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Métodos de coleta de dados na pesquisa etnográfica – a triangulação

SUPORTES TEÓRICOS

4 PESQUISA ETNOGRÁFICO-DISCURSIVA

90 Tradução minha “Reflexivity, broadly defined, means a turning back on oneself, a process of self-reference.

4.2 Pesquisa Etnográfica e Reflexividade

4.2.1 Métodos de coleta de dados na pesquisa etnográfica – a triangulação

Uma preocupação comumente encontrada em quem deseja desenvolver uma pesquisa qualitativa etnográfica é questão da validade, visto que, como já comentado, é uma característica da pesquisa etnográfica não possuir instrumentos de medição exatos de aferimento, já que ela conta com processos mais subjetivos de análise e que possuem uma relação direta com o pesquisador. Com o objetivo então de se conseguir uma melhor compreensão do contexto pesquisado, de entendê-lo com maior profundidade e complexidade e, ao mesmo tempo, dar maior rigor aos processos de análise, costuma-se adotar como estratégia de pesquisa a triangulação (DENZIN; LINCOLN, 2008), que nada mais é do que o uso de mais de um método (FLICK, 2009b, p. 71) de coleta de dados com o objetivo de abordar os diferentes aspectos das questões de pesquisa.

Utilizei para a triangulação de meus dados na instituição a observação participante, as notas de campo, os diários de pesquisa e as entrevistas semiestruturadas para os três grupos pesquisados, sendo que todos serão abordados ao longo deste capítulo. Para o grupo das técnicas e das pedagogas acrescentei outro recurso metodológico que foi o diário de participante93. A utilização desses métodos de forma conjugada muito me ajudou a entender o funcionamento e a dinâmica dos profissionais e das profissionais dentro da instituição.

Quanto às mães, o uso da triangulação também me ajudou a compreender melhor como suas concepções de letramento, inclusão e seu entendimento a respeito das DIDs de seus filhos e filhas contribuíram para suas tomadas de decisão em relação aos tratamentos que poderiam ser ofertados a eles.

93 Esse método será explicado logo à frente.

4.2.1.1 Observação participante, notas de campo e diários de pesquisa

A observação participante é definida por Davies (1999, p. 67) como um período de tempo prolongado “normalmente de pelo menos um ano”, no qual um pesquisador “vive entre as pessoas as quais ele está pesquisando participando em suas vidas diárias de forma a obter a mais completa compreensão possível dos significados culturais e as estruturas sociais

do grupo e como eles estão inter-relacionados” 94. De forma que, para me familiarizar com a

dinâmica dos centros de Atendimento Educacional Especializado (AEE), a observação participante foi meu primeiro método de pesquisa. Costumava chegar bem no início do turno vespertino para estar presente à chamada “acolhida” dos meninos e das meninas. Ficava nas salas de atendimento das pedagogas e lá permanecia durante o atendimento do grupo terapêutico, permanecia nos intervalos com as professoras, os alunos, as alunas e as merendeiras, indo embora somente ao final do expediente. Assim, iniciei a pesquisa indo duas vezes por semana à instituição passando toda a tarde nos atendimentos educacionais.

Como no início de minhas visitas eu ainda não conhecia nem o grupo terapêutico nem seu modo de funcionamento, tentei acompanhar os atendimentos das profissionais em suas respectivas salas localizadas no lado clínico da instituição; porém, senti muita dificuldade, pois, por esses atendimentos serem em sua maioria individuais houve resistência para me deixarem entrar e acompanhá-los. No entanto, com o tempo foi-me explicado que muitos dos atendimentos aos alunos e alunas da instituição eram realizados por grupos de quatro técnicos de diferentes áreas nas salas de aula, e que esses grupos eram chamados de grupo terapêutico. Dessa forma, foi mais fácil para eu conseguir permissão para acompanhar esses atendimentos.

Essa assistência ao grupo terapêutico mostrou ser de fundamental importância para mim no sentido de me familiarizar tanto com a dinâmica do centro quanto no que diz respeito aos relacionamentos multiprofissionais travados ali, pois ficou mais claro para mim que eram naqueles momentos em que acontecia o maior contato entre as pedagogas e os outros profissionais do corpo clínico. Essa percepção foi tão importante que mudou o direcionamento das entrevistas semiestruturadas, pois procurei a partir de então entrevistar somente as técnicas95 que faziam parte dos grupos terapêuticos, já que os outros praticamente não tinham contato com as pedagogas. Todo esse processo de mudança e adaptação são

94Tradução minha: “(...) usually at least a year (...), living among the people he or she is studying, participating

in their daily lives in order to gain as complete an understanding as possible of the cultural meanings and social structures of the group and how these are interrelated” (DAVIES, 1999, p. 67).

recorrentes em uma pesquisa etnográfica e fazem parte da reflexividade do pesquisador e da pesquisadora visto o campo ser constituído de um contexto complexo e dinâmico a ser compreendido pelo estudioso (DAVIES, 1999, p. 31).

Assim, desenvolvi uma rotina de visitas à instituição e com o tempo pude perceber que as participantes também estavam se acostumando em me ver sempre naqueles dias e naqueles horários. Ao longo dessas visitas, portanto, fui compreendendo melhor que as dinâmicas dos três grupos que acompanhei e entrevistei são bem diferentes umas das outras, o que exigiu de mim adaptações nos meus procedimentos metodológicos, a saber: com respeito às pedagogas, acompanhava-as desde a acolhida aos meninos e meninas no AEE e, em seguida, dirigia-me a uma sala de atendimento – sala essa que normalmente variava de acordo com o grupo terapêutico que eu iria acompanhar naquela tarde. Assim, às 14 horas o grupo terapêutico da respectiva sala chegava para os atendimentos e eu acompanhava o encontro da pedagoga com o grupo, sua saída da sala e permanecia ali durante todo o atendimento participando também, sempre que possível, por auxiliá-las no desenvolvimento das atividades propostas. Cada grupo terapêutico visita o AEE duas vezes por semana (às terças-feiras e quintas-feiras) e, nessas tardes, cada grupo permanece em uma sala por meia hora, de forma que visitam duas salas por semana, visto que cada grupo sempre atende nas mesmas duas salas. Esses, portanto, foram os principais dias da semana nos quais desenvolvi grande parte de minha observação participante, meus diários de pesquisa e as notas de campo. Contudo, com o decorrer do tempo e com o início das entrevistas passei a frequentar a instituição mais dias da semana, algumas vezes até pelas manhãs de forma a me adequar à disponibilidade das profissionais para as entrevistas.

Às 15 horas era a hora do intervalo e os grupos terapêuticos voltavam para o lado clínico da instituição para realizarem os atendimentos individuais em suas respectivas áreas – tanto do SUS quanto de alguns meninos e meninas que frequentam o AEE.

Após o intervalo eu me dirigia à sala de convivência das mães a fim de acompanhar informalmente o desenvolvimento de seus trabalhos manuais e também de acompanhar e, muitas vezes mesmo, de participar em suas conversas cotidianas. Ainda com respeito às mães, eu também participei na ONG, às segundas-feiras, do grupo de apoio no qual elas se reuniam com uma psicóloga da instituição, que fazia voluntariamente essas reuniões, onde elas tinham a oportunidade de exporem seus sentimentos, aflições, esperanças e lutas travadas em seu cotidiano com seus filhos e filhas que recebiam atendimento ali, com seus outros filhos e filhas e com seus companheiros ou outros parentes. Esses momentos para

mim foram de grande emoção e de muito engrandecimento pessoal, e no contexto da pesquisa, ajudaram sobremaneira, na minha aproximação delas.

O sucesso que consegui obter com as visitas rotineiras ao AEE foi conseguido em grande parte pela disponibilidade com a qual eu procurava sempre me colocar para com as participantes e para todos e todas as funcionárias em geral, de forma a ser aceita mais facilmente naquele contexto profissional. Angrosino destaca essa postura do pesquisador ou pesquisadora como sendo fundamentais em uma observação participante:

O observador participante deve, então, fazer o esforço de ser aceitável como pessoa (o que vai significar coisas diferentes em termos de comportamento, de modos de viver e, às vezes, até de aparência em diferentes culturas) e não simplesmente respeitável como cientista. Assim, ele ou ela deve adotar um estilo que agrade à maioria das pessoas entre as quais se propõe viver. Como tal, o observador participante não pode esperar ter controle de todos os elementos da pesquisa; ele ou ela depende da boa vontade da comunidade (...) e deve haver um acordo tácito de “ir com a maré”, mesmo que isso não funcione dentro de um roteiro de pesquisa cuidadosamente preparado (ANGROSINO, 2009, p. 33).

De forma que as notas de campo foram englobando todos esses passos tomados por mim durante o desenvolvimento da pesquisa, incluindo aí minhas descobertas sobre o funcionamento diário da instituição, como o funcionamento dos grupos terapêuticos, que não me foi explicado logo de início, mas que foi sendo entendido por mim e também explicado pela comunidade à proporção que aprofundava minhas relações ali.

Minhas notas de campo tomaram a forma de diários de pesquisa porque, de acordo com a definição de Sanjek (1993, p. 108), os diários também têm a função catártica de propiciar ao pesquisador ou pesquisadora expressar seus sentimentos em relação ao campo e aos seus achados, incluindo surpresas, descobertas, conquistas, assim como frustrações. Assim, ao chegar à minha residência procurava fazer um diário do que tinha acontecido naquele dia, destacando pontos do meu interesse para o entendimento da dinâmica do centro.

Assim como também mantinha conversas informais com os profissionais e as profissionais da instituição em todos os momentos que percebia conveniente para eles, o que muitas vezes envolvia perguntas de minha parte sobre alguns detalhes do funcionamento daquele centro e perguntas sobre a inclusão de maneira geral, anotações essas que eram feitas nas notas de campo. Também era comum da parte delas comentar sobre os meninos e meninas que estavam sendo atendidos naquele momento, comentavam sobre suas deficiências, no que haviam melhorado em termos cognitivos principalmente, algumas de suas características pessoais e assim por diante, o que acabou também por me aproximar desses meninos e dessas meninas e ser reconhecida e cumprimentada por eles e elas tanto na chegada quanto na saída.

Assim, além do diário, as notas de campo serviram para lembrar e esclarecer, por exemplo, alguns procedimentos cotidianos e outros nem tanto que aconteciam na instituição.

Em uma pesquisa etnográfica, as notas de campo sob a forma de diários de pesquisa são um instrumento de acumulação de informações e de conhecimento do pesquisador ou pesquisadora e, ao consultá-la vez após vez ao longo do estudo, propicia-lhe reflexão sobre a prática.

Em suma, aliar a observação participante a esses dois métodos de coleta de dados proporcionou-me um conhecimento mais geral e ao mesmo tempo mais específico da instituição, além de me deixar mais familiarizada com todos ali. No entanto, é importante salientar que esses métodos não foram utilizados como texto para análise, mas sim como um recurso a mais para embasar e ampliar o foco das minhas análises dos textos advindos das entrevistas transcritas.

4.2.1.2 Entrevistas semiestruturadas

As entrevistas semiestruturadas foram outro método de pesquisa qualitativa, utilizadas por mim, na composição da triangulação. Angrosino (2008, p. 67) define as entrevistas semiestruturadas como sendo aquelas que seguem “de perto o tópico escolhido de antemão e apresenta questões destinadas a extrair informação específica sobre aquele tópico”

Esse tipo de entrevista por ter como característica a pouca estruturação e não possuir procedimentos padronizados de conduta requer do pesquisador habilidade para lidar com situações não previstas que possam aparecer no momento da entrevista. Destreza essa que poderá ser alcançada se o pesquisador estiver profundamente familiarizado com os assuntos que serão tratados na entrevista assim como conhecer as opções metodológicas que estão a seu dispor (KVALE, 1996).

