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O que cria uma narratriz com educação para além da sala de aula?

Nesta pesquisa, de cunho qualitativo e com inspiração metodológica na cartografia, compus mapas narrativos dos rastros que me performaram e performam narratriz, costurados sempre com perguntas para investigar a pergunta central. Intuo que cada pergunta traz um nó e que nem todo nó é o fim de um bordado, pode ser um erro, pode ser uma pausa, pode se transformar num plural e desvelar um espaçotempo de ser “nós”, de existir coletivamente, movendo meu corpopalavra e encontrando fios e desafios pelo caminho que se percorre

3 - Escola no texto é performer, que move ações e que mobiliza afetos. Não se quer trazer uma generalização ou personificação no sentido de um discurso desconectado das implicações sociais, econômicas, culturais. Pelo contrário, ao ressaltar o afeto da minha relação com o espaço escolar, determinante na minha trajetória artística e educacional, posso traçar diálogos com ela e dar a ela sensações e percepções dentro de um contexto ficcional, que me abre outras possibilidades de organizar discursos com Escola. Por isso, quando no texto estiver grafada iniciando com a primeira letra maiúscula e em itálico, trata-se desse contexto ficcional afetivo. Quando me referir ao espaço escolar a partir de um contexto mais geral, será grafado em letras minúsculas.

Performances entre contação de histórias, teatro e educação 33 numa pesquisa de mestrado. E, entre perguntas, ressonâncias, desafios e muitas histórias, emergiram o objetivo geral e os objetivos específicos deste trabalho, assim bordados:

Objetivo geral

• Cartografar performances que emergiram em experiências de criação

artística envolvendo a contação de histórias, o teatro e a educação, para além da

sala de aula, e que estiveram envolvidas na composição de quem é uma narratriz4.

Objetivos específicos

• Instaurar performances art e performances narrativas em diferentes

espaços educacionais, de modo a perceber quais processos de criação podem acontecer na atividade de uma artista/educadora para além da sala de aula;

• Compor a ideia de narratriz na experiência da contação de histórias, em

conexão com os conceitos de performance art, performance narrativa e corpo narrativo.

• Habitar uma escrita performática, discutindo elementos que envolvem a

contação de histórias e a cartografia.

Considerando que precisava retomar o contato com o CAp UFPE agora vinculada a esta pesquisa, resolvi imergir enquanto pesquisadora no espaçotempo 4 - Com estes objetivos, evidencio para mim mesma que a separação e a dicotomia de que já fui palco com meu corpopalavra entre contação de histórias e teatro não faz mais sentido. Escolher compor a palavra narratriz desde o objetivo geral é perceber que a minha prática estava constituída num lugar entre, num lugar performático, instável, suspenso desde quando iniciei e durante esta pesquisa. Com isso, também enfatizo a legitimidade de quem se reconhece de outras formas. É nesta rede complexa que ampliaremos o campo das pesquisas sobre a arte da narração oral.

34 CARTOGRAFIOS DE UMA NARRATRIZ

escolar de uma forma que pudesse me colocar em abertura e escuta cartográfica para as palavras serem inventadas, sabendo que a cartografia se afasta de considerar o/a pesquisador/a como um/a observador/a distanciado/a. Por isso, escolhi retornar à Escola com a ação de Costurar o tempo, num convite a desacelerar as sensações, vivendo um espaçotempo distinto do tempo comum que há na escola. Meu desejo maior estava na busca por acessar histórias que pudessem emergir da relação de me pôr em escuta naquele lugar. Uma outra escolha feita desde o começo foi a de investigar a pergunta central sem demarcar como lugar da pesquisa as aulas de Teatro, mas assumindo o espaço escolar como lócus performático.

Assim, após dois anos dentro de um imenso labirinto, tendo em alguns momentos bordado calmamente e em outros movido meu corpo até a exaustão, apresento como resultado quatro ensaios, com palavras reunidas em tom de narrativa oral, costuradas por memórias, discussões teóricas e contos. Somam-se a eles, o prólogo Ariadne entra no labirinto, anterior a essa introdução, além de um texto sobre o estado do conhecimento da pesquisa e a conclusão. (ufa!)

A escolha pelo gênero ensaio se fez pelas suas características híbridas, distanciado do hermetismo das escritas acadêmicas que se vinculam as burocracias especializadas e vinculadas a provar uma verdade absoluta. Exercitei e experimentei neste trabalho uma escrita performática em liminaridade com a ensaística, contaminada de vida, de afeto, de emoção, que encontra sintonia com o que diz Jorge Larrosa sobre o ensaio, especificamente:

Performances entre contação de histórias, teatro e educação 35 Assim, UM BROCADO DAS PESQUISAS SOBRE A ARTE DE CONTAR HISTÓRIAS, traz um levantamento de pesquisas acadêmicas recentes sobre o tema no Brasil, assim como trabalhos de pesquisadoras/es que vem tecendo o campo de pesquisa sobre a arte da narração oral aqui em nosso país e na América Latina.

O primeiro ensaio se divide em duas partes: NARRATRIZ DIZ: - AGORA EU ERA... quando transito entre memórias que me constituíram professora de teatro e contadora de histórias, questionando-me sobre como se dá a autoria desta

performação. É a voz manifesta da narratriz em diferentes momentos que vai

conduzindo a você e a mim pelo texto, que chega a pergunta e a interjeição que dão título a segunda parte: VAMOS PERFORMAR, ESCOLA? VAMOS PERFORMAR COM ESCOLA!

O segundo ensaio é a CARTOGRAFIA DE UM CORPOPALAVRA, que apresenta uma fotoperformance de mesmo nome, em que conto sobre o método da cartografia que sustenta a pesquisa, as etapas em que ela se deu, assim como uma Constelação com referências de tempo e espaço sobre as performances realizadas. De dentro do labirinto, em alguns momentos olhei o céu e pude ver constelações. Tive que aprender a lê-las e entender como essas leituras chegariam até o trabalho. Em outros momentos, eu mesma desenhei constelações para me guiar. Alguns dados da pesquisa aparecem como constelações também nos outros

O ensaísta problematiza a escrita cada vez que escreve, e problematiza a leitura cada vez que lê, ou melhor, é alguém para quem a leitura e a escrita são, entre outras coisas, lugares de experiência, ou melhor ainda, é alguém que está aprendendo a escrever cada vez que escreve, e aprendendo a ler cada vez que lê: alguém que ensaia a própria escrita cada vez que escreve e que ensaia as próprias modalidades de leitura cada vez que lê. (LARROSA, 2003, p.108)

36 CARTOGRAFIOS DE UMA NARRATRIZ ensaios.

No terceiro ensaio UMA NARRATRIZ COSTURANDO O TEMPO narro uma das performances realizadas e apresento os TRÊS FIOS DA NARRATRIZ encontrados pela artista/educadora/pesquisadora em meio ao labirinto.

Já o quarto ensaio está divido em três partes NÓS DE NÓS: CORPOPALAVRA EM PERFORMAÇÃO, apresenta a performance Nós de nós, descrevendo-a e trazendo reflexões de uma narratriz habitando o espaço escolar com performance para além da sala de aula. Em CORPOPALAVRA, CORPO NARRATIVO discuto os conceitos de corpo narrativo, performance art e performance narrativa, que tem continuidade em PERFORMANCE NARRATIVA PODE SER POLÍTICA?, no qual firmo e arranco alguns nós que compõem o ofício da narratriz.

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UM BROCADO DAS PESQUISAS SOBRE A