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narratriz com educação para além da sala de aula?) , e foi tantas vezes (re) criada na prática da pesquisa, na prática artístico/educacional que me

Constelação 3 Labirinto de ações da pesquisa.

Performances entre contação de histórias, teatro e educação 99

IX Jornada de Pesquisa em Artes Cênicas – UFPB- João Pessoa -PB

Comunicação performativa- Per/ formação de uma narratriz/docente: ritualidades entre teatro, currículo

e educação básica

23 de novembro de 2018

O potencial da Aula Estranha- Encontro artístico-pedagógico na Escola da Penha -PB Performance narrativa 9 de fevereiro de 2019 23 de maio de

2019 Colégio de Aplicação da UFPE- Recife-PE

100 CARTOGRAFIOS DE UMA NARRATRIZ 03 de junho de 2019 06 de setembro de 2019 03 de outubro de 2019

Colégio de Aplicação da UFPE

SPA – Seminário de Pesquisas em Andamento –ECA USP Faculdades de Belo Jardim - ação da Mostra SESC Lagoa do Capim - Belo Jardim -PE

Performance Aos pés de Paulo Freire, o deserto virou desejo

Comunicação oral com demonstração técnica - Narratriz/

docente: experiências de formação artístico-pedagógica de uma contadora de histórias em fricção

com Escola

Arte, educação e resistência na Performance/ conversa Nós

Performances entre contação de histórias, teatro e educação 101 21 de novembro de 2019 14 de dezembro de 2019 14 de outubro de 2019 UERN - Mossoró – RN Formação de contadoras/es de histórias do Grupo Zumbaiar-

Recife -PE IFPE – Campus Olinda-PE

Performance Nós de nós no VI Simposeduc - Mesa-redonda - Devir criança, processos pedagógicos e a

multirreferencialidade Performance Nós de nós e exercícios corporais para contadoras/es de

histórias Performance Nós de nós e conversa

sobre o processo de criação

102 CARTOGRAFIOS DE UMA NARRATRIZ

Para finalizar, descrevo algumas estratégias como narratriz no labirinto, que permitiram vivenciar um percurso de ações que foram se interconectando e acontecendo atreladas umas às outras:

- A forma de considerar os momentos de compartilhar a pesquisa como prática de narração oral, tornando-a narrativa e este momento como etapa de produção/criação da pesquisa;

- Invenção de elementos de concretude e materialização física da pesquisa para corporificar a escrita. Por exemplo, movendo e narrando meu corpopalavra num labirinto de objetos, entre livros que faziam parte da bibliografia, fotografias onde eu estava em cena, cadernos com anotações e esquemas pessoais, figurinos de espetáculos, fazendo imagens destas vivências;

- Tornar a escrita parte da performance, ainda que não fosse no local onde aconteceu, mas retomando fatos vividos e buscando uma conexão corporal para que ela acontecesse.

A cartografia, como metodologia processual em que as ações foram sendo criadas em conexão umas com as outras, mostrou-se um labirinto em constelação produzida por meu corpo em contato com outros corpos e com os materiais e objetos do ambiente e os que escolhi para compor o híbrido narratriz. Assim, o percurso criado é/foi complexo e a forma de percebê-lo em imagem também o é, por isso a escolha pelas constelações em imagem e por outras que seguem aqui.

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Performances entre contação de histórias, teatro e educação 105

Uma Narratriz Costurando O Tempo

E, como quem pega na agulha, em algum momento se fura e sangra ou ainda como a velha mãe que teve seus olhos em sangue ao bordar, resolvi incluir

o tempo na discussão que ora apresento. (Você vai entender porque.) As

palavras que seguem foram costuradas após a primeira performance realizada no Colégio de Aplicação da UFPE. Costurando o tempo foi uma performance com desejo de escuta, que acionou uma partilha narrativa em uma das comunidades a que pertenço como artista/educadora, como professora-performer, como

narratriz. A partir do ato real de costurar um tecido com as palavras que me

atravessassem naquele momento, constituí um tecido, pequeno e interno, para pensar as costuras de um tempo performativo, de quem narra e quem escuta com

Escola, com educação.