Dessa forma, houve uma criteriosa preocupação de minha parte em, antes da realização da entrevista, escolher os assuntos a serem tratados de forma que eles estivessem em consonância com as questões de pesquisa. Assim, eles foram organizados de forma temática (Anexo A) de modo que os seguintes assuntos relacionados às identidades profissionais fossem abordados: as práticas de letramento desses e dessas profissionais – tanto em casa quando na instituição; suas identidades profissionais, envolvendo as questões de como percebem a si mesmos e a si mesmas, enquanto profissionais, e de como pensam que são vistas ou vistos pelas pessoas que os cercam e as cercam; e, por último, como a

multidisciplinaridade presente na instituição é vivenciada cotidianamente por eles e elas. E ainda existe o último tópico presente nas questões de pesquisa que relaciona os temas da Educação Especial, da Inclusão e da deficiência com o trabalho desenvolvido na instituição. No entanto, de acordo como o que foi comentado há pouco, pelo fato das entrevistas serem pouco estruturadas, muitas vezes as participantes acabavam falando até mais do que havia sido perguntado anteriormente, ou ainda, desviavam para outro assunto que lhes vinha à lembrança que, para elas, era relevante ao contexto da conversa. Isso acontecia muito frequentemente com as mães ao contarem detalhes de suas vidas tanto relacionados ao passado em relação aos seus filhos ou filhas deficientes intelectuais, como seu cotidiano com eles ou elas.

Assim, mesmo possuindo um roteiro temático dos assuntos a serem discutidos, tive que tomar muitas decisões na hora mesmo do desenvolvimento da entrevista, por exemplo, se deixava o assunto desviar um pouco ou se fazia alguma outra pergunta para voltar ao assunto original. Porém, quando percebia que era importante para a participante aquela informação, procurava deixá-la à vontade para falar sobre ela, sendo que depois eu conseguia voltar aos assuntos planejados previamente de forma mais natural.

Considero que essa postura do pesquisador ou da pesquisadora tenha a ver com o que Shuman (2005, p. 8) nomeia de empatia (empathy) e simpatia ou compreensão (sympathy), sendo que simpatia ou compreensão refere-se à resposta da ouvinte (no caso, eu enquanto pesquisadora) à situação da participante, e simpatia como a tentativa da ouvinte (outra vez, eu como pesquisadora) em experenciar o que está sendo relatado. Conforme destaca a autora, na pesquisa etnográfica na qual as entrevistas são analisadas como narrativas, a ênfase na empatia contribui para o desenvolvimento de uma relação de confiança entre participantes e pesquisador ou pesquisadora onde seus respectivos contextos culturais, políticos e históricos são respeitados (SHUMAN, 2005, p. 25).

Conseguir essa dinâmica entre a ouvinte (eu, como pesquisadora) e as participantes foi o que mais procurei alcançar em minhas entrevistas de forma a deixá-las o mais à vontade possível para falar tanto sobre sua realidade profissional frente às novas diretrizes governamentais que versam sobre a inclusão e a educação especial (as pedagogas e membros dos grupos terapêuticos) e, quanto ao grupo de mães, para contarem suas experiências, sentimentos e expectativas na criação de seus filhos e filhas no contexto de suas deficiências.

No entanto, conforme comentado na seção anterior, para conseguir essa desejável aproximação das participantes, foi de fundamental importância a triangulação dos métodos da

pesquisa etnogáfica-discursiva adotados por mim: a observação participante, os diários de pesquisa e as notas de campo. De forma que, quando dei início às entrevistas, as participantes já me conheciam há a quase um ano, tendo eu convivido com elas nesse período, em maior ou menor grau, em média, duas tardes por semana.

Assim, de acordo com esse cotidiano de pesquisa desenvolvido por mim, onde consegui inserir-me no contexto dos três grupos pesquisados, considero que rompi, pelo menos um pouco, com o estranhamento normalmente existente entre os participantes de uma pesquisa etnográfica e o pesquisador (FLICK, 2009a, p. 53-54). Uma das consequências desejáveis dessa conquista pôde ser observada nas entrevistas, onde a maioria delas fluiu da forma esperada por mim pelo fato de muitas das participantes demonstrarem estar confortáveis para responderem às questões suscitadas, conforme será detalhado logo em seguida

Com o decorrer das visitas e enquanto esperava a aprovação do Comitê de Ética (que só saiu no final do ano de 2010) para dar início às entrevistas, foi ficando cada vez mais patente as observações de Barton e Hamilton (1998, p. 64-65) sobre a importância da realização de entrevistas em uma pesquisa etnográfica, que não deseja amparar suas análises somente com base nas observações, visto que o objetivo é checar, diretamente com as participantes, a dinâmica de suas relações profissionais diárias na instituição pesquisada – essa seria, segundo Barton e Hamilton (1998, p. 64-65) uma forma de geração de dados mais direta do que aquela que tem sua origem somente das observações e que se sustenta somente com as interpretações do pesquisador ou da pesquisadora.

Com base nisso, foi decidido que realizaria duas entrevistas: a primeira durante a pesquisa de campo, assim que saiu a aprovação do Comitê de Ética, e última no final da pesquisa de campo. Sendo que, intercalada por elas, pedi que as participantes preenchessem o diário de participantes descrevendo suas atividades diárias na instituição durante duas semanas. Assim, na segunda e última entrevista, além das questões trabalhadas na primeira entrevista também foram inseridas questões que se mostraram relevantes nos diários de participantes.

O uso conjugado desses métodos etnográficos ajudou a descobrir o que Heath e Street (2008, p. 31) consideram como constituindo o que os etnógrafos realmente desejam saber ao entrarem em campo: ”o que está acontecendo aqui no campo de pesquisa que

escolhi?” 96. Sendo que essa questão é profunda e mais complexa do que possa parecer, pois

96 Tradução minha: “What is happening here in the field site(s) I have chosen?” (HEATH; STREET, 2008, p.

envolve, além da observação e da descrição de eventos e das ações das pessoas participantes no contexto do desenvolvimento da pesquisa, o que elas afirmam nas entrevistas como correspondendo à realidade da instituição pesquisada. Com todas essas informações em mãos, o pesquisador ou a pesquisadora confronta-se com as seguintes questões:

O que o etnógrafo encontra quando delineia as linhas de conexão entre o que é ouvido, dito e feito por um indivíduo (...)? E o que dizer a respeito dos estudos de grupos que interagem em suas próprias comunidades de maneiras historicamente estabelecidas enquanto que, nesse meio tempo negam conhecimentos extraídos dos hábitos que seguem por todas as suas vidas? Como as pessoas se adaptam quando suas vidas mudam radicalmente como resultado de decisões tomadas por forças sociais e instituições as quais elas possuem pouco ou nenhum controle?97

Com esse quadro mais completo em sua mente o pesquisador pode comparar o que é dito e o que é realmente feito no dia a dia e assim tentar compreender de forma mais profunda pelo menos algumas das nuances da comunidade pesquisada

Detalharei a seguir os passos tomados para a aprovação de meu projeto no Comitê de Ética e os procedimentos éticos de pesquisa tomados antes, durante e depois das entrevistas com as participantes.

4.2.1.2.1 Assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido e a realização das entrevistas

Conforme explicado detalhadamente na seção anterior, a convivência com os profissionais e as profissionais do Centro ocorreu de forma intensa a partir de março de 2010 estendendo-se por pouco mais de um ano. Nesse ínterim, realizei as observações participantes, desenvolvi um diário de pesquisa e escrevi notas de campo. Somente quando recebi a permissão do Comitê de Ética da Universidade Federal do Ceará (UFC), em setembro de 2010 para realizar a pesquisa98, é que comecei a gravar as entrevistas semiestruturadas. Realizei duas entrevistas semiestruturadas com quase a totalidade das profissionais participantes da pesquisa e uma entrevista com cada uma das mães participantes99. Nove profissionais participaram da pesquisa – sendo que destas, cinco são pedagogas, três compõem os grupos

97 Tradução minha: “What does the ethnographer find when tracing the lines of connection for what is heard,

said, and done by an individual (…)? What about the studies of groups that interact in their own communities in historically established ways while meanwhile denying knowledge drawn from habits they have followed all their lives? How do people adapt when their daily lives shift radically as a result of decisions brought about by social forces and institutions over which they have little or no control?”

98 Somente comecei as entrevistas em outubro de 2010. 99 Logo à frente detalharei esses passos.

terapêuticos e uma é assistente social. E as mães foram oito100. De forma que no total, entre