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A organização política dos discentes frente às problemáticas da assistência estudantil

Na entrevista que realizamos com os três alunos que pertencem ao movimento estudantil do IFCE, campus Fortaleza, perguntamos se tal movimento procurou saber o porquê dos atrasos do pagamento dos auxílios da assistência estudantil.

A gente procurou, a gente conversou com os estudantes, né, passamos em sala, conversamos e perguntamos, também, por quais as dificuldades que eles estavam passando devido a esses atrasos, né? Porque, assim, estudante, aqui, no IFCE, hoje, por dia, ele gasta, em média, de 10 reais por dia, né? Pra pagar almoço, tem gente que vem de Maracanaú, e a assistência, ela serve basicamente pra isso, não supre, geralmente, toda essa demanda, né? [...] Aí, hoje é... hoje, a assistência estudantil ajuda, mas não supre todas as necessidades do estudante (Tibério, 17 anos).

Sim, houve uma reunião [...] com algumas pessoas do DCE, juntamente com o pessoal do Serviço Social pra ter esclarecimento, e eu participei também. É, foi proveitoso, até porque, assim, por exemplo, eu estudo aqui há dez anos, [...], mas, assim, nunca vi, nunca tinha visto um diálogo aberto, tanto que foi um diálogo que não foi uma coisa totalmente fechada, não foi uma coisa fechada no sentido de burocratizar, tipo, num espaço, num território, não, foi divulgado, né, e no pátio mesmo, foi bem resolvido, às claras, entendeu? Foi bem tranquilo (Leandro, 25 anos).

Desde o primeiro momento, né, que a gente soube que os auxílios estavam atrasados, nesse primeiro mês, porque, teoricamente, o auxílio sempre sai, principalmente, no começo do ano [...]. Mas esse semestre, especificamente, atrasou bastante, a gente foi várias vezes ao Serviço Social, conversou com a Coordenação de Assuntos Estudantis, né, que é a CAE, e ninguém sabia explicar por quê. Diziam que o problema era no repasse do governo federal, mas essa discussão não avançava, não sabia exatamente quando esse repasse seria feito, né, então, desde o início, a gente sabia, tinha essas informações que tava atrasado (Daniele, 20 anos).

O movimento estudantil do IFCE, campus Fortaleza, procura se manter informado para atender às indagações dos alunos sobre os problemas referentes à assistência estudantil. O diálogo com o Serviço Social, que é o setor que está na “ponta”, atendendo aos alunos, é aberto, mas as informações que chegam a eles são limitadas, incertas, devido o problema de não ter sido relatado de forma correta, ao Serviço Social, o que realmente estava acontecendo em relação ao atraso dos auxílios.

Mediante conversa com uma das diretoras ligadas à assistência estudantil, soubemos que o problema não era devido ao atraso em si do dinheiro, mas sim à mudança que ocorrera nas datas de repasse de verba do governo para o IFCE.

A segunda pergunta foi referente à pressão que o movimento estudantil vem fazendo sobre assistência estudantil.

A gente tem uma relação bem (com o Serviço Social), geralmente amigável, né, a gente tenta dialogar com ambas as partes, mas, a partir do momento que os estudantes entram com essa problemática, a gente tenta o máximo possível dialogar, né? Não, vamo fazer uma nota, buscar o Serviço Social para pegar dados, construir essa nota pra passar pros estudantes. A partir do momento que a gente convoca uma plenária, os estudantes decidem, ah, não, vamo marcar uma reunião pra pressionar mesmo, pra que a assistência (o dinheiro dos auxílios) seja depositada. [...] Tudo depende muito do que os estudantes querem (Tibério, 17 anos).

Pelo menos, eu vejo sempre a galerinha do DCE indo atrás de comunicar, ver quem é o responsável, quais são os tipos de auxílios, tanto que, nessa reunião, foram esclarecidos, porque alguns alunos já sabiam, mas a maioria ainda não sabe, foram esclarecidos, tipo, a existência de onze auxílios, né? Que muitos não são entregues, não são proporcionados aos estudantes, porque o argumento é de que faltam recursos. Então, assim, a pressão é ir atrás, tentar esclarecer e tentar divulgar, né, porque nem todo mundo sabe sobre a existência dos auxílios. A pressão é pela divulgação (Leandro, 25 anos).

Assim, a gente, a priori, né, convidou os bolsistas pra uma conversa, né, que trabalham cotidianamente. Eles têm sofrido mais esse impacto de quando atrasa os auxílios. A gente convidou para conversar, mas foi exatamente na semana passada, em que a primeira parcela da bolsa saiu. Então, isso esfriou um pouco, mas a gente procurou conversar com os bolsistas pra tentar entender o que estavam achando, o que a gente poderia fazer junto em relação a esse atraso, né? E, posteriormente, a gente fez uma plenária também (26/05/14), com os estudantes, pra discutir o atraso dos auxílios, até o Serviço Social também pra esclarecer um pouco, saber por que esse auxílio demorou tanto pra sair, né? (Daniele, 20 anos).

A pressão realizada pelo movimento estudantil se concretiza mediante conversas com o Serviço Social, pedidos de reuniões para que possam esclarecer aos estudantes o porquê do atraso dos auxílios, das bolsas, a quantidade de auxílios existentes (que não se resume somente aos auxílios de transporte e alimentação) e sobre como está o andamento dos auxílios, se foram ofertados, em determinado semestre, poucos ou muitos auxílios etc. Enfim, o movimento estudantil procura se fazer presente munindo-se de informações sobre como anda a assistência estudantil do IFCE, campus Fortaleza, para que possa se organizar com os outros estudantes da instituição e propor melhorias para a assistência estudantil.

Indagamos, ainda, quais as discussões sobre a assistência estudantil que o movimento estudantil traz à tona, nesses quatro anos de implementação do PNAES.

[...] A gente vê que os estudantes, eles veem que houve uma mudança, mas que essa mudança não supre as necessidades deles. Como eu te disse, que a assistência estudantil não supre a carência deles, né? [...] Teve um certo avanço, houve, os estudantes até reconhecem, a gente, enquanto entidade, reconhece, mas ainda falta bastante. Hoje, a gente tem onze modalidades, estatutariamente, de assistência estudantil, mas só são ofertadas, no máximo, [...] só cinco, que é alimentação, transporte, moradia, discentes pais e mães e óculos. E, ainda assim, não supre a carência (Tibério, 17 anos).

É porque, assim, [...] existia uma cultura de ter, por parte da direção, quando os alunos ingressavam aqui dentro, existia a divulgação da assistência médica, da questão do dentista, era muito bem divulgado e eu acho que, com o tempo, após esse

critério de expansão, de modificação pra Instituto Federal, isso não é tão divulgado, também, quanto antes. Parece que a instituição perdeu o interesse de divulgar o que os alunos têm direito, né? Então, assim, é muito fácil você divulgar pros alunos a questão de que eles vão receber um certo dinheiro e não tem interesse, que também [...] é prioridade [...], como saúde, como a questão dentária, e aqui, praticamente, as pessoas não tão procurando mais quanto antes. A gente chega ali no setor médico, praticamente, não tem ninguém sendo atendido [...] (Leandro, 25 anos).

[...] Pra gente, o gargalo, hoje, da assistência estudantil, dentro do IFCE, é porque não tem políticas específicas, né? Por exemplo, não tem residência, não tem restaurante, uma coisa que facilitaria muito, porque são bens que se mantêm. Mesmo com a assistência estudantil, quando ela se reduz, esses bens se mantêm, porque o prédio, especificamente, já está lá, o gasto com, nos casos, os restaurantes, com alimentação, é menor, porque você não paga o almoço pro estudante, você paga pra toda a comunidade acadêmica, né, com valor específico, já tendo prédio, já tendo estrutura física, já tendo trabalhadores lá. Então, pra gente, são coisas que, assim, na instituição, estão faltando, né, então, a gente acha que o PNAES, ele consegue favorecer algumas, mas a instituição não consegue implementar a política de assistência estudantil de forma tão ampla como nós gostaríamos (Daniele, 20 anos).

Pelas falas apresentadas, vemos que os discentes questionam o fato de o IFCE apresentar onze modalidades de auxílios ao estudante, como: auxílio-transporte, auxílio- alimentação, auxílio-moradia, auxílio-óculos, auxílio-EJA, auxílio-acadêmico, auxílio para visitas e viagens técnicas, auxilio-didático-pedagógico, auxílio para discentes mães/pais, auxílio-apoio à cultura e auxílio-embarque internacional (sendo estes dois últimos inclusos pelo novo Regulamento da Assistência Estudantil do IFCE, Resolução nº 008, de março de 2014), e não conseguir ofertar todos eles.

Os valores atualizados dos auxílios da assistência estudantil, estabelecidos de acordo com a nova resolução, são apontados, a seguir, na tabela 4:

Tabela 4 – Valores dos auxílios para discentes de acordo com a nova Resolução da Assistência Estudantil do IFCE, de março de 2014.

Fonte: Dados gentilmente cedidos pela assistente social do campus Aracati, Flávia Régia Holanda.

A incidência maior dos auxílios moradia, alimentação, transporte e óculos está ligada à procura maior dos alunos por esses auxílios, já que eles permitirão que o aluno permaneça na instituição. A própria diretora de gestão orçamentária relatou que, para a assistência estudantil, os auxílios transporte e alimentação são os mais importantes, que garantirão, de fato, que o aluno conclua seus estudos. Os serviços médicos e odontológicos também são considerados importantes, pelo aluno Leandro, para que a assistência estudantil seja completa, não devendo apenas os auxílios ganharem atenção do IFCE em detrimento desses serviços.

Tais serviços não deixam de ser ofertados e a busca por eles é contínua, aumentando a cada ano, como mostrado anteriormente – mas, para que todos os alunos pudessem ser

atendidos, o IFCE, campus Fortaleza, deveria ampliar o número de profissionais da saúde, como médicos, odontólogos, enfermeiros. Hoje, a Coordenação de Saúde conta uma equipe pequena para atender cerca de 7.000 alunos.

Se porventura fosse aumentado o número de profissionais da Coordenação de Saúde, consequentemente o espaço onde trabalham também precisaria ser reestruturado, que apresenta o mesmo problema do Serviço Social: espaço físico reduzido para o trabalho. Está aí, talvez, o fato de a instituição focar mais nos auxílios da assistência estudantil: não há profissionais suficientes para atender toda a demanda.

Em relação ao restaurante universitário – uma das exigências do movimento estudantil que há muito tempo é solicitada –, ele já está sendo construído pelo campus Fortaleza. Todavia, com a construção do restaurante, segundo o diretor de extensão e relações empresariais, Gilmar Lopes Ribeiro, no I Encontro de Assistência Estudantil do IFCE, realizado no campus Fortaleza em fevereiro de 2011, os três lanches ofertados por dia aos alunos, na instituição, iriam acabar. Ainda não há previsão de término na construção desse restaurante, mas consideramos que foi um grande ganho para a assistência estudantil, já que atenderão não somente os alunos do ensino superior, mas toda a comunidade acadêmica.

Outrossim, perguntamos se havia um diálogo entre o movimento estudantil e os profissionais que estão à frente da assistência estudantil.

Pronto, assim, existir, existe, mas, geralmente, o que a gente leva dos estudantes, eles (os profissionais que estão à frente da assistência estudantil) não põem muito em prática, né? [...] Acho assim que, às vezes, eles nos escutam, mas eles não põem em prática hoje em dia, na atual conjuntura. Porque a gente já deu várias propostas, né, de como [...] colocar critérios pra assistência estudantil, eles não colocam. [...] A gente vê, tem aluno que vem pra cá, gasta o dinheiro da passagem, do almoço para pagar passagem e não almoça. É como eu já vi vários casos, até mesmo na minha turma. Por isso, é complicado, a gente tenta dar essas ideias, mas a instituição não escuta, às vezes, na maioria das vezes (Tibério, 17 anos).

A única vez, em 10 anos, como estudante da casa, vi apenas uma oportunidade de diálogo que ocorreu após os problemas de atraso nos auxílios ocorrido no semestre 2013.2, onde o DCE entrou em contato com o Serviço Social para que fosse feita uma roda de conversa aberta aos estudantes, no pátio do IFCE, que também participei, para saber quais as justificativas do atraso. Além dessa temática, a conversa tomou-se outros rumos, como as novas modalidades de auxílios, a reflexão do como poderíamos resolver os problemas, a nova abordagem do Serviço Social para melhorar a assistência. [...] Para que haja uma maior frequência do diálogo, deveria existir uma espécie de pesquisa feita pelo Serviço Social sobre o que acontece (Leandro, 25 anos).

[...] No final de 2012, houve um grande encontro do Serviço Social junto com o movimento estudantil para construir uma proposta de regulamento interno sobre a assistência estudantil, inclusive, na época, a gente participou na construção [...] . Infelizmente, a proposta de regulamento que nós construímos não foi aprovada da maneira como foi construída inicialmente. [...] Então, assim, a gente tem um bom

diálogo, um excelente diálogo, eu diria, com as assistentes sociais, com o Serviço Social dos campi (Daniele, 20 anos).

