• Nenhum resultado encontrado

ADMINISTRATIVAS EM EMPREENDIMENTOS IMOBILIÁRIOS NAS MARGENS DOS RIOS URBANOS

3.1 A responsabilidade civil do Estado

A palavra “responsabilidade” origina-se do latim respondere que encerra a idéia de segurança ou garantia da restituição ou compensação do bem sacrificado. Tem o significado de recomposição, obrigação de restituir ou ressarcir.240 Significa responder alguma coisa, ou

seja, a necessidade que existe de responsabilizar alguém por seus atos danosos; meio e modo de exteriorização da própria justiça.241

A doutrina não é uniforme quanto ao conceito de responsabilidade civil do Estado, variando no sentido de abrangência e especificidade.242 Por exemplo, para Hely Lopes

Meirelles,243 “a responsabilidade civil da administração é, pois, a que impõe à Fazenda

Pública a obrigação de compor o dano causado a terceiros por agentes públicos no

240 O interesse em restabelecer o equilíbrio violado pelo dano é a fonte geradora da responsabilidade civil. 241 STOCCO, Rui. Tratado de responsabilidade civil: responsabilidade civil e sua interpretação doutrinária e

jurisprudencial. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001, p. 89.

242 Grandes são as dificuldades que a doutrina tem enfrentado para conceituar a responsabilidade civil. Autores

existem que se baseiam, ao defini-la, na culpa. Por exemplo: Pirson e Villé conceituam a responsabilidade como a obrigação imposta pelas normas às pessoas no sentido de responder pelas conseqüências prejudiciais de suas ações; Sourdat a define como o dever de reparar dano decorrente de fato de que se é autor direto ou indireto; e Savatier a considera como a obrigação de alguém reparar dano causado a outrem por fato seu, ou pelo fato das pessoas ou coisas que dele dependam. (PIRSON e VILLÉ. Traité de la responsabilité civile extra-

contractuelle. Bruxelles, E. Bruylant, 1935, t. 1, p. 5. SOUDART. Traité de la responsabilité civile. 6. ed., t.

1, n. 1. SAVATIER, Traité de la responsabilité civile em droit français. 2. ed. LGDJ, 1951, v. 1, p. 1). Outros como Josserand, a vêem sob um aspecto mais amplo, não vislumbrando nela uma mera questão de culpabilidade, mas sim de repartição de prejuízo causados, equilíbrio de direitos e interesses, de sorte que a responsabilidade, na concepção moderna, comporta dois pólos: o objetivo, onde reina o risco criado, e o subjetivo, onde triunfa a culpa. (JOSSERAND. Évolutions et actualités. Paris: Siirey, 1936, p. 29 e 49).

desempenho de suas atribuições ou a pretexto de exercê-las. É distinta da responsabilidade contratual e da legal”.244

Observa-se que este conceito não prevê a possibilidade de responsabilização da Administração Pública em relação aos danos decorrentes de omissões. Nesse sentido, o conceito de Celso Antônio Bandeira de Mello é mais completo e abrangente, o qual é adotado também por Diógenes Gasparini245, Maria Sylvia Di Pietro246 e Odete Medauar247. Para os

referidos autores, “entende-se por responsabilidade patrimonial extracontratual do Estado a obrigação que o incumbe de reparar economicamente os danos lesivos à esfera juridicamente garantida de outrem e que lhe sejam imputáveis em decorrência de comportamentos unilaterais, lícitos ou ilícitos, comissivos ou omissivos, materiais ou jurídicos”.248

O fundamento da responsabilidade patrimonial do Estado é bipartido, pois pode ser decorrente de atos lícitos ou ilícitos.

Nos atos lícitos, o fundamento é o princípio da distribuição igualitária dos ônus e encargo a que estão sujeitos os administrados.249 Se é de interesse público, mas mesmo assim

vir a causar dano a alguém, toda a comunidade deve responder por ele, e isso se consegue através da indenização, pois todos concorrem, inclusive o prejudicado, já que este como os demais administrados pagam tributos. Tratando-se de atos ilícitos, o fundamento é a própria violação da legalidade, e o Estado, por ter praticado um ato ilícito do qual decorreu um dano, vê-se na contingência de ressarcir a vítima. O agente público autor do ato ilícito é obrigado a recompor, à custa do seu, o patrimônio público desfalcado, com o ressarcimento da vítima. Essa mesma responsabilidade não é impingida ao servidor autor do ato lícito.250

A obrigação de indenizar, que se imputa ao Estado, pode decorrer da Constituição Federal251 (art. 37, § 6º)252 ou da lei (artigo 43 do Código Civil, Lei n. 10.406, de

244 Neste mesmo sentido: CAHALI, Yussef Said. Responsabilidade civil do Estado. São Paulo: Malheiros,

1995, p. 10; BASTOS, Celso Ribeiro; MARTINS, Ives Gandra. Comentários à Constituição do Brasil. São Paulo: Saraiva, 1992, p. 168.

245 GASPARINI, Diógenes. Direito Administrativo. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 966. 246 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 8. ed. São Paulo: Atlas, 1996, p. 418.

247 MEDAUAR, Odete. Direito Administrativo Moderno. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1998, p.

386.

248 Todos os povos, todas as legislações, doutrina e jurisprudência universais, reconhecem, em consenso

pacífico, o dever estatal de ressarcir as vítimas de seus comportamentos danosos. (MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de direito administrativo. 20. ed. São Paulo: Malheiros, 2005, p. 937).

249 Decretou o STF – Revista de Direito Administrativo. Rio de Janeiro: Renovar, 190:194. 250 GASPARINI, Diógenes. Direito Administrativo. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 967.

251 Art. 37, §6º [...] As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços

públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.

252 Essa regra da Carta Magna é de eficácia imediata e não se volta para o passado, ou seja, é inaplicável a

10.01.2002)253 e seu modelo tem servido para as constituições estaduais254.

A responsabilidade civil do Estado, portanto, consiste no dever de indenizar as perdas e danos materiais e morais sofridos por terceiros em virtude de ação ou omissão antijurídica imputável ao Estado. Ou seja, o Estado tem o dever de pagar certa quantia em dinheiro, a título de indenização por perda e danos materiais ou morais, ao lesado que perdeu ou então deixou de ganhar, pela decorrência de ações ou omissões antijurídicas que tenha praticado. 255

O Estado é responsável, de forma objetiva, pelos danos que causa, isto é, sem a necessidade da vítima comprovar a existência de culpa ou dolo, bastando para tanto a demonstração do dano e do nexo causal entre este e a ação ou omissão estatal. Pensar de forma contrária seria retroagir no tempo e negar a significativa evolução do instituto em prol dos anseios de justiça social do Estado Democrático de Direito.