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CAPÍTULO 3 METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO

3.4. Métodos de recolha de dados

Segundo Yin (2005) e Patton (1987), o estudo de caso deve utilizar o maior número de fontes de informação, na medida em que qualquer técnica de recolha de dados usada possui vantagens e desvantagens. De acordo com os mesmos autores elas complementam-se. Afirmam que o uso de múltiplas e diferentes fontes para a obtenção de evidências designa-se por triangulação e assume uma importância fulcral. Permite recolher, analisar e relacionar dados de fontes de informação diferentes (Sousa, 2005).

Tendo em atenção o objectivo e as questões do estudo e o interesse da investigadora em ter acesso ao maior número possível de informação, neste estudo, utilizaram-se diferentes meios de recolha de dados: três entrevistas, a observação directa, notas de campo e a análise documental.

3.4.1. Entrevista

De acordo com Sousa (2005), a entrevista é um instrumento de recolha de dados que permite obter informações sobre determinado assunto e indivíduo, estabelecendo-se com este uma

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conversa agradável e amena ao longo da qual o entrevistado vai facultando as informações que o entrevistador espera obter. Para Tuckman (2005), um processo directo de obter a informação sobre um determinado fenómeno que nos interessa, consiste em questionar os indivíduos envolvidos. Diz que pode emergir um quadro relativamente “representativo da ocorrência ou ausência do fenómeno e, desse modo, propiciar-nos uma base para a sua interpretação” (p. 517), na medida em que diferentes pessoas possuem e transmitem diferentes perspectivas.

Neste estudo foram realizadas três tipos de entrevistas semi-estruturadas, em três momentos diferentes. Uma primeira entrevista biográfica (Anexo II) realizada individualmente e áudio-gravada a cada um dos 32 formandos dos três Cursos EFA B3, de dupla certificação, nocturnos. Esta decorreu na primeira fase do estudo e teve como finalidade a recolha de dados biográficos para proceder à caracterização destes formandos. Não se optou pela realização de uma ficha biográfica devido às características deste público, ou seja, às dificuldades que muitos destes formandos tinham em expressar por escrito as suas respostas. Uma segunda entrevista (Anexo III), também áudio-gravada, realizada individualmente apenas pelos formandos dos 3 grupos participantes, após a realização do estudo-piloto, ainda na segunda fase do estudo. Pretendeu-se conhecer um pouco as suas opiniões relativamente ao conhecimento sobre a resolução de problemas e ao seu gosto em resolver problemas. Uma terceira entrevista (Anexo IV) que não foi áudio-gravada e que se efectuou aos elementos dos 3 grupos participantes, imediatamente a seguir à resolução de cada um dos problemas propostos, com a finalidade de se recolherem as opiniões destes sobre a resolução do problema e o trabalho realizado. Refira-se que, nesta entrevista, não se definiu qual dos formandos do grupo responderia às questões formuladas, gerando-se um diálogo entre a formadora e estes, no sentido em que tanto respondia um como outro formando. Acrescente-se que estes umas vezes optaram por responder às questões, na primeira pessoa do singular e outra na primeira pessoa do plural, pelo que muitos destes relatos, que constam nos capítulos 4, 5 e 6, referentes aos estudos de casos de Carlos e Maria, Cristina e Rosa e João e Sara, respectivamente, estejam ou na primeira pessoa do singular ou do plural, embora correspondam a uma entrevista feita ao grupo.

Segundo Sousa (2005), a grande vantagem de usar entrevistas neste tipo de estudos é que permitem “avaliar atitudes, opiniões, condutas, podendo o entrevistador observar o modo, a ênfase e as atitudes com que o entrevistado acompanha as suas respostas” (p. 248). Lüdke e André (1986) dizem que as entrevistas semi-estruturadas têm como grande vantagem permitir que o entrevistador efectue as adaptações necessárias, uma vez que essas entrevistas se desenvolvem a

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partir de um esquema básico, mas que não é aplicado de forma rígida. Optou-se, neste estudo, por realizar entrevistas semi-estruturadas por serem aquelas que permitem uma melhor interacção entre o investigador e os participantes de modo que fossem menos condicionadas.

3.4.2. Observação

De acordo com Sousa (2005), a observação é um excelente método de recolha de dados, pois permite registar os acontecimentos, os comportamentos e as atitudes no contexto próprio sem alterar a espontaneidade, contudo não se pode ter a pretensão de querer ou de achar que é possível observar tudo de forma exaustiva. Refere ainda que a observação no âmbito da investigação é “formal, controlada, sistematizada e centrada sobre uma situação específica, procurando o maior rigor e objectividade dos dados observados” (p. 109).

Para Tuckam (2005), a observação significa olhar ou “procurar encontrar algo” (p. 523), para: a) comprovar ou não as interpretações emergentes dos relatórios ou das entrevistas realizadas e b) tentar encontrar situações sobre as quais se pretenderá desenvolver questões para entrevistas posteriores. Segundo o autor deve-se observar o acontecimento em acção, fazer várias observações e permanecer o mais discreto possível para “apreender tanto quanto for possível, sem influenciar aquilo para que está a olhar” (p. 524).

Neste estudo, foram observadas cinco sessões de formação da Área de Competência-Chave Matemática para a Vida, em cada um dos 3 Cursos EFA B3, de dupla certificação, nocturnos, onde a investigadora era também a formadora. Nessas sessões de formação, os formandos estavam organizados em pequenos grupos, de 2 ou 3 elementos, pelo que a investigadora procurou ter em atenção o trabalho desenvolvido durante a resolução de problemas. Contudo, em cada sessão, de cada curso, seguiu mais de perto o trabalho do grupo participante no estudo. Durante a observação das respectivas sessões, os diálogos estabelecidos entre a investigadora e os participantes e entre estes não foram gravados, mas sim observados. Não se utilizou qualquer tecnologia como auxílio na observação directa pelo facto de se tratar de formandos adultos e de estes se sentirem muito pouco à vontade nesse tipo de ambiente, o que poderia alterar ou influenciar os resultados da investigação. Sempre que os participantes solicitavam a ajuda da investigadora e/ou formadora, esta procurou discutir com os intervenientes as suas questões sem, no entanto, apresentar respostas definitivas, recorrendo às interpelações e incentivando a criatividade dos formandos.

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Considerou-se importante utilizar esta técnica de recolha de dados, a observação, porque a análise do registo das suas resoluções não mostra ou não deixa transparecer as reacções, as atitudes, os desabafos, as alegrias e os desânimos.

3.4.3. Notas de campo

Neste estudo, durante a observação das sessões de formação, foram recolhidas notas de campo com a finalidade de descrever tudo o que foi possível ser observado, relativamente aos participantes no estudo. Estas, segundo Bogdan e Biklen (2006), têm diversos estilos e devem ser precisas, detalhadas e extensivas. São, segundo os mesmos autores, “o relato escrito daquilo que o investigador ouve, vê, experiencia e pensa” (p. 150) durante a recolha de dados. Por um lado, temos um documento descritivo que procura captar uma imagem dos acontecimentos, das conversas observadas ou dