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A GTI é tema frequente de discussões e estudos há pouco mais de duas décadas, com maior intensidade desde os fins da década de 1990, principalmente em função dos escândalos financeiros e corporativos envolvendo empresas gigantes com atuação mundial (Enron, WorldCom, Tyco, Qwest, etc.) e a consequente lei norte-americana Sarbanes-Oxley de 2002, que endereça maiores níveis de Governança Corporativa, bem como outras inspiradas nessa última.

A APF é regida por princípios que se encontram discriminados na Constituição Federal. Estes princípios são a base de toda a atividade administrativa e regulam as ações dos órgãos públicos e de seus administradores e servidores. A Constituição Federal (BRASIL, 1988, p.40) estabelece o Princípio da Eficiência em seu Art. 37.:

A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência .... (grifo nosso)

O orçamento da União no ano de 2011 para gastos com TI foi da ordem de R$ 18,1 bilhões de reais (BRASIL, 2012b, p.16). Para o ano de 2012, em função da crise econômica global, são orçados R$ 14,5* bilhões de reais (BRASIL, 2012a). Em 2006 este mesmo montante era da ordem de R$ 6,5 bilhões de reais (BRASIL, 2009b, p.25) indicando que, em pouco mais de meia década, esses valores mais do que duplicaram. Isso apenas na esfera federal. Ao se considerar as esferas estadual e municipal, além do terceiro setor, esses montantes irão crescer vertiginosamente.

Não bastassem esses valores vultosos, o TCU dispõe de estatísticas que evidenciam a evolução do número de deliberações (i.e., acórdãos e decisões dessa Corte de Contas) relacionadas com contratações de serviços de TI conforme mostrado no Gráfico 5. É notável que no ano de 2000 a quantidade de deliberações era um pouco superior a 100 (cem) e no ano de 2011 já superava com folga a casa de 700 (setecentas) deliberações, apresentando assim um crescimento superior a 550% (quinhentos e cinquenta por cento) em pouco mais de uma década.

Gráfico 5. Deliberações do TCU sobre contratações de serviços de Tecnologia da Informação.

Fonte: TCU (BRASIL, 2011d, p.17).

Esses números ratificam, de fato, o crescimento considerável do uso de TI na APF brasileira, mas também alertam para o crescente número de irregularidades e falta de conformidade com as normas vigentes e boas práticas da indústria, bem como com a legislação correlata.

Diante da dimensão estratégica da TI, da complexidade de sua gestão, da necessidade imperativa de governá-la efetivamente, do significativo aumento dos gastos públicos com o seu emprego e do crescente número de denúncias e representações referentes as aquisições relacionadas a sua utilização na APF, o TCU, através da Resolução nº 193/2006 de agosto de 2006, criou uma secretaria de fiscalização dedicada ao tema TI (BRASIL, 2008f).

A Secretaria de Fiscalização de Tecnologia da Informação (SEFTI) do TCU tem como finalidade fiscalizar a gestão e o uso de recursos de Tecnologia da Informação pela APF induzindo assim melhorias na GTI e tendo como consequências a modernização e o aperfeiçoamento do seu uso na APF. É ainda interessante registrar que o negócio da SEFTI (BRASIL, 2009b, p.20) é posto como: “Controle externo da governança de tecnologia da informação na Administração Pública Federal” (grifo nosso).

Portanto, a GTI da APF brasileira é percebida, em grande parte, como imatura pelos órgãos de controle e normatização, além dos OGS, do governo brasileiro.

Julga-se interessante também trazer uma visão externa de organismos internacionais, agências de fomento e classificação, e institutos de pesquisa, em particular, a do Fórum Econômico Mundial (FEM), a da Organização das Nações Unidas (ONU) e a da Revista The Economist através de pesquisa encomendada pelo Banco HSBC. No Quadro 3 é apresentada uma série de pesquisas e estudos realizados por essas entidades que, direta ou indiretamente, corroboram essas percepções de falta de maturidade.

Quadro 3. Percepções externas a respeito da TI brasileira.

Ano Instituição Pesquisa/Relatório e descrição

2011 Fórum Econômico Mundial - WEF (World Economic Forum)

‘The Global Information Technology Report 2010-2011’ (DUTTA, 2011 p.xix):

Trata-se de relatório do WEF que busca realçar a evolução da Tecnologia da Informação e Comunicações (TIC) na última década, bem como a crescente conscientização da importância de sua difusão e poder de alavancagem como fator de promoção crescente de desenvolvimento, crescimento e condições melhores de vida. Neste relatório é apresentado o índice ‘Global Competitiveness Index 2010-2011’ do Brasil que ocupa a 56º (quinquagésima sexta) posição num total de 138 (cento e trinta e oito) países/economias. Ver a Tabela 3.

