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Período de 1980 a 1990: concepção de juventude negativa, sofrida e patologizada

6. ANÁLISES E RESULTADOS

6.1 Análise documental: as matrizes curriculares dos cursos de Psicologia e os componentes

6.1.1 Período de 1980 a 1990: concepção de juventude negativa, sofrida e patologizada

Todas as matrizes curriculares analisada nesse período de 1980 a 1990 estavam fundamentadas no parecer n. 403/62 do Conselho Federal de Educação (CFE), aprovado em 1962, o qual definia um currículo mínimo para a formação do/da Psicólogo/a. Esse documento compreende a formação em Psicologia em três níveis, cada qual com uma duração e um foco: bacharelado (4 anos), centrado na formação do/da pesquisador/a, licenciatura (4 anos) voltado para a formação do/da professor/a de Psicologia e a formação do/da psicólogo/a (5 anos), dirigido à formação Profissional (PARACER n.403/64 CFE, 1962).

Esse parecer foi o primeiro documento a propor um currículo de Psicologia visando os direitos de exercício profissional. A proposta desse currículo era abranger matérias comuns- que ao mesmo tempo contemplassem o mínimo de disciplina exigido para o bacharelado e a licenciatura, bem como matérias específicas para a preparação do/da psicólogo/a. A parte comum envolvia conhecimentos instrumentais como Fisiologia e Estatística e os conhecimentos de Psicologia Geral e Experimental; Psicologia da Personalidade; Psicologia Social e Psicopatologia Geral e Psicologia do Desenvolvimento (PARACER n. 403/63 DO CFE, 1962).

Esta última disciplina, foco de nossas análises, foi apresentada com a seguinte proposição: possibilitar o/a estudante de psicologia que ao entender as modificações “por que passa o ser humano, ao longo do seu processo evolutivo, dará uma visão teórico-experimental desse processo e suscitará, destarte, investigações originais que levarão a novas descobertas” (PARECER n. 403/62 do CFE, 1962, s/n.).

Dentro desse contexto que analisamos os planos de ensino das instituições que ofereciam curso de formação para psicólogos/as nesse período. Das sete instituições pesquisadas, cinco ofereciam o curso de Psicologia desde o ano de 1980. Dessas cinco instituições, apenas três disponibilizaram seus planos de ensino referentes ao período em questão. Tais documentos não faziam referencias a todos os anos compreendidos desse período e também alguns se apresentavam incompletos sem referências, por exemplo.

O quadro a seguir, mostra algumas dessas informações e a carga horária da disciplina ora analisada em cada instituição:

Quadro 3. Informações sobre as instituições pesquisadas e que foram avaliadas no período de 1980 a 1990 INSTITUIÇÃO ANO DE FUNCIONAMENTO PLANO DE ENSINO DISPONIBILIZADO CARGA HORÁRIA DA DISCIPLINA

PSI 1 Desde 198022 1980 a 1990 45 h/a

PSI 2 Desde 1980 1981 a 1990 60 h/a

PSI 3 Desde 1980 1984 e 1989 60 h/a

PSI 5 Desde 1980 Não disponibilizado Não disponibilizado

PSI 5 Desde 1980 Não disponibilizado Não disponibilizado

Das instituições que disponibilizaram seus planos de ensino a PSI 1 é a única, nesse período, que discute a temática da juventude em duas disciplinas com a mesma nomenclatura e carga horária: Psicologia do Desenvolvimento I e Psicologia do Desenvolvimento II. Na primeira disciplina, os planos disponibilizados fazem referencias ao período que vai de 1984 a 1990 e na segunda disciplina os planos foram todos disponibilizados de 1980 a 1990, ambas apresentavam carga horária de 45 h/a.

Já a instituição PSI 2 disponibilizou os planos de ensino de 1981 a 1990 e a instituição PSI 3 os planos de ensino de 1984 e de 1985. Ambas as instituições abordam a temática da juventude na disciplina de Psicologia do Desenvolvimento II com carga horária de 60 h/a.

Quanto aos planos de ensino não disponibilizados, algumas instituições justificaram que tal ausência foi em decorrência da dificuldade em encontrá-los, pois estes estavam guardados em pastas antigas, o que exigiria tempo para procurá-los; outras por não saberem onde tais documentos foram arquivados e outras constataram que esses documentos não foram arquivados. Tal situação nos causou estranheza e preocupação quanto aos cuidados que vêm sendo despendidos à organização e direcionamento dos cursos de Psicologia.

Após essas impressões iniciais, passamos a analisar as ementas e os conteúdos programáticos contidos nos planos de ensino dessas três instituições, constatamos que a abordagem sobre a temática da juventude é discutida tendo como base os pressupostos da psicanálise e/ou o marcador biológico, os quais acabam por naturalizar o período juvenil. Essas perspectivas acreditam que o aspecto biológico é o principal determinante da sequencia e curso do desenvolvimento humano (GALLATIN, 1978), desconsiderando assim ou relegando ao segundo plano os aspectos históricos, sociais e políticos que constituem a categoria jovem.

Ainda nos conteúdos programáticos a juventude foi apresentada como uma etapa da vida marcada por um período de tempestade e tormenta, pela qual todos/as jovens passariam de forma homogênea e universal.

Tais concepções estão fundamentadas numa visão psicobiológica da juventude, a qual acredita que os sujeitos ao passarem por esse período da vida, apresentariam reações psicológicas originadas das suas transformações fisiológicas consideradas próprias desse momento, marcado por “tormenta e drama” (CARRASCO, 1998).

Constatamos, ainda, que nos conteúdos programáticos das três instituições a discussão sobre juventude é centrada na sua relação com drogas, aborto, delinquência, suicídio dentre outros.

Esses temas estão associados à juventude, segundo Gonzales e Guareschi (2010) em decorrência da disseminação pela Psicologia de que a juventude seria uma fase de transição entre a infância e a vida adulta, portanto, considerada um momento da vida que pode ser perigoso ou frágil, propício para contrair toda espécie de males.

Tal concepção contribuiu para que temas como esses sejam discutidos em sala de aula como forma de “precaver” o/a futuro/a psicólogo/a diante dos males que acometem os/as jovens por serem considerados sujeitos fisicamente maleáveis e em fase de desenvolvimento e descobertas.

Outra semelhança que também encontramos nos planos de ensino das três instituições diz respeito às referências bibliográficas. Nelas majoritariamente os teóricos adotados abordam a temática da juventude dentro de uma perspectiva psicanalítica, como podemos ver: Aberastury, Knobel, Anna Freud, Eric Erickson, Manning, Rappaport, Durval Rosa, Shilder, Stanlly Hall, dentre outros.

Apesar de encontrarmos tantas semelhanças entre os planos de ensinos disponibilizados pelas referidas instituições de formação de psicólogos/as, também visualizamos diferenças nesses planos que não mudam o corpo de nossa análise.

A seguir iremos apresentar nossos achados em relação a cada uma dessas instituições, apresentando seus planos de ensino, bem como algumas alterações que ocorreram neles no decorrer do período analisado.

Iniciamos nossa análise com a instituição PSI 1 que mais se diferencia das outras instituições quanto à apresentação de duas disciplinas para discutir a temática da juventude com carga horária de 45 h/a cada uma delas. Nessas duas disciplinas eram discutidos conteúdos relacionados tanto a juventude, como a infância e por fim, se propunha a fazer uma discussão da teoria psicanalítica focando na dinâmica mental, economia psíquica, os tipos de personalidade, mecanismo de defesa dentre outros.

Na disciplina Psicologia do Desenvolvimento I, a sua ementa traz como proposta estudar os processos do desenvolvimento infantil e jovem e suas funções. No que diz respeito

ao conteúdo programático direciona suas discussão para o desenvolvimento infantil e jovem destacando seus aspectos cognitivos a partir das discussões dos processos psicológicos básicos, como também do desenvolvimento da personalidade, desenvolvimento social e emocional.

Ainda sobre a temática da juventude, propõe-se a fazer considerações em torno do termo; relaciona a juventude com a sociedade, mudanças físicas e mentais decorrentes do processo hormonal e, também, enfatizam padrões de atividades sexuais como: menstruação, o intercurso sexual, o pré-matrimonial e os contatos homoafetivos.

Ainda faz menção ao comportamento social do/da jovem como a formação de grupos, o retraimento, a delinquência juvenil enfatizando seus aspectos psicológicos e as influências dos pais e da sociedade. O plano de ensino dessa disciplina permaneceu o mesmo de 1984 a 1990, como já foi mencionado acima.

Na disciplina Psicologia do Desenvolvimento II, o período que compreende entre 1980 a 1990 a ementa foi a mesma para esses onze anos. Na ementa era proposto trabalhar o desenvolvimento infantil e jovem dentro de uma perspectiva psicanalítica.

Em relação aos conteúdos, constatamos que de 1980 a 1982 são idênticos focando a Teoria Psicanalítica como base para explicar o desenvolvimento da personalidade. Apresentou como conteúdo a ser trabalhado as teorias: da libido e das pulsões, as fases do desenvolvimento segundo essa teoria como oral, anal, fálica, latência e o jovem bem como os distúrbios que poderiam ocorrer no desenvolvimento humano e os mecanismos de defesa. Ainda foi apresentado como proposta trabalhar a dinâmica mental e a economia psíquica dentro desse enfoque.

Em 1983 há uma pequena alteração no conteúdo com a inclusão de Anna Freud para compreensão da juventude com relação à discussão da identidade psicológica.

A partir de 1984 até 1990, com exceção de 1985 no qual o plano de ensino encontra-se incompleto, impossibilitando sua análise, acrescenta-se no conteúdo programático os/as teóricos/as psicanalista como Melanie Klein com o seu conceito de desenvolvimento infantil; Arminda Aberastury descrevendo o luto pela perda dos pais da infância e o luto pela perda da identidade e papéis infantis; Shilder com sua contribuição da biologia à Psicanálise e Knobel com a teoria da Síndrome Normal da Adolescência.

Em relação às referencias conferimos que em sua maioria não continha o ano dos livros, nem editora e edição, não seguindo dessa forma as normas da ABNT ou APA.

Quanto a instituição PSI 2, em nossa análise, ela não apresentou nenhuma discussão de conteúdo que divergisse ou a diferenciasse das demais instituições, pois a proposta de seus planos de ensino estão contempladas nos planos das instituições PSI 2 e 3.

Nessa instituição, a temática da juventude é discutida na disciplina Desenvolvimento II, seus planos de ensino disponibilizados correspondem ao período de 1981 a 1990 e as ementas não sofreram nenhum tipo de alteração.

Na ementa estão nítidos os teóricos que norteiam a discussão sobre a juventude como: Stanley Hall, Anna Freud e Eric Erickson. Traz a crise da adolescência como um estágio normal do desenvolvimento que decorre dos conflitos das escolhas vocacionais, do desenvolvimento de ideiais próprias do autoconceito, aprendizagem do papel sexual e, também, relaciona a juventude com o uso de drogas, com a delinquência e com o suicídio.

No conteúdo programático o foco é centrado no desenvolvimento biofísico e suas consequentes repercussões psicológicas, desenvolvimento cognitivo, intelectual, afetivo, sexual e social do jovem. Quanto às referencias bibliográficas utilizam Gallatin (1978), Manning (1981) e Aberastury (1981). E por fim, a instituição PSI 3, disponibilizou apenas dois planos de ensino o de 1984 e o de 1989. Neles a proposta de estudo é semelhante as demais instituições, no entanto, no plano de ensino de 1989, acrescenta os estudos antropológicos de Margaret Mead (1945), os quais contestam a universalidade dos conflitos vivenciados pelos/pelas jovens. Essa foi a única divergência que observamos em relação aos outros planos de ensino.

No plano de ensino de 1984 verificamos que a ementa propõe discutir teorias e definições sobre a juventude; o seu comportamento emocional, social, intelectual e moral bem como o desenvolvimento da personalidade. Em seu conteúdo programático propõem ainda discutir o desenvolvimento físico (puberdade e pubescência) do/da jovem, a síndrome normal da juventude, a relação do/da jovem com seus grupos: família, amigos e escola; o comportamento sexual bem como o estudo sobre comportamentos considerados patológicos: condutas sexuais atípicas, tóxicos e delinquência. Quanto ao referencial teórico utiliza-se de autores como Aberastury (1981), Gallatin (1978), Rappaport (1881-1982), Durval Rosa (1983), Elizabet Hurluck (1979) dentre outros, que não foi possível fazer a leitura, pois havia falhas na impressão.

No plano de ensino de 1989, a ementa é semelhante ao do ano de 1984. Em conteúdo programático além de trabalhar as questões já mencionadas no plano de 1984 acrescenta os estudos sobre a juventude de Stanlley Hall cujo enfoque é psicobiológico, Anna Freud com a visão psicanalítica sobre a juventude, Erik Erickson com a teoria do estabelecimento da

identidade do ego, Margareth Mead com a visão antropológica e Piaget com a sua teoria do desenvolvimento cognitivo. Outro assunto que é proposto no conteúdo programático é a discussão temática sobre gravidez precoce e aborto. As referencias bibliográficas desse plano de ensino não constavam no plano.

Dentro desse contexto consideramos que as três instituições apresentaram em seus planos de ensino, majoritariamente, a discussão sobre a temática da juventude fundamentada numa concepção naturalista e universal. Essas ideias foram propagadas inicialmente por Stanley Hall e posteriormente reforçadas por algumas correntes psicanalíticas tendo como principais representantes Erickson, Aberastury e Knobel (OZELLA, 2002).

Tal concepção considera que todo sujeito passa por essa etapa da vida de forma homogênea independente da sua condição histórica, econômica e cultural. Essa visão defende ainda que o período da juventude é marcado por crises e conflitos ditos “naturais” da idade, pois são decorrentes da emergência da sexualidade (OZELLA, 2003). Enfim, a concepção que ainda vigora na formação em Psicologia sobre a juventude indica que ela representa socialmente uma fase da vida, fortemente marcada por “características negativas, sofridas, patologizadas” (OZELLA, 2003, p.9).

6.1.2 Período de 1991 a 2000 – forte influencia da Psicanálise: concepção de juventude ainda inatista, universal e a-histórica

Esse período é marcado por diversos debates entre os/as representantes das IES e entidades profissionais sobre a estrutura curricular dos cursos de Psicologia. Essas discussões culminaram como já foi mencionado, com a carta de Serra Negra em 1992 (BERNARDES, 2004) e com a criação da minuta para os cursos de Psicologia em 1999, pela comissão de especialista instituída pelo MEC.

Antes de iniciar nossas análises, destacamos que os cursos superiores de Psicologia, durante esse período, ainda estavam fundamentados no antigo currículo mínimo, o qual era reconhecidamente considerado o documento norteador oficial dos cursos de Psicologia.

Percebemos que apesar das várias propostas de reestruturação dos cursos de formação de Psicologia sugeridas nesse período através da Carta de Serra Negra e da comissão de especialista de Psicologia do MEC dentre outros documentos e eventos, como já foi mencionado, não observamos que ouve inclusão nessas disciplinas destas discussões.

É nesse cenário que realizamos nossas análises e discussão dos documentos fornecidos pelas IES. Nesse período, das cinco instituições que funcionavam apenas duas a

PSI 1 e 2 disponibilizaram seus planos de ensino referentes à disciplina Psicologia do Desenvolvimento, mesmo assim, ambas não conseguiram apresentar todos os planos correspondentes a esse momento. O quadro abaixo mostra algumas dessas informações e a carga horária dessas disciplinas.

Quadro 4. Informações sobre as instituições pesquisadas e que foram avaliadas no período de 1991 a 2000 Instituição Ano de funcionamento Plano de ensino disponibilizado Carga horária da disciplina

PSI 1 Desde 1980 1991-1998 60 h/a

PSI 2 Desde 1980 1991 a1996 e de 1999.2 a 2000 60 h/a

PSI 3 Desde 1980 Não disponibilizado Não disponibilizado

PSI 5 Desde 1980 Não disponibilizado Não disponibilizado

PSI 5 Desde 1980 Não disponibilizado Não disponibilizado

Ao compararmos os dados desse período em relação ao anterior (1981-1990), percebemos que a instituição PSI 1 continuava discutindo a temática da juventude simultaneamente com a da infância, nas disciplinas de Psicologia do Desenvolvimento I e II. Essa instituição disponibilizou apenas os planos de ensino das duas disciplinas nos anos compreendidos entre 1991 a 1998. Em nossas análises, observamos que esses planos de ensino eram semelhantes ao do período analisado anteriormente, ou seja, suas ementas, conteúdos programáticos e referenciais teóricos não mudaram.

A única alteração que as duas disciplinas sofreram durante esse período estavam relacionadas à sua carga horária de 45 h/a para 60 h/a extende. Na disciplina Psicologia do Desenvolvimento I, houve mudança no período de 1993 a 1998, pois os planos de ensino correspondentes aos anos de 1991 a 1992 não continham a carga horária. Já na disciplina de Psicologia do Desenvolvimento II, modificação ocorreu a partir de 1994.

Na instituição PSI 2, tivemos acesso aos currículos correspondentes aos períodos de 1991 a 1996 e de 1999.1 a 2000. A ementa e o conteúdo programático permaneceram os mesmos do período de 1980 a 1990. Nas referencias bibliográficas também, porém com a inclusão de outros autores como Bee (1997), Calligares (1998), Lewis et al (1993) e Zagury (1996).

Apesar da instituição PSI 2, não propor nenhuma alteração em sua ementa e conteúdo programático, consideramos que há uma tentativa e/ou avanço de discutir a temática da juventude a partir de uma leitura mais ampla e contextualizada sobre a categoria trazida por Calligares (1998). Esse autor introduz os elementos culturais que permeiam a categoria juventude, discute a moratória social que os/as adolescentes sofrem até serem considerados/as “prontos/as” para se tornarem adultos/as e ainda traz porque em nossa sociedade há uma

idealização da juventude como um momento particularmente feliz da vida e porque ela se tornou um ideal cultural e peça na sociedade de consumo. Apesar do referido autor ampliar as discussões em relação a adolescência, Bock (2007) considera que ele não consegue superar a concepção abstrata da juventude que permeia a maioria das teorias psicológicas. Para referida autora, isso é em decorrência de Calligares (2000) apresentar a adolescência como fonte de desejo dos adultos e não como formas de vida.

Apesar de reconhecermos a tentativa da referida instituição para ampliar as discussões sobre a juventude, consideramos que suas propostas de estudos estão predominantemente impregnados de uma visão de juventude inatista, determinista e universal.

Consideramos dessa forma, que tanto a PSI 1 e PSI 2, não conseguem apresentar em seus estudos uma visão pluralista sobre a juventude, ou seja, não apresentam novas propostas teóricas para discutir a temática e nem conseguem contemplar as diferenças de classe, gostos e modo de viver da juventude. Em ambas instituições ainda percebemos juventude vinculada à teoria de base psicanalítica.

6.1.3 Período de 2001 a 2012: permanência de concepções anteriores e avanços com uma referência a diversidade, pluralidade e perspectiva política das juventudes.

Esse período é marcado pela institucionalização das novas Diretrizes Curriculares Nacional (DCN) para os cursos de Psicologia no país. O referido documento foi homologado no ano de 2004, pelo Ministério da Educação (MEC), através da resolução nº 8, de 12/05/2004 e entrou em vigência no ano de 2006.

É importante ressaltar que antes do ano de 2006, os currículos de Psicologia ainda estavam fundamentados no antigo currículo mínimo, no entanto não percebemos mudanças significativas nos currículos com a institucionalização das novas DCN para os cursos de Psicologia sobre essa questão iremos tratar no decorrer da análise.

Nesse período de 2001 a 2012, todas as sete instituições disponibilizaram os planos de ensino referentes à disciplina Psicologia do Desenvolvimento, porém a maioria não forneceu os planos de todos os semestres e/ou ano. No quadro abaixo mostramos o ano de surgimento das instituições participantes, os anos referentes aos planos de ensino disponibilizados e a carga horária da disciplina.

Quadro 5. Informações sobre as instituições pesquisadas e que foram avaliadas no período de 2001 a 2012.2. Instituição Ano de funcionamento Plano de ensino disponibilizado Carga horária da disciplina

PSI 1 Desde 1980 2009 72 h/a

PSI 2 Desde 1980 2001 a 2012 60 h/a

PSI 3 Desde 1980 2007 a 2012 60 h/a

PSI 5 Desde 1980 2002 a 2011 60 h/a-80 h/a

PSI 5 Desde 1980 2012.2 68 h/a

PSI 6 Desde 2005.1 2009 a 2012 60 h/a

PSI 7 Desde 2001 2006 a 2012 72 h/a

De acordo com o quadro, apenas a instituição PSI 2, disponibilizou todos os seus planos de ensino referentes ao período em questão. As demais instituições apresentaram apenas alguns dos seus planos.

Outro aspecto que nos chama atenção é quanto a carga horária da disciplina Psicologia do Desenvolvimento que varia entre as instituições de 60 h/a a 80 h/a, nos revelando uma falta de unicidade quanto ao tempo para discussão sobre a temática da juventude.

Apesar dessa disparidade entre as instituições quanto à carga horária e muitas delas em seus planos de ensino não abordarem apenas a temática da juventude, mas também questões relacionadas a infância, adultez e velhice, percebemos mais semelhanças do que diferenças entre suas propostas de ensino, tanto em relação a ementa, quanto ao conteúdo programático e referenciais teóricos. Tais semelhanças já foram sinalizadas nos períodos anteriores.

O que nos chamou atenção nos planos de ensino disponibilizados durante esse período foi a quase inexistência de alterações de suas propostas de ensino em relação aos períodos anteriores dentro da mesma instituição analisada e desses com os planos disponibilizados pelas instituições “novas”23, exceto a instituição PSI 3 que apresentou várias alterações

significativas.

Assim, observamos que ainda é unânime entre os cursos de formação de psicólogos/as pesquisados a utilização, de forma majoritária e/ou única, dos pressupostos psicanalíticos para discutir as questões relacionadas à juventude apresentando como um de seus principais representantes Erik Erikson, Aberastury, Levisky, dentre outros.

Percebemos, ainda, que nos planos de ensino há uma tentativa de discussão social sobre a juventude, mas ela nos parece limitada e relacionada ao que é caracterizado como