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Localização Geográfica dos Municípios de Humaitá e Manicoré

Os Tenharin fazem parte do grupo autodenominado Kagwahiva, falantes da língua Tupi-Kagwahiva, que pertence ao tronco linguístico Tupi-Guarani. Segundo Kracke (2004) os Kangwahiva apresentam-se distribuídos em dois grupos de acordo com a posição geográfica. Os Kagwahiva setentrionais: Tenharin, Parintintin e Jiahui estão localizados no estado do Amazonas, e os Kagwahiva meridionais: Amondawa, Japaú (Uru-eu-wau-wau) e Karipuna no estado de Rondônia. Segundo Menéndez (1981), devido os conflitos intertribal e as frentes de expansão, ocorreu, provavelmente, fluxo migratório do rio Tapajós e seus afluentes para a região do médio e alto Rio Madeira, fato que propiciou a fragmentação em diferentes grupos. Além disso, é possível citar a procura por áreas agrícolas, aumento populacional, abandono das aldeias por morte ou tensões no interior dos grupos. O diagrama a seguir refere-se à configuração dos Kagwahiva:

Diagrama 1 – Distribuição regional dos Kagwahiva Fonte: Elaborado pela autora

Os Kagwahiva aparecem registrados nos documentos a partir de 1750, na região do rio Juruena, juntamente com os Apiaká, com os quais mantinham lutas constantes. Outro grupo inimigo era o Munduruku. Provavelmente, o contato com a frente de expansão que chega ao Mato Grosso em busca de ouro pode ter provocado movimento migratório nessa região, além da construção da estrada de ferro Madeira-Mamoré, que possivelmente os Kagwahiva tenha tido contato e ocasionado algum movimento migratório.

Até 1850, os registros de designação Kangwahiva e Parintintin eram concomitantementes. A partir daí “[...] o primeiro desses etnônimos desaparece e somente são encontradas referências aos Parintintin. Pode-se dizer que podemos observar aqui a concorrência do processo parintintização dos Kawahiwa (MENÉNDEZ, 1989, p.43-44)”. Os Kagwahiva setentrionais foram considerados como um único grupo até 1922, ano em que Nimuendajú realizou a “pacificação” dos Parintintin. Além disso, essa designação Parintintin se refere apenas a um desses povos (NIMUENDAJÚ, 1924, p.205 apud MENÉNDEZ, 1989).

Desde 1852, tem-se registrado contato entre os Parintintin e os não-índios na foz do Rio Marmelos. Esses contatos são descritos como hostis e muito seguramente, com a presença dos Tenharin, uma vez que essa área era a antiga localização desse povo e que, provavelmente, resultou no deslocamento dessa população para a parte superior do Rio Marmelos, acima das cachoeiras. Essa pode

Médio Rio Madeira

Alto Rio Madeira Rio Machado

ter sido uma tentativa de estabelecer distância segura dos não-índios. Isso poderia explicar a ausência de notícias sobre esse grupo nos registros entre 1850 até início do século XX. Exatamente no período do ciclo da borracha no Amazonas.

Durante esse período, na região do Rio Madeira, vários povos indígenas entravam em conflito com a população não-indígena que tentava ocupar seus territórios e explorar suas riquezas. Um desses povos era os Torá, que atacavam as missões de Canutama e Abacaxis. Um grupo foi atacado e praticamente dizimado, e os que restaram se viram obrigados a integrarem as missões que já existiam nessa região.

E dessa maneira foi se construindo a ocupação não-indígena da região do médio rio Madeira. Contudo, após o fim dos conflitos com os Torá, surgiram os Parintintin, inviabilizando mais uma vez os planos regionais de expulsar as populações indígenas e ocupar suas terras (PEGGION, 2011. p.57)

Entretanto, as relações de contato estabelecida pelo S.P.I, em 1922, abriram definitivamente,

[...] as portas para a presença permanente do branco nos territórios Kawahiwa e nos anos seguintes a pacificação, os seringalistas de Humaitá foram tomando conta dos seringais e castanhais dos rios Maici e Marmelos. Assim a presença de balaterios, marreteiros e garimpeiros é cada vez mais frequente nessa região (MENÉNDEZ, 1989, p.84).

Essa situação gerava confrontos entre os indígenas e os brancos pela garantia de seu território e de sua cultura. Nesse momento, as disputas intertribais são raras, pois existe um inimigo comum, o “branco invasor”.

No processo de ocupação e exploração territorial, dentro do projeto de sociedade pelo qual o país optou, não cabia uma organização de subsistência, de partilha de bens e produtos. O sistema de exploração capitalista implementado pelo capital europeu tinha como objetivo integrar as populações indígenas ao processo de produção como mão de obra escrava, além de expropriar seus territórios e suas riquezas naturais.

É nesse contexto que ocorre intenso contato dos Kagwahiva–Tenharin com os não-índios. Em meados dos anos de 1930, Delfin Bento da Silva, comerciante de Humaitá, passou a manter relações comerciais com os Tenharin. Muitos atribuem a esse comerciante a designação do nome Tenharin para esse grupo Kagwahiva. Atualmente, vários idosos da aldeia Marmelos informaram sobre a convivência com

esse comerciante que passou a desfrutar da confiança do povo Tenharin. Casou-se com uma das irmãs do tuxaua Luís e tiveram vários filhos.

Delfin passou a exercer a função de patrão10 dos Tenharin, que passaram a

trabalhar para o comerciante coletando castanha da Amazônia (antiga castanha do Pará), óleo de copaíba e sorva. Em troca ele introduzia produtos industrializados, quase sempre numa troca desigual. Esse comerciante atuou durante décadas como intermediário entre os Tenharin e a população regional.

Nesse processo as populações da região foram envolvidas, adotando um sistema semelhante ao da população regional, o chamado sistema de aviamento. Ocorria de os povos viverem associados a um único comerciante, que trocava toda a produção por produtos e bens manufaturados. Esse sistema, embora tenha, em alguns caos, retardado o processo de contato, acabou por ser determinante das relações dos povos indígenas com a sociedade envolvente até o presente (PEGGION, 2011, p.58)

Outra presença constante entre os Tenharin são as missionárias do SIL. Eles relatam a presença de duas missionárias com muita satisfação: “elas nos ajudaram, registraram nossa língua, ensinaram o que é bom, elas nos defendem” diz um professor Tenharin. De fato, constatamos duas igrejas evangélicas na aldeia Marmelos, uma Igreja Batista e outra Congregação Cristã no Brasil. Na primeira Igreja presenciei alguns cultos, sendo a igreja muito bem cuidada. Em relação à outra igreja só avistei fechada, mas alguns Tenharin informaram que de vez em quando tem culto. Na verdade, essa indagação sobre a questão religiosa não me deixou muito à vontade para interpelá-los por não ser o foco da pesquisa, pois na apresentação do projeto de pesquisa à comunidade deixei bem claro que seria sobre a educação. Assim, entendi que estaria contrariando o acordo que firmamos durante esta apreciação.

Os Tenharin do Rio Marmelos, no início da década de 1970, ocupavam a aldeia Nhande’uhu, onde a FUNAI fez o primeiro contato, possivelmente a partir “[..]

dos levantamentos aéreos destinados ao traçado da BR-230, a Transamazônica. Neste local foi aberto um campo de pouso e os Tenharin passaram a ter contatos frequentes com os brancos (MENÉNDEZ, 1989, p.85)”.

As obras de abertura da BR-230, Transamazônica, chegam ao Rio Marmelos em 1972. Esse trecho entre Humaitá e o Rio Aripuanã ficou sob a responsabilidade

10 Nome dado ao comerciante que, na época da exploração da borracha, comprava toda a produção

de borracha de um determinado povoado e/ou família em troca vendia mantimentos, utensílios domésticos e de trabalho para essas populações, geralmente, numa relação bastante desigual.

da Construtora Paranapanema que, através de uma subsidiária, a Mineração Taboca S.A., praticava a extração de cassiterita no Rio Aripuanã e no Igarapé Preto, território de um grupo Tenharin.

Segundo relatos dos Tenharin,

[...] o funcionário da FUNAI que os contatou, com a colaboração de Delfin Bento da Silva, os convenceu para que deixassem a aldeia Nhadeúhu e se transladassem pouco mais abaixo, onde a estrada cruzaria com o rio, constituindo assim, a atual aldeia Marmelos (MENÉNDEZ, 1989, p.85).

Demonstra-se que a longa convivência com Delfin facilitou a aceitação e reconhecimento da FUNAI pelos Tenharin, e mesmo a proximidade com as obras da estrada não gerou conflitos. No entanto, relatos de algumas personalidades Tenharin dão conta de que quando solicitaram a mudança do trajeto da estrada para não passar por dentro do cemitério dos Tenharin e dos Jiahui, não foram atendidos, o que causa grande sofrimento no povo. Muitos relatos, com grande emoção, dão conta que quando ouviram pela primeira vez o ronco das máquinas ficaram assustados, amedrontados, curiosos. Perceberam que quase nada poderiam fazer para impedir a abertura da estrada. Com muita emoção, demonstram o quanto sofreram com a construção dessa estrada.

Os Tenharin relatam que, além da estrada derrubar a floresta, afastar os animais e destruir o cemitério sagrado, muitos indígenas trabalharam para a construtora e quase nada receberam, as mulheres sofreram com a violência e muitos morreram, pois contraíram malária e não sobreviveram.

A construção da estrada facilitou a entrada da frente agro-pastoril, originária do sul do país, que passou a fixar-se ao longo da Transamazônica, gerando um processo de “sulinização” da região, onde os Tenharin passaram a ter contatos permanentes com os colonos e com a população de Humaitá.

Segundo Menéndez (1989), esse contato fez surgir os conflitos com os colonos. Em 1972, foi aberta uma serraria por Alindo Marmentini. Em 1977, um cidadão com o nome de Plínio passou a realizar pesquisas de minério e empregar os Tenharin, tanto na pesquisa como na construção de uma pista de pouso na região do Mafuy. Neste mesmo ano, outra serraria é aberta em nome de Nelson Vannazi. Nessa época, duas lideranças, os tuxauas Alexandre e Luis exigiram a retirada dos colonos e das serrarias das terras indígenas. Essa ação resultou na retirado dos intrusos e estabeleceu os primeiros limites da área indígena Tenharin.

O fluxo migratório para a região aumenta com o projeto de ocupação da Amazônia. Nesse contexto da geopolítica de expansão, foi criado em 1982 o projeto de assentamento Juma, considerado o maior assentamento da América Latina. Possuía 689 mil hectares e capacidade para 7,5 mil famílias. Atualmente, esse assentamento foi elevado à categoria de município em 1987.

Aos olhos dos Governos Militares, a Amazônia passa a assumir papel estratégico para a condução do modelo de desenvolvimento a ser implementado no país. Além de importância econômica, a região passa a ter grande relevância no plano político e passa a ser utilizada estrategicamente como “válvula de escape” e de controle de tensões sociais em outras regiões do país.

Dessa forma, a política oficial de colonização implementada na Amazônia ganha maior expressão quando da implementação do Plano de Integração Nacional (PIN), lançado em 1970 (LEAL, 2011, p. 2).

Em 1992, o Governo criou outro projeto de assentamento, o Matupi, localizado ao longo da BBR-230 no município de Manicoré, mais próximo das áreas Tenharin. Esse assentamento segue a mesma proposta vinculada pelos governos militares, ou seja, a ocupação desses assentados é realizada por pessoas de ouras áreas, o que causa grande impacto na dinâmica ocupacional da região. Na época da ocupação havia nesta área 40 posseiros, mas não existia tensão social que justificasse a realização desse modelo de ocupação.

Com essa ocupação, as áreas indígenas Tenharin passaram a sofrer mais pressão no sentido de ocupação e exploração clandestina de suas terras. Além do aumento considerável de fluxo de pessoas e veículos na BR-230 dentro do espaço indígena, que alterou sua organização e modo de vida.

Atualmente, os Tenharin estão distribuídos em três áreas distintas: Os Tenharin do Rio Marmelos (Transamazônica); Tenharin do Igarapé Preto e os Tenharin do Rio Sepoti.

Os Tenharin do rio Sepoti são parte do grupo Tenharin do rio Marmelos que migrou para a boca do rio de mesmo nome nos anos de 1940. Já os Tenharin do Igarapé Preto foram assim definidos após contato. Na verdade, consideram-se outro grupo, que se autodenomina Yvytytyruhu, etnônimo que alude à serra no entorno de suas aldeias (PEGGION, 2011, p.59).

Esses grupos compreendem quatro áreas indígenas, distribuídas em três municípios distintos: Humaitá, Manicoré e Novo Aripuanã – AM.

Quadro 6 - Distribuição das áreas indígenas Tenharin Fonte: FUNAI (2015)

Os Tenharin Marmelos, que são o alvo desta pesquisa, são formados por oito aldeias que estão ao longo da BR-230 Transamazônica e são divididos em dois grandes blocos: Tenharin Marmelos Humaitá e Tenharin Marmelos Manicoré. No entanto, essa divisão ocorre somente por conta da divisão política do Estado do Amazonas, onde está localizada a terra indígena Tenharin Marmelos, conforme quadro a seguir:

Quadro 7 – Divisão das aldeias Tenharin – Humaitá/Manicoré

Fonte: Elaborado pela autora

Com essa divisão imposta pela organização da sociedade envolvente, precisamos analisar como os Tenharin que são atendidos pelo município de Humaitá apresentam, no geral, melhores condições de vida na aldeia, provavelmente devido à grande distância que separa as aldeias de Manicoré da sede deste município.

Terra Indígena Marmelos

Município Aldeias

Humaitá Vila Nova

Marmelos Manicoré Kampinhu Bela Vista Trakuá Taboca Mafuí Karanaí

Contudo, os Tenharin mantêm um vínculo e a unidade quando é necessário em defesa do povo Tenharin e de outros parentes11 indígenas. Conforme constatou

Peggion, em 1994, quando visitou a aldeia.

Os Tenharin se arrogavam responsáveis pelos destinos de toda a região –

além deles mesmos, os Jiahui, Torá, Mura-Piranhã e Parintintin – e

desejavam solucionar os problemas territoriais de todos. Além disso, consideravam a necessidade de levar ao conhecimento de todos a

existência deles – os Tenharin – já que percebiam a ignorância da

população nacional, principalmente das emissoras de televisão, que tomavam como sinônimos de indígenas povos como os Xavante e Kayapó ou os povos do Xingu (PEGGION, 2011, p.37).

O povo Tenharin sempre manteve estreita ligação com a floresta e se utiliza da mesma para classificar sua sociedade, o que explica a sua organização social e cultural. Os Tenharin estão organizados culturalmente em dois clãs: Mutum e Gavião em oposição conceitual, entretanto, isso não gera uma contraposição de um grupo em relação ao outro (PEGGION, 2011, p.94).

De acordo com Kurosvski, (2005, p.73), a organização em metade (Mutum e Gavião) são estabelecidas a partir de características físicas e pintura corporal. Durante a realização de rituais, metade dos membros deve pintar a outra metade. De acordo com os Tenharin a pele do Taravé (gavião) é mais clara e a do Mutum mais escura e grossa. Assim,

Os Parintintin mencionam oposições e contrastes nas características físicas e comportamentais entre os integrantes das duas metades. Segundo eles, as crianças Kwandu são mais bravas e as Myty mais calmas. A aparência e textura da pele também são utilizadas como distintivo entre as metades. Ao que tudo indica, as diferenças entre as duas aves são estendidas aos seres humanos. Kwandu é um caçador e indomável, ao contrário de Myty que são criados como animais domésticos no pátio da aldeia (KUROVSKI, 2005, p.70)

É possível que esse sistema de metade, segundo Kracke (2004), tenha sido influenciado pela migração do Povo Kagwahiva do alto Tapajós em direção ao Rio Madeira, o que pode ter propiciado contato com o Povo Rikbaktsa, que habita o norte do estado de Mato Grosso, e possui uma organização vinculada ao sistema de metade associada a pássaros.

Apesar desses dois clãs não serem opostos, percebemos que gira em torno dessa divisão uma disputa política entre os grupos. Na ocasião da minha estada na aldeia para a discussão do projeto político pedagógico da escola, observei que

11 Parente é a designação que os indígenas dão a todos eles, mesmo aos que pertencem a outras

quando um indivíduo se referia a outro, existia uma preocupação de demonstrar que não estava contra sua posição, mas que entendia de outra forma. Mais tarde, um professor conversando comigo, explicou: “professora, nós temos dois clãs e o “fulano” não pertence ao meu clã e, por isso, temos que falar de forma que o outro não ofenda, pois pode gerar atrito e isso não é bom”.

Os Tenharin praticam a caça, a pesca, produção agrícola, além da venda de artesanato e produtos nativos coletados na floresta, principalmente a castanha. No entanto, a caça é a atividade mais importante na aldeia.

A caça ocupa papel central e, embora seja uma atividade estritamente masculina, é um assunto que permeia as falas de homens, mulheres e crianças. Os homens fazem as caçadas, as crianças estudam a anatomia do animal quando o caçador chega com a presa e as mulheres tratam a carne e participam da partilha, levando partes para seus parentes (PEGGION, 2011, p.63).

Outra atividade muito importante na aldeia é a pesca, uma vez que, no passado, todas as aldeias eram situadas às margens dos rios. Devido ao contato intenso com a sociedade não-indígena, os Tenharin passaram a ocupar outras áreas que não somente as margens dos rios e igarapés. Contudo, sabemos que os conflitos internos geram a migração de determinado grupo para formar outras aldeias. Mas, em conversa informal, eles afirmaram que “tínhamos que ocupar nossa terra na transamazônica”.

No entanto, percebemos que o fato de ocupar parte das terras às margens da BR-230 facilita a comunicação, as relações intercomunitárias, além, é claro, de garantir a presença dos Tenharin em suas terras. A visibilidade dos Tenharin ao longo da Transamazônica, se por um lado os coloca em evidência quanto à ocupação e defesa das suas terras, por outro, expõe a comunidade à violência da estrada, ao risco de doenças causadas pela poeira da estrada e à constante ameaça de conflitos com alguns usuários da estrada e demais indígenas.

Atualmente, segundo dados do IBGE (2010), os Tenharin estão distribuídos da seguinte forma: a Terra Indígena Marmelos congrega 725 pessoas; a Terra Indígena Marmelos Gleba B, 183 pessoas; a Terra Indígena Igarapé Preto, 22 e a Terra Indígena Sepoti, 110 pessoas. Desse modo, se compararmos com os dados dos censos anteriores registrados por Peggion (2011) na tabela a seguir, teremos:

Tabela 3 - Dados comparativos da população indígena no período 1979 - 2010

CENSO

Ano 1979 1985 1994 2002 2010

Total Geral 151 175 301 393 1038

Fonte: PEGGION, IBGE, 2014.

Observe-se que houve crescimento populacional bastante significativo com relação ao povo Tenharin. Em quatro décadas houve um acréscimo populacional de 164%, possivelmente gerado por melhores condições de saneamento e atenção à saúde da população. Provavelmente, a construção de banheiros com fossa séptica e poço artesiano melhorou muito as condições de vida desta população. Além disso, houve também melhoria no atendimento à saúde, que apresenta ainda algumas deficiências, mas podemos perceber certa regularidade no atendimento da saúde básica. Porém, a população fica muito restrita com relação ao atendimento de urgência e emergência, considerando a dificuldade de locomoção dos pacientes até a sede do município de Humaitá.

Outro aspecto que pode justificar esse aumento no crescimento demográfico dos Tenharin é o processo de etnogênese, no qual “os povos indígenas, que por força de séculos de repressão colonial escondiam e negavam suas identidades étnicas, agora reivindicam o reconhecimento de suas etnicidades e de suas territorialidades nos marcos do Estado Brasileiro (LUCIANO, 2006, p.33)”.

2.2 BR-230 - Transamazônica: a rodovia do conflito

Desde a invasão do território brasileiro pelos portugueses, a nova colônia já estava sendo inserida na primeira fase do processo de acumulação, o mercantilismo, que se caracteriza como o pré-capitalismo. Esse processo se desenvolveu de acordo com os interesses das grandes potências internacionais. Na década de 1950, Juscelino Kubitschek implementou uma política desenvolvimentista com apoio de capital estrangeiro, levando o país a contrair dívidas e facilitar a entrada de empresas estrangeira no país. Com o Golpe Militar de 1964, foi matido essa política e criado a lei de Segurança Nacional, que legitimava os atos de

perseguição e tortura com o intuito de garantir a soberania nacional, isso justificou as diversas ações dos governos militares que atingiram os povos indígenas. Nessa linha, o presidente militar Castelo Branco, em 1966, defendia que era preciso “Integrar, para não entregar”. Esse foi o eixo condutor dos projetos de infraestrutura implementados na Amazônia.

Outro argumento no discurso governamental era de caracterizar a Amazônia como um “vazio populacional”, desconsiderando a população local e a população indígena que habitava toda a região. O governo difundia a ideia que somente grandes investimentos poderiam tirar essa região do atraso econômico e social em que se encontrava. Isso demonstra com o Estado brasileiro estava em consonância com as ideias Keynesianas voltadas para o crescimento econômico sem levar em consideração a realidade de cada região. Assim,

Ao longo dos anos 70, da ditadura militar implantou o Projeto Radam (Radares para a Amazônia) e construiu a infraestrutura viária (Transamazônica, Cuiabá-Santarém, Cuiabá-Porto Velho-Manaus-Rio Branco, Perimetral Norte), ferroviária (Carajás-Itaqui) e energética (Usinas hidrelétricas de Tucuruí, Balbina e Samuel). Além disso, o governo criou empresas estatais que se associaram ao capital privado nacional e