• Nenhum resultado encontrado

4 SOBRE AS IMPLICAÇÕES DA AVALIAÇÃO PARA A APRENDIZAGEM DOS

5.1 Levantar informações sobre o perfil e a prática dos docentes

Socializar informações entre os pares sobre o perfil e a “didática” dos docentes das disciplinas nas quais pretendem matricular-se é uma estratégia citada por 57,14 % dos sujeitos da pesquisa. É uma prática muito utilizada presencialmente e, de modo especial, via redes sociais, entre elas, WhatsApp e Facebook. Os estudantes costumam criar um grupo WhatsApp para cada disciplina como meio de facilitar comunicação e discussão das atividades acadêmicas. Além disso, criaram, também, um grupo fechado no Facebook10 composto

apenas por estudantes - veteranos, graduados e calouros -, e, neste, elaboraram um documento no qual listaram todos os docentes do Departamento de Matemática para serem avaliados.

“Matricula chegando... Hora de dar um up aqui neh? :)”. É, normalmente, com essa chamada no Facebook que, a cada início do semestre, os estudantes reeditam a lista de docentes e acrescentam mais informações sobre eles. Selecionamos algumas apreciações a título ilustrativo. Com relação ao trabalho da professora Jade nas disciplinas Iniciação à Matemática e Fundamentos de Álgebra, Citrino acentua: “Baita professora, já fiz duas matérias com ela e faria mais quantas fossem necessárias. Boa didática, provas super coerentes com o que dá em sala de aula e um extra de simpatia ímpar”.

Sardônio, ao explicitar sua opinião sobre a docente acima citada, afirma:

Uma das melhores professoras do departamento, na minha opinião. O nível das aulas é muito coerente com a ementa das disciplinas, ela é muito atenciosa, dentro e fora da sala de aula, distribui muitas listas de exercícios durante as aulas (que te ajudam muito na hora das provas, que aliás, são muito coerentes com a matéria dada). Recomendo fazer qualquer disciplina que ela der, principalmente se for da área de Álgebra.

Ao expressar seu ponto de vista sobre a prática do professor Opala na disciplina Álgebra Linear, Cianita diz: “Achei péssimas as aulas, não conseguia resolver seus próprios exemplos e não andava com a matéria, mas aula dada, cronograma corrido. As provas não são nada coerentes com o que ele dava em aula. Corro dele”.

10 Grupo composto por estudantes do Departamento de Matemática, ao qual solicitei integração e fui

prontamente atendida. Passei, assim, a ter acesso à informações diversas, em especial, diálogos a respeito das aulas, das avaliações e das apreciações coletivas referentes aos professores.

Ao declarar que fez algumas aulas com o professor que ministrou a disciplina de Análise Combinatória, Ametista emite sua opinião:

Minha experiência com ele não foi das melhores, ele tem tanta, mais tanta dificuldade em falar português que não tive nem um pingo de paciência de fazer Análise Combinatória com ele, e fora que também não entende o que o aluno pergunta, né?

Referindo-se ao docente que ministrou o curso de Geometria Plana e Desenho Geométrico, Sardônio comenta:

No começo tive medo pelos comentários que ouvi, mas me matriculei e fui na fé. As aulas são um pouco desorganizadas e difíceis de entender, as listas de exercícios são MUITO DIFÍCEIS e a prova é PIOR AINDA, mas garanto que não é impossível. Sempre 55, com teto 33, igual disseram acima, porém vi pessoas que fecharam a prova dele e não foi só uma. Distribui muitos pontos por raciocínio (é sério, se você montar o desenho já ganha 2 pontos, se começar a escrever certo já tem uns 5, isso numa questão que vale 11). Aceita perguntas a todo momento nas aulas e repete tudo pra você entender, se for preciso. Resolve as listas no quadro e até questões da prova, se você pedir. Aliás, as provas que fiz foram com consulta a livros e cadernos e ele sempre solta um modelo da prova umas aulas antes. Recomendo fazer matéria com ele quem tem disposição pra ir até o final estudando muito, senão melhor nem matricular.

Reiteramos que a estratégia de verificar qual professor irá ministrar a disciplina, buscar informações sobre a “didática” - aulas, provas, relação com os alunos etc. - antes de efetuar a matrícula é uma prática naturalizada entre os discentes, como mostra o comentário de Rodolita durante os debates na roda de conversa, cuja fala não foi contestada pelos participantes:

Não pegue tal professor! Se você pegar tal professor, faça muito exercício. Olha, tal professor ele é assim, ele não dá aula e as provas são fáceis. Olha, se você quer aprender tal disciplina, não faz com fulano. Essas dicas dos meus veteranos que, acho que até hoje eu recebo, eu procuro saber dicas de como é o professor, como é o tipo de avaliação dele, como que ele trabalha [...]. Aí o povo já fala, esse professor ele é meio nervoso, ele não dá tanta aula, foge dele. Eu fugia, literalmente, não fiz naquele semestre, fiz isso até hoje! Conversar com quem já passou, quem tem experiência. (Rodolita)

Há, ainda, aqueles estudantes que reconhecem que a estratégia de “correr” de determinados docentes ajuda o aluno na obtenção de aprovação nas disciplinas, contudo, isso não é suficiente. O mais importante, na opinião de alguns deles, é ter “disciplina e estudo”:

[...] foge de professor tal, pega professor tal e estudar sempre, porque isso não tem jeito, você pode pegar o professor mais bonzinho do departamento,

mas se não estudar, você não vai bem na matéria de forma nenhuma. Ter o mínimo de disciplina e estudo, isso aí é assim fundamental para passar em qualquer matéria. (Alexandrita)

[...] mas o que vale mais é sua disciplina, é você pegar o livro, sentar e estudar. [...] a minha opinião, pra, é, um aluno, um colega meu que quer ir bem no curso, que quer passar nas matérias, é dedicação e disciplina, né? Acho que tem que ter um estudo diário, estudar todo dia é importante! E outra coisa também, eu acho que não depende não só do professor dar aula, é sua disciplina. (Euclásio)

Os depoimentos citados comprovam que os discentes procuram matricular-se nas disciplinas de conteúdo específico dependendo do professor que irá ministrá-las, como aponta Ametista: “[...] se eu sei que ele está dando uma matéria, eu não faço a matéria com ele, eu não faço!”. E quando, ao contrário, o docente que irá ministrar a disciplina possui um perfil, no dizer dos alunos, “mais humano”, priorizam a oportunidade, fazendo até algum sacrifício:

[...] quando eu vi que seria a professora Jade, eu me matriculei mesmo sem poder, porque eu precisava fazer outras matérias, mas eu falei, eu vou fazer com ela, porque eu já tinha a experiência de fazer RP com ela, Resolução de Problema, e foi muito boa a matéria, muito boa!! É uma professora humana, eu posso dizer assim, dos poucos. (Rubelita)

Os relatos nos permitem inferir que os alunos evitam cursar disciplinas cujos professores estabelecem uma relação professor-aluno distante, vertical, ou seja, impõem a autoridade e o respeito profissional, nos termos de Bourdieu e Passeron (1982), como indicam os depoimentos a seguir:

É que eu já ouvi ele falar e eu acho um absurdo:

- Eu gosto de reduzir a minha turma em uma exponencial decrescente. É, parece que ele tem prazer de ver que a turma dele está tendo evasão. Porque os alunos não vai passar. Ele fala:

- Eu reduzo a minha turma em um exponencial decrescente. (Ametista) Euclásio: Que eu falei que a pessoa da ciência exata é arrogante, mas falando que essa arrogância toda é uma postura completamente inadequada!

Pesquisadora: Inadequada?

Euclásio: Inadequada! Inadequada! E isso afeta, com certeza, o aprendizado nosso! [...].

O que podemos observar, nas exposições dos licenciandos, em geral, é uma grande preocupação em conseguir média para aprovação nas disciplinas de conteúdo específico. Diante das dificuldades que enfrentam, os estudantes priorizam a obtenção de notas para aprovação, e, muitas vezes, essa preocupação nem sempre vem junto com a outra que é aprender. Contudo, é importante sublinhar que os depoimentos mostram que há uma

preocupação em matricular nas disciplinas em que podem conciliar aprendizagem com aprovação. Quando são obrigados a cursar com docentes que não prezam por estabelecer relações interpessoais horizontais, utilizam de variadas estratégias para, principalmente, alcançar média para aprovação ou evitar a reprovação, como veremos nas subseções seguintes.