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Limitações dos estudos anteriores e orientações futuras

Os estudos resumidos anteriormente têm muitas limitações. As mesmas crí- ticas que se dirigem ao estudo de Kolhberg (Bègue, 1998) são também rele- vantes para o de Enright. A crítica principal feita por muitos autores (Lickona, 1991) aponta para os dilemas morais introduzidos por Kolhberg e adoptados

por Enright serem extremamente abstractos. As crianças são raramente con- frontadas com algo parecido com o dilema de Heinz, nem provavelmente o compreenderiam (Walker, Pitts, Henning e Matsuba, 1995; Wygant, 1997). Além de que as crianças com menos de 12 anos de idade, não poderem ser bem estudadas através do método da entrevista. Observe todavia que utilizan- do um dilema da vida real, Park e Enright (1997) obtiveram, em adolescentes, um padrão de resultados semelhantes ao obtido no estudo de Enright, Santos e Al-Mabuk (1989).

As críticas ao estudo de Kolhberg também se relacionam com o facto de a sua técnica da entrevista ser eficaz para estudar o raciocínio baseado em prin- cípios, mas não para estudar o pensamento e comportamento quotidianos (Bur- ton, 1984). Com esta técnica, que consiste em obter a verbalização das atitu- des e a justificação das proposições de acção, permanece a dificuldade em distinguir entre desenvolvimento moral (perdão) e o mero desenvolvimento lin- guístico. Finalmente, no que respeita a outra crítica frequente ao modelo de Kolhberg, a personagem central da sua teoria, Enright assume uma postura moderada (Enright, Gassin e Wu, 1992, p.106). Nos seus últimos escritos, En- right apresentou cada um dos seis níveis propostos (ver Quadro 1) como estilos de perdão distintos (ou estádios flexíveis), e assumiu que cada estilo era possi- velmente mais ou menos encontrado com frequência em cada nível etário.

A principal crítica ao estudo de Girard e Mullet é a de apenas ter sido estudado apenas um tipo de cenário: a secção do cenário principal. Um dos méritos deste cenário é o seu carácter da vida real, mas seria igualmente pru- dente reunir informação relacionada com outras situações da vida quotidiana, particularmente situações altamente emocionais, como a separação, o divór- cio e a agressão física. Seria também interessante estudar a possibilidade de generalização através das situações. Os membros do agrupamento Perdoar

Sempre na situação de um problema de trabalho seriam também membros de

um agrupamento idêntico numa situação diferente – uma situação tipo amor- romântico? Os numerosos agrupamentos encontrados obteriam muito mais al- cance se pudessem ser generalizados a outras situações.

Outra crítica é que todos os estudos empíricos existentes são transversais e não tanto longitudinais, e são deste modo confundidos o problema de coorte e de idade. Há uma necessidade de investigação sobre o desenvolvimento lon- gitudinal no futuro.

Apesar das muitas limitações, os estudos analisados acima divulgaram um número de resultados interessantes. Em primeiro, a propensão para per- doar tem um carácter desenvolvimental, e este desenvolvimento estende-se ao longo de toda a vida. Os adultos são mais propensos a perdoar que os ado-

lescentes, e os idosos são mais propensos a perdoar que os adultos. Além dis- so, uma proporção substancial de pessoas idosas são mais propensas a per- doar independentemente das circunstâncias. Em segundo lugar, o desenvolvi- mento do perdão parece seguir as mesmas vias nos Estados Unidos e nos países asiáticos. Em terceiro lugar, a propensão para perdoar aparece forte- mente influenciada pela presença das desculpas e da confissão pública – fac- tores susceptíveis de serem modificados – e pelo cancelamento das consequên- cias. Ambos os factores estão em acção ao longo de toda a vida, com poucas excepções.

Referências

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