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Limites e possibilidades na gestão da política de assistência estudantil

Ao iniciarmos a entrevista com as diretoras de gestão orçamentária e com a diretora de assuntos estudantis do IFCE, campus Fortaleza, perguntamos quanto o Ministério da Educação (MEC) destina à assistência estudantil do IFCE, campus Fortaleza, e se, porventura, havia uma contribuição da própria instituição para a referida assistência.

Olha, o MEC destina um valor baseado no número de alunos matriculados, certo e o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) de cada município. Se esse valor definido pelo MEC, ao longo do ano, não for suficiente para atender, certo, às assistências sociais de cada campus, a gente pode estar complementando com a arrecadação da instituição, certo? Porque a assistência que vem, o recurso que vem do MEC, ele vem na fonte de recurso 100. E nós vamos poder estar, né, complementando com a arrecadação, que é na fonte 250 (Diretora de Gestão Orçamentária).

O orçamento autorizado em 2014, que é o que a gente tá executando agora, atualmente, a gente tem R$ 16 milhões, 465 mil e 562 reais destinados a esta ação. Se a instituição contribui com a assistência, mediante recurso próprio, no meu conhecimento, a gente trabalha especificamente com o que já vem carimbado nessa Ação 2994, que é a Assistência ao Educando. No meu conhecimento, a gente trabalha exclusivamente com ela. É uma ação (Ação 2994) que visa a contribuir com a questão da merenda escolar, então, ela já especifica que tipo de apoio pode ser dado ao estudante, em termos de recurso financeiro, então, ela especifica, né, pra merenda escolar e outras atividades necessárias ao apoio ao estudante (Diretora de Assuntos Estudantis).

A fonte, segundo a diretora de gestão orçamentária, é uma codificação feita pelo MEC para identificar cada ação orçamentária do governo. Sendo assim, a fonte 100 é uma ação do orçamento, do MEC, destinada à assistência estudantil.

A Ação 2994 (Assistência ao Educando da Educação Profissional e Tecnológica), segundo o Ministério do Planejamento, no documento sobre as Ações Orçamentárias Integrantes da Lei Orçamentária para 2013, é o

fornecimento de alimentação, atendimento médico-odontológico, alojamento e transporte, dentre outras iniciativas típicas de assistência social ao educando, cuja concessão seja pertinente sob o aspecto legal e contribua para o bom desempenho do aluno na escola. Suprir as necessidades básicas do educando, proporcionando condições para sua permanência e melhor desempenho escolar (2013, p. 4).

Enfim, é dessa ação que vêm os recursos destinados exclusivamente àqueles serviços que atendam o aluno dentro da instituição de educação profissional e tecnológica.

Segundo dados disponibilizados pela diretoria de gestão orçamentária do IFCE, no ano de 2014, a Ação 2994 autorizou, ao IFCE, campus Fortaleza, um orçamento de R$

4.042.014,00 para assistência estudantil. No ano anterior, foram disponibilizados R$ 3.051.125,00. Já em 2012, o investimento na assistência ao discente foi de R$ 3.114.653,00, havendo um aumento, em 2014, nos valores fornecidos ao IFCE, campus Fortaleza.

Ressaltamos que esse recurso não é destinado apenas aos auxílios da assistência estudantil, mas também à merenda escolar, que é distribuída aos alunos três vezes por dia, bem como às bolsas de trabalho destinadas aos alunos, que hoje são chamadas de Bolsa Formação.

Perguntamos ainda às entrevistadas se a inexistência de uma rubrica específica para a assistência estudantil atrapalharia a definição de recursos para tal política.

Olha, aqui, no instituto, não. Nós não temos, assim, essa questão de uma rubrica específica, isso não existe. Nós temos, no orçamento da instituição, um valor específico, uma ação orçamentária específica pra assistência, certo, e, dentro dessa ação orçamentária, temos rubricas que são chamadas de natureza de despesa. Natureza de despesa voltada especificamente pra assistência estudantil que é material de distribuição gratuita e auxílio ao estudante (Diretora de Gestão Orçamentária).

Bom, a rubrica, como eu disse, é geral, [...] é rateada em função do número de alunos de cada campus e distribuída pra cada campus. Cada campus tem autonomia para decidir qual o tipo de auxílio, qual a destinação específica pro seu campus, né? Então, assim, em linhas gerais, a gente dá essa autonomia aos campi e [...] você pode encontrar realidades diferentes em termos de oferta desse auxílio, desse orçamento [...] conforme os auxílios previstos no nosso regulamento (Diretora de Assuntos Estudantis).

Realizamos essa pergunta devido às autoras Cislaghi e Silva (2011) afirmarem que o PNAES não possuía uma rubrica específica no orçamento para o Plano de Assistência Estudantil. Porém, mediante a entrevista realizada com as diretoras, soubemos que existe um recurso voltado para a assistência estudantil, que seria fornecido mediante a Ação 2994, mas que não é estipulado um valor definido para a referida assistência, já que tal valor pode aumentar ou diminuir a cada ano.

Em 2012, essa ação é vinculada ao Programa 2031 – Educação Profissional e Tecnológica, em documento da Pró-Reitoria de Administração do IFRN, de 2012, que se define pela “construção, modernização, ampliação e reforma de imóveis; aquisição e locação de imóveis, veículos, máquinas, equipamentos, mobiliários, laboratórios para as Instituições Federais de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, com vistas a expandir a oferta de vagas”.

Sobre o material de distribuição gratuita citado pela diretora de gestão orçamentária, esta expôs que ele possui uma codificação específica e, com ele, o IFCE pode comprar

gêneros alimentícios, remédio, ofertar o auxílio-óculos, e que isso não gerou nenhum impacto para o desenvolvimento da assistência estudantil, pelo contrário: com o uso da criatividade em relação ao orçamento, sobre o que poderia ser feito, dentro da legalidade, era possível atender as necessidades do aluno.

Indagamos, ainda, como o IFCE lida com os alunos que não são atendidos pela assistência estudantil e o que propõe para sanar tal situação.

Eu acho assim: a demanda sempre é bem maior do que o orçamento. O orçamento é um fator limitador, certo, mas nós temos buscado sempre atender todos aqueles auxílios que [...] passam por uma avaliação da assistente social, que identifica, realmente, se há aquela necessidade. E o que a gente precisa ter em mente é que a assistência estudantil para os alunos da educação profissional, ele tem a finalidade de quê? De atender as necessidades básicas para que o aluno venha à escola, né? (Diretora de Gestão Orçamentária)

No âmbito da Diretoria de Assuntos Estudantis, não temos, ainda, o conhecimento de relatório, vindo dos campi, apontando essa demanda dos alunos que não pode ser atendida, né? [...] A gente tem conhecimento de depoimentos, em reuniões, em algumas situações ocorre isso, mas, assim, formalmente, a gente não tem, ainda, um dimensionamento de quanto é essa demanda [...] e o que o instituto faz em relação a isso quando ela é escrita em documento do campus para Reitoria (Diretora de Assuntos Estudantis).

A assistência estudantil do IFCE, campus Fortaleza, mantém a obrigação de fornecer aqueles auxílios que são elementares para a permanência do aluno na instituição. Então, para a diretora de gestão orçamentária, a escassez de recursos faz com que a instituição acabe priorizando aqueles auxílios que são os que garantem a vinda e a permanência dela no IFCE – neste caso, os auxílios óculos, transporte e alimentação. Caso o aluno tenha outras carências que ultrapassem o que a assistência estudantil pode ofertar, como, por exemplo, necessidade de um tratamento médico mais sério, isso não é responsabilidade da instituição, segundo a supracitada diretora.

A diretora de assuntos estudantis não sabe, ao certo, o que ocorre com aqueles alunos que não puderam ser atendidos pelos auxílios. Todavia, é imprescindível que, de fato, a gestão da assistência estudantil do IFCE tome conhecimento da situação daqueles alunos que não são contemplados pela assistência estudantil, procurando outras medidas que façam com que essa assistência alcance-os.

A diretora de assuntos estudantis nos relatou, ainda, a intenção de realizar estudos e pesquisas para delinear a real situação de cada campus, inclusive Fortaleza, no que concerne à assistência estudantil, com o intuito de identificar a maneira como está sendo usado o recurso

da assistência estudantil, bem como moldar a assistência estudantil de acordo com as reais necessidades dos discentes.

Para tanto, segundo a diretora de assuntos estudantis, foi formada uma comissão formada por odontólogo, assistente social, pedagogo, nutricionista, psicólogo, assistente de aluno, dentre outros profissionais, para construírem a própria política de assistência estudantil mediante o compartilhamento de experiências junto à assistência estudantil nos campi, focando no trabalho multidisciplinar.

Perguntamos se, com a implementação do PNAES, houve um aumento nos gastos com a assistência estudantil.

Com o decreto do PNAES, ficou mais claro quais os tipos de auxílios que poderiam ser concedidos ao aluno. O decreto, ele veio normatizar mais a assistência, né? E, com esse decreto, o instituto fez a Resolução 23, onde a gente definiu quais seriam os auxílios que seriam concedidos pela instituição. Então, quando isso ficou legalmente claro, claro que houve a demanda. Some-se a isso a um crescimento, certo, da assistência estudantil. De 2010 para cá, com a aplicação do decreto, isso gerou, para o governo, um compromisso maior para o atendimento da assistência, né? Porque antes não tinha claro isso, a gente, a instituição, abdicava do seu orçamento, funcionamento, para atender o aluno. Quando ele passou a ser regulamentado, então, já veio um orçamento (Diretora de Gestão Orçamentária). Bom, pelo o que mostra [...] os formulários que a gente tem, houve um crescimento, até porque essa distribuição é feita em relação ao número de alunos, e o campus Fortaleza, né, um campus que vem crescendo com o seu número de alunos, e implica, em aumento, no ano seguinte, desse orçamento. Então, assim, ocorreu em todos os campi (Diretora de Assuntos Estudantis).

De fato, houve um crescimento nos gastos referentes à assistência do estudantil do IFCE, campus Fortaleza. Como já mencionado anteriormente, os documentos disponibilizados pelo Departamento de Planejamento, Orçamento e Gestão (DPOG) do IFCE, campus Fortaleza, revelam um aumento significativo nos gastos para com a assistência estudantil.

Em 2010, ano de implementação do PNAES, foram gastos R$ 990.952,88, sendo R$ 972.989,32 gastos com auxílios financeiros a estudantes e R$ 17.963,56 com merenda. Já em 2011, os valores foram maiores que o ano anterior, pois foram gastos R$ 1.942.146,63, sendo R$ 1.890.575,67 com auxílio financeiro a estudantes e R$ 51.570,96 com merenda escolar.

Em 2012, foram gastos um total de R$ 2.509.234,43, sendo R$ 2.461.543,63 com auxílio financeiro a estudantes, R$ 7.520,80 com merenda escolar, R$ 31.320,00 com monitoria e R$ 8.850,00 com material de consumo.

Em 2013, foram gastos R$ 3.096.611,98 com a assistência estudantil; desse total, foram gastos R$ 3.006.670,45 com auxílio financeiro a estudantes; R$ 48.914,53 com merenda escolar e R$ 41.027,00 para monitoria.

Em 2014, foram gastos R$ 3.158.750,22, sendo R$ 3.018.739,03 voltados para auxílio financeiro a estudantes, R$ 12.533,67 para merenda escolar, R$ 122.021,52 para monitoria e R$ 5.456,00 para material de consumo.

Quadro 1 – Gastos do IFCE com assistência estudantil

Perguntamos se achavam que os valores são suficientes para atender às necessidades do aluno.

Depende, né? Depende da necessidade do aluno. Eu acho que nós já tivemos um crescimento bem significativo, desde que definido o auxílio baseado no IDH de cada município e o número de alunos. Claro que, pra isso, esse recurso subir, aumentar, nós temos que captar alunos para nossa instituição, né? [...] O auxílio-transporte, esse, é tranquilo. O óculos, o auxílio-óculos, é uma ajuda. [...] Então, [...] em algumas situações, ele é bem suficiente. Em outras, aí vai depender da condição do aluno, né? Eu acho que já teve um crescimento, quando a gente definia baseado no salário-mínimo o valor do auxílio e, agora, nós fazemos pelo valor per capita, né? (Diretora de Gestão Orçamentária)

No momento, a gente não tem, concretamente, identificadas essas necessidades pra que a gente possa fazer essa avaliação se ele atende plenamente ou não, né? Então, a nossa ideia, exatamente, a gente tem, a partir, como eu falei anteriormente, da fala de assistentes sociais em alguns encontros que a gente tem, nós realizamos dois encontros a cada ano, com as diretorias e coordenadorias de assuntos estudantis, onde participam todos os profissionais, são convidados psicólogos, assistente social, pessoal da área de saúde, e lá, assim, esporadicamente, é relatada essa insuficiência dos recursos pra atender essas demandas, né? Mas a gente não tem, efetivamente, essa análise pra eu te dizer, nesse momento, se ele é suficiente ou insuficiente. (Diretora de Assuntos Estudantis)

O artigo 20 do atual Regulamento da Assistência Estudantil do IFCE, aprovado pela Resolução nº 008, de 10 de março de 2014, tem como base o valor per capita do discente do IFCE, bem como o percentual de cada auxílio. Para a diretora de gestão orçamentária, essa mudança foi positiva, pois permitiu haver um aumento nos valores dos auxílios.

