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Maria de Lurdes Moreira 1 , Ana Carina Estróia, Beatriz Bilro Prates & Maria da Graça Teigão

No documento Educações no Alentejo (páginas 97-100)

Resumo Temos assis do a grandes polémicas relacionadas com os Trabalhos de Casa (TPC). Se, para muitos profes-

sores e pais, a realização dos trabalhos de casa é importante para o sucesso da aprendizagem dos alunos, há quem, pelo contrário, considere que é uma fonte de constrangimento familiar para os alunos e famílias com menores recursos e de estrato social-cultural mais baixo que, desta forma, não conseguem ajudar a realizar as tarefas preten- didas, nem têm meios para recorrer a ajuda.

Neste sen do, quisemos aprofundar a questão dos TPC e o papel que desempenham ou podem desempenhar no trabalho de professores e alunos do 1.º Ciclo do Ensino Básico.

Realizou-se entrevistas aos professores e foram aplicados ques onários aos encarregados de educação e alunos do 1.º Ciclo do Ensino Básico da Escola Básica nº1 de Montemor-o-Novo.

Os dados recolhidos indicam que tanto os alunos, como a maioria dos encarregados de educação consideram os trabalhos de casa úteis no processo de ensino/aprendizagem. A maior parte dos professores também considera que o apoio dos pais é fundamental para a aprendizagem e o sucesso dos alunos, mais se acresce que os professores pensam que através do acompanhamento dos trabalhos de casa os pais conseguem acompanhar a matéria traba- lhada em contexto de sala de aula e o progresso dos seus educandos.

Palavras-chave Trabalhos de Casa, Relação Escola-Família, Sucesso Escolar, Discriminação Social.

Introdução

Os TPC são causadores de grandes polémicas, sendo, per nente, um olhar atento quer pela perscru- tação dos seus efeitos, quer pelos argumentos que surgem em volta do ponto de vista dos seus atores sociais envolvidos.

Aprender não é fazer mais do mesmo, ou seja repe r o que se fez o dia inteiro na sala de aula, se- gundo Perrenoud, (1995, p. 151), “fazer os deveres é fazer o que é necessário para ter paz, “encher a cabeça” para fazer boa fi gura e ter o direito de esquecer. Tão longe quanto me consigo recordar, não aprendi nada por dever. Aprendi certamente por necessidade, por cálculo, sem verdadeiro desejo, mas raramente a horas fi xas, em fa as preparadas para o dia seguinte. Ou, então, para esquecer tudo, de- pois de fazer a prova ou de responder ao interrogatório oral”.

Na sala de aula, o professor passa, o conteúdo do currículo nacional, através de práticas tradicio- nais ou inovadoras, “cuja finalidade é a de estimular a compreensão, a memorização, a consolidação,

a generalização de certas noções, métodos ou conhecimentos” (Perrenoud, 1995, p. 21). Em casa o aluno con nua o seu o cio com os TPC, sozinho ou acompanhado.

Conseguimos encontrar perspe vas diferentes, autores e atores no processo que concordam com a sua aplicação e a defendem, e outros, pelo contrário, que não encontram u lidade evidente na sua u lização ou que consideram mesmo não dever ser adotada como estratégia habitual.

Como vantagens dos TPC, encontramos a relação família/escola, autonomia e luta contra o insucesso escolar. “Autores como Epstein, Montandon, Perrenoud, Meirieu, Davies, Silva, Marques, Diogo e Villas- Boas são consensuais em reconhecer que o envolvimento das famílias e outras instâncias sociais na vida escolar se refl ete posi vamente no sucesso das crianças” (Henriques, 2006, p. 220).

Para Meirieu (1998), os trabalhos de casa são sempre necessários; poderão ser, sem dúvida, menos numerosos, mais obje vos, mais acessíveis, mas é necessário que haja alguns para desenvolver nos alu- nos a autonomia e a responsabilidade, bem como o sen do de organização, o interesse em aprofundar os seus conhecimentos e o gosto pelo trabalho pessoal.

Quanto às desvantagens, para além do cansaço sico e psicológico, temos o papel de discrimina- ção social desempenhado pelo trabalho escolar em casa, tendo em conta que as crianças não têm as mesmas condições nem o mesmo apoio familiar. “Quando chegam à escola, as crianças têm diferentes histórias de vida. Por isso, não estão no mesmo pé de igualdade” (Benavente, 1991, p. 90).

Segundo Araújo (2006, p.8) teme-se o stress das crianças, considerando-se que todo o trabalho deve ser realizado na escola, acompanhado e orientado pelos professores.

Estudo

Tem-se assis do a grandes polémicas relacionadas com os Trabalhos de Casa (TPC), razão porque consideramos importante estudar esta problemá ca.

Pretendemos nesta inves gação perspe var a importância dos (TPC) no 1.º Ciclo do Ensino Básico, perspe vando as diferentes posições entre os professores, pais e alunos. Desta forma, quisemos apro- fundar a questão dos TPC e o papel que desempenham ou podem desempenhar no trabalho de profes- sores e alunos do 1.º Ciclo do Ensino Básico, e como as famílias encaram esta tarefa.

Metodologia

Este projeto desenvolveu-se na Escola Básica nº1 de Montemor-o-Novo, com o obje vo de perceber e compreender quais são as opiniões dos alunos, professores e pais rela vamente à realização dos tra- balhos de casa. Assim, surgiram algumas questões de par da: Qual a u lidade dos TPC?; Qual a opinião dos encarregados de educação, dos professores e dos alunos sobre este assunto?; Será que os TPC contribuem para uma aprendizagem e para o sucesso?; Contribuem os TPC para a descriminação social?

Rela vamente aos alunos quisemos:

Compreender que importância os alunos lhes atribuem;

Saber como se organizam os alunos para corresponder às exigências do professor face à realização dos trabalhos de casa;

Saber quais as difi culdades com que os alunos se deparam e como as superam;

Verifi car se os alunos consideram que a realização dos trabalhos de casa é benéfi ca no sucesso escolar;

Verifi car se os alunos realizam os trabalhos de casa sozinhos ou com ajuda dos pais ou outros atores;

Verifi car se as condições sociais dos alunos condicionam a realização com sucesso dos trabalhos de casa.

Rela vamente aos professores quisemos:

Compreender como é que os diversos professores perspe vam os trabalhos de casa, como é que orientam e u lizam esta dimensão do processo de aprendizagem;

Perceber que contributo os professores esperam e responsabilidades atribuem aos pais face á realização dos trabalhos de casa;

Compreender como ar culam diariamente os trabalhos de casa com a aprendizagem na aula; Saber que pos de trabalhos de casa selecionam os professores;

Perceber que competências desenvolvem nos alunos na sequência da realização dos trabalhos de casa.

Rela vamente aos pais/encarregados de educação quisemos:

Compreender como veem os pais a relação que os fi lhos estabelecem com os trabalhos de casa; Saber que repercussões têm os trabalhos de casa na vida familiar;

Saber se os trabalhos de casa são facilitadores da ligação da família com a escola ou geradores de tensões/confl itos familiares.

Foram realizadas entrevistas aos professores e ques onários aos encarregados de educação e aos alunos do 1.º Ciclo do Ensino Básico da Escola Básica nº1 de Montemor-o-Novo.

A nossa amostra foi cons tuída por 8 professores, 35 pais e 32 alunos.

Resultados

Apresentam-se, em seguida, as conclusões e implicações que resultam da análise dos dados ob dos junto dos diferentes sujeitos inquiridos, professores, alunos e pais/encarregados de educação.

Professores

Para analisar as respostas dadas pelos professores às perguntas colocadas nas entrevistas optámos pela análise de conteúdo categorial, através da análise de conteúdo.

Após a análise das entrevistas e de forma a facilitar a apreensão e a explicação da temá ca estudada, foram defi nidas categorias e subcategorias:

Conceção dos professores face aos T.P.C. Perspe va dos professores em relação aos T.P.C. Importância da realização dos T.P.C.na aprendizagem Introdução da correção dos T.P.C. na aula

Seleção dos T.P.C.

Importante realizar os T.P.C.

Competências desenvolvidas com os T.P.C. Condições de realização dos T.P.C. Acompanhamento na realização dos T.P.C.

Infl uência da profi ssão dos pais na realização dos T.P.C.

Alunos aprendem melhor se realizarem os T.P.C., no A.TL. e explicações ou com os pais.

Recorreu-se, ainda, à ilustração dos resultados através da transcrição de excertos das entrevistas, ou seja através das unidades de registo. Desta forma, os dados encontrados organizaram-se e apresenta- ram-se em quadro próprio.

Os resultados indicam que os professores consideram os trabalhos de casa um importante elo de ligação escola/família, cinco professoras foram da opinião que os trabalhos de casa são importantes para consolidação, sistema zação e revisão da matéria dada na aula. Constatou-se, ainda, que os pro- fessores consideram os trabalhos de casa importantes para sistema zar, treinar, criar hábitos de estudo,

memorizar e complementar as aprendizagens das aulas. Uma professora acha importante a sua reali- zação como complemento do trabalho realizado na aula, e outra considera que só são importantes se previamente acordados com os pais.

Rela vamente à introdução da correção dos T.P.C. na aula, é referenciado, pela maior parte das professoras, que esta deve ser realizada no início da aula. A totalidade das professoras responderam que selecionam os T.P.C. e fazem-no de acordo com os obje vos pretendidos, relacionados com as ma- térias dadas e que estão a ser trabalhadas em contexto de sala de aula, e ainda aqueles que os alunos consigam realizar sozinhos. São várias as competências que as professoras dizem serem desenvolvidas, nomeadamente competências de leitura e de escrita, cálculo, inves gação, organização, sen do de responsabilidade, ritmo, métodos de trabalho, autonomia, responsabilidade.

Todas as professoras concordam com o acompanhamento dos trabalhos de casa, o que melhora o desempenho dos alunos. Uma das professoras sublinha a importância deste acompanhamento para que os pais possam apoiar os fi lhos, enquanto uma outra professora concorda com o acompanhamento, não para ajuda, mas para controlo, para supervisionar o trabalho.

Todas as professoras concordam que a profi ssão dos pais tem infl uência na realização dos T.P.C., e por essa razão, uma professora diz que nunca devem ser alvo de classifi cação com peso na qualifi cação do aproveitamento dos alunos.

Uma professora defende que alguns pais, apesar das suas reduzidas habilitações e com algumas limitações, cumprem na mesma as suas obrigações e apoio dos trabalhos de casa dos seus educandos.

Na maioria, as professoras concordam que os alunos aprendem melhor se realizarem os T.P.C. com os pais. Apenas uma professora refere que os pais nem sempre podem ajudar os fi lhos devido a mo vos profi ssionais, tendo de recorrer a outros meios.

No documento Educações no Alentejo (páginas 97-100)