o que Jesus ensinou em seu discurso a Nicodemos. Se é verdade que ninguém pode entrar no reino de Deus senão por meio da regeneração (Jo 3.3,5), é igualmente verdade que todos os que nascem de novo entram no reino de Deus. Se a regeneração é a porta de entrada, então os regenerados entraram, e, tendo entrado, eles vêem o reino de Deus e são seus membros. Esta é novamente

a lição destacada por Jesus em Jo 3.6: “O que é nascido do Espírito, é espírito”, isto quer dizer, a pessoa nascida do Espírito Santo é

habitada e dirigida por ele. O homem regenerado não pode viver em pecado e sem conversão. E muito menos pode ele continuar vivendo numa abstração neutra. Ele se toma imediatamente um

membro do reino de Deus, ele é espírito, suas ações e sua conduta devem ser consoantes com a sua nova cidadania. Na linguagem do apóstolo Paulo: “E assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura: as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas”