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Modelo Interacionista de Leitura I

2.1 Concepções, modelos e práticas de leitura

2.1.3 Modelo Interacionista de Leitura I

O modelo interacionista de leitura I apresenta o leitor como um homem real que interage como o objeto (o texto), considerando o papel do contexto social, das comunidades heterogêneas e da cultura diversificada.

Segundo Leurquin (2001), nesse modelo, a linguagem escrita deixa de ser concebida como uma imagem em espelho da linguagem oral e também deixa de ser compreendida como um objeto fragmentável, desprovido de funções sociais. A autora afirma que entram em evidência as funções da comunicação. Assim, em vez da competência linguística universal, da comunidade homogênea, imutabilidade e normatividade da língua, temos a competência comunicativa diferencial, as funções da linguagem, o falante/ouvinte real, a variação e a mudança linguística. A autora reintera que no contexto do modelo interacionista de leitura 1, destacam-se a sociolinguística, a linguística do texto e a psicolinguística, assegurando, ser de fato, um novo olhar sobre a leitura.

De acordo com Leurquin (2001), os estudos de sociolinguística de Dell Hymes (1967) contribuíram muito para o modelo interativo I. Hymes (através de Leurquin 2001), a partir da incompletude observada na proposta da competência linguística ou gramatical defendida por Chomsky, sugere uma competência comunicativa que por ser baseada no contexto social do sujeito não pode ser universal. Tal competência, segundo o autor, consiste, não apenas em saber sobre a língua, mas também em como usar esse saber em situações reais de comunicação. A competência é então influenciada pelo status dos interlocutores, pelo contexto do ato de fala, pela mensagem veiculada, e pela forma como se produz esse ato, incluindo os gestos, os tópicos e as pressuposições.

Como os aspectos sociais da linguagem são considerados nesse modelo de leitura, as funções que a criança adquire antes de chegar à escola aparecem nesse cenário. Segundo

Halliday (1969 através de Leurquin 2001), tais funções acontecem numa ordem sequencial, como se apresenta a seguir:

a) Função instrumental (usa a linguagem para obter coisas. Exemplo: Eu quero) b) Função regulatória (usa a linguagem para regular o comportamento. Exemplo: Faça como eu digo).

c) Função interacional (usa a linguagem para estabelecer contato entre o eu e o tu. Exemplo: Você e eu)

d) Função pessoal (usa a linguagem para expressar sua individualidade. Exemplo: Aqui, estou eu)

e) Função heurística (usa a linguagem como meio de investigar a realidade. Exemplo: Diga-me porque)

f) Função imaginária (usa a linguagem para criar seu próprio ambiente. Exemplo: Vamos fingir)

g) Função informacional (usa a linguagem como meio de comunicação, falar sobre ideias. Exemplo: Tenho algo para lhe dizer)

Leurquin (2001) assegura que essas funções foram utilizadas posteriormente por Goodman (1976) na proposição de uma teoria psicolinguística de leitura. Contudo, segundo a autora, um dos nomes que mais se sobressaiu nos estudos sociolinguísticos foi o de Labov (1966). Leurquin (2001) afirma que foi com base nos estudos de Labov que a sociolinguística adquiriu metodologia e teoria própria e que graças às suas constatações, a partir das conclusões de seus estudos realizados com pescadores, as variedades linguísticas não puderam mais ser consideradas incorretas, assistemáticas, e não governadas por regras internas.

Searle (1965), outro estudioso mencionado por Leurquin (2001), preocupava-se com a relação do signo com seus usuários. Para esse autor, no processo comunicacional, há uma intenção do falante quando ele se comunica. Dessa forma, ele pode persuadir ou convencer, quando argumenta; assustar ou alarmar, quando alerta; fazer algo, quando pede e convencer, quando informa.

Assim como a sociologia, a psicologia cognitiva também contribuiu muito para a formação desse modelo interativo de leitura, ao colocar em discussão o papel dos esquemas, das memórias do leitor no processo de compreensão de texto. Segundo Leurquin (2001), um de seus representantes é Rumelhart (1981), que explica como o conhecimento é adquirido, organizado e armazenado na memória a longo termo.

Para Leurquin (2001), os estudos de Smith também são relevantes para esse modelo de leitura. De acordo com a autora, é Smith (1989) que traz para a discussão sobre o processo da leitura problemas oriundos do acúmulo de informações visuais. Segundo ele, quando o aluno lê cada letra de uma palavra, sobrecarrega a memória de curto termo, fenômeno por ele identificado como visão de túnel. A seu ver, esse procedimento dificulta a compreensão do texto, e quando há interrupção no processo, apaga-se a construção do significado, antes de chegar à memória a longo termo.

Já no campo da linguística textual, os nomes destacados por Leurquin (2001) são Beaugrande e Dressler (1983). Para eles, o texto é uma ocorrência comunicativa, com sete padrões de textualidade:

a) a coesão que é manifestada no que é visto ou ouvido. Ela se apoia na dependência gramatical;

b) a coerência que constitui as relações subjacentes dos conceitos e suas relações; c) a intencionalidade que é a contribuição feita pelo escritor para distribuir conhecimento ou para atingir um objetivo;

d) a aceitabilidade que leva em consideração o papel do leitor, onde esse assume que o texto terá alguma relevância para ele;

e) a informatividade que se preocupa com o fato de que o texto pode ter ou não um nível de informação adequada. Quando o texto não é informativo para leitor, pode resultar em cansaço ou rejeição do mesmo;

f) a situacionalidade é o padrão que representa a adequação social do texto; g) a intertextualidade diz respeito a fatores que tornam o conhecimento de um texto dependente do conhecimento de outros textos.

Leurquin (2001) afirma que o modelo interacionista I é, na verdade, fruto dessas reflexões. A construção do significado e a intenção que guiam o ato de fala são retomados por Goodman em sua proposta de modelo interacionista de leitura, também denominado modelo ascendentes/descendentes simultaneamente de leitura. Ele apresenta um fluxo bilateral de informações. E considera que tanto os conhecimentos anteriores como os novos entram em evidência no momento da leitura.

De acordo com os modelos ascendentes/descendentes simultaneamente ou modelos interacionistas, no momento de compreensão textual, estão em evidência os esquemas dos leitores, isto é, as informações anteriormente adquiridas e armazenadas na memória a longo-

termo. A leitura, nessa visão, é uma atividade complexa e interativa que envolve tanto esses conhecimentos previamente adquiridos pelos leitores como os conhecimentos veiculados pelo texto. Ler é, pois, conjugar essas duas manifestações dos conhecimentos.

Passemos, agora, para o Modelo Interativo de Leitura II.