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L I Bozhovich e B F Lomov ampliando caminhos

3 DIDÁTICA DESENVOLVIMENTAL: ANTECEDENTES E FUNDAMENTOS A Didática Desenvolvimental teve sua origem e projeção nas repúblicas soviéticas,

4 NA SEARA DA TEORIA HISTÓRICO-CULTURAL, O TEMA DA SUBJETIVIDADE DESENVOLVIDO POR GONZÁLEZ REY

4.2 O SUJEITO À RIBALTA NA TEORIA HISTÓRICO-CULTURAL: ANTECEDENTES À TEORIA DA SUBJETIVIDADE

4.2.2 L I Bozhovich e B F Lomov ampliando caminhos

É partindo das categorias de vivência (perizhivanie) e de situação social do desenvolvimento que Bozhovich (1908-1981) desenvolve sua teorização sobre a Personalidade como sistema em desenvolvimento, destacando o seu caráter ativo. Mitjáns Martínez (2016, p. 185) salienta que, a despeito da psicóloga soviética ter se valido das proposições de Vigotsky, criticou o “reducionismo cognitivo” presente na definição da categoria vivência, extrapolando a limitação observada. Para Bozhovich, a vivência, em termos de sua “força e conteúdo” relaciona-se antes às necessidades e possibilidades de

satisfação da criança do que à sua capacidade de compreensão, ou seja, de fazer generalizações.

A adoção das categorias vigotskyanas permite à Bozhovich analisar tanto as condições externas quanto os processos internos envolvidos no desenvolvimento da personalidade, desvencilhando-se da ideia do imediatismo das influências externas sobre o humano, concepção predominante na União Soviética até a década de 1970. Assim a autora apresenta sua definição sobre a personalidade:

Consideramos que o termo personalidade corresponde à pessoa que tem atingido um nível determinado de desenvolvimento psíquico. Este nível se caracteriza pelo fato de que no processo de autoconhecimento, o homem começa a se perceber e se vivenciar como um todo único, diferente das outras pessoas e que se expressa no conceito de “eu”. Tal nível de desenvolvimento psíquico caracteriza-se também pela existência no homem de opiniões e atitudes próprias, de exigências e valorações morais próprias, que o fazem relativamente estável e independente das influências do meio, diferentes de suas próprias convicções. Uma característica essencial da personalidade é sua atividade. O homem nesse nível de desenvolvimento é capaz de influenciar conscientemente na realidade circundante, transformá-la e se transformar a si mesmo conforme seus objetivos. Em outras palavras, em nossa opinião, o homem que constitui uma personalidade, possui um nível tal de desenvolvimento psíquico que lhe permite direcionar sua própria conduta e atividade, e em certa medida, seu próprio desenvolvimento psíquico (BOZHOVICH, 1981, p. 1 apud. MITJÁNS MARTÍNEZ, 2016, p. 183).

Reconhecendo a importância das categorias cunhadas por Vigotsky e adotadas por Bozhovich, tanto González Rey (2013b) quanto Mitjáns Martínez (2016) salientam a relevância que conferiram às necessidades e aos afetos da criança frente às influências do meio, o que possibilitou a mudança na maneira de se analisar as influências externas na formação da personalidade, passando a ser vistas muito mais de forma indireta, sem o caráter determinista. Segundo Mitjáns Martínez, em analogia com categorias da Teoria da Subjetividade de González Rey,

poderíamos afirmar que a vivência aponta para a forma com que o indivíduo subjetiviza a influência externa com a qual entra em contato, processo complexo que pode ser melhor compreendido mediante o valor heurístico que mostram as categorias “sentido subjetivo” e “configuração subjetiva da ação” para a compreensão do desenvolvimento da subjetividade (MITJÁNS MARTÍNEZ, 2016, p. 185).

