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3 REFLEXÃO HISTÓRICA DO SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL

3.5 LEGISLAÇÕES RELACIONADAS ÀS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA

Para proteger e amparar com dignidade os portadores de deficiência, o estado, por meio de Leis, vem ao encontro dessas pessoas. Macena (2009), explica todo o universo de barreiras imposta às pessoas com deficiência que pode ser derrubado por meio de leis específicas:

O acesso livre e total aos instrumentos que determinam o exercício da cidadania das pessoas portadoras de deficiência tem sido pauta de debates, seminários, projetos e leis, mas ainda distante de mudar a realidade do dia a dia destas pessoas. A busca de programas efetivos de eliminação de barreiras arquitetônicas promove o conceito do Desenho Universal, garantindo o acesso ao transporte, as vias, às edificações, mobiliários urbanos, uma mobilidade acessível, mais do que leis exigem vontade política traduzida em projetos, programas e, sobretudo na destinação de recursos para executá-los. Na área da mobilidade os portadores de deficiência também são vítimas da política de priorização do transporte individual, do domínio econômico e afastando do uso democrático e sustentável da cidade, milhões que ainda não tem o direito ao acesso a mobilidade com autonomia e segurança. Tudo isto ainda parece muito distante dos programas de governos e do horizonte dos gestores. Se políticas públicas ainda estão distantes, o preconceito é exercitado diariamente e eliminá-lo é um desafio do poder público, através de políticas públicas, mas também de toda a sociedade através de uma profunda mudança cultural.

É importante lembrar que deficiência e família caminham juntas, primeiro por ser a deficiência uma situação que gera um certo grau de dependência e segundo porque é neste cenário que as pessoas portadoras de deficiência desenvolvem e apreendem de forma primária sua caminhada em busca de autonomia. Segundo Mioto (2001, p. 12) a família tem como “tarefa primordial o cuidado e a proteção de seus membros, e se encontra dialeticamente articulado com a estrutura social na qual está inserido”.

Se a família cuida e protege dos seus, cabe ao Estado também, a obrigação de criar Leis e disponibilizar serviços para ajudar as famílias atender aqueles membros que necessitam, neste caso específico as pessoas com deficiência.

Para tal pode-se elencar um número considerável de Leis, Decretos e Emendas Constitucionais voltadas à inclusão das pessoas com deficiência.

Segundo Mazzilli (2005, apud Xavier; Oliveira, 2006) no ano de 1946, a Organização das Nações Unidas – ONU adotou uma Resolução dando o primeiro passo para um programa de consultoria em inúmeras áreas de bem-estar social, entre as quais a questão da reabilitação das pessoas com deficiência. Em 1971, as pessoas com retardo mental tiveram seus direitos declarados pela ONU. Em 1975, através da Resolução 30/3447, a Assembléia Geral editou a Declaração dos Direitos das Pessoas com Deficiência.

Vivarta (2003), explica que como contraponto à política de segregação, surgiu a política de integração, muito mais adaptativa ao meio social do que inclusiva para o deficiente. Fruto de insatisfações e inquietações na década de 1980 contra as limitações da pseudo-integração do deficiente a sociedade passa a ter uma postura inclusiva. Neste período organismos internacionais e o legislativo brasileiro normatizam princípios e leis, visando a inclusão das pessoas portadoras de deficiência em todos os segmentos da sociedade.

De acordo com Mazzilli (2005, apud Xavier; Oliveira, 2006), foi na década de 80 que a ONU, por meio da Resolução 31/123, no ano de 1981 proclamou o Ano Internacional das Pessoas Portadoras de Deficiência (International Year for Disabled Persons). A partir daí o problema da deficiência passou a ter efetiva atenção. Só no campo da deficiência física estima-se alcançar meio bilhão de pessoas em todo o mundo.

A Convenção da OIT - Organização Internacional do Trabalho, nº 159, de 1983, ratificada pelo Brasil através do Decreto Legislativo nº 51, de 28 de agosto de 1989, segundo Fonseca (2000 - grifo do autor), conceitua o portador de deficiência, no art. 11, da seguinte forma:

Para efeitos da presente Convenção, entende-se por 'pessoa deficiente' todo indivíduo cujas possibilidades de obter e conservar um emprego adequado e de progredir no mesmo fiquem substancialmente reduzidas devido a uma deficiência de caráter físico ou mental devidamente reconhecida.

O conceito estabelecido acima faz com que os países signatários assumam o compromisso de disponibilizar instrumentos para viabilizar o exercício das atividades profissionais aos necessitados.

Retomando Fonseca (2000), o autor acrescenta que, seguindo a mesma linha de raciocínio, o recente Decreto 3.298 conceitua os portadores de deficiência em seu artigo 3º,

define deficiência como "toda perda ou anormalidade de uma estrutura ou função

psicológica, fisiológica ou anatômica que gere incapacidade para o desempenho de atividade, dentro do padrão considerado normal para o ser humano".Incapacidade, por sua vez, é conceituada pelo inciso III como "uma redução efetiva e acentuada

da capacidade de integração social, com necessidade de equipamentos, adaptações, meios ou recursos especiais para que a pessoa portadora de deficiência possa receber ou transmitir informações necessárias ao seu bem-estar pessoal e ao desempenho de função ou atividade a ser exercida".

Conforme demonstra documento elaborado por Aloízio Mercadante (1988),

- “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se a inviolabilidade ao direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade. (art. 5°)”

O artigo quinto da Constituição refere-se à igualdade entre todos perante a Lei, portanto cabe a sociedade assimilar e praticar este princípio perante as pessoas portadoras de deficiência para que o estágio de cidadania possa ser alcançado.

- Proíbe qualquer discriminação no tocante a salário e critérios de admissão do trabalhador com deficiência (art. 7°. XXXI).

- Atribui a União, Estados, Distrito Federal e Municípios cuidarem da saúde e da assistência pública, da proteção e garantia das pessoas com deficiência (art. 23, II).

- Compete a União, aos Estados e ao Distrito Federal a elaboração de Leis que visem dar proteção e integração social das pessoas portadoras de deficiência (art. 24, XIV)

- Estabelece reserva de vagas dos cargos e empregos públicos para as pessoas portadoras de deficiência (art. 37, VIII).

- Garante assistência social para a habilitação e a reabilitação das pessoas com deficiência e a promoção de sua integração à vida comum (art. 203, IV).

- Garante um salário mínimo mensal à pessoa com deficiência, desde que comprove não ter como prover os meios de subsistência (art. 203, V).

- Garante atendimento educacional especializado aos deficientes, de preferência na rede regular de ensino (art. 208, III).

- Promove programas de prevenção e atendimento especializado para os portadores de deficiência física, sensorial ou mental (art. 227, § I°, II).

- Facilita a integração social do adolescente com deficiência, e a facilitação do acesso aos serviços coletivos, com a eliminação de preconceitos e obstáculos arquitetônicos (art. 227, § I°, II).

- Garante o acesso adequado às pessoas com deficiência nos logradouros, edifícios de uso público e de veículos de transporte coletivo (art. 227, § 2° e art. 244).

A partir do artigo sétimo da Constituição pode-se observar que realmente existe uma preocupação legítima por parte dos gestores brasileiros no sentido de amparar, cuidar e incluir os deficientes nos diversos segmentos da vida em sociedade, com relevantes normatizações legais como: proibição à discriminação no que se refere a salários e admissão em campo de trabalho; cuidados com a saúde e assistência; integração; vagas de empregos públicos; habilitação e reabilitação; garantia de um salário mínimo por mês para aqueles que não conseguem prover seu sustento; educação especial; prevenção; eliminação de obstáculos arquitetônicos e a garantia de acesso adequado aos serviços locais e transporte coletivo. Portanto é só colocar em prática o que a Lei determina e com certeza os deficientes e suas famílias desfrutarão de mais qualidade de vida.

Quanto ao direito ao trabalho, Monjardim e Oliveira (2008), afirmam que:

[...] no Brasil, uma Lei de 1991 começou a mudar essa relação entre o mundo do trabalho e a inclusão social e profissional dos portadores de deficiência. Foi promulgada a Lei nº 8.213, que estabelece que as empresas com mais de 100 empregados devem reservar uma cota de, pelo menos, 2% da quantidade de vagas disponíveis para profissionais portadores de alguma deficiência. Para empresas com até 500 funcionários, a cota sobe para 3%; com até mil, 4%; e, acima de mil, 5%. Para garantir o cumprimento da chamada Lei de Cotas, o Ministério do Trabalho e Emprego realiza intensa fiscalização nas empresas. Aquelas que não cumprem arriscam-se a pagar multas que variam de R$ 1.195,13 a R$ 119.512,33. O valor da multa é calculado segundo os critérios definidos pela Portaria nº 1.199, de 28 de outubro de 2003.

A supracitada Lei 8.213/91 proporciona ao beneficiário incapacitado parcial ou totalmente para o trabalho, e às pessoas com deficiência, os meios para a (re)adaptação profissional e social indicados para participar do mercado de trabalho e do contexto em que vive. Esta Lei traz o olhar da adaptação ou readaptação no campo profissional e no meio onde o deficiente vive.

Vale destacar ainda, outros instrumentos legais que estão a serviço dos portadores de deficiência, entre os quais pode-se destacar:

Lei 7.853/89, regulamentada pelo decreto 3.298/99.

- Apóia pessoas com deficiência, sua integração social, cria a Coordenadoria (Corde), que trata da defesa jurídica, da atuação do Ministério Público e define os crimes de violação de direitos.

A Lei acima citada traz o amparo legal das instâncias superiores na defesa dos direitos dos deficientes. É a estruturação do poder público na proteção aqueles que dele necessitam.

- Assegura a proteção integral à criança e ao adolescente, considerando o direito à vida, à saúde, à educação, à cultura, ao esporte e ao lazer.

- Estabelece as medidas sócio-educativas, a proteção judicial dos interesses individuais, difusos e coletivos.

O Estatuto da criança e do adolescente em momento algum prescreve que as pessoas amparadas por este instrumento legal exclua a criança e o adolescente deficiente. Eles têm o direito de estar igualmente amparados e usufruir dessa proteção integral e judicial de seus interesses. Segundo Takashima (apud Gerardi 2000, p. 31 - grifo da autora)

“[...] a infância deixou de ser uma categoria de preocupação circunscrita no

privado da família para tornar-se uma categoria social, de preocupação política. Assim, os cuidados com a infância não são da família, mas de responsabilidade da sociedade e do Estado (...) a infância deixou de ser apenas objeto dos cuidados maternos familiares e, hoje, tem que ser objeto dos deveres públicos do Estado e da sociedade como um todo”.

A Lei Orgânica da Assistência Social, 8.742/93, alterada pela Lei 9.720/98 regulamentada pelo decreto 1744/95, é mais um instrumento em favor da pessoa com deficiência:

- Organiza o Conselho Nacional de Assistência Social na definição de objetivos e princípios norteadores.

- Trata do benefício de prestação continuada devido à pessoa com deficiência e ao idoso.

É todo um segmento profissional, ou seja, o Serviço Social, em função de ser uma realidade próxima de sua intervenção, incluindo em sua estruturação legal necessidades das pessoas portadoras de deficiência.

Lei 8.899/94, regulamentado pelo decreto 3.691/00:

- Concede passe livre às pessoas com deficiência no sistema de transporte coletivo interestadual.

- Estabelece assento, acomodação e autorização aos deficientes desde que habilitadas.

Mesmo que por força de Lei, a iniciativa privada começa a integrar a cruzada visando a acessibilidade dos deficientes. É o privado contribuindo com o social e capitalizando ações de cidadania.

Lei 10.098/00

- Estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida.

Com esta Lei a deficiência é deixada de lado e os portadores passam a competir no mercado de trabalho, pois tem critérios definidos de acessibilidade.

Lei 10.048/85

- Torna obrigatório a colocação do Símbolo Internacional de Acesso em todos os locais e serviços que permitam sua utilização por pessoas com deficiência em locais que possibilitem o acesso, a circulação e a utilização por pessoas portadoras de deficiência.

Em uma sociedade que ainda é carente de princípios éticos e de respeito ao semelhante, faz-se necessário sinalizar vagas, por exemplo em supermercados, shopping, cinema entre outros locais para os deficientes. A vida proporcionou limitações, que o outro lhe ofereça oportunidades e facilidades, mesmo que seja por força da Lei.

Lei 9.045/95:

- Autoriza os Ministérios da Educação e Cultura a disciplinar a reprodução, pelas editoras, de obras em braille, de uso exclusivo das pessoas com deficiência visual.

A referida Lei disponibiliza aos deficientes visuais a oportunidade de acesso as obras literárias. É mais uma oportunidade de inclusão para os deficientes.

Lei 7.070/82, alterada pela Lei 8.686/93:

- Institui e reajusta a pensão especial às vítimas da Síndrome de Talidomina.

Por meio desta norma as instituições do presente estão resgatando uma dívida do passado, pois o referido anteconceptivo trouxe sequelas físicas à inúmeras pessoas. Época em que a ciência ainda carecia de um controle mais preciso e responsável, pois disponibilizou no mercado um produto causador de deficiências físicas.

Lei 10.754/03 e a Lei 10.182/01:

- Dispõe sobre a isenção do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) na compra de automóveis de uso de pessoas com deficiência física.

É o Governo fazendo a sua parte, proporcionando um desconto considerável para o acesso do deficiente aos veículos automotores.

Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), 9.394/96:

- Dá entendimento à educação especial a modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na rede regular de ensino para crianças com deficiência.

Lei 9.424/96, regulamentada pelo decreto 2.264/97:

- Dispõe sobre o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério para tratar da capacitação dos profissionais em educação em qualquer nível.

A lei de Diretrizes e Bases da Educação e a Lei 9.424 ambas de 1996 tratam da inclusão dos deficientes ao ensino público gratuito e também trata da capacitação profissional dos professores para lidar com a situação de deficiência.

Decreto 3.298/99:

- Regulamenta as normas gerais dos direitos da pessoa com deficiência e institui a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência.

- Consolida as normas de proteção visando o acesso ao trabalho e aos concursos públicos.

O deficiente enquanto sujeito no exercício de sua cidadania tem seus direitos reconhecidos, inclusive ao acesso aos concursos públicos.

Lei 9.867/99:

- Dispõe sobre a criação e o funcionamento de Cooperativas Sociais, visando à integração social dos cidadãos para inserção no mercado econômico, por meio do trabalho.

É o exercício da sociedade solidária em forma de cooperativas. Lei 8.212/91:

- Assegura aos beneficiários da Previdência Social os meios indispensáveis de manutenção, por motivo de incapacidade.

Lei 7.853/89:

- Trata do apoio e da inclusão social da pessoa com deficiência.

- Cria a Coordenadoria Nacional Para Integração da Pessoa portadora de Deficiência e define os crimes de violação dos direitos do segmento.

Garantias advindas da assistência social e criação instituição nacional para tratar dos crimes cometidos contra as pessoas deficientes.

Lei 9.656/89:

- Prevê a assistência em planos privados de saúde à pessoa com deficiência.

Os Planos de Saúde ocuparam um espaço na sociedade em função da ineficiência do Estado Liberal de atender as demandas pelos serviços de saúde. Vem ao longo do tempo ditando suas próprias regras, inclusive excluindo quem desejasse. A situação mudou, a Lei 9.656/89 é a prova dessa nova postura, com a inclusão das pessoas portadoras de deficiência.

Lei 8.112/90:

- Assegura à pessoa com deficiência a participação em concursos públicos a reserva até 20% das vagas oferecidas.

Os 20% mencionados nesta Lei representa o sistema de cotas vigente desde 1990. O deficiente sabe que estará em concursos concorrendo com pessoas de igual condição.

Lei 8.687/93:

- Prevê a isenção do Imposto de Renda dos benefícios recebidos por pessoas com deficiência mental.

Lei 8.199/91:

- Prevê a isenção do Imposto sobre Produtos Industrializados na compra de automóveis por pessoas com deficiência física.

Lei 8.383/91:

- Prevê a isenção de Imposto sobre Operações Financeiras no financiamento para compra de automóveis por pessoas com deficiência.

Decretos 18.955/97 e 22.401/01 e convênios 84 e 85/00:

- Prevê a isenção de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços na compra de automóveis por pessoas com deficiência.

A isenção de uma série de Impostos para o deficiente propicia que o mesmo invista os recursos disponíveis na melhoria de sua qualidade de vida. Como a deficiência está intimamente relacionada as famílias de baixa renda, os referidos descontos são mais uma forma de acesso dos deficientes a bens que talvez estivessem distantes das possibilidades financeiras das pessoas portadoras de deficiência.

Portaria 2.854, de 19 de julho e 2000, da Secretaria de Assistência Social:

- Atende a pessoa com deficiência promovendo a reabilitação na comunidade e garante o atendimento domiciliar.

O atendimento domiciliar é um conforto merecido em caso de necessidade, pois o deslocamento para o atendimento muitas vezes gera transtornos e custos.

Portaria 818/GM, em 05 de junho de 2001, do Ministério da Saúde:

- Normatiza o cadastramento dos serviços de reabilitação física, dos serviços de referência em medicina física e reabilitação e dos leitos de reabilitação em hospital geral e/ou especializado.

Amparo, proteção e serviços voltados à saúde física do deficiente na rede pública de hospitais.

A sociedade brasileira tem no papel, uma legislação abrangente e qualitativa voltada para as pessoas com deficiência. Além das famílias, os Conselhos Municipal e Estadual de Pessoas com Deficiência, tem o dever de viabilizar o acesso das pessoas portadoras de deficiência a todas as políticas públicas que os beneficiam. Uma longa trajetória foi transcorrida, desde os tempos em que os portadores de deficiência não eram olhados como

seres com sentimentos, e dignos de ter uma vida plena. Para uma sociedade, cuidar dos seus deficientes é uma questão de Direitos Humanos, de civilidade e acima de tudo, de dignidade.

Assim, após apresentar o referencial teórico utilizado, passamos as considerações finais deste estudo.