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Literatura e Gêneros Literários na BNCC

Nesta seção, abordaremos a BNCC e o papel que é dado à literatura em tal documento de referência.

A BNCC “define o conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais que todos os alunos devem desenvolver ao longo das etapas e modalidades da Educação Básica” (BRASIL, 2017, p. 7). O documento atua nas três etapas da Educação Básica (Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio), através, principalmente, do desenvolvimento de competências:

Ao adotar esse enfoque, a BNCC indica que as decisões pedagógicas devem estar orientadas para o desenvolvimento de competências. Por meio da indicação clara do que os alunos devem “saber” (considerando a constituição de conhecimentos, habilidades, atitudes e valores) e, sobretudo, do que devem “saber fazer” (considerando a mobilização desses conhecimentos, habilidades, atitudes e valores para resolver demandas complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho), a explicitação das competências oferece referências para o fortalecimento de ações que assegurem as aprendizagens essenciais definidas na BNCC. (BRASIL, 2017, p. 13)

No Ensino Fundamental, além de se preocupar com o desenvolvimento de tais competências, a BNCC afirma que é necessário ser consideradas medidas para assegurar aos alunos um percurso contínuo de aprendizagens entre as duas fases dessa etapa (Anos Iniciais e Anos Finais), visto que é a etapa mais longa da Educação Básica, com nove anos de duração, atendendo estudantes entre 6 e 14 anos. Há, portanto, crianças e adolescentes que, ao longo desse período, passam por uma série de mudanças relacionadas a aspectos físicos, cognitivos, afetivos, sociais, emocionais, entre outros.

Dessa forma, a BNCC alega que ao longo do Ensino Fundamental – Anos Finais é importante retomar e ressignificar as aprendizagens do Ensino Fundamental – Anos Iniciais no contexto das diferentes áreas, visando ao aprofundamento e à ampliação de repertórios dos estudantes.

A área de linguagem da BNCC do Ensino Fundamental está dividida da seguinte maneira: Anos Iniciais - Língua Portuguesa, Arte, Educação Física e, Anos Finais – Língua Portuguesa, Arte, Educação Física e Língua Inglesa. Cada área do conhecimento possui Competências Específicas. Dentre as competências específicas da Área de Linguagem, destacamos uma que apresenta estreita relação com o tema da presente pesquisa: “Compreender as linguagens como construção humana, histórica, social e cultural, de natureza dinâmica, reconhecendo-as e valorizando-as como formas de significação da realidade e expressão de subjetividades e identidades sociais e culturais”. (BRASIL, 2017, p. 65)

O componente Língua Portuguesa, que faz parte da Área de Linguagem, também apresenta suas Capacidades Específicas. Dentre as quais, ressaltamos a que tem maior relação com a literatura e, portanto, com o nosso trabalho: “Envolver-se em práticas de leitura literária

que possibilitem o desenvolvimento do senso estético para fruição, valorizando a literatura e outras manifestações artístico-culturais como formas de acesso às dimensões lúdicas, de imaginário e encantamento, reconhecendo o potencial transformador e humanizador da experiência com a literatura”. (BRASIL, 2017, p. 87)

No que diz respeito à estrutura da Área de Linguagem do Ensino Fundamental, a BNCC organiza as práticas de linguagem ou eixos da língua (oralidade, leitura/escuta, produção (escrita e multissemiótica) e análise linguística/semiótica) em cinco campos de atuação: Campo da vida cotidiana (somente anos iniciais), Campo artístico-literário, Campo das práticas de estudo e pesquisa, Campo jornalístico-midiático e Campo de atuação na vida pública, sendo que esses dois últimos aparecem fundidos nos anos iniciais do Ensino Fundamental, com a denominação Campo da vida pública. Vejamos como estão organizados os campos de atuação no Ensino Fundamental na tabela abaixo:

Tabela 4 – Campos de atuação da área de linguagem do EF

ANOS INICIAIS ANOS FINAIS

Campo da vida cotidiana

Campo artístico-literário Campo artístico-literário

Campo das práticas de estudo e pesquisa Campo das práticas de estudo e pesquisa Campo da vida pública Campo jornalístico-midiático

Campo de atuação na vida pública

Adaptado da BNCC

A BNCC considera que os campos de atuação orientam a seleção de gêneros, práticas, atividades e procedimentos em cada um deles. Como o presente trabalho foca na leitura literária que está dentro do campo de atuação artístico-literário, destacamos as especificidades de tal campo de atuação.

De acordo com a BNCC (Brasil, 2017, p. 96), o campo artístico-literário é o “campo de atuação relativo à participação em situações de leitura, fruição e produção de textos literários e artísticos, [...]. Alguns gêneros deste campo: lendas, mitos, fábulas, contos, crônicas, canção, poemas, poemas visuais, cordéis, quadrinhos, tirinhas, charge/cartum, dentre outros”.

Observamos que o gênero literário fábula é mencionado na BNCC desde o Ensino Fundamental – Anos Iniciais. Como já dito anteriormente, a BNCC assevera a importância na

continuidade das aprendizagens dos Anos Iniciais ao longo dos Anos Finais do EF. Como veremos na metodologia desse trabalho, os alunos participantes da pesquisa foram alunos com rendimento aquém do esperado em língua portuguesa. Por essa razão, acreditamos que foi muito pertinente a escolha do gênero textual literário fábula pois, os alunos já conheciam o gênero e puderam se aprofundar mais nas questões abordadas nos textos estudados.

Uma das habilidades trabalhadas nesse campo de atuação no que se refere à leitura de textos literários é a seguinte: (EF69LP44) “Inferir a presença de valores sociais, culturais e humanos e de diferentes visões de mundo, em textos literários, reconhecendo nesses textos formas de estabelecer múltiplos olhares sobre as identidades, sociedades e culturas e considerando a autoria e o contexto social e histórico de sua produção”. (BRASIL, 2017, p. 157)

Por tratar-se de um gênero com predominância da sequência narrativa, a fábula fez com que os alunos pudessem explorar e talvez resgatar habilidades mal desenvolvidas em anos anteriores no que diz respeito à sequência narrativa. Algumas dessas habilidades estão presentes também na BNCC:

(EF35LP22) - Perceber diálogos em textos narrativos, observando o efeito de sentido de verbos de enunciação e, se for o caso, o uso de variedades linguísticas no discurso direto.

(EF35LP26) Ler e compreender, com certa autonomia, narrativas ficcionais que apresentem cenários e personagens, observando os elementos da estrutura narrativa: enredo, tempo, espaço, personagens, narrador e a construção do discurso indireto e discurso direto. (BRASIL, 2017, p.133)

Comprovadamente, a BNCC promove e incentiva a leitura literária pois entende que a literatura é relevante para o exercício da empatia e do diálogo, tendo em vista seu contato com diversificados valores, “o que contribui para reconhecer e compreender modos distintos de ser e estar no mundo e, pelo reconhecimento do que é diverso, compreender a si mesmo e desenvolver uma atitude de respeito e valorização do que é diferente”. (BRASIL, 2017, p. 139) A seguir, abordaremos o trabalho com o gênero literário fábula em sala de aula.

3.9 O gênero literário fábula em sala de aula

Dalvi, Rezende e Jover-Faleiros (2013) afirmam que a finalidade do ensino de literatura é a formação de um leitor livre, responsável e crítico – capaz de construir o sentido de modo autônomo e de argumentar sua recepção. Nesse sentido, as autoras também colocam

a importância do professor ser um sujeito leitor e seu importante papel na formação desse aluno leitor.

De acordo com Dalvi, Rezende e Jover-Faleiros (2013), o professor do Ensino Fundamental deve identificar zonas de incompreensão ou de dificuldades, para submetê-las ao debate interpretativo. Tal fato está em consonância com o presente estudo pois, objetivamos, a partir das dificuldades apresentadas pelos alunos participantes da pesquisa, ajudá-los de modo que os alunos pudessem progredir em suas capacidades de linguagem a partir da leitura de textos do gênero literário fábula.

