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Legado esportivo na escolha do Rio de Janeiro para os Jogos Olímpicos

3 PROJETO OLÍMPICO BRASILEIRO

3.4 Legado esportivo na escolha do Rio de Janeiro para os Jogos Olímpicos

Buscamos identificar, em documentos do processo de escolha para a sede dos Jogos Olímpicos de 2016 (ocorrido ainda em 2009) se existia, e onde se encontrava, algum tipo de exigência por parte do COI de investimento que seriam necessários especificamente no desenvolvimento do esporte. Para obter respostas, nos atentamos a três documentos:

a) Questionário de Candidatura 2016, (Candidature Procedure and Questionare) – COI (2008);

b) Dossiê de Candidatura do Rio 2016 – Comitê de Candidatura formado pelo Ministério do Esporte, Governo do Estado do Rio de Janeiro e Prefeitura do Rio de Janeiro e Comitê Olímpico Brasileiro. COMITÊ ORGANIZADOR RIO 2016 (2009);

c) Relatório da Comissão de Avaliação do COI 2016 (Report of the 2016 IOC Evaluation Commission) – COI (2009).

O questionário de candidaturas para 2016 (COI, 2008), documento formulado pelo COI e que serviu de base no processo de escolha da sede olímpica, apresentava questões que deveriam orientar cada uma das cidades na construção de seus argumentos e na avaliação das candidaturas32. A data de referência desse

documento é de junho de 2008. Nele são apresentadas a metodologia utilizada, os critérios e a maneira como as cidades candidatas seriam avaliadas. Nesse

31 Disponível em : https://stillmed.olympic.org/Documents/Olympism_in_action/Legacy/Olympic_Legacy.pdf. Acesso em: 01 out. 2018. 32 Disponível em: https://stillmed.olympic.org/media/Document%20Library/OlympicOrg/Documents/Host-City- Elections/XXXI-Olympiad-2016/Candidature-Procedure-and-Questionnaire-for-the-Games-of-the- XXXI-Olympiad-in-2016.pdf. Acesso em 15: nov. 2017.

documento, destacamos uma representação gráfica do que é denominado “filosofia da Experiência dos Jogos Olímpicos”, através do diagrama abaixo:

Figura 7 – Diagrama para entendimento a filosofia das Experiências dos Jogos Olímpicos

Ao analisar esse diagrama, destacamos que ele apresenta elipses circunscritas em três níveis. No texto que descreve o diagrama, é apresentado que os Jogos Olímpicos são um produto que se encontra ao centro (o que / what) (1), que teria uma Organização (como/how) (2) e Clientes (para quem/for who) (3) que circunscrevem este produto.

Temos então como elementos que constituem esse produto:

a) O que: a cidade (city), o revezamento da tocha (tourch), esporte (sport), cerimônias (cerimonies) e a cultura (culture);

b) A Organização (como): Ciclo de vida de Organização dos Jogos (games organisation lifecycle), objetivos (objectives), visão (vision), instalação de serviço e operação (services facilities and operation), organizador COI e clientes (organiser IOC clients);

c) Clientes (para quem): público em geral (general public), força de trabalho-voluntários (workforce), radiodifusores e imprensa (broadcasters and press), federações internacionais (international federations), atletas dos comitês olímpicos nacionais (athletes national olympic commitees), comunidade anfitriã (host comunity), parceiros de marketing (marketing partners) espectadores (spectators) e comitê olímpico internacional (international olimpic comitee).

Esse diagrama nos apresenta as complexas relações entre agentes e instituições que compõem o que o COI denomina de “Experiência dos Jogos Olímpicos”. Destacamos a parte central do gráfico que é o Produto, Jogos Olímpicos, com a representação dos cinco anéis ao centro. Este seria uma combinação dos elementos centrais do gráfico: esporte, cidade, cultura, cerimônias e a tocha olímpica. Ao tratar o esporte desta forma, como elemento de um produto, ficam claras as estreitas relações entre o esporte, o culto à performance e a sua importância na construção do sujeito neoliberal em um contexto onde a concorrência é um elemento central. Também acreditamos ser pertinente a retomada da ideia de que os Jogos são uma grande vitrine.

No decorrer do questionário de candidatura, são apresentados temas que contêm perguntas que deveriam direcionar o documento a ser construído por cada

uma das cidades candidatas. Apresentamos as questões que despertam o interesse nesta pesquisa, buscando relações com legado e esporte, e destacamos uma pergunta presente no Tema 1 que trata de Visão, legado e comunicação:

Tema 1 – Visão, legado e comunicação B – LEGADO

Q 1.6 Qual vai ser o legado para o esporte na sua cidade/região? Descreva as medidas que você pretende tomar para promover e desenvolver os esportes olímpicos menos populares em seu país no período que antecede os Jogos Olímpicos. (COI, 2008, p.67, tradução nossa).