E como as histórias são porta-vozes desse “sopro escondido no centro do mundo” (KLEIN, 2019, p. 19), com segredos que despedaçam ou ampliam os instantes, a performance narrativa é uma ação para relacionar-se com esse tal desse tempo. A performance narrativa, então, compreendida como o acontecimento de quem instaura um espaçotempo para a narrativa oral foi a inspiração para voltar

Ora, medir uma duração é a mesma coisa que medir o tempo? Sim e não. Sim, pois o tempo é aquilo que permite que haja durações, produzindo continuidade no conjunto de instantes. Não, pois a medição de uma duração não exibe de forma alguma o tempo que a fabricou, tampouco revela o mecanismo misterioso pelo qual, tão logo aparece, todo instante presente desaparece para dar lugar a outro instante presente, que por sua vez se retirará para dar lugar ao instante seguinte. Ora, o tempo é precisamente esse “mecanismo”, essa máquina de produzir novos instantes o tempo todo: esse motor íntimo, esse sopro escondido no centro do mundo pelo qual o futuro se torna primeiro presente, depois passado. (KLEIN, 2019, p. 19)

106 CARTOGRAFIOS DE UMA NARRATRIZ

como pesquisadora ao meu lócus artístico/educacional, costurando um tempo que é tão evidenciado como ausente no espaço escolar. Meus fios de lágrima e sangue, os elementos que me costuram o corpo entre narradora, atriz e educadora, que singularizam as imagens de meu brocado, seguem para trocas com você, performer/leitor/a.

COSTURANDO O TEMPO17

10 de outubro de 2018 Escritas em 10 de outubro, até as 21h49 Escrevo no computador, em minha casa

Uma mulher costura o tempo. Em tempo, não faz nada. Ouve e só. Você tem alguma história pra me contar? ( frase dita quando alguém se punha em relação comigo, fosse verbal ou não)

A frase ecoa na minha cabeça na mesma medida em que o sol quente deixou uma sensação de mormaço aqui dentro. Um sono de praia, uma luz quente no peito. Estacionei o carro longe, num lugar que nunca tinha deixado. Descalça, peguei os dois tecidos e a cesta com linhas e agulhas, fui. Caminhei lentamente, sentindo pedra quente e grama, areia morna. Sol no céu bem azul. Homens no alto trabalhando. Perto, vejo Escola. Entro em cena um pouco depois quando sou vista.

17 - Os registros escritos das performances realizadas aparecerão no texto destacado em itálico. Faço essa escolha para demarcar visualmente uma mudança na espaçotemporalidade de uma voz que é também dissertativa e poética, mas, sobretudo, narrativa e quase dramatúrgica.

Performances entre contação de histórias, teatro e educação 107

As pessoas me percebem e cumprimentam. Inquietas com minha lentidão: — É procissão, a gente tem que te seguir?

— Se quiser... venha... (eu respondo)

— Oxe, ela hoje tá pior, DOIDA! (Assim, grande e seco, me diz a secretária que está fumando um cigarro em frente ao prédio)

Pela porta da frente, entra o Teatro, carregando sua loucura de sempre, vai. Penso que os apelos serão muitos. Me pergunto o que estou, mas já estou e sigo... Área lateral verde aberta, vou indo, sigo para uma parede com pequenos quadrados e olho através. Olhar através, sentir através, perceber através. Ninguém me vê, não sou notada pelas/os estudantes. Apenas estou. Seguro os tecidos, um verde e um preto. Visto roupa preta (calça legging, blusa de alça). Em outros tempos jamais usaria uma blusa dessas na escola. O que se lança através do meu corpo que veste? Quantos preconceitos vestem meu corpo ao entrar na escola? O que ignoro e escondo de mim propositalmente? Quem entra? A docente, a artista? A pessoa com RG? Na frase digo uma mulher... talvez seja um início de mim no mundo, ser mulher, não um definidor, talvez um disparador... Alguém vai passar pela porta que liga o CAp ao Centro de Educação e me vê. Alguns alunos estão tendo aulas lá porque a escola está em reforma. Digo o texto e eles me cercam. Na maioria, alunos do 8º ano, que estiveram comigo durante 2016 e 2017 no 6º e 7º anos, foram meus alunos de Teatro. Algumas indagações:

— Voltou?

