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3 JUVENTUDES E JUVENTUDES POBRES: CONCEPÇÕES, PREDOMINÂNCIAS

3.2 Juventudes Pobres

A partir desse referencial teórico iremos discutir sobre as juventudes pobres. Como já assinalamos anteriormente, as juventudes passam a se tornar foco de preocupação dos diversos setores da sociedade quando ela é tomada como “problema social”. Conteúdos como gravidez precoce, drogas, periculosidade, violência são sempre temas recorrentes relacionados a essa categoria social gerando uma imagem negativa do ser jovem e que é mais intensificada quando se refere às juventudes pobres (ABRAMO, 2005).

Dentro desse cenário, Silva Júnior (2011) destaca que os/as jovens pobres acabam sofrendo uma dupla discriminação: primeiro por serem considerados/as jovens e depois por sua origem social. Esse último elemento coloca os/as jovens no lugar de carentes, beneficiários das instituições nas quais participam, sendo ainda referenciados/as como perigosos/as e/ou ainda como sujeitos de menos prestígio em relação aos outros sujeitos na sociedade.

Souza e Silva (s/d) traz que a discriminação relacionada ao local de origem, se concretiza quando um grupo de sujeitos que moram em bairros formais, colocam seu padrão de vida, valores e crenças como melhores que os das pessoas que moram em periferias. Tais discursos estão fundamentados nos pressupostos sociocentricos, os quais acabam valorizando as ausências existentes nessas áreas periféricas. Em decorrência dessa visão, a favela e a periferia são definidas, de forma homogênea como local de “carência, seja de serviços públicos e equipamentos urbanos, de leis, de beleza e, no limite, de noções básicas de moral e de ética. Seriam o espaço da violência e do caos, por definição” (p.s/n).

Em decorrência dessa associação entre o sujeito e seu local de origem, os/as jovens pobres em nossa sociedade são predominantemente visualizados como sujeitos violentos, criminosos, marginais, delinquentes, sem cultural, sem educação, de “famílias desestruturadas”, associados/as ao tráfico de drogas dentre outros (SILVA JÚNIOR, 2011; LONGHI, 2008; NOVAIS, 2006; CASTRO e ABROMOVAY, 200210). Novais (2006) nos

chama atenção que essa discriminação é potencializada quando associada a questão de gênero, cor e classe social desencadeando trajetórias e formas diferentes de experenciar a juventude.

Essas representações acabam definindo os jovens pobres em alguns momentos como sujeitos da falta (carentes) e em outros como negativos, perigosos e violentos (SILVA JÚNIOR, 2011; LONGHI, 2008).

Essas visões compartilhadas sobre juventudes pobres estão fundamentadas em argumentos “científicos” carregados por um discurso que toma o/a jovem pobre como divergente dos padrões de socialização instituídos (MALVASSI e TRASSI, 2010, p.67). Coimbra e Nascimento (2005) apontam que tais representações sociais sobre juventudes pobres estão ancoradas aqui no Brasil, em meados dos anos 20, na teoria racista, no Darwinismo social e no eugenismo propagados e defendidos por médicos, antropólogos, advogados dentre outros profissionais, os quais tomavam o pobre como sujeitos degenerados e causadores dos males sociais.

Nesta mesma direção Patto (1992) relata em sua pesquisa realizada em meados dos anos 90, que essas teorias durante muito tempo serviram para justificar o fracasso dos pobres nas escolas. A referida autora traz ainda que essa visão pejorativa sobre os pobres também fora “encampada pela Psicologia e pode ser encontrada na teoria da carência cultua” (p.111). Essas teorias acabam responsabilizando a família, como a instituição “produtora dos jovens “deficientes”, “inadaptados socialmente” e “irracionais” (SILVA JÚNIOR, 2011, p.27).

A mídia e os meios de comunicação também são responsáveis pela propagação de uma visão estereotipada e estigmatiza dos/das jovens pobres. Em pesquisa realizada por Menandro et al. (2010) sobre as representações sociais de juventudes vinculadas em textos jornalísticos constatou–se que os/as jovens pobres são associados à violência e a criminalidade.

10As referidas autoras trazem que suas referências e análises qualitativas provêm da pesquisa realizada pela

UNESCO sobre experiências de organizações não governamentais e do poder público que desenvolvem projetos nas áreas de educação para a cidadania, lazer, esporte, cultura e arte. Elas incluem jovens residentes em bairros pobres de capitais e de outras cidades nos estados do Pará, Maranhão, Ceará, Pernambuco, Bahia, Mato Grosso, Rio de Janeiro, São Paulo e Paraná. Foram realizados grupos focais e entrevistas com jovens, arte-educadores, parceiros das experiências, pais, mães e responsáveis, membros da comunidade de residência (ver CASTRO et al., 2001).

Vale ressaltar que tais visões fazem, recorrentemente, parte também dos discursos em torno das Políticas Públicas e Projetos voltados para esse segmento social bem como na prática de muitos profissionais que atuam nesses espaços (PICOLLO, 2010; SPOSITO e CORROCHANO, 2005; LONGHI, 2008).

Diante desse panorama geral, os/as jovens pobres são tomados como o negativo da sociedade e sobre eles/elas são demandas políticas públicas com o intuito de “retirá-los/las” dessa situação de carência, perigo, violência, baixa escolaridade, com poucas possibilidades de trabalho que os/as colocam como sujeitos em situação de risco e vulnerabilidade social11

(LONGHI, 2008).

Consideramos que todas essas representações acabam naturalizando a forma de ser jovens pobres, pois elas decorrem, muitas vezes, de uma leitura simplória da realidade social que os/as circunscrevem, desconsiderando, assim, as macrodeterminações sociais e políticas e a nova ordem econômica (MALVASSI e TRASSI, 2010).

Com isso, não queremos camuflar a falta de condições básicas de vida que atinge significativamente esses sujeitos, mas chamar atenção de que tais generalizações sobre essa população pode gerar uma visão distorcida, uma vez que nem todos que vivem nessas condições e em outras possuem a mesma trajetória de vida.

Para aprofundarmos sobre essas discussões e compreendermos as representações sociais sobre juventudes para os/as psicólogos/as participantes dessa pesquisa, no próximo capítulo iremos apresentar a Teoria das Representações sociais e a importância dessa teoria para o nosso estudo.

11 Torrosin e Rivero (2010) nos chama atenção para os vários significados e sentidos produzidos sobre o

conceito de vulnerabilidade, os quais podem colaborar para uma “homogeneização e manutenção da população num lugar de risco quanto para construir estratégias de empoderamento dos sujeitos na construção de potência de vida” (p.56).