Góes (2005) afirma que a fábula é um gênero que nasceu da necessidade inata do ser humano de explicar por meio de imagens, de símbolos, os seus pensamentos. A autora afirma também que o gênero é extremamente adequado para a criança, o jovem e o adulto- criança-jovem e menciona Soriano 1975 (apud Góes, 2005) que afirma sobre a fábula que nenhuma obra literária tem o poder de deflagrar identificação tão seletiva e que o interesse da criança pelas “estórias de animais” não se limita ao gênero mas ao próprio animal.

Góes (2005) afirma que com a publicação da obra de Soriano, o conhecimento humano ganhou velocidade e que o conhecimento sobre a natureza animal passou por total revolução. Com isso, os livros da literatura infantil não puderam ignorar a comoção das crianças com o sofrimento dos animais

Outro estudioso do gênero literário fábula é o folclorista Luís da Câmara Cascudo (1984 apud Góes, 2005), estudioso também da literatura oral do Brasil. Cascudo (1984 apud Góes, 2005) afirma que o narrar do povo brasileiro vem desde o povo indígena e que é cheio de lendas, mitos, fábulas e é passado por pajés, anciãos e mães. O folclorista sentencia que a fábula é “a estória em que os animais discutem, sentenciam, decidem prêmios, castigos, ironias e louvores, substituindo os homens em suas virtudes e vícios”.

Segundo Góes (2005), as Fábulas, em especial as Brasileiras, são adequadíssimas para as crianças pequenas e grandes. A autora afirma que a literatura, em especial a fábula, pode influir na vida afetiva e estética da criança. A autora então enfatiza que:

o livro, e por redução e representação, a fábula, traz conhecimento do mundo, do homem, das coisas, da natureza, do avanço da civilização em dimensões múltiplas – histórica, social, ética, tecnológica, psicológica, ontológica, holística – portanto auxilia a aprendizagem de vida, formando o gosto, possibilitando escolhas, paradigmas fundamentais para o ser humano. (GÓES, 2005. p. 252)

Diante do exposto, o gênero fábula foi escolhido porque o gênero apresenta um caráter lúdico devido sua ligação com o fantasioso e com o imaginário, o que a torna um gênero

atrativo para a leitura, principalmente ao público infanto-juvenil. Acreditamos que o trabalho com a leitura de fábulas em sala de aula pode proporcionar aos alunos discussões acerca de aspectos socioculturais e ético-morais de uma maneira leve.

Outro motivo para a escolha do gênero fábula foi o público (os alunos do 7º ano que se encontram em turmas de nivelamento). Tais alunos apresentavam dificuldade na disciplina de língua portuguesa. Como mencionado na introdução da presente pesquisa, pressupomos que o gênero já fosse conhecido por eles, visto que é um gênero amplamente trabalhado no Ensino Fundamental – anos iniciais.

Acreditamos também que a familiaridade com o gênero fábula, que possui uma linguagem simples, envolverá os alunos em aulas interativas de leitura com vistas para uma melhora na sua compreensão leitora através da mobilização de suas capacidades de linguagem. E por tratar-se de textos curtos, acreditamos ainda que podemos estimular o gosto pela leitura naqueles que ainda não o têm.

Neste capítulo, apresentamos nosso quadro teórico de referência para a análise dos dados. Optamos por mostrar as referências de maneira que o leitor pudesse compreender as escolhas feitas. Apresentamos os modelos, funcionamentos, objetivos e didática de leitura; mostramos o quadro teórico do ISD como opção para a preparação das atividades de leitura constituintes da sequência das atividades pedagógicas realizadas. Por fim, apresentamos o gênero textual fábula, como objeto de investigação e opção prazerosa de leitura na sala de aula da Educação Básica.

4 ASPECTOS METODOLÓGICOS

Nesta seção, descreveremos os métodos aplicados para alinhar a reflexão teórica com a intervenção prática que constitui nosso trabalho de pesquisa.