— Tá fazendo o que aqui? — É uma performance?

Um menino mais novo pergunta o que é isso, e Cora (a quem muitos chamam Corina), do 8º ano, afirma:

— Espera você chegar no “oitavo” que você vai saber ou, se não, fica sabendo agora mesmo!

108 CARTOGRAFIOS DE UMA NARRATRIZ

( Ah! Como narradora destas palavras em labirinto, te digo que neste Ensaio os nomes de estudantes foram todos alterados para manter o sigilo, como também de uma professora, que será chamada Shirley)

Agora mesmo!

Antes, Corina diz: professora, solta eles e só me abraça! Após as indagações, respondo:

— Vim costurar o tempo... Elas/es dizem:

— Ué, mas como assim? — Por quê?

— Pena que não tenho tempo, queria ver... E eu:

— Mas por que você não tem? — É que o tempo passa rápido! — Pra onde?

— Ué , vai ficando maior... crescendo...

— Mas, se tá crescendo, como você não tem? Como tá faltando?

Rimos... Shirley, professora de português, se aproxima, fotografa, ri. Estendo o tecido no chão e sento. Eles me arrodeiam e ficam. Depois sabem que foram liberados, podem ficar ali, “tem tempo”, diz Corina. E ficam! Ficam! Durante quase 40 minutos eles ficam me vendo costurar, eu me emociono, sigo alinhavando a palavra artista e me pergunto: como? Alguns opinam que a palavra é Arte, outra Artesanato, mostro: Artista. Eu não esperava tecer esta palavra no meu corpo. Eu não esperava fazer de meu corpo sua morada, bordá-la em minhas vestes com cores calmas. Conversas:

Corina: — Bem, já que estamos aqui... eu comecei a namorar, professora! Com Julio, lembra dele?

Performances entre contação de histórias, teatro e educação 109

Estela: — Ela não lembra, já não tava aqui... Eu: — Lembro!

Corina: — Tá vendo! Eu: — E aí, como foi?

Corina: — Ah, ele gostava de mim, e eu percebi que tava deixando ele passar... tive uns ciúmes e comecei a gostar também...

(silêncio e costura)

Corina: — Uma amiga está com pânico, não está bem por causa de uma situação (ela faz o gesto de aspas com as mãos), o que a senhora diria? (conta-me uma história de amor) e eu digo:

— Tempo!

— E isso dá certo? Já deu com você? — Sim, respondo.

Shirley ri. As adultas da história, sentadas... uma costura de tempos em mim, fico pensando em cenas de quando fui estudante, da professora que agora sou. Chamada pelo nome professora. Com um ar de imperativo e saudade. Eu estava com muita saudade. Das vozes, das inquietações, dos suspiros, da risada, do aconchego que só elas e eles (as/os estudantes) têm. Aqui dentro, agora, após o medo. Vejo que entrei artista, queria entrar artista hoje. Queria uma outra pele para atravessar a porta e a trouxe, com direito a costurá-la e tecê-la, bordá-la. Em pouco tempo sou lembrada pelas paredes de quem eu sou ali. Na verdade, acessaram com tanta leveza aquela provocação que ela parecia óbvia de acontecer. Eu, com 13 anos, não imaginaria qualquer professor meu chegando descalço, entrando na escola carregando não sei quê e me dizendo que ia costurar o tempo. (Dá vontade de rir, me transportando para prédio de antes, da escola em que estudei.)

Ah, o prédio! Fico sabendo que a reforma tem deixado todo mundo longe, distante...

110 CARTOGRAFIOS DE UMA NARRATRIZ

— Tá tudo estranho, professora! Todo mundo separado, e a escola tá parecendo um hospital de tão branca!... A gente devia fazer uma “grafite” organizado... em cada sala... ia ficar mais bonita...

A palavra organizado fica sublinhada em minha mente. Como assim um grafite organizado?

