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3 REFLEXÃO HISTÓRICA DO SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL

3.3 REFLEXÃO SOBRE CONCEITOS DE FAMÍLIA: FAMÍLIAS COM FILHOS QUE

O presente estudo passará a abordar o assunto família. Célula social, cenário de vida e morte de culturas, sentimentos e relacionamentos, entre tantos outros aspectos da vida das pessoas. Berço de transformações causa e efeito de situações, mas acima de tudo, é no convívio familiar, que desde pequeno aprende-se que existe um caminho para se viver em sociedade.

Mioto (1997, p. 114) explica que a família constitui o objeto de intervenção dos assistentes sociais.

Segundo Carvalho; et al. (1998. p. 9) “A família reflete as mudanças que ocorrem na sociedade, mas também atua sobre ela. É isso que torna a família um centro importante da vida social.” A mesma autora esclarece que ao abordar o tema família, é importante ter claro que passa-se a pensar em vivências carregadas de significados afetivos e cognitivos recheados de representações, opiniões, juízos e expectativas que podem ser ou não atendidos. É rememorar a identidade e o espaço mais íntimo de existência e local de origem da história de vida das pessoas. É na família que nasce o afeto, a subjetividade, a sexualidade, a sociabilidade grupal e acontecem todas as fases da vida, que leva a construção da própria identidade. Todos de uma forma ou de outra, independente do tempo e do lugar, já viveram nesta esfera da vida social.

Szymanski (2002, p.09) define família como: “uma associação de pessoas que escolhe conviver por razões afetivas e assume um compromisso de cuidado mútuo e, se houver, com crianças, adolescentes e adultos.”

A Declaração Universal dos Direitos Humanos, documento assinado em Assembléia Geral das Nações Unidas, no ano de 1948, em seu Artigo XVI, item 3, reconhece que a família é “o núcleo natural e fundamental da sociedade e tem direito à proteção da sociedade e do Estado.” (NAÇÕES UNIDAS NO BRASIL, 2009)

Sendo assim, as famílias são constituídas por pessoas que se comprometem naturalmente a cuidar umas das outras, formando o núcleo das sociedades, o grupo social em que se inserem tem o dever de protegê-las.

De acordo com Ponciano e Féres-Carneiro, (2003, apud MILANI RODRIGUES e VICENTE, 2006), a cultura encontra na família seu agente condutor e a responsável pela consolidação das características culturais na personalidade do sujeito. Para essa transmissão e consolidação ocorrer, é preciso novas relações de infância e transformação no papel feminino. A partir do século XIX os papéis feminino e masculino não são mais os mesmos, portanto não se enquadram mais após as mudanças tecnológicas e industriais. Crianças passam a ser responsabilidade dos pais, a mulher deixa de apenas criar filhos, ser companheira do marido e dona de casa. O feminismo causou a “desordem” e a mulher passou ter sonhos e aspirações e a correr atrás.

Segundo Acosta e Vitale (2008, p. 12),

A forma que a família assume jamais é linear. Ela se desenha no seu tempo e espaço de vida. Ocorrem a todo o momento mudanças, processos de dissociação e associação, gerando novos arranjos e dinâmicas para responder a novas demandas de produção, trabalho, consumo, socialização, urbanização, etc.

De acordo com Mioto (1997), se for considerada a história do movimento crescente no âmbito familiar e as lutas para conseguir inserir-se no contexto social, encontra-se na verdade, uma grande batalha pela sobrevivência, no sentido de preservação do grupo. É o reconhecimento na verdade de ser na família o lugar da própria vida.

Acosta e Vitale (2008), corroboram quando ensinam que são inúmeras as alterações no desenho das famílias, resultado das demandas contemporâneas, como: a opção pelo casamento e maternidade em idade mais avançada, causando deslocamento dos estágios de reprodução da mulher; o crescimento de divórcios; uniões livres; famílias que contam com apenas um dos pais; menor número de filhos; a descaracterização das uniões apenas para procriação; ao concubinato; uniões livres e experimentais tendo hoje maior aceitação em relação ao passado; alteração dos papéis do homem e da mulher praticamente em todos os aspectos de suas vidas e principalmente em relação aos filhos, ao mercado de trabalho e a vida

societária. Os filhos passam a receber formação e socialização de terceiros, públicos ou privados.

Ainda de acordo com Acosta e Vitale (2008, p. 13)

Constituem-se como famílias outros grupos sociais diversos e alternativos, tais como as comunidades hippies, anarquistas, religiosas, místicas. Ou ainda, as famílias poligâmicas e de grupos de convívio, que diferem das tradicionais, como por exemplo, grupos de população de rua ou casais de homossexuais estruturados por meio de uniões livres ou civis, de acordo com a legislação de cada país.

Sarti (in Carvalho; et al., 1998), muitas mudanças vividas pelas famílias atualmente estão relacionadas a imensa perda do sentido da tradição, onde aspectos como amor, casamento, família, sexualidade e o trabalho, antigamente eram vividos de forma pré- estabelecidas. Na sociedade atual o conceito de individualidade impera e tem importância crescente neste contexto.

A mesma autora continua: As mudanças atuais encontram sentido na individualidade, pois aspectos vivenciados nas relações familiares como reciprocidade e hierarquia têm sido influenciados por esta nova postura social. A mulher é considerada a impulsora deste processo ao controlar a reprodução mudando sua situação na esfera privada e permitindo a participação na esfera pública. Com papéis pré-determinados, entendimento da cultura de individualidade, a sociedade tradicional não vivenciava conflitos que as sociedades modernas vivenciam, pois nestas existe o espaço social para a inserção em diferentes papéis. Nestas duas situações a vida familiar não perde seu valor social, apenas precisa encontrar meios de compatibilizar a individualidade e a reciprocidade nos dias atuais.

Ainda de acordo com Sarti (in CARVALHO; et al. 1998, p. 43):

As pessoas querem aprender, ao mesmo tempo, a serem sós e a ‘serem juntas’. Para isso, têm que enfrentar a questão de que, ao se abrir espaço para a individualidade, necessariamente se insinua uma ou outra concepção das relações familiares.

Esta questão da individualidade interfere na questão da hierarquia familiar, pois a família implica autoridade, aspecto este que as novas relações praticamente deixam de levar em consideração, alterando significativamente as relações entre pais e filhos e marido e mulher. São tempos de incontáveis alternativas que estruturam as relações e os novos contratos, mas é inegável que se por um lado são inovações emancipadoras por outro são também constrangedoras.

Segundo Engels (apud BILAC in CARVALHO 2002)

o termo “família” é derivado de famulus (escravo doméstico) e foi uma expressão inventada pelos romanos para designar um novo organismo social que surge entre as

tribos latinas, ao serem introduzidas à agricultura e à escravidão legal. Esse novo organismo caracterizava-se pela presença de um chefe que mantinha sob seu poder a mulher, os filhos e um certo número de escravos, com poder de vida e morte sobre todos eles “paterpotestas”.

De acordo com Mioto (1997), para que a intervenção do Serviço Social junto às famílias deixe de ser um artifício de controle social e se transforme em uma parceria que contribua para que as famílias conquistem seus direitos de cidadãos, são necessárias mudanças no padrão de assistência social desenvolvido.

Desse modo, segundo Takashima (1994, apud GERARDI 2000, p. 22 - grifo do autor),

...mais do que criar uma nova legislação, o que se deve fazer é melhorar substancialmente a posição das famílias na implementação da legislação social já existente. Promover a família nas políticas públicas significa, entre outras, enfatizar as ações a seu favor na implementação das Leis Orgânicas da Saúde e da Assistência Social, e no Estatuto da Criança e do Adolescente. [...] As milhares de famílias em condições de miserabilidade adquirem, cada vez mais, dimensões complexas e desumanas e constituem uma verdadeira violência social, onde os seres humanos não passam de números descartáveis ou considerados biodegradáveis. Segundo Portes; Portes e Orlowski (2001), apenas, pode-se considerar o contexto familiar como espaço de desenvolvimento e socialização quando é reconhecido que existem condições econômicas e sociais para tal. A prática profissional do Serviço Social deve ter a capacidade para realizar esta leitura ao se defrontar com a realidade familiar. As ações profissionais devem levar as famílias a fortalecer suas relações e resolver suas necessidades.

Para Carvalho (In CARVALHO et al. 1998), na sociedade atual, o foco dos projetos devem estar voltados para atender de forma flexível a todos os tipos de demandas sociais com a participação e o envolvimento dos segmentos de solidariedade comunitária, as pequenas ONGs prestadoras de serviços sociais, a família e o próprio beneficiário. As respostas, às necessidades sociais, dada pelas instituições oficiais têm sido ao longo do tempo, ineficazes. Daí a importância de envolver cada vez mais a comunidade e a família nos projetos e serviços públicos como a escola, a unidade básica de saúde, hospitais, abrigos entre outros. A família deve ser parceira e partícipe dos projetos que envolvem os serviços públicos sociais.

Diante do exposto, existem ainda aquelas famílias com filhos deficientes, que apresentam dificuldades no lidar do cotidiano familiar e social.

Numa perspectiva de inclusão social, há expressões da questão social que o Serviço Social trabalha, quanto às possibilidades e os limites, de forma que possa contribuir para novos desafios no amplo campo que vem conquistando, para atuação e intervenção com famílias.

Falar de limites e possibilidades de intervenção do Serviço Social, tem o sentido de buscar alternativas para os problemas que vem ocorrendo também com famílias e programas nos quais estão inseridas.

O Serviço Social vem ampliando atividades através de planejamento e execução de programas e projetos com famílias, objetivando o desenvolvimento da cidadania.

As famílias que apresentam indivíduos na sua organização com deficiência, em geral tem muita dificuldade de lidar com essa diferença, essa dificuldade, que se explicita em diversos tipos de atitudes sociais que vimos tendo ao longo da história.

Segundo Pequeno (2008, p. 65)

Os padrões de comportamento e de estética são acordados como normais e dominantes e relacionam-se aos valores culturais e morais vigente em toda a sociedade. Têm-se inúmeras pessoas que não se enquadram nesse padrão de normalidade, nesse padrão exigido socialmente. Assim, a anormalidade ou normalidade de um sujeito é definida a partir do modo como esse sujeito responde aos quesitos exigidos pela sociedade. Então é importante ficar claro que essa questão da diferença não é algo dado: é algo construído por nós. É nessa construção, nessa relação, que se constroem socialmente esses diferentes. E os diferentes acabam sendo rotulados. Na grande maioria das vezes recebem rótulos que são pejorativos. Os diferentes são rotulados como anormais, incapazes, defeituosos, deficientes, excepcionais. São termos que já trazem em si uma carga pejorativa, negativa, quanto às potencialidades que essa pessoa pode ter. Temos que ter claro que algumas das chamadas deficiências de fato produzem limitações. Quem é surdo é surdo, não ouve, isso é um dado. Agora, isso não quer dizer que ele não tenha outras capacidades, outras potencialidades. Em muitos momentos a ausência de alguma característica faz com que desenvolvamos outras habilidades. O cego não enxerga, no entanto os outros sentidos dele são muito mais aprimorados do que os nossos. Ao definir quem está fora das normas, a sociedade acaba definindo também que tipo de tratamento essas pessoas estarão recebendo.

Nas palavras de Buscáglia (2006, p. 24), podemos correlacionar à questão da aparência, cultura e rótulo.

Não há dúvida de que a aparência física influencia o comportamento, determinando, assim, em grande parte, a interação, a comunicação e os relacionamentos humanos. Além disso, as pessoas quase sempre relacionam as características físicas externas à natureza interior do indivíduo, à sua personalidade geral e à habilidade mental. Não é raro que se associe uma deficiência física como a paralisia cerebral, a cegueira ou a surdez, e até mesmo alguns problemas da fala, à inteligência inferior.

Após apresentar os principais aspectos relacionados com as famílias que apresentam em sua composição familiar pessoas deficientes, o próximo item volta-se para os tipos de deficiência que apresentam os indivíduos.