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ADMINISTRATIVAS EM EMPREENDIMENTOS IMOBILIÁRIOS NAS MARGENS DOS RIOS URBANOS

3.3 Responsabilidade civil do Estado frente aos particulares que possuem imóveis nas áreas de preservação permanente, às margens dos rios urbanos

3.3.2 Proprietários de terrenos em áreas de preservação permanente, às margens dos rios urbanos que possuem licença para construção

3.2.2.2 Licenças emitidas em violação à norma e direito à indenização

Em função do respeito às normas postas, devido à má observância da legislação316 ou à

conveniência da Administração Pública escoltada pelo setor imobiliário317, existem no Brasil

inúmeras construções irregulares.

A Administração pública pode efetuar o cancelamento da licença318 nos casos em que

ela é expedida em flagrante dissonância com a ordem jurídica, quando subsidiada por falsa descrição de informações relevantes, ou, ainda, pela superveniência de graves riscos para o ambiente e a saúde, insusceptíveis de superação mediante a adoção de medidas de controle e adequação.

A concessão de licença que incorre em ilegalidade não importa em direito adquirido, sendo inarredável sua nulidade, respeitada a boa-fé de terceiro que tenha sido lesado diante do ato, subsistindo a este direito indenizatório.319

Diógenes Gasparini contribui ao afirmar que o ato de invalidação incide sobre um ato administrativo inválido, isto é, produzido sem a devida atenção ao ordenamento jurídico. O

314 FIGUEIREDO, Lúcia Valle. Discriminação constitucional das competências ambientais: aspectos pontuais do

regime jurídico das licenças ambientais. Revista de Direito Ambiental. São Paulo: Revista dos Tribunais, ano 9, n. 35, p. 54-55, jul./set. 2004.

315 Cassação é o nome vulgar dado à expressão da licença em virtude da legislação superveniente.

(FIGUEIREDO, Lúcia Valle. Revista de Direito Administrativo. vol. 145, p. 30, jul./set. 1981).

316 Art. 3º da LICC – Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece.

317 A especulação imobiliária deriva, em última análise da conjugação de dois movimentos convergentes: a

superposição de um sítio social ao sítio natural e a disputa entre atividades ou pessoas por dada localização. A especulação se alimenta dessa dinâmica, que inclui expectativas. Criam-se sítios sociais uma vez que o funcionamento da sociedade urbana transforma seletivamente os lugares, aperfeiçoando-se às suas exigências funcionais. É assim que certos pontos se tornam mais acessíveis, mais atrativos e, também, uns e outros, mais valorizados. (SANTOS, Milton. A urbanização brasileira. São Paulo: Hucitec, 1993, p. 96).

318 A licença para construir é um ato negocial e vinculado, que se constitui pela solicitação da parte com

atendimento de todas as exigências legais e regulamentares da Administração. Por isso, gera direito individual e subjetivo à construção licenciada, a qual só pode ser demolida ou impedida na sua execução após a desconstituição regular do ato gerador desse direito, que é o alvará. E essa desconstituição há de ser feita pelo caminho inverso, observado o devido processo legal, pois não é discricionária nem arbitrária, mas vinculada à existência e legitimidade dos motivos invocados para a invalidação da licença. (MEIRELLES, Hely Lopes.

Direito de construir. 9. ed. São Paulo: Malheiros, 2005, p. 220).

319 A matéria foi devidamente elucidada nos embargos declaratórios opostos ao agravo de instrumento de nº

objeto do ato de invalidação é, comumente, um ato administrativo ilegal e eficaz, de natureza abstrata ou concreta. Os efeitos do ato de invalidação alcançam o ato administrativo inválido no seu nascedouro, já que não há nulidade superveniente. São, portanto, retroativos e operam desde então, ou ex tunc. Restaura-se, em sua plenitude, a situação vigente anteriormente ao ato invalidado, resguardados unicamente os efeitos que atingiram terceiros de boa-fé.

A invalidação ou a anulação da licença320 não outorgam ao então beneficiário do ato

extinto qualquer direito à indenização, desde que ocorram antes de qualquer investimento ou realização de despesas”.321 Caso contrário, precisa ser mensurado o dano sofrido. Neste caso,

portanto, verifica-se que para aqueles proprietários que apenas possuem a licença para construção, mas que ainda não a realizaram, não enseja direito adquirido e tampouco à indenização, pois não ocorreu nenhum investimento para ser ressarcido.322

Aqueles proprietários que de posse da licença emitida em contrariedade à norma legal iniciaram a construção nas margens dos rios urbanos deverão ser ressarcidos dos prejuízos, pois sofrem diminuição no seu patrimônio, devido a um ato ilegal da Administração Pública, devendo respeitar-se a boa-fé do particular que tenha sido lesado diante do mesmo.323

Édis Milaré324 argumenta neste sentido:

mesmo suspensa ou cassada a licença, é importante assinalar, remanesce o direito do administrado de algum modo vinculado ao empreendimento: se não sob a forma de atividade efetiva, ao menos sob a forma de ressarcimento dos danos (materiais e morais) que vier a sofrer por perdas dos investimentos que antes foram legítima e legalmente autorizados.

A despeito de todas as considerações feitas, e somando ao status do meio ambiente ser um direito fundamental à sobrevivência do homem, bem como à circunstância de que a

320 O Ministro do Superior Tribunal Federal Carlos Medeiros Silva, em parecer, colocou opinião peculiar sobre a

licença para construir, afirmando que “a licença para construir é um ato administrativo, gera direitos e vincula a Administração que o emitiu assim como os destinatários. Não se pode revogá-la em face à mutação de interpretação; somente quando tenha havido infração da lei poderá revogar-se o ato de que resultou vantagem para o particular, sendo que os reflexos da alteração da jurisprudência administrativa não atingem os atos administrativo já praticados, tendo os adquirentes de boa-fé, confiado na licença e na sua inscrição no cadastro imobiliário, nem aqueles que a promoveram, agora vinculados a compromissos com terceiros, podem sofrer atentados aos seus direitos ou ficar à mercê de riscos da anulação ou modificação da licença”. (Parecer, Revista

de Direito Administrativo. Rio de Janeiro, Supremo Tribunal Federal, Ministro Carlos Medeiros Silva, vol.

109, jul./set. 1972, p. 269).

321 GASPARINI, Diógenes. Direito Administrativo. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 120.

322 No Recurso Especial 105.634 – PR, Min. Francisco Rezek, seguiu o entendimento dominante, ressalvando

sempre, porém, que inexiste direito adquirido se a obra não se iniciou, quando então a lei nova atingirá em cheio a situação jurídica pendente, obrigando o particular a ceder diante das novas exigências e vicissitudes impostas.

323 Tendo o empreendedor realizado investimentos, tais como a realização de obras, não pode mais a

Administração Pública revogar a licença concedida, desde que vigentes e respeitadas as condicionantes propostas, pois isto equivaleria não só a uma afronta ao direito adquirido, mas ao conteúdo do direito de propriedade. (BRAGA, Bernardes Rodrigo. Considerações sobre o direito adquirido em matéria ambiental.

Revista de Direito Ambiental. São Paulo: Revista dos Tribunais, ano 9, n. 35, jul/set. 2004, p. 90).

324 MILARÉ, Edis. Direito do ambiente: doutrina, jurisprudência, glossário. 4. ed. São Paulo: Revista dos

liberdade de empreender se condiciona à sua integral proteção, parece difícil para a Administração sustentar a aniquilação de um direito do administrado, privando-o da correspondente indenização.

3.3.3 Proprietários de edificações consolidadas em área de preservação permanente, às