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5. O MÉTODO

5.5 Procedimentos de Análise

As análises iniciaram logo após cada fase de coleta, posto que os resultados da fase 2 contribuíram para a construção dos procedimentos da fase 3. Para facilitar a compreensão, os procedimentos de cada etapa encontram-se descritos separadamente a seguir.

5.5.1 Fase 1: Análise documental

A partir das diversas matrizes curriculares que tivemos acesso, buscamos analisar como os conteúdos relacionados à juventude eram trabalhados nos cursos de formação para psicólogos/as em Recife e RMR. A seleção do material para análise foi realizada considerando inicialmente a presença das palavras: adolescente (a), jovem (ns), adolescência e juventude dentro das ementas, conteúdos e/ou referenciais teóricos.

Em decorrência de todas as dificuldades de acesso às matrizes curriculares já mencionadas anteriormente, resolvemos, para viabilizar nosso estudo, focar na disciplina Psicologia do Desenvolvimento. Percebemos que todas as instituições apresentavam mais de uma disciplina sobre o desenvolvimento humano, dividindo-as muitas vezes em três módulos onde cada um deles tratava de um ou dois períodos do desenvolvimento. Em geral, o conteúdo da disciplina “Psicologia do desenvolvimento I”, se referia à criança, a disciplina “Psicologia do Desenvolvimento II” era voltada para as questões da adolescência e juventude e a disciplina “Psicologia do Desenvolvimento III” tratava do adulto/a e do idoso/a. Embora frequente, essa forma de organização curricular não foi a única encontrada.

Por essa razão, e sem perda da visão de conjunto, optamos por realizar mais um recorte do nosso objeto, focando naquela disciplina, dentre as que compunham a sequência de Psicologia do Desenvolvimento, que fizesse menção, seja em seu plano de ensino, seja nas ementas, seja nos conteúdos, seja nos referenciais teóricos à temática e às questões da juventude.

Ao delimitarmos os planos de ensino que seriam objetos de avaliação, nos interrogávamos acerca das seguintes questões: (a) Quais os referenciais que norteiam as discussões sobre juventude dessas IES? (b) Os seus planos de ensino contemplam a pluralidade de ser jovem? (c) a visão de juventude na IES é predominantemente patologizada, desviante e etapista ou inclui a perspectiva de juventude como uma categoria social levando em consideração os seus aspectos históricos, econômicos e sociais? Tais questões constituíram o fio condutor da análise, exercendo o papel de critério inicial de classificação.

Considerando que o trabalho com esse tipo de material exige a adoção de procedimentos de organização e categorização de grande volume de informações, decidimos adotar a análise de conteúdo. A análise de conteúdo, ao mesmo tempo em que viabiliza interpretações que de outra forma seriam inviáveis pelo excesso de material, permite a investigação mais profunda do corpus em análise, superando aparências imediatas e minimizando o viés da pesquisadora na interpretação.

Para Vala (1986) a análise de conteúdo é uma técnica de tratamento de dados que pode ser empregada em diferentes níveis de investigação: descrição de fenômenos ou descoberta de associação ou de relação de causa-efeito entre fenômenos. O referido autor sinaliza como vantagens dessa técnica o fato de ela favorecer a realização de uma análise de material que não foi produzida para fins de investigação, como no nosso caso as matrizes curriculares.

De acordo com Bauer (2002) através da análise de conteúdo de textos é possível o acesso a valores, opiniões, enfim, visões de mundo que, de outra forma, seria praticamente impossível. Esta possibilidade é dada pelo fato de que, para além da lógica linguística, o texto, de certa forma, representa e expressa a comunidade que escreve. Nele estão contidos “registros de eventos, valores, regras e normas, entretenimento e traços do conflito e do argumento” (p.192).

Ao decidirmos fazer uma análise de conteúdo das matrizes dos cursos de formação em psicologia, esperamos também fazer emergir a semelhança e a convergência entre essa técnica e a análise documental. Bardin (1979) estabelece um paralelo entre essas duas ferramentas. Para ela, alguns procedimentos de tratamento da informação documental apresentam analogias com uma parte das técnicas da análise de conteúdo.

Dessa forma, a referida autora define a análise documental como “um conjunto de operações visando representar o conteúdo de um documento sob uma forma diferente da original, a fim de facilitar, num estado ulterior, a sua consulta e referenciação.” (2009, p.47). Essas operações tratam “a informação contida nos documentos”, armazenando-as de uma forma diferente, com vistas a facilitar o acesso do leitor, “de tal forma que este obtenha o máximo de informação (aspecto quantitativo), com o máximo de pertinência (aspecto qualitativo)” (2010, p.47).

As considerações precedentes nos forneceram o instrumental para iniciar a leitura das matrizes curriculares numa perspectiva tal que nos possibilitou visualizar pontos de aproximação e distanciamento entre elas, tanto no que se refere às ementas, quanto aos conteúdos programáticos e as referências teóricas utilizadas.

Como já foi mencionado anteriormente, a análise adotou uma periodização apresentada da seguinte forma: o primeiro período examinado abrangeu os anos 1980, ou seja, de 1980 a 1990; o segundo de 1991 a 2000 e o terceiro de 2001 a 2012. As instituições receberam um código que vai de PSI 1 até PSI 7, medida tomada para garantir o sigilo dos informantes e da instituição.

5.5.2 Fase 2: Questionários de associação livre

Os dados obtidos por meio das associações livres dos termos indutores juventude e juventude pobre foram transcritos no programa do Microsoft Excel em pastas diferentes e analisados, individualmente, por meio do software EVOC. Este programa de computador fez o cruzamento da frequência das palavras ou expressões evocadas; a ordem de evocação, ou seja, em que ordem foi dita a palavra ou expressão, e por fim, a ordem de importância atribuída pelos/pelas psicólogos/as a partir da numeração de acordo com o grau de importância atribuída a cada uma das palavras ou expressões e os organizou em uma estrutura composta por quatro quadrantes.

O 1º quadrante corresponde ao núcleo central das representações sociais e nele estão contidas as palavras mais citadas e as primeiras que foram evocadas, ou ainda as consideradas de maior importância; o 2º quadrante corresponde a primeira periferia, na qual ficam localizadas as palavras que foram muito citadas, mas consideradas menos importantes ou citadas após muitas outras; o 3º quadrante está relacionado a zona de contraste, nele são encontradas as palavras pouco citadas, mas consideradas muito importantes ou ditas entre as primeiras; e no 4º quadrante, denominada periferia distante, encontram-se as palavras pouco referidas e pouco importantes (ABRIC, 2003).

Os resultados capturados por meio do software foram analisados de forma qualitativa, tomando como referência a já descrita Teoria Estrutural de Abric (2000) e serão expostos em um quadro distribuído em dois eixos: o eixo vertical que está relacionado à frequência de evocação das palavras; e o eixo horizontal que se refere à ordem de evocação.

5.5.3 Fase 3: Grupo Focal

Para analisar os conteúdos trazidos pelo grupo focal, utilizamos o método da Análise Temática de conteúdo de Bardin, o qual nos possibilitou encontrar alguns sentidos das representações sociais de juventude e juventudes pobres. Para Bardin (1979) o tema é a unidade de significação que aparece naturalmente dentro de um texto analisado segundo critérios relativos à teoria que serve e guia à leitura. Neste sentido a TRS nos serviu como guia para analisarmos as falas dos sujeitos participantes dessa etapa da pesquisa.

Inicialmente transcrevemos as falas dos participantes na integra, no programa Microsoft Word e, em seguida, fizemos diversas leituras flutuantes do texto, as quais nos possibilitaram encontrar as unidades de análise, as subcategorias e categorias que emergiram dos dados.

Essa análise teve dois momentos, no primeiro realizamos uma análise horizontal, na qual encontramos categorias nos termos indutores e as unidades de análise do grupo focal; e no segundo uma análise vertical, onde relacionamos as categorias de cada termo entre eles e entre os termos indutores.

Após esse processo de tratamento dos dados, construímos duas categorias: 1) juventudes naturalizadas e 2) juventudes pobres, sobre as quais discorreremos no capítulo que trata da análise dos dados do grupo focal.