Apontamos esta questão como um elemento central na perspectiva de compreender quais eram as expectativas do COI no que se refere ao “legado para o esporte” e a busca de “promover e desenvolver os esportes olímpicos menos populares” no país que pretende sediar os Jogos. Por hora, cabe destacar esta demanda anunciada do COI.

As respostas às questões são apresentadas por cada uma das cidades com pretensões de sediar os Jogos Olímpicos. No caso brasileiro, estão no Dossiê de Candidatura Rio 2016 (COMITÊ ORGANIZADOR RIO 2016, 2009). Este Dossiê é um documento que é assinado pelo Comitê de Candidatura Rio 2016, composto pelos Governos Federal, Estadual e Municipal, com uma notada centralidade no Comitê Olímpico Brasileiro (COB).

Este documento extenso é formado por três volumes. Neles, são encontradas uma grande quantidade de imagens de atletas em competição, paisagens turísticas da cidade do Rio de Janeiro, dados sobre diversos aspectos do país, como economia, dados censitários, etc. São ao todo 17 temas, sendo que, para esta pesquisa, o interesse se centrou no “Tema 1 – Visão Legado e Comunicação”, presente no primeiro volume (COMITÊ ORGANIZADOR RIO 2016, 200933).

Nesse Dossiê, encontramos um mapa conceitual que apresenta os quatro Clusters já abordados (Barra da Tijuca, Deodoro, Maracanã e Copacabana). Há um mapa indicando os voos diretos para do Rio de Janeiro e São Paulo oriundos das principais cidades do mundo, e o destaque está na apresentação de duas cartas endereçadas para o Presidente do COI da época, Dr. Jaques Rodgge.

33 Disponível em: http://memoriadasolimpiadas.rb.gov.br/jspui/handle/123456789/594. Acesso em: 15

As cartas são datadas de janeiro de 2009, e a primeira delas é assinada por João Havelange, já apresentado no texto, identificado como Membro Decano do COI, e Carlos Arthur Nuzman, nominado como Membro do COI. Destacamos a seguinte mensagem:

Podemos lhe garantir que a Candidatura Rio 2016 tem o apoio total dos três níveis de Governo e da sociedade brasileira. Participamos plenamente da preparação desta Candidatura e usamos toda a nossa experiência para assegurar que o Rio garanta não apenas a melhor experiência para os atletas e nossos amigos da Família Olímpica e Paraolímpica, mas também um legado sustentável para o esporte do nosso país, do nosso continente e do mundo. (COMITÊ ORGANIZADOR RIO 2016, 2009, v.1, p. 4).

A segunda carta é assinada por Luiz Inácio Lula da Silva, o então Presidente da República Federativa do Brasil; Sérgio Cabral, Governador do Estado do Rio de Janeiro da época; Eduardo Paes, então Prefeito da Cidade do Rio de Janeiro; e Carlos Arthur Nuzman, nominado agora como Presidente do Comitê Olímpico Brasileiro. Dessa mensagem, destacamos o seguinte trecho:

Estamos trabalhando dedicadamente para assegurar e desenvolver todos os elementos de planejamento dos Jogos, e esta candidatura tem nossa aprovação unânime e explícita. Nosso apoio abrange todos os aspectos do planejamento para a preparação e execução dos Jogos e, também, os legados pré e pós-Jogos que são de tanta importância. Estes legados reforçarão o tecido social e ambiental do Rio e do Brasil, além de desenvolverem o esporte por toda a América do Sul. Nosso compromisso é evitar qualquer risco em relação à realização dos Jogos e para tanto temos desenvolvido uma modelagem econômica robusta de seus investimentos, os quais irão beneficiar-se dos recursos de US$ 240 bilhões já aprovados pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do Governo Federal. Todos os investimentos servirão para gerar legados substanciais, tangíveis e significativos para a população do Rio e do Brasil e são alinhados com nossos planos de desenvolvimento a longo prazo.

[...] Estamos comprometidos com a construção de um legado dos Jogos junto ao COI e ao IPC que transcenda o Brasil e se estenda por todo o planeta. (COMITÊ ORGANIZADOR RIO 2016, 2009, v. 1, p. 6).

Buscando no Dossiê de Candidatura do Rio de Janeiro, encontramos, na página 24, uma descrição das pretensões apresentadas pela candidatura do Rio de Janeiro no que trata do legado para o esporte, que destacamos abaixo: