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Opções de metodologia

No documento Educações no Alentejo (páginas 80-83)

Ainda que sinte camente registam-se algumas das opções de ordem metodológica que orientaram o trabalho.

As balizas cronológicas deste trabalho são defi nidas por dois norma vos. De um lado, o Decreto-Lei 769-A/76 de 23 de outubro, sendo o primeiro norma vo pós 25 de Abril de 1974 que visa a organização dos comportamentos escolares, as relações estabelecidas na sala de aula e na escola; do outro lado, a Lei n.º 3/2008, de 18 janeiro, referente à primeira alteração ao Estatuto do Aluno do Ensino não Supe- rior. Um e outro têm como obje vo organizar o conjunto das relações que acontecem na sala de aula ou na Escola. O espaço que medeia entre eles possibilita ir ao encontro da necessidade de se analisar um período de tempo que permita perceber como se alteram conceções e lógicas, valores e ideias sobre as situações descritas como indisciplina na Escola, a organização das relações, o papel dos docentes e de alunos. Um e outro promovem os comportamentos que visam, por um lado, assegurar a plena estabilidade das relações escolares, o desenvolvimento de um processo de ensino-aprendizagem; por outro, referem-se à integração do aluno no cole vo mediante a defi nição das «regras de convivência». Contudo, ressalva-se que os norma vos considerados não signifi cam nem um ponto de par da, nem um ponto de chegada São elementos de referência para perspe var as considerações feitas sobre as situações de indisciplina (conceções, ideias, valores, causas, consequências) e os modos de organizar o conjunto das relações escolares (o papel dos docentes ou de aluno, do Estado ou da sociedade).

O estudo contém um conjunto de dicotomias que se cruzam ao longo do seu desenvolvimento. Nomeadamente, entre uma orientação dedu va e uma indu va, entre escalas de análise, o nacional e o local (e vice-versa), entre diacronia e sincronia, ou entre opções de natureza qualita va e quan ta va. Estas dicotomias caracterizam o estudo ao longo das suas fases de desenvolvimento, mas são simulta- neamente uma evidência da «complexidade mul dimensional» (Fisher, 2003, p. 117) dos elementos que se expressam na análise ao referencial dos instrumentos de regulação da ação pública no contexto educa vo. Evidência pois os instrumentos de regulação, mediante as dimensões do referencial que lhe estão inerentes, cruzam umas e outras na confi guração das relações, na sua ação com as diferentes formas de poder, na expressão das suas diferentes dimensões.

O design de inves gação levou em consideração a cons tuição de um suporte empírico que permi sse aceder às ideias e aos valores, às representações e crenças, aos modelos confi gurados (de aluno, profes- sor, entre a Escola e o social), como se alteram e como se relacionam com os instrumentos de ação. Para esse efeito, estabeleceu-se um acervo composto por dois conjuntos. Um primeiro é de base documental (assim designado por ser cons tuído por documentos produzidos pela escola). É composto pelo conjunto de atas (de Conselho de Turma ordinário ou de natureza disciplinar, de Conselho Pedagógico, dos Clubes

e das A vidades Extracurriculares), pelos Projetos (extra ou de complemento curricular, educa vo) e pelo Jornal Escolar. Um segundo, é cons tuído pelas entrevistas realizadas a elementos pertencentes à escola palco do estudo.

Conclusões

Sobressaiu do estudo desenvolvido a reconfi guração das dimensões inerentes ao referencial que, entre elas, defi nem as relações entre aluno e cidadão, escola e o meio, comportamentos e saúde. Re- confi guração perspe vada por intermédio da ação dos instrumentos, do que comportam, dos obje vos que apresentam, dos efeitos da sua ação.

A alteração do referencial vai ao encontro das dinâmicas sociais inerentes ao fi nal do século XX, onde o aluno e, consequentemente, o futuro cidadão, deixa de ser visto e prescrito como elemento passivo para ser ator do seu futuro, sujeito interveniente e autónomo, refl exivo e crí co na construção de ideias e da sua forma de ação. Esta alteração coloca em destaque as dimensões biológicas da ação, individual e cole va, onde o sujeito passa a ser visto, analisado e alvo de medidas que visam a vida como forma de governo.

Relacionar aquilo que foi descrito como indisciplina com o referencial dos instrumentos de regulação da ação pública possibilitou encarar o papel que é conferido àquele que será o cidadão, como são (re) desenhados os seus espaços de ação, quais as condições para que deles se aproprie, considerando ob- je vos, interesses e preocupações que se expressam num contexto. Ficou evidente a progressiva altera- ção das conceções de aluno que estão na base daquele que é o cidadão social. Primeiro na consideração de objeto da ação e da intervenção social e polí ca, educa va e pedagógica.

Enquanto conclusão destacaram-se algumas ideias que podem ser agrupadas em 3 áreas, uma rela- va à reconfi guração dos processos de regulação, onde os instrumentos adquirem papel essencial, uma segunda rela va às dimensões que sobressaem da ação dos instrumentos de regulação e uma terceira área em que se equaciona a manutenção das assimetrias inerentes às relações de poder e autoridade entre governo e governados que, ao fi m e ao cabo, a alteração de estratégias preconiza.

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Substâncias Psicoa vas e Redução de Riscos em Contexto Académi-

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