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2.1 Concepções, modelos e práticas de leitura

2.1.6 Os objetivos da leitura

Solé (1998) afirma que existe um acordo geral sobre o fato de que bons leitores não leem qualquer texto da mesma maneira, e que isto é um indicador da competência de bons leitores. A autora aponta os objetivos da leitura e assegura que estes podem ser muito variados. Por esta razão, Solé menciona alguns objetivos gerais cuja presença é importante na vida adulta e que podem ser trabalhados na escola.

a) Ler para obter uma informação precisa. Requer o ensino de algumas estratégias, a busca de uma palavra em um dicionário, por exemplo, exige que o leitor conheça a ordem alfabética e saiba que o dicionário está organizado conforme essa ordem. É um tipo de leitura muito seletiva pois deixa de lado grande quantidade de informação como requisito para encontrar a necessária;

b) Ler para seguir instruções. Neste tipo de tarefa, a leitura é um meio que deve nos permitir fazer algo concreto. Lê-se com o objetivo de “saber como fazer”. Garantir a compreensão do que se leu é muito importante. Exemplo: ler as instruções de um jogo;

c) Ler para obter uma informação de caráter geral. É a leitura que fazemos quando queremos saber de que trata um texto. Segundo Solé, esse tipo de leitura é essencial para a leitura crítica pois o leitor lê segundo seus próprios interesses e propósitos, assumindo plenamente sua responsabilidade como leitor. Exemplo: ao ler a manchete de uma notícia, o leitor decide se aquele assunto lhe interessa ou não e escolhe se deve continuar ou não a leitura.

d) Ler para aprender. A finalidade de tal objetivo consiste de forma explícita em ampliar os conhecimentos de que dispomos a partir da leitura de um texto determinado. As orientações para a leitura e as discussões prévias são estratégias para tal finalidade. O aluno deve saber o que se espera que ele aprenda concretamente. Exemplo: buscar informação sobre algum assunto para conhece-lo ou aprofundá-lo.

e) Ler para revisar um escrito próprio. Leitura muito habitual em determinados grupos – aqueles que utilizam a escrita como instrumento de trabalho -, embora seja muito restrito fora deles. Exemplo: no contexto escolar, a autorrevisão das próprias redações escritas é imprescindível em um enfoque integrado do ensino da leitura e da escrita. Quando o autor lê o que escreve, ele se coloca no papel do futuro leitor de seu texto, capacitando estudantes no uso de estratégias de redação de textos; f) Ler por prazer. Como o prazer é algo absolutamente pessoal, pouco é dito sobre esse objetivo. O que importa, quando se trata de tal objetivo, é a experiência emocional desencadeada pela leitura. O leitor pode elaborar critérios próprios para selecionar os textos que lê, assim como para avaliá-los e criticá-los. Em geral, a leitura por prazer associa-se à leitura de literatura.

g) Ler para comunicar um texto a um auditório. Sua finalidade é que as pessoas para as quais a leitura é dirigida possam compreender a mensagem emitida. O leitor pode utilizar toda uma série de recursos: entoação, pausas, ênfases etc. Para que um texto seja lido em voz alta, é necessário que o mesmo tenha sido lido previamente pois a leitura eficaz em voz alta requer a compreensão do texto. Exemplos: ler um discurso, um sermão, ler poesia em uma apresentação.

Dois objetivos que são tipicamente escolares:

h) Ler para praticar a leitura em voz alta. Pretende-se que os alunos leiam com clareza, rapidez, fluência e correção, pronunciando adequadamente, respeitando as normas de pontuação e com a entoação requerida. Solé sugere que antes da leitura em voz alta, o aluno faça uma leitura individualizada em silêncio, permitindo que o leitor siga seu ritmo, para atingir o objetivo “compreensão”. Depois de uma leitura em voz alta, o professor pode fazer perguntas sobre o conteúdo do texto para avaliar a compreensão, mas esta fica em segundo plano nesse objetivo;

i) Ler para verificar o que se compreendeu. A sequência tradicional desse objetivo é leitura/perguntas/respostas. Segundo Solé, esta habilidade tem poucas possibilidades de ser atualizada em situações habituais de leitura. A autora também

afirma que tal sequência é útil mas que ela deve ser convenientemente planejada. Uma visão ampla da leitura, e um objetivo geral que consista em formar bons leitores não só para o contexto escolar, mas para a vida, exige maior diversificação nos seus propósitos, nas atividades que a promovem e nos textos utilizados como meio para utilizá-la.

Solé (1998) considera alguns pontos no que diz respeito aos objetivos da leitura. Em primeiro lugar, a autora afirma que dentro de cada categoria cabe uma grande variedade de objetivos mais concretos, que devem ser compreendidos pelo leitor, isto é, que devem ser acordados com ele na situação de ensino. Em segundo lugar, Solé lembra que os objetivos se referem tangencialmente ao tema dos tipos de textos (narrativo, descritivo, expositivo, instrutivo-indutivo etc). A autora alega que os diversos objetivos se aplicam melhor a certos textos que a outros e, por outro lado, se tem sentido ler diferentes textos na escola é porque isso facilita o trabalho de determinados objetivos, que permitam aprender os distintos usos da leitura.

Em terceiro lugar, a autora assegura que sempre é preciso ler com algum propósito e que o desenvolvimento da atividade de leitura deve ser relacionada a esse propósito. No caso de ler por ler, não é adequado ficar fazendo perguntas sobre o que se leu. Por último, Solé afirma que é preciso levar em conta que o propósito de ensinar as crianças a ler com diferentes objetivos é que, com o tempo, elas mesmas sejam capazes de se colocar objetivos de leitura que lhes interessem e que sejam adequados.

Levando também em conta os objetivos da leitura, Cicurel (1991) apresenta uma proposta de aula interativa, comunicativa em sala de língua estrangeira, que pode, apesar dessa particularidade, ser extensiva às salas de língua materna. Cicurel, assim como Solé, tem o objetivo de desenvolver no professor competências que o definam como formador de leitores. Passemos, então, a discutir tal proposta.

2.2 Da aula interativa de leitura a uma aula de leitura na perspectiva interacionista