2010 2011 2012 2013 2014 R$ 972.989,32 R$ 1.890.575,67 R$ 2.461.543,63 R$ 3.006.670,45 R$ 3.018.739,03 R$ 17.963,56 R$ 51.570,96 R$ 7.520,80 R$ 48.914,53 R$ 12.533,67 - - R$ 31.320,00 R$ 41.027,00 R$ 122.021,52 - - R$ 8.850,00 - R$ 5.456,00 R$ 990.952,88 R$ 1.942.146,63 R$ 2.509.234,43 R$ 3.096.611,98 R$ 3.158.750,22 INSTITUTO FEDERAL DO CEARÁ - IFCE - CAMPUS FORTALEZA

Fonte: Sistema de Administração Financeira do Governo Federal (SIAFI, 2015) Valores Pagos

TOTAIS

AUXÍLIO FINANCEIRO A ESTUDANTES NATUREZA DA DESPESA MERENDA ESCOLAR

MONITORIA

Para o cálculo do valor de cada auxílio, serão considerados o valor per capita do discente do IFCE e o percentual correspondente a cada auxílio. Parágrafo único: O valor per capita a ser calculado anualmente será obtido pela divisão entre o total do orçamento da assistência ao educando e o número de alunos assistidos pelo IFCE, no ano em vigor.

Na última pergunta, indagamos como o IFCE, campus Fortaleza, define os valores dos auxílios ofertados aos alunos.

Anteriormente, de 2011, quando saiu a Resolução nº 23, até 2014, agora, que saiu a outra Resolução nº 08, era baseado no salário-mínimo, né? Então, era um percentual do salário-mínimo para cada assistência, pra cada tipo de auxílio, com exceção da merenda escolar, porque a merenda era comprar o gênero e fabricar as porções, elaborar as porções. E agora, em 2014, com essa nova resolução, ela passou a ser calculada de forma per capita. Como é que é essa fórmula? É o valor, do montante geral, destinado à assistência, naquele exercício, dividido pelo número de alunos matriculados, independente se o aluno recebeu um auxílio específico. Se considera todos como alunos atendidos por causa do acesso à merenda escolar (Diretora de Gestão Orçamentária).

Em cima do montante definido pelo MEC, né, como falei anteriormente, nós rateamos aos campi considerando o seu número de alunos. Também alguns indicadores, alguns índices de vulnerabilidade dos habitantes daquela região, não é? Então, a gente considera alguns índices, por exemplo, o próprio IDH é considerado para verificar a situação mesmo dessa região, do contexto onde ela se insere. Então, [...] não somente a questão do número de alunos (do IFCE), mas essa ponderação também é realizada, é considerada (Diretora de Assuntos Estudantis).

Como já falado anteriormente, os valores, além de levarem em conta o Índice de Desenvolvimento Humano e a vulnerabilidade em que se encontram os alunos na região onde vivem, segundo a diretora de assuntos estudantis do IFCE, o novo Regulamento de Assistência Estudantil traz uma nova forma de se delimitar os valores dos auxílios, que passam a ser baseados de forma per capita, como explicado pela diretora de gestão orçamentária.

Essa nova maneira de estabelecer os valores dos auxílios da assistência estudantil foi um ganho para os alunos da instituição, de acordo com a aluna do movimento estudantil do IFCE, campus Fortaleza, já que aqueles se encontravam defasados já há um certo tempo. Todavia, ainda haveria necessidade de serem revistos, pois, segundo Tibério, também outro integrante do movimento estudantil que foi entrevistado, alguns alunos, devido receberem apenas um auxílio (o auxílio-alimentação, por exemplo) e por seu valor ser irrisório, acabam deixando de almoçar para pagar o transporte. Caso não façam assim, esses alunos não conseguem se deslocar de suas casas até a instituição.