O movimento estudantil do IFCE, campus Fortaleza, tem conseguido ser um canal muito importante de diálogo entre os estudantes que estão na assistência estudantil e os profissionais que estão à frente dessa política, principalmente o Serviço Social, que é quem tem se mostrado mais próximo e familiarizado aos problemas levantados pelo DCE.

Quando se fala a quem os discentes recorrem para conversar sobre os impasses da assistência estudantil, as profissionais do Serviço Social logo são citadas. Elas, inclusive, constroem, juntamente com o movimento estudantil, espaços de debates que estão indo além do campus da capital, atingindo também alunos que são da assistência estudantil dos campi do interior, mediante o Fórum da Assistência Estudantil, sendo o primeiro fórum interno no campus Aracati, no dia 4 de junho de 2014. O DCE se fez presente em uma das mesas e discutiu sobre assistência estudantil e luta por direitos.

Enfim, há entre os alunos do movimento estudantil e o Serviço Social uma boa interação que permite que canais de diálogos sejam construídos para que possam ser discutidas melhorias para a assistência estudantil, ainda que haja opiniões divergentes, como a do aluno Tibério, que acredita que “eles escutam as opiniões, mas não as põem em prática”.

Para Tibério, seria relevante, para a assistência estudantil do campus, a utilização de outros critérios para a escolha dos alunos que farão parte da assistência estudantil, como o aumento do valor do auxílio daqueles alunos que moram na Região Metropolitana de Fortaleza (os quais teriam prioridade na assistência estudantil, segundo Tibério) e que os pais não tivessem condições econômicas suficientes para mantê-los estudando.

Mas, apesar de algumas falhas na assistência estudantil, como a não implementação das onze modalidades de auxílio no campus, devido à ênfase que é dada àquelas modalidades de auxílios que são mais procuradas pelos estudantes (como auxílio-transporte e alimentação), aconteceram melhorias na condução da assistência estudantil, pois, mediante os relatos de Daniele, soubemos que os alunos participaram da construção do novo regulamento da assistência estudantil; os valores dos auxílios foram reajustados de acordo com o salário- mínimo; o aluno, que possui Bolsa Formação e tem aula o dia todo, por exemplo, caso não possa trabalhar as 16 horas semanais, poderá trabalhar 12 horas e, mesmo que não consiga contribuir com essas 12 horas semanais de trabalho, poderá trabalhar a quantidade de horas que dispuser.

Por fim, perguntamos quais eram as exigências que o DCE possui em relação à assistência estudantil e se elas estavam sendo atendidas.

O ápice mesmo, que a gente cobra, é que os alunos sejam respeitados, né, que a instituição respeite, digamos, que o campus respeite mesmo o compromisso que ele assumiu com os estudantes, né? Porque, assim, esse semestre, a gente viu que a gente teve um atraso inaceitável [...]. Então, nosso ápice mesmo é que a instituição honre o compromisso com os estudantes, porque, se não fossem os estudantes, o

campus não seria campus, não seria instituição de ensino. Eu acho que é

basicamente isso, no geral (Tibério, 17 anos).

Que os auxílios, realmente, eles sejam entregues, sejam divulgados e entregues, porque é um direito dos estudantes. [...] As exigências estão sendo atendidas em parte, né, vamo dar a César o que é de César, em parte, em relação que, como eu falei no começo, que eles julgam ser prioridade, né, como alimentação, transporte, óculos, quem é mãe, quem tem moradia, mora no interior, mas, assim, é importante, também, que o que seja de direito seja divulgado, [...] tem que intensificar mais, acho que devia ter um plano estratégico de divulgação, porque eu acho que é onde peca, entendeu? (Leandro, 25 anos).

Sem dúvida, o restaurante, porque aqui, é o maior campus, tem maior número de estudantes, então são 6.000 estudantes e, com o restaurante, com certeza, a gente conseguiria contemplar muito mais do que o auxílio-alimentação contempla hoje. Então, é uma das grandes lutas, né, é o restaurante. [...] Precisaria ter profissionais, também, que conseguissem conversar com esses estudantes, né? Psicólogo. Tanto que, hoje, estudantes ficam na fila pra tentar uma consulta com a psicóloga e não consegue, que a demanda é muito grande e não tem profissionais suficientes. Eu acho que o número de profissionais pra garantir o atendimento a esses estudantes, pra que o Serviço Social não se torne apenas um espaço pra dizer se dá ou não o auxílio, mas seja um espaço completo, que os estudantes possam, realmente, conversar com os profissionais, ter um atendimento mesmo, porque aqui tem muito adolescente, né, precisa de acompanhamento psicológico, psicopedagógico, e a questão do restaurante para gente, também, é central (Daniele, 20 anos).

Em relação aos atendimentos da psicologia do IFCE, campus Fortaleza, estes são poucos em relação ao universo de alunos da instituição (7.000 alunos), devido à existência de apenas dois psicólogos para atender toda a demanda. O psicólogo é um profissional importante na assistência estudantil, como citado por Daniele, pela aluna Vera e pela assistente social Débora, pois são muitos os alunos que procuram esse profissional, os quais, muitas vezes, não conseguem ser atendidos, conforme relatado pro Daniele.

De acordo com Coordenação de Psicologia do IFCE, campus Fortaleza, de 2010 (ano de surgimento do PNAES) até 2014, foi realizado um total de 898 atendimentos psicológicos, dentre outras ações voltadas para os alunos e as suas famílias, bem como ações interdisciplinares voltadas para evitar evasão e exclusão social. Em 2010, especificamente, foram realizados 158 atendimentos; em 2011, 240 atendimentos psicológicos e uma visita domiciliar; em 2012, 236 atendimentos psicológicos, uma mediação de conflitos; em 2013, 232 atendimentos psicológicos, quatro mediações de conflitos, quatro encaminhamentos, facilitação de grupo de orientação profissional e 18 visitas domiciliares; e, finalmente, em

2014, 272 atendimentos psicológicos, duas mediações de conflito, sete encaminhamentos e duas visitas domiciliares (vide anexos).

Percebemos que é um número pequeno de atendimentos psicológicos comparado ao grande universo de alunos da instituição. Tal problema só seria sanado com mais profissionais da psicologia voltados para o atendimento aos alunos, porém, assim como o serviço social do campus, a psicologia também enfrenta o problema de funcionar num espaço pequeno, sendo impossível, dessa forma, dispor de mais profissionais dessa área.

Nota-se que os atendimentos médicos, odontológicos e psicológicos são voltados a todos os alunos do IFCE, campus Fortaleza; ou seja, eles não precisam estar de acordo com critérios pré-estabelecidos pra terem acesso a esses serviços. Nessa situação, a política de assistência estudantil da instituição possui um caráter universal. “Do ponto de vista ético, defensores de políticas universais argumentam que tais políticas nos reuniriam, a todos, numa mesma comunidade de iguais em termos de direitos sociais de cidadania [...]” (KERSTENETZKY, 2006, p. 576).

Considerando os auxílios, que são direcionados a determinados alunos, àqueles que estão em vulnerabilidade social e que, portanto, precisam do suporte financeiro para permanecer estudando, tem-se uma ação focalizadora da política de assistência estudantil, no sentido de

ação reparatória, necessária para restituir a grupos sociais o acesso efetivo a direitos

universais formalmente iguais – acesso que teria sido perdido como resultado de injustiças passadas, em virtude, por exemplo, de desiguais oportunidades de realização de gerações passadas que se transmitiram às presentes na perpetuação da desigualdade de recursos e capacidades. Sem a ação/política/programa, focalizados nesses grupos, aqueles direitos são letra morta ou se cumprirão apenas em um horizonte temporal muito distante. Em certo sentido, essas ações complementariam políticas públicas universais justificadas por uma noção de direitos sociais, como, por exemplo, educação e saúde universais, afeiçoando-se à sua lógica, na medida em que diminuiriam as distâncias que normalmente tornam irrealizável a noção de igualdade de oportunidades embutida nesses direitos (KERSTENETZKY, 2006, p. 576).

Portanto, aqui, duas facetas da assistência estudantil do IFCE, campus Fortaleza: universalização da assistência estudantil, no sentido de abranger a todos os alunos da instituição, mediante a merenda escolar e os atendimentos médicos, odontológicos, psicológicos e de enfermagem; e a focalização dos auxílios discentes para o universo de alunos que precisam desses auxílios para continuar estudando.

4.4 Discussões da institucionalidade: quando o compromisso com a política supera