Uns estudantes vêm, outras estudantes vão, vários acenam e mandam beijos. A maioria é de uma turma que me deu muito trabalho. Muito! Não imaginava que um dia eles me nutririam com risadas e ficariam sentados no sol quente me vendo costurar... o tempo! Tempo na escola é coisa muito séria. E cada uma/um sabe disso. Finalizei a palavra artista. Não ficou bonita nem bem acabada. Ficou legível, possível de ser. Possível de ser vista. Ali, me misturo, me integro, sou em mim o que preciso ser. Sem nenhuma obrigação com o tempo, pude olhar, rir, ouvir, trocar, estar junto. E por que não sempre? Vou caminhando para a quadra, após abraços e agradecimentos. De Corina, principalmente.

Chego no recreio coberto. Sento ao longe, vem umas alunas do sexto ano. Digo a frase, olho no olho, mas não há conexão. Elas vêm porque têm que vir, porque querem saber da minha tatuagem, de quando volto a dar aulas e começam a falar sem parar. Começam a me contar histórias, a dizer como estão as coisas, mas não consigo me conectar, ouvi-las. Algumas pessoas falam ao microfone e não consigo ouvi-las também...me sinto fora, sem fazer nada, não estou ali. Penso: “não é meu lugar, tô atrapalhando, eu devia terminar agora, fim...” Fico, vou ficando, escuto algumas palavras, a menina negra de cabelo crespo, com um enfeite bem bonito, me conta que aprendeu a costurar com a avó, uma outra segue e diz que aprendeu com o pai, a outra com a mãe a fazer fuxicos! Elas sabem costurar! (me espanto) Mas ainda estou longe, desconectada. A apresentação de português precisava de atenção, e eu estava me sentindo invadindo o espaço. A começar pelo fato de a proposta não estar na programação, pois “achamos que

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não cabia em canto nenhum”. Só porque não tinha horário! (Explico: esta ação integrou/integraria a Semana da Leitura e Literatura, porém, como eu informei que não tinha um lugar e horário específicos, não foi incluída em parte alguma da programação). — É que dava informações subjetivas no release. (disse-me a pessoa que estava coordenando o evento). E não é isso que a arte faz? Não significa que não queremos ocupar espaçostempos, mas desejamos criá-los de outro modo, inventá-los, invertê-los... A professora que estava coordenando o evento vem até mim, como por obrigação, interage rapidamente e sai. Mostra ao professor de Teatro onde estou, ele se aproxima e sinto uma felicidade imensa. Falo a frase, continuo a costura, mas ele me fala num tempo racional, 2+2 e sai dizendo que vai cuidar do tempo!

Vou...

Alguns sentimentos, fora da ordem do tempo:

Me sinto feliz, voltei, estou fazendo parte. (como estou afastada para os estudos do mestrado, durante o ano de 2018 minha rotina foi alterada e eu não estou frequentando a escola dentro de uma rotina regular)

Estudantes que nunca imaginei me deram acalanto e força, verbo pra costurar poesia, motivos para voltar, para querer, para tanta, tanto! Sim, outros profissionais, professoras/es, passaram, riram, acharam bonito, elogiaram?, outros não me reconheceram, seguiram em frente, fofocaram.

Conexão veio das/os estudantes, com presença. Como se me conhecessem mais, como se soubessem a substância de que é feita uma artista/docente e deram a medida certa para crescer minha saudade. Que alegria! Vejo repetirem por aí...

Não me senti numa performance (aspas!) me senti em aula, não “dando uma aula”, talvez por não ter uma avaliação a ser feita, por não ter obrigações. (aspas!) Por não estar cumprindo conteúdos ou planejamento. (aspas!) Penso que estava em trânsito. Eu sabia o programa da performance, estou agora registrando,

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eu sabia o contexto, sabia que para alguém faria sentido, principalmente para as/ os estudantes mais velhos de teatro. Por quê? O que quero dizer com dar aula? Sigo as costuras, sigo meu rastro, e não me sai da cabeça a frase dita por um professor após indagar incessantemente sobre o que era aquilo, dentre outras coisas insistindo para que eu lhe contasse sobre o mestrado. Repito para ele: — Estou costurando o tempo! Isto aqui é o mestrado! Ele, então, se afastando, me diz:

CUIDADO PARA NÃO FURAR OS DEDOS!

A advertência de meu colega me leva diretamente ao conto de A Bela

Adormecida, partícipe do nosso imaginário coletivo, especificamente na cena em

que a princesa, por estar curiosa com um objeto que nunca viu, põe o dedo no fuso, fato profetizado por uma feiticeira no momento de seu batizado. Peço que se relacione com o trecho da história que segue, versão do livro Contos de fadas da editora Zahar (2010), que tem apresentação de Ana Maria Machado. No conto A Bela Adormecida:

Depois de subir uma estreita escada em caracol dentro da torre, viu- se diante de uma portinha com uma chave velha e enferrujada na fechadura. Quando rodou a chave, a porta girou e revelou um quartinho minúsculo. Nele estava uma velha com seu fuso, muito ocupada em fiar linho.

“Boa tarde, vovó”, disse a princesa. “Que está fazendo aqui?”

“Estou fiando linho”, respondeu a velha, cumprimentando a menina com a cabeça.

“O que é isso bamboleando assim tão esquisito?”, a menina perguntou. E pôs a mão no fuso, pois também queria fiar. O feitiço começou a fazer efeito imediatamente, pois espetara o dedo no fuso. (p. 123)

Performances entre contação de histórias, teatro e educação 113 Saltam-me tantas metáforas lendo este pequeno trecho desta obra e nem vou entrar em questões como a construção do feminino nos contos de fada, por exemplo, que muito me interessa, porém não é o foco deste trabalho. Olho para essas figuras femininas da história, sim, uma velha e outra moça, a sabedoria de quem fia e está num quarto minúsculo, geralmente o lugar que ocupa a sabedoria ancestral ou o Teatro na escola. Também vejo o Teatro com a juventude e ousadia da princesa e espeta não só o dedo, mas o corpo todo para inserir-se na educação com a potência da curiosidade que lhe é própria. É como artista/educadora da linguagem teatral nesta escola que me propus nesta pesquisa a sentir, alinhavar, recortar, mover o que meu corpopalavra é neste espaçotempo — uma narratriz— e perguntando constantemente: o que ela cria?

A seguir, alguns fios desta cartografia, enredadas com o relato da performance Costurando o tempo, não sem antes me relacionar com os seguintes dizeres:

Com a boca bem aberta para tecer essas costuras, ainda vivendo a “trama temporal” (KLEIN, 2019, p. 11) daquela performance, adensando um lugar interno

[...] o tempo é antes de tudo uma palavra de nossa língua, uma palavrinha de apenas duas sílabas, como tantas outras do nosso idioma. É preciso dizer que é uma palavra muito útil, talvez indispensável, visto que constantemente precisamos usá-la. Como seria possível falar de um acontecimento, contar uma história ou exprimir uma emoção sem inseri-los numa trama temporal? Sei que esta palavra não existe em todas as línguas, mas aqui nestas nossas paragens, se retirarmos a palavra “tempo” do vocabulário, seria como se nossa boca tivesse sido costurada. (KLEIN, 2019, p. 11, grifos meus)

114 CARTOGRAFIOS DE UMA NARRATRIZ

que guarda as minhas vivências enquanto artista, com o peito sentindo aquele dia e o sol quente que ele tinha e outros instantes já passados, memórias, que se ativam na construção deste pensamento, ponho no bordado as palavras de Ângela Café em sua tese de doutorado:

Entendendo como reminiscência aquilo que é conservado na memória, os contadores de histórias tradicionais são o próprio elo entre passado, presente e futuro, que compõe as narrativas e fundam a reminiscência. [...] Quando contamos ou ouvimos histórias estamos envolvidos com a reminiscência, buscando lembranças de vivências, esquadrinhando os significados envolvidos em seu enredo, associando-os com nossa experiência pessoal, em um movimento de aproximação e distanciamento. (CAFÉ, 2015, p. 125-126)

Performances entre contação de histórias, teatro e educação 115 Assim, conectada aos contadores da tradição e aos contos da tradição oral, em que o número 3 é bastante comum (3 filhas/os, 3 acontecimentos desastrosos,

3 pedidos ao gênio, para exemplificar de forma geral), seguem 3 fios importantes

para a costura que faço na composição da narratriz, evidenciando algumas respostas para o que ela cria.

fio 1- Cria espaçostempos descotidianos com uma