2010 Organização das Nações Unidas (ONU)

‘E-Government Survey 2010’ (United Nations, 2010, p.65-68):

Pesquisa de periodicidade bianual realizada pela ONU, que classifica, de acordo com o índice de desenvolvimento de e-Government, o Brasil em 10º lugar nas Américas, 5º lugar na América do Sul e em 61º lugar no mundo. O valor obtido no survey de 2010 pelo Brasil foi de 0,5006 num máximo de 1,00. Ver a Tabela 4.

2010 Revista The

Economist ‘Brazil unbound: How investors see Brazil and Brazil sees the world’ (CAMA, 2010 p.12): Pesquisa realizada pela Economist Intelligence Unit da Revista The Economist e patrocinada pelo Banco HSBC, onde os investidores estrangeiros pesquisados (num universo de 536 companhias pertencentes a 18 indústrias distintas) apontam que, de acordo com 34% dos respondentes, a fraca Governança Corporativa é classificada como o segundo maior entrave percebido em suas operações no Brasil. Ver o Gráfico 6.

Fonte: a partir das definições de DUTTA (2011, p.xix); UNITED NATIONS (2010, p.65-68); e CAMA (2010, p.12).

Tem-se que a pesquisa do WEF posiciona o Brasil em 56º lugar (ranque de 138 posições) num índice que visa avaliar a evolução da TIC nos países participantes. A pesquisa da ONU, por sua vez, posiciona o Brasil em 61º lugar num índice que mede o desenvolvimento de e-Government, e comparando-se o ranque de 2008 com o de 2010 o Brasil caiu de 45º para 61º lugar. Nas Américas, está em 10º lugar atrás de países como Antigua e Barbados, pequenas ilhas no Caribe. Já na pesquisa da revista The Economist/Banco HSBC, 34% dos respondentes apontam a fraca GC brasileira como o segundo maior entrave percebido em suas operações no Brasil. Para um país considerado a 6ª economia do mundo, são evidências muito fortes de imaturidade relacionadas à GC, GTI, TI e e-Gov, tanto na esfera pública quanto privada.

Tabela 33. Ranqueamento de TIC de países no mundo e nas Américas, na visão do Fórum Econômico Mundial - WEF.

País/Economia Ranque Escore Grupo Ranque Interno

Suécia 1º 5,6 HI 1º Singapura 2º 5,59 HI 2º Finlândia 3º 5,43 HI 3º Suíça 4º 5,33 HI 4º Estados Unidos 5º 5,33 HI 5º Taiwan, China 6º 5,3 HI 6º Dinamarca 7º 5,29 HI 7º Canadá 8º 5,21 HI 8º Noruega 9º 5,21 HI 9º Coréia 10º 5,19 HI 10º ... Barbados 38º 4,32 HI 35º Chile 39º 4,28 UM 2º ... Porto Rico 43º 4,1 HI 38º ... Uruguai 45º 4,06 UM 5º Costa Rica 46º 4,05 UM 6º ... Brasil 56º 3,9 UM ...

Fonte: Fórum Econômico Mundial (DUTTA, 2011).

HI - High Income (Alta Renda) UM - Upper-Middle Income (Renda Média-Alta)

Tabela 4. Ranqueamento de e-Government de países das Américas na visão da ONU. Ranque País Índice de desenvolvimento e-gov Classificação mundial desenvolvimento e-gov 2010 2008 2010 2008 1º Estados Unidos 0,8510 0,8644 2º 4º 2º Canadá 0,8448 0,8172 3º 7º 3º Colômbia 0,6125 0,5317 31º 52º 4º Chile 0,6014 0,5819 34º 40º 5º Uruguai 0,5848 0,5645 36º 48º 6º Barbados 0,5714 0,5667 40º 46º 7º Argentina 0,5467 0,5844 48º 39º 8º Antigua e Barbuda 0,5154 0,4485 55º 96º 9º México 0,5150 0,5893 56º 37º 10º Brasil 0,5006 0,5679 61º 45º Média Mundial 0,4406 0,4514 Fonte: Organização das Nações Unidas (UN, 2010).

Gráfico 6. Visão dos obstáculos operacionais para negócios no Brasil.