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CONSIDERAÇÕES FINAIS 293 REFERÊNCIAS

1 FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES PARA ATUAÇÃO NA EDUCAÇÃO BÁSICA: ALGUMAS PERSPECTIVAS A

1.3 Seleção, organização e tratamento dos conteúdos: Educação Básica e a Formação de Professores

1.4.1 Licenciaturas Interdisciplinares (LI’s)

O aumento da demanda da Educação Básica em relação ao núme- ro de vagas para professor acarretou em ações do governo federal, como a expansão do Ensino Superior público, por meio do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI), lançado em 2007 por meio do Decreto nº 6.096/2007 (BRA- SIL, 2007).

O REUNI visa à reestruturação e expansão das universidades fe- derais, objetivando “criar condições para a ampliação do acesso e per- manência na educação superior (por meio do), melhor aproveitamento da estrutura física e dos recursos humanos atualmente existentes” (BRASIL, 2007, Art. 1). Os novos cursos, criados a partir deste progra- ma, possuem, em sua maioria, caráter mais flexível e articulado às metas do programa.

Ao propor a racionalização de recursos, adotando a lógica de cus- to benefício, o REUNI atinge, além da gestão dos recursos, organização acadêmica das IES públicas. Os cursos neste viés são estimulados a organizar currículos menos rígidos e lineares, possibilitando diversas modalidades de aproveitamento de estudos, introdução do ensino a dis- tância e regras mais flexíveis para o ingresso de novos alunos, de modo a preencher vagas ociosas e evitar a evasão. Estes dois últimos são bas- tante mencionados no documento (BRASIL, 2007).

No sentido de contemplar a flexibilidade curricular, diversas uni- versidades têm buscado iniciativas, acarretando em uma expansão das Licenciaturas Interdisciplinares (LI‟s). Por exemplo, Sousa e Coimbra (2014) apresentam a proposta das LI‟s da Universidade Federal do Ma- ranhão (UFMA), na qual são ofertados os cursos de Licenciatura em Ciências Humanas (LCH), Licenciatura em Ciências Naturais (LCN) e Licenciatura em Linguagens e Códigos (LLC)11. Nestes cursos, o currí- culo se organiza a partir de uma matriz de competências desenvolvida por todos os professores das diferentes áreas do conhecimento, “onde os conteúdos atuam como meio e suporte para a constituição de competên- cias” (SOUSA; COIMBRA, 2014, p. 1455).

Tendo o foco na flexibilização curricular, o Projeto Pedagógico do Curso de Licenciatura Interdisciplinar em Ciências Humanas da UFMA, por exemplo, apresenta uma preocupação com a organização de tempo e espaço que possibilite articular teoria e metodologia, por meio de uma ampla diversificação de atividades.

Outro exemplo de Licenciatura com viés interdisciplinar é apre- sentado por Bierhalz, Araújo e Lima (2013). Segundo as autoras, o curso de Ciências da Natureza da Universidade Federal do Pampa (UNIPAM- PA), Campus Dom Pedrito, possui uma estrutura curricular orientada a partir de quatro eixos temáticos: Formação Pedagógica; Universo; Vida na Terra; e Tecnologias e Desenvolvimento Sustentável. Estes eixos temáticos “serão orientados por um eixo articulador que tem como obje- tivo principal a formação interdisciplinar no Ensino de Ciências da Na- tureza” (BIERHALZ; ARAÚJO; LIMA, 2013, p. 8). As autoras sinali- zam que são estes eixos temáticos que indicam questões problematiza- doras ou temas que orientarão as atividades dos docentes em cada se- mestre. Na Figura 1 que segue, as autoras apresentam o diagrama da Matriz Curricular Integrativa.

11 Os cursos de LCH e LCN são ofertados em seis campi da instituição, sendo a

Figura 1 – Diagrama da Matriz Curricular Integrativa do Curso de Ciências Naturais da UNIPAMPA – Campus Dom Pedrito.

Fonte: BIERHALZ; ARAÚJO; LIMA (2013, p. 9).

Bierhalz, Araújo e Lima (2013) argumentam que o eixo temático Universo se encontra em todos os componentes curriculares do Projeto Pedagógico de Curso (PPC), para que o licenciando entenda sua inser- ção na sociedade e no Universo em que vive biológica, física e quimi- camente. O eixo Vida na Terra estabelece analogias com o eixo Univer- so, “já que o entendimento do Universo faz com que o ser humano pro- cure relacionar as causas das transformações na Terra e quem as trans- forma” (BIERHALZ; ARAÚJO; LIMA, 2013, p. 9). Sobre o eixo temá- tico Tecnologias e Desenvolvimento Sustentável, as autoras destacam que ele “emerge como uma configuração de formar alunos capacitados para compreender e utilizar diferentes recursos tecnológicos e discutir as implicações éticas e ambientais da produção e utilização das tecnologias dentro da sala de aula ou no espaço onde vivem” (BIERHALZ; ARAÚ- JO; LIMA, 2013, p. 9). E por último, o eixo Formação Pedagógica é aquele em que se problematiza o ser professor de Ciências da Natureza.

Segundo Bierhalz, Araújo e Lima (2013), o eixo perpassa todos os ou- tros, fazendo as interconexões.

A estrutura dos cursos mencionados estabelece forte sintonia com os princípios dos PCN (BRASIL, 2000, 2002b, 2006), ao proporem um ensino por meio de competências, como no caso da UFMA, e por meio de eixos temáticos como o curso da UNIPAMPA. Contudo, neste últi- mo, apesar da busca por uma flexibilidade curricular, o fato de se pré- estabelecer um tema para cada semestre, conforme mostrado na Figura 1, pode prejudicar esta flexibilização, considerando que os docentes responsáveis pelos componentes ficam limitados quanto à escolha da temática. Ou seja, os docentes não podem (ou não poderiam) definir os temas em conjunto com seus estudantes daquele semestre. No entanto, ressalto que uma investigação mais detalhada quanto à prática docente neste curso seria necessária para maiores análises neste sentido.

É importante frisar que não existe ainda legislação específica que regulamenta os cursos de LI‟s. Uma portaria foi publicada no DOU em 06 de maio de 2013, pela Secretaria da Educação Superior, constituindo um Grupo de Trabalho das Licenciaturas Interdisciplinares e Similares, para que, em colaboração com as Instituições Federais de Ensino Supe- rior (IFES) e outros entes, produzam referenciais que subsidiem o marco regulatório deste tipo de curso.

Contudo, mesmo sem legislação específica, é indicado um au- mento significativo de cursos de LI‟s na área de Ciências da Natureza, (para a formação de professores nas áreas de Biologia, Física e Química) (BIERHALZ; ARAÚJO; LIMA, 2013). As autoras sinalizam que este aumento é atribuído à falta de professores formados nestas áreas para atender a demanda da Educação Básica.

Outro aspecto que merece destaque é a preocupação com a articu- lação entre teoria e prática presente nas LI‟s, assim como em outros cursos de licenciatura, decorrentes, possivelmente, da legislação para a formação de professores que recomenda a Prática como Componente Curricular (PCC), aspecto discutido no tópico a seguir.