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A LUTA E RESISTÊNCIA CAMPONESA DOS EXPROPRIADOS PELA BARRAGEM DE ANAGÉ

4 A CONSTRUÇÃO DA BARRAGEM DE ANAGÉ: LUTAS E RESISTÊNCIAS CAMPONESAS

4.3 A LUTA E RESISTÊNCIA CAMPONESA DOS EXPROPRIADOS PELA BARRAGEM DE ANAGÉ

A poesia-manifesto que inicia este capítulo foi escrita pelos camponeses atingidos no contexto da construção da barragem e tenta expressar em versos os sentimentos e as angústias causados pela intervenção do Estado no seu território. Alguns trechos são muito apropriados para descrever a lógica que justificou a construção da barragem e a consequência na vida dos atingidos. Na primeira estrofe, destaca-se a mobilização para garantir as terras, “ou na lei, ou na marra, vamos recuperar”. Essa frase resulta do fato de que, embora depois da primeira paralisação da obra o DNOCS tenha aceitado negociar o pagamento das benfeitorias e das casas, como não havia firmado um acordo em relação às terras que foram alagadas, a obra foi paralisada mais uma vez.

Concretamente, a Barragem do Rio Gavião, antiga promessa e um sonho de muito tempo, começou a se realizar em 15 de outubro de 1986, após a assinatura, pelo então presidente da República José Sarney, do Decreto nº 93.411/1986, que “Declara de Utilidade Publica e Interesse Social, para Fins de Desapropriação pelo Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS), Áreas de Terra Necessárias à Construção do Açude de Anagé, nos Municípios de Anagé e Tremedal, Estado da Bahia, e dá Outras Providências”.

Essa teria sido uma grande conquista para a população local, não fosse a expropriação das famílias atingidas pelo decreto e as transformações nas formas de uso da terra e no convívio, que foram profundamente alterados com a construção dessa obra.

Após a assinatura do decreto, começaram os primeiros estudos de ordem geológica, assim como as pesquisas e o levantamento de informações sociais e econômicas das famílias que residiam e trabalhavam nas terras que estavam no perímetro delimitado para a construção da barragem.

Neste contexto, a população local já ouvia o comentário de que seria construída uma barragem naquelas localidades e, com a chegada dos pesquisadores da Tecnosan, eles tiveram a confirmação que, de fato, haveria uma grande obra do Governo Federal naquela região. Apesar das tramitações já estarem bem estruturadas e as obras já se iniciando, as famílias que seriam atingidas ainda não tinham nenhuma informação concreta sobre a obra nem quais seriam atingidos.

Após a conclusão dos Relatórios de Impacto Ambiental, elaborados pela Tecnosan, começaram as ações para dar início às obras. Até aquele momento, as famílias não tinham sido informadas oficialmente sobre a localização exata da barragem, nem quais famílias perderiam suas terras, casas e benfeitorias, não sabiam onde a água seria represada e qual o curso que tomaria tampouco a extensão e profundidade do lago. Tal postura das empresas que representam o interesse do Estado ocorreu em outros projetos de barragens e constitui uma estratégia para evitar uma maior organização dos atingidos.

Em entrevista, uma das lideranças dos camponeses atingidos e que participou da mobilização afirma:

Em 1986, começaram alguns estudos geológicos da área sem nenhum esclarecimento do pessoal e para aonde a água ia nem nada. A gente que já fazia parte das Comunidades Eclesiais de Base começou a sentir e saber de outros projetos como a Barragem de Sobradinho, Itaparica que

vinha mais uma luta como a que teve lá nesse lugar. As informações começaram a chegar à gente de que seria mais um jogo de expulsão dos moradores do Rio Gavião. Aí, sabendo disso, a gente começa a fazer umas reuniões com famílias que morava na área do leito do rio e dos ribeirinhos, pra dizer que eles abrissem o olho que isso ia expulsar as famílias (D. R. R, pesquisa de campo, 2008).

O entrevistado era membro da Comissão Rural Diocesana da Diocese de Vitória da Conquista, que, à época, organizava e apoiava as lutas dos camponeses e trabalhadores rurais e tinha as mesmas funções da atual Comissão Pastoral da Terra (CPT). Em seu depoimento, evidencia-se o papel fundamental de alguns setores da Igreja Católica naquele período, sobremodo dos clérigos vinculados à Teologia da Libertação,15 e dos leigos que participavam das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), que sempre apoiaram a organização e mobilização popular contra as mais diversas formas de opressão.

No caso dos atingidos por barragens no Estado da Bahia, esse apoio foi marcante, como na construção das barragens de Sobradinho e Itaparica, servindo de exemplo e de alerta diante da forma arbitrária e injusta adotada pelo Estado nos projetos já executados e que, certamente, seria adotada no caso da construção da Barragem de Anagé.

Após as primeiras reuniões realizadas com o apoio da Comissão Rural Diocesana, os camponeses foram informados sobre o processo de expropriação a que seriam submetidos e, com isso, iniciaram-se as primeiras mobilizações daqueles que viviam nas áreas onde a barragem seria construída e que eram contrários à postura do DNOCS no que se refere ao tratamento e às negociações com as famílias que perderam suas terras. Lutaram contra o processo de expropriação, pois, para a obra ter início, era necessário “limpar a área”.

Com a preparação da área para a obra, a empresa começou a retirar todos os camponeses de suas terras e começou a derrubar casas, cercas e destruir outras benfeitorias, como currais e roças, para que os trabalhos de terraplanagem tivessem início, da mesma forma como ocorreu no período da abertura da estrada, quando muitas roças, currais e demais benfeitorias foram destruídas na calada da noite, sem o mínimo de respeito para com os camponeses que, em muitos casos, sequer foram avisados.

Alguns meses após a assinatura do decreto e já depois de aberta a estrada que liga a sede do município de Anagé ao local onde a barragem seria construída, chegaram os

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A Teologia da Libertação refere-se a uma organização ocorrida na Igreja Católica, principalmente na América Latina, tendo como um dos principais representantes Frei Leonardo Boff. Baseava-se nos ideais marxistas, defendia a mobilização e a organização política da Igreja em apoio aos pobres, contra as diversas formas de opressão, perseguição e dominação.

operários e fizeram a montagem do acampamento da obra, exatamente no dia 5 de janeiro de 1987, numa fazenda na localidade Passagem do Chiqueiro (OLIVEIRA, 2003, p. 28). A implantação do acampamento surpreendeu os moradores, pois ainda não haviam conseguido negociar com o DNOCS, e a obra já estava sendo iniciada. A apreensão aumentava, pois ainda não sabiam se seriam ressarcidos pelas perdas.

Diante dessa situação, os camponeses passaram a ter consciência de que a realização do antigo sonho de ter acesso à água estava se efetivando como um pesadelo, a perda da terra. Como relatou em entrevista uma camponesa atingida e que permanece na área próxima à barragem até os dias atuais: “Não adianta chegar tanta água e nós perder nossa terra. Antes ter as terras mesmo seca. O bom é ter a terra e ter a água”.

As Figuras 02 e 03 são imagens históricas do contexto da construção da barragem no início da terraplanagem e dos primeiros barramentos:

Figura 04: Início das obras, maio de 1987

A Figura 02 retrata o início das obras de escavação no mês de maio de 1987 e mostra o processo de abertura do local onde foi construído o barramento para a formação da barragem. Nela é possível perceber o transporte de materiais e o grande número de caçambas e caminhões removendo pedras, terras para outros locais.

A Figura 03 retrata outro estágio, novembro de 1998, quando a obra já estava quase finalizada e já é possível perceber que o barramento já havia sido feito e o lago já começava a se formar, apesar de não ter represado uma quantidade significativa de água. Podem ser percebidos ainda alguns remanescentes da vegetação local, que não foram totalmente destruídos.

Figura 05: Início do enchimento da barragem

Fonte: José Silva, Jornal A TARDE, novembro de 1988.

Essas imagens históricas do período da construção mostram as transformações na paisagem, as mudanças na estrutura geomorfológica da área e a alteração no curso do rio. Para a população local, é a expressão material da transformação territorial que se

concretizava, a destruição do lugar, a dimensão imaterial do espaço vivido, do território do trabalho e da vida, que começou a ser inundado pelas águas do Rio Gavião.

Para desarticular as mobilizações e enfraquecer a resistência dos camponeses atingidos e evitar que as obras paralisassem, os políticos e empresários locais que eram favoráveis à construção da barragem, mesmo sem considerar a necessidade de garantir o pagamento das benfeitorias ou o reassentamento e querendo que a obra fosse executada a qualquer custo e com a maior rapidez possível, organizavam-se, pois estavam em defesa de seus interesses políticos e econômicos mais diretos.

Essa parcela da população, com o apoio de deputados estaduais e federais, se aliou aos políticos locais e se articulou com lideranças e alguns produtores rurais para aumentar o contingente de apoiadores, utilizando o “discurso” de que a construção desse grande reservatório de água solucionaria o problema da escassez ou, mesmo, falta de água para as cidades próximas e para a agricultura, conseguindo, dessa forma, conquistar o apoio de parte da população das cidades vizinhas.

O depoimento de um entrevistado demonstra como foi esse processo:

Aí em março ou abril de 1986, o ex-deputado Élquisson Soares fez uma reunião no eixo da barragem, na Passagem do Chiqueiro, e aí ele prometeu que o pessoal não tivesse nenhuma reação porque se as famílias viessem perder as terras iam ganhar outras propriedades melhores que as que eles tinham. Isso ele falou com o senhor Clemente Vieira, que era uma liderança dali e conseguisse acalmar o povo dali. E a gente entrou fazendo outro discurso, mostrando que as pessoas iam perder a terra total. Aí puxamos um movimento, mas um movimento não legal, era autônomo de CEBs e outras entidades, e começamos a discutir, mas nunca a gente sabia quem era responsável pela aquela obra, nós sabia que era o DNOCS e a empresa Andrade Gutierrez que foi a empresa contratada (D. R. R., pesquisa de campo, 2008).

Nesse primeiro momento, estabelece-se um dos principais conflitos: os favoráveis à construção da barragem, que representariam o “progresso” e o “desenvolvimento” para a região; e os contrários, que estavam emperrando a “modernização” e a melhoria das condições de vida das pessoas das cidades vizinhas e da própria população local. A postura dos políticos e representantes das classes dominantes foi, na verdade, uma grande armadilha que teve o propósito de enfraquecer e descaracterizar a legitimidade da luta dos camponeses que estavam prestes a perder suas terras, o espaço de reprodução de suas vidas, onde tinham se constituído e reproduzido como camponeses por décadas. Entretanto,

os camponeses, de forma unânime, afirmavam que não eram contrários à barragem, mas, sim, à postura adotada pelo DNOCS e que estavam em defesa dos seus direitos.

Esse conflito reflete, claramente, a própria essência da luta das classes sociais e o choque de interesses: de um lado trabalhadores camponeses lutando para continuar se reproduzindo socialmente por meio do trabalho com a terra; do outro, o Estado e a pequena burguesia interessada em se apropriar das terras, para implantar um “modelo” de desenvolvimento agrícola baseado na monocultura irrigada, utilizando-se da força de trabalho contratada para trabalhar nas empresas agrícolas que se estabeleceram.

Segundo uma das lideranças dos camponeses, D. R. R., a articulação foi tão bem engendrada que os políticos locais e empresários, em parceria com os deputados, chegaram a criar uma associação para congregar as pessoas que estavam a favor do DNOCS e da construção da barragem a qualquer custo. Muitas delas não tinham consciência de que também seriam prejudicadas com a barragem, inclusive com o risco de perderem suas terras.

Como ele afirma:

Aí nasceu uma associação desse outro grupo ligado aos políticos de Caraíbas, de Anagé e de Tremedal e que no passado essa área era de Tremedal pra brigar contra a gente. Aí nós tava brigando contra o DNOCS, a Andrade Gutierrez e contra os políticos locais. E, para num fugir, nós também enfrentava uma briga com a paróquia de Anagé que era contra a nossa luta. Frei Adriano, que já é falecido hoje, era contrário a nossa luta, queimou a gente em alguns lugares, dizia que a gente tava impedindo o progresso chegar à região (D. R., pesquisa de campo, 2008).

Desde o início do processo de construção da barragem, os conflitos foram marcantes, assim como a resistência e, principalmente, a luta das famílias camponesas, que, mesmo diante de tantas forças contrárias, persistiram e se organizaram em um movimento que reuniu diversas famílias durante todo o tempo de duração das obras, com algumas ações que chegaram a paralisar os trabalhos, como ocupação do canteiro de obras e dos acampamentos na área onde a água seria represada.

O manifesto-poesia que inicia este texto reflete o sentimento dos camponeses e relata esse contexto como se observa nestas estrofes: “Povo unido é povo forte, não cansamos de falar. É por isso que resolvemos, mais uma vez a obra parar, pois queremos nossa terra ou na lei ou na marra, vamos recuperar.”.

No dia 06 de março de 1987 nós ocupemo a área, com mais de 600 pessoas e paralisamos toda a obra e deixou só o setor de ar. Naquela época quem era o Governador da Bahia era o Waldir Pires. E tinha ido a Polícia Militar daqui de Conquista em seguida, quando ele tomou conhecimento, ele mandou retirar a polícia. Ele foi avisado pelo deputado Alcides Modesto do Partido dos Trabalhadores que a luta era para garantir a gente continuar vivendo na terra, e aí gerou um bocado de briga porque nós já sabia que ia perder a terra. A luta da gente era por moradia, por uma terra irrigada, casa, saúde, escola e ter qualidade de vida, essas coisas. E também pra saber até onde a água ia porque inda tinha gente no leito do rio, para garantir quem tava correndo risco. A coisa foi tão jogada que num inda tinha um estudo do projeto de até aonde ia a água (D. R., pesquisa de campo, 2008).

Com essa ação, os camponeses demonstraram sua capacidade de mobilização, marcada pela disposição para a luta e pela resistência, pois tinham sido capazes de paralisar a obra e continuavam dispostos a enfrentar tudo e todos em defesa de suas terras, pois, para eles, as terras eram a base de sua reprodução social, por isso estavam, na verdade, lutando para defender suas vidas, pois não é possível um camponês se realizar materialmente sem sua terra.

Como expõe o Padre João Cardoso, na época coordenador da Comissão Rural Diocesana, atual Comissão Pastoral da Terra (CPT):

O que nós queríamos era garantir que os camponeses não perdessem suas terras, porque a questão agrária na região Sudoeste já era complicada, e a barragem sendo construída provocaria a expropriação de muitas famílias, acirrando ainda mais os conflitos de terra aqui na região, porque a terra para o camponês é tudo, sem a terra o camponês não vive, por isso o apoio da Igreja tinha o propósito de defender a vida, como um bem supremo. Nós entendíamos que, ao garantirmos o direito à terra, estamos garantindo o direito à vida. Nós sabíamos que a principal bandeira de luta era garantir as indenizações, não apenas em dinheiro, mas, principalmente, em terra, tínhamos esse lema “terra por terra” (J.C., pesquisa de campo, 2008).

Ante essa situação, o DNOCS aceitou estabelecer um diálogo com os camponeses e abriu espaço para a negociação, dispondo-se a ouvir as principais reivindicações das famílias atingidas. Depois de analisá-las, comprometeu-se a atender os pleitos dos camponeses, como o reassentamento, a construção das casas, o pagamento das benfeitorias

e a concessão de cinco hectares de terra irrigada para todas as famílias16. Entretanto poucas reivindicações foram atendidas de imediato, e, também, os representantes do Estado não deram o tratamento correto à situação. Os camponeses, tendo consciência de que seria um processo contínuo de luta e contestação, voltaram a se organizar e mais uma vez paralisaram as obras para que fosse firmado um novo acordo.

Com muita pressão, depois da barragem mais ou menos já com seis metros de altura, começaram a fazer um estudo pra mostrar até onde a água ia chegar até aí, e desse jeito nós era obrigado a sair da área porque se ficasse a água ia acabar com tudo. A gente parou o primeiro momento por 15 dias ocupando na área, nós saiu, mas ficou acampando, mas já tinha muita benfeitoria perdida. Mas depois de quinze dias se eles não cumprisse o que tinha combinado nós ia voltar a mobilizar o pessoal e depois disso nós percebeu que eles não cumpriu o acordo nós voltamos e ocupamos por mais 90 dias. O DNOCS se comprometeu a pagar as benfeitorias e aí nós paramos a obra totalmente porque eles não honrou o compromisso. Eles foi levando a gente no cansaço, enrolando, mas achando que por nós ser camponês não ia ficar muito tempo resistindo. Mas eles esqueceram que ali tava os camponês em cima da sua propriedade e depois de quinze dias, sabendo que nós num ia sair mesmo, tentaram fazer uma forma de pressão com os operários, oferecendo trezentas horas de pagamento extra pra quem conseguisse tirar nós daquela área. Só que a maioria dos operários era da região mesmo e aí nós convenceu que essa terra era nossa, dos nossos avós, pais (D. R., pesquisa de campo, 2008).

O Estado utilizou diversas estratégias para desmobilizar os camponeses, seja de forma direta por meio dos seus organismos, seja com a utilização das forças contratadas para executar a obra, colocando os trabalhadores da empresa de engenharia contra os trabalhadores rurais, como vimos no depoimento anterior. Uma estratégia perversa, pois criou outro conflito entre os trabalhadores, como resgata Diacísio, então membro da Comissão Rural Diocesana e atualmente membro da coordenação do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA):

Só que a maioria dos operários era da região mesmo e aí nós convenceu que essa terra era nossa, dos nossos avós, pais. Mas teve muita jogada para tentar mobilizar eles ao nosso favor, aí nós disse que se nós saísse da área ia dizer que os pernambucanos e os cearenses enganou nós mesmo, porque botou nós contra nós mesmo e conseguiu tirar da terra (D. R., pesquisa de campo, 2008).

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Essas informações foram obtidas no documento elaborado na época pelos camponeses e que foi entregue ao DNOCS, está disponível nos anexos da Dissertação de Lucas Pereira.

Mesmo diante dos interesses econômicos, mas, contando com a capacidade de convencimento, os camponeses conseguiram conscientizar alguns operários de que a luta deles era justa e que eles também eram trabalhadores que estavam em defesa de suas terras e do direito de continuarem sobrevivendo. Diante desse argumento, a consciência de classe derrubou a estratégia do Estado de pagar um valor extra aos que conseguissem retirar os camponeses da área.

Outro momento muito delicado ocorreu quando os camponeses estavam acampados nas proximidades das obras, e o então prefeito de Anagé, Élbson Soares – Bibi, como é popularmente conhecido –, que, por “coincidência”, está no seu quinto mandato, organizou um movimento para destruir o acampamento dos camponeses, com o propósito de garantir a continuidade das obras, sem levar em consideração a situação das famílias que seriam atingidas. O depoimento de uma camponesa que foi parcialmente atingida e que ainda permanece nas terras próximas à barragem expressa esse momento histórico:

Mas aí muita gente deu força pra nós de tudo que é lado, e aí com esse apoio nós ganhou, nós que não saiu de lá de cima, veio pra queimar os barracos que nós tava ficando lá em cima. Foi o povo de Bibi com a nação dele, veio dizendo que nós queremos a barragem, mas nós disse que nós não era contra a barragem. Nós queria garantir nossa terra, e veio um mutirão de gente para queimar os barracos. Aí foi os que tava a favor de nós ligou para Dom Celso, que era o bispo, panhou o povo para vim e as polícias veio, o policial cercou junto de nós e disse ao povo daqui vocês num passa um palmo. E tinha muita gente pra queimar, e eles vieram com força, tinha tanta gente, até criança, aí eles veio para queimar mesmo, quando eles estavam chegando, a polícia chegou antes deles, dali pra cima não passava nem um palmo, a polícia veio pra defender nós. Até hoje nós não gosta desse prefeito por conta disso, que ele veio botar fogo nos nossos barracos, mas nós parou a obra mais de duas vezes (A.M, pesquisa de Campo, 2011).

O movimento de resistência dos camponeses contou com o apoio de autoridades e de entidades representativas, como a Comissão Rural Diocesana, atual Comissão Pastoral da Terra; o Bispo da Diocese de Vitória da Conquista, Dom Celso José; os movimentos