Assim como Bozhovich, B. F. Lomov (1927-1989) foi um teórico que, com sua visão crítica e revisão de temas dominantes na teoria psicológica soviética contribuiu para o avanço

nos estudos sobre a personalidade ao superar as dicotomias externo-interno, sujeito-objeto, social-individual. González Rey (2016, p. 248) observa que o autor buscou a unidade indivíduo-sociedade para além da relação imediata com a concretude da atividade. Assim, passou a compreender a relação entre essas duas dimensões integradas em um único sistema, concepção explicitada mediante o conceito de “comunicação”, em que psique e comunicação se relacionam internamente no indivíduo.

Enquanto Leontiev defende uma relação externa entre um objeto que está “fora” e um mundo psíquico que está “dentro”, mas que é um epifenômeno do externo, com o qual se protege de qualquer acusação de idealismo, Lomov separa o termo da relação sujeito-objeto e o fundamenta na condição social da pessoa, na qual o social não aparece como sendo externo, mas como componente da própria pessoa. Nesse sentido, o reflexo não se dá por uma relação entre o interno e o externo, mas pelo fato de que a consciência humana tem uma natureza social (GONZÁLEZ REY, 2016, p. 250-251).

Em sua crítica à concepção de reflexo presente na Teoria da Atividade, González Rey analisa que Lomov avança na compreensão das emoções ao entender que, como caracterização dos estados do sujeito do reflexo, elas afetam o próprio processo refletido. Em outras palavras, “o sujeito passa a ser o elemento central do reflexo, processo este que estará qualitativamente definido pelas emoções e a condição desse sujeito no momento em que se relaciona no mundo social”. A perspectiva de Lomov se abre, assim, à visão da “psique como produção subjetiva com base na experiência vivida e não como reflexo”. González Rey ressalta que a concepção desse autor se excetua do determinismo material, definindo a cultura como “um espaço espiritual da sociedade irredutível às suas expressões particulares, como a linguagem e os objetos [...]”. O social, por sua vez, é definido como “um sistema macro e complexo”, de modo que transcende a ideia de “relações dos sujeitos com os objetos” e enfatiza “a comunicação entre as pessoas como o processo essencial dessas relações” (GONZÁLEZ REY, 2016, p. 251-252).

A crítica de Lomov, assim como a de Bozhovich, recai sobre a questão das necessidades e dos motivos, uma vez que não concebem a relação sujeito-objeto sem levar em conta o sistema de suas relações sociais. Sendo assim, os autores avançam na representação da personalidade intimamente ligada à motivação humana.

Apesar de Lomov não se expressar diretamente sobre a subjetividade, pode se dizer que contribuiu em muito na elaboração das bases para que o tema tivesse seu posterior desenvolvimento, destacando-se os seguintes aspectos:

o caráter sistêmico da psique humana, algo já presente em autores clássicos, como Vygotsky, Rubinstein e Ananiev, mas que não foi desenvolvido por eles de maneira aprofundada; a comunicação dialógica em contraposição com a atividade com objetos; e a personalidade como sistema contrário à ideia da personalidade como estrutura (GONZÁLEZ REY, 2016, p. 257).

As formulações de autores como Lomov e Bozhovich em momento de uma ampla revisão da Teoria da Atividade, constituíram, pois, relevantes contribuições ao desenvolvimento da teorização de González Rey quem, de forma explícita, assumiu o tema da subjetividade colocando-o no centro do debate sobre a constituição dos processos psíquicos e do desenvolvimento humano. Isso, em consonância com elaborações de autores clássicos, sobretudo, de Vigotsky em seu primeiro e terceiro momentos. Desenvolvida sobre a base marxista, em um viés cultural e histórico, a Teoria da Subjetividade, que completou seus 20 anos a partir da publicação do livro Epistemologia Qualitativa e Subjetividade, em 1997, segue sua elaboração evidenciando o papel ativo do sujeito concreto, posto à ribalta.

4.3 TEORIA DA SUBJETIVIDADE: UMA DISTINTA REPRESENTAÇÃO DOS

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