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Figura 11 – Labirinto de um corpopalavra, cartografia de si

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Olhando a imagem que abre este ensaio, pergunto: quantos fios são necessários para contar, conter e narrar o tempo? Quantos fios e quantos nós para tecer-me narratriz? No ano de 2011/2012, iniciei minha trajetória como contadora de histórias, compreendendo esse lugar como instância da arte, como profissão e filosofia. Agora, movo um corpo narrativo que costura a si mesmo com Escola, com educação, para inventar subjetividades e devaneios ao dizer palavras de ser

narratriz, pois

Estas palavras de Jorge Larrosa ressoam com as performances de que trata este ensaio: Nós de nós e Aos pés de Paulo Freire, o deserto virou desejo, vividas em espaçostempos distintos.

Estas performances tem o mote de sua criação pautado na experiência de encontrar pessoas para narrar histórias, acrescido da proposta de realiza-la no espaço escolar, fora de uma sala de aula formal e considerando o espaço escolar como potencialmente performativo, perfazendo um labirinto com costurar-me artista/educadora, professora-performer, gente que atua com a linguagem teatral na educação básica. É preciso ser gente nas ações que se cria, ao escolher as cores e texturas dos fios a mover. Uma ação criada por uma narratriz ao inventar suas formas de ação com escola, a partir do narrar e do escutar, implicando

O destino da palavra é se desintegrar quando chega a tocar o que é mais sólido do que ela: a carne. Ao se desintegrar como se desintegra qualquer signo apenas cumpre sua incumbência, isto é, ao mostrar aquilo a que se dirige. Porém, de novo, a palavra, felizmente, é mais do que um signo: é uma força viva que se desfaz quando alcança a matéria que há de lhe dar nova forma. A palavra se encarna, seu destino é encarnar-se. (LARROSA, 2014, p. 113)

Performances entre contação de histórias, teatro e educação 129 o reconhecimento do corpo que encarna a palavra. É importante ressaltar que durante o ensaio será feita uma discussão sobre performance art e sobre performance narrativa a partir destas experiências, vivenciadas num corpo narrativo, o corpopalavra de uma narratriz.

O programa da performance Nós de nós consistiu em: chegar ao espaço escolar carregando uma cesta grande com carretéis de barbantes coloridos de tamanho médio, com a intenção de costurar o espaço com escola, materializar a trama que se dá quando se compõe um espaçotempo narrativo, uma comunidade narrativa, seja uma escola, seja uma plateia para narrar histórias. Uma pergunta estava prevista: Em que momento a sua vida deu um nó com Escola? Quais histórias seriam contadas e como se configuraria o nó com Escola, só a ação poderia dizer.

Na performance Aos pés de Paulo Freire, o deserto virou desejo, que recebeu esse nome após a ação acontecer, o programa consistia em levar uma maleta, a mesma que uso em cena para contar histórias, com bastidor e tecido, agulhas e linhas e ouvir histórias enquanto bordo, considerando o bastidor como um micro espaço performativo. Este programa se constituiu como devir da performance anterior, assim como na própria ação. Aqui, intenciono costurar os conceitos de performance narrativa e corpo narrativo tornado corpopalavra a partir destas experiências e das minhas memórias narrando a pesquisa em diferentes momentos. Assim como narrar memórias afetivas que emergiram quando escrevo sobre performar-me uma contadora de histórias, uma professora-performer, uma artista/docente, uma artista/educadora, singularizada narratriz.

Por se tratar de uma cartografia o que aqui se narra, outras vezes pude viver a performance Nós de nós, acolhendo convites de instituições e vivendo experiências que perpassam desde um labirinto de fios tencionados aos rastros dos fios adormecidos no chão, quase abandonados e tão vivos em cor. Desde a primeira

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vez que esta performance aconteceu, em 23 de maio de 2019, venho juntando os fios que teceram cada lugar, um emaranhado de cores e nós que arranquei e outra pergunta surgiu: Como carrego os nós que arranco? Como carrego os fios que me teceram e ainda tecem? E a pergunta inicial desta performance se recriou, sendo agora: Em que momento a sua vida deu um nó?

Respondendo eu mesma a ela, dou um nó e volto a minha terra, ao lugar onde nasci. Meu corpopalavra em carne é feito de barro e sangue, um pulo de quem se assusta com bacamarte, um ritmo marcado no triângulo, uma zabumba na carreira de ser gente, uma alegria de noite iluminada com tanta cor e balão que parece coisa de história. História! Minha lembrança de pessoas contando histórias se dá como se a história fosse se fazendo na minha frente: nas noites no concurso de fogueteiros e baloeiros na cidade de Caruaru-Pernambuco, onde

nasci e onde amarro este primeiro nó

(primeiro?), do cheiro dos fogos e da

fogueira e minha mãe chegando em casa carregada deles... esputinique, chuvinha, peido de veia, vulcão, traque de massa foram os que lembrei, em consulta, meu pai disse mais alguns: traque-bebé, bomba, estrelinha, mosquito, espada.

(Simmm!!! Em tom de quem lembra algo importante.)

Amarrei muita pamonha e vi vó Xi (a bisa que conheci) ralar o milho em tardes que sempre pareciam sábados. Casa da minha vó Janete cheia, gente correndo, preço da fogueira aumentando, vovô quieto, vovó se arrumando. Além dos “casos memoráveis de membros da família” (MATOS, 2014), que se fazem e refazem a cada encontro, nas palavras dos mais velhos, que vai sendo atualizada e sempre repetida, com destaque para tia Mana (irmã do meu pai), que é ansiosamente esperada nos enterros da família para dizer as peripécias e resgatar os causos mais importantes de quem está se despedindo e para meu pai, que está quase sempre contando alguma história, com vozes inventadas e personagens fantásticos, que ganham gestos, expressões e movimentos. Assim, parece que foi me dado um

Performances entre contação de histórias, teatro e educação 131 terreno no peito, fértil, enfeitado e enfeitiçado para morar. Um lugar para correr, fugir, me esconder e para acordar o tempo. Esse tempo que agora eu chamo narração. Uma narração que chamo de arte. Uma arte que permite conhecer a mim e a tantas pessoas, que acolhe quem a recebe, que multiplica os instantes. É com a voz da Fernanda menina, que leio as palavras que seguem, o registro escrito da primeira vez que realizei a performance Nós de nós:

Nós de nós 23 de maio de 2019 Escritas em 25 de maio, até as 11h55 Escrevo no computador, em minha casa

Quero falar das estudantes, que rapidamente fizeram a teia acontecer. Quanto tempo eu passaria fazendo sem elas e eles? Eles se organizaram em maestria, com comandos de sobe, desce, prende aqui, ajeita lá! Vivas! Umas aranhinhas sorridentes e felizes deixando um emaranhado bem na porta da escola, na entrada. Meu corpo entregue, brincante, sorridente, leve. Uma das primeiras frases que escuto: — ´Tas´ tão calma!!!!!!!!!!!!!!!!! E esse cabelo novo? Que linda! Gosto muito assim... como você tá bonita!!!

E a teia tecida entre mesas, balcão de recepção, grades, porta de vidro, traz um portal em que as pessoas vão se agachando, descobrindo formas de passar, movendo pernas, braços, encontrando olhares, conectando pele, vivendo uma organicidade do que já é a partir de um fato descotidiano. Ouço: quem deu esse nó- cego aqui hein? Devolvo: — Isso é mesmo um nó-cego! Escola é um nó-cego? Vejo linhas esticadas, cores, formas diversas, apesar das triangulações, um mosaico vai possibilitando ver o espaço de diferentes formas, com outras potências.. pessoas desistem de passar... digo de dentro: eu também já desisti muitas vezes... de mim,

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de turmas, de determinada criatura... Vejo olhinhos me abraçarem tão forte. E me sinto incrivelmente adulta e sabiamente criança. Estou inteira, deixo que me vejam, permito ser delicadeza ao ocupar o espaço externo e descobrir que tem mais espaço ainda na minha carne, nas similitudes de querer correr e me jogar naquela teia... de ouvir histórias... as expressões de desespero das/

os estagiárias/os, quase sempre em dupla ao olhar os nós e responderem : agora! Agora mesmo! Quando ouvem: Em que momento sua vida deu um nó com Escola? Um deles me relata: Agorinha! tô indo dar a minha primeira aula agora

e não sei o que fazer... diz o menino de dreads, que largou a bolsa na cadeira e passou se arrastando e me disse que passar pelo emaranhado conversando é mais rápido, mais fácil... pergunto: é? Me pergunto: é? E me vem Paulo Freire, claro! Sem diálogo, como existir, reconhecer, dançar, brincar, ser gente no emaranhado que Escola cria em você?! É preciso existir em conjunto, foi preciso muita gente pra criar o emaranhado, pra dar nós, pra sair conectando tudo, coloridamente, principalmente em mim.

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Figura 12 – Costura-se. Costure a si.

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Com pausas na passagem das pessoas e uma existência absoluta minha naquele lugar, um espaço criado em rede, um espaço redificado, entrelaçado, redemoinhado, consumado em afeto, explodindo minha movência, permitindo entrega, conexão, criação. Onde geralmente só passava, hoje me instalo. A Arte não só passa na Escola, ela se instala de uma forma trânsita, vai conectando mundos, pessoas, lugares, objetos, referências. A Educação não só passa na Escola, ela se instala de uma forma trânsita, vai conectando mundos, pessoas, lugares, objetos, referências. A teia que é convite para brincar para

alguns é inoperância para outres, que dizem: Onde está o meu direito de ir e vir? Onde está o direito da Arte de existir no cotidiano com Escola, incomodando-a, fazendo-a instável, tocando suas paredes, encontrando suas brechas? Tanto lugar para prender, amarrar, fixar os pontos, mas também uma rede que criou apenas no contato, em passar uma linha pelas outras, com os dedos, tecendo a rigidez, insistindo nos espaços não criados, querendo ver mais , ver menos, permitindo ser e estar no presente. Atravessar um espaço emaranhado de linhas com o corpo carregando mochilas, pressa, foco, quase não dá... vi pessoas diluídas, tão à vontade naquela configuração que parecia que uma reverberação estava acontecendo... um mar de gente em ritmo próprio e semelhante movendo, movendo e indo, aceitando a reconfiguração proposta, vivendo-a, e quando digo aceitando não quer dizer de forma passiva, mas assumindo jogar o jogo! Alguns professores passaram mais de uma vez, com o riso escancarado e repetindo: só podia ser Fernanda! Que bom que você voltou! Só você pra dar um nó aqui nessa escola! Eu pensei um pouco antes de escrever isso, mas preciso tornar palavra a poesia da troca, um ser bem-vinda na minha condição de balbúrdia inerente, festejar a minha presença é desfazer uns tantos nós que o desejo de ser professora de teatro na educação básica deu em mim. Sou viva! Recebo vivas! Recebo olhares inquietos também, protestos silenciosos e verbos envenenados: -Como a pessoa chega pra dar aula assim?

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Quando se chega numa aula de Teatro? Como se chega num corpo narrativo? O meu corpo artístico/docente dança, vê a si machucado e impossível de desatar, com a garganta laçada, com a materialização da criação artística ali, com Escola.

O que cria uma narratriz com Escola? Cria espaços para ser Arte, transporta as brechas da Arte para o cerne da escola, interfere no cotidiano de forma poética e infante. Joga! Joga o jogo de escancarar a si, de ser apenas uma ideia, “achei conceito”, diz uma estudante... rindo! Constrói com o espaço uma narrativa de pertencimento, de fluidez na interrupção da passagem, de descoberta de gestos, em meio a linhas estreitas, estreita o lugar externo para alargar o espaço interno e tornar o corpo escuta. Escuto: Ah! Foram

muitos nós já nesta vida, muitos! Bons e ruins... Me conta, eu digo! E escuto: bem... em Sergipe, chego no primeiro dia de aula e só tem uma banca vazia, sento, quando olho para o lado está uma pessoa que existe na minha vida até hoje! Onde vou no mundo, tenho que mandar um cartão-postal para ela! Ouço a história do meu colega, de quem já cultivei desafetos e consigo ouvir as palavras em outro lugar, um tom de nostalgia, lembrança, aconchego. Desato um nó e dou outro. Escolho uma nova narrativa para aquela pessoa. E penso na cura que há em ouvir as pessoas narrarem a si mesmas, às outras, aos outros, ao lugar que compõem e atravessam todo dia.

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Figura 13 –Nós de nós, rede de afetos

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É recreio quando a performance se inicia. São 9h, na verdade 8h53, eu acho que olhei o relógio pela última vez, avisando ao meu corpo que podia entrar naquele estado de entrega, ainda que primeiro buscando uma conexão com as pessoas, fazendo essa escuta a partir da pergunta (Em que momento a sua vida deu um nó com Escola?) e depois sentindo o espaçotempo ser ritualizado

e transportar-me para o espaçotempo do Teatro, da performance, esse tempo que descotidianiza, que arrasta para outro lugar, que incomoda como quem faz cócegas, o tempo das histórias! A narrativa sendo gerada, os nós sendo atados, Nós de nós. Quando percebemos que o espaço com Escola é coletivo? Que alterar esse espaço traz interferências no todo, ainda que uns gostem? A arte deve ser arbitrária? Ou o convite surpresa legitima esta ação? A maioria que vem como um cardume ou como um grupo de seres da floresta e se embrenha organicamente no novo espaço autoriza minha existência performática? Escola ri, ri das pessoas que se esbarram de quem cai, de quem se arrasta, de quem se esconde, de quem nem sabe onde estava! Quanto poder em transformar com Escola!

Objetos simples, ação programada, corpo disponível, leituras em processo, substância artística inundando a educação, abraçando-a forte. Ao planejar a ação, a elaboração da artista/docente entregue, a visualização do que seria, do que já era na mente, do que se desejou. Narrar uma Escola viva, com pessoas conectadas pela ação artística, investigando os materiais, os suportes, sem nenhum comando direto, no começo! Tem muita história ainda para contar!!!

Houve um momento de desconexão minha comigo na performance. A professora Fernanda, acionada pelo medo, não pelo cuidado... começa a ouvir... ai meu dedo, ai meu pescoço, e resolve vigiar, sublinhar o que pode e não pode, cortando o fio que a liga à ação artística. Me desevoco nesta fala, pois me sinto uma observadora externa, uma cumpridora de aulas, alguém que se liga ao ato de educar completamente apartada da ação criadora, já que esta traz em si confiança

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e entrega, permitindo abertura e conexão com outras soluções. E é justo nessa hora que alguém grita: e se a gente fizesse um pega-pega aqui??? E aí o medo se afasta porque a brincadeira empodera e promove a ação de forma coletiva, num pacto que é de todos e com impacto de permanência, experiência e suspensão do tempo e das regras usuais. As regras se transformam em ritualização e num ritual há que se ver a pertinência que se dá por cada grupo ao encontrar-se.

Refletir, contar uma história, dizer palavras soltas, sorrir, mover o corpo, tomar consciência do corpo em qualquer ação. Trazendo a energia da performance podemos ampliar as direções, desorientar o foco, deselaborar as regras e inventá-las conjuntamente, assim como a narração faz ao encontrar pessoas. A ação da narratriz, então, promove ações com quem se conecta. A ação que gera ação, e não respostas, e a educação e a arte ganham contornos outros na partilha de ações com Escola, na escolha de revelar as ações de outras como potência da sua. Corpos que se movem para pensar a educação e a educação que se move para performar corpos. Performar e desformatar, desenformar, não reformar, PER/formar a si no cotidiano com escola, pois a ação de performar nos proporciona relação, ainda que sozinha. Relacionar- se é pauta do ritual da performance art e na performance narrativa, num corpo que narra uma história, que a inventa e desorienta e não analisa e reproduz. Cordas, cordões umbilicais, tracejados ligando um ponto a outro,

linhas e meu corpo trança, meu corpo agulha, meu corpo ventre, meu corpo docente nascendo com Escola. Fios de Ariadne movendo os corpos. As referências me chegam de muitos lugares, amigos contadores que viram as imagens, Ariadne evocada por Rafa, ex-estagiário da escola que me envia uma mensagem carinhosa e evoca a história depois de ver um trecho da performance nos meus stories do instagram. Não havia feito esta conexão. E a rede de interpretações e afetos vai se formando por quem viu e me atravessou no momento da ação, quem viu os

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registros e escreve sobre eles costurando narrativas.

Estar em performance, olhar dentro de mim a plateia, buscar relações inquietas com quem escuta uma história, uma narrativa, uma particularidade a ser destacada da ação contada, detalhes a serem ditos e percebidos em ressonância. Uma contadora de histórias seria quem escreve com a voz? Que palavreia os sentidos no vento? Sentidos de quem anda pelo mundo, de quem diz coisas a partir do que escuta, de quem inventa ao passo que conta? De quem dá nó com Escola? Explico: é que para mim, contar histórias é um ato de escutá-las dentro de si, dentro da ação do outro no próprio momento em que narro e das histórias criadas quando pesquiso esse fazer-saber. E o que estou chamando de performance narrativa é um espaço compartilhado entre quem narra e quem ouve e que pode ser instaurado onde desejar-se. Sua existência se dá na disposição de elementos no espaçotempo entre, em convite de estar juntos para ouvir. Há quem vá para a praça, quem fique na feira, quem arrume as poltronas do teatro, há quem preencha com fios (reais ou imaginários) o espaço criando uma teia que convide a brincar. Mas a substância entre quem narra a si e é narrado com as/os espectadoras/es em ação é de matéria viva e quente. Olhos em festa, sussurros, arrepios, um emaranhado de fios, ora firmes e que ocupam todo o espaço, ora abandonados ao chão, despedindo-se de quem ali esteve.

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Figura 14 – Mapa narrativo, labirinto cotidiano

Performances entre contação de histórias, teatro e educação 141 Ao inventar uma narratriz, atento ao que se costura corporalmente, em movimentos, ações, gestos, sensações, percepções em espaços de mim e multiplicados na performance, potencialidades de um “corpo- em-arte” (FERRACINI, 2004, p. 77) ao assumir a narrativa, o corpopalavra em ação diante de outras. Visto-me narratriz nos passeios inicialmente com a linguagem artística da contação de histórias e do teatro, que nutriram meu corpo para criar com a performance art, entrelaçando todas elas, afirmando e empoderando minha narrativa de ser artista. Sobre a contação de histórias, especificamente:

Tecido vivo, interno e externo, costura de cores, formas, fios, que são narradas na junção ao dizer com a plateia, com as estudantes, com a escola e com quem mais estiver em performance, buscando elementos que contribuam para inquietar, reverberar e nutrir as liminaridades, os possíveis entres, os corredores, as entradas, os estacionamentos, os auditórios e o que mais de transitório e de passagem pudermos nomear.

Na performance Nós de nós, quais palavras e imagens a plateia moveu em mim? No meu corpo narrativo? Em movimento, perguntas, não olhares, intenções, conexões? Quando conto, sou uma espectadora de mim, tentando me desdobrar naquela pessoa que me escuta e no mesmo instante me narra. Sou também os elementos que estudo e tantas outras narradoras/es, com as/os quais ritualizo, na palavra e no espaço, em vozes de quem resolve escrever e inscrever sobre esta

Ao tratar a contação de histórias como linguagem artística, falamos necessariamente de forma, já que arte é forma. A forma é a expressão manifesta do artista que atua sobre o homem em sua totalidade. Na arte de contar histórias, podemos dizer que, por meio do conto, criado na cena da performance, o contador dá forma a sua expressão. (MATOS, 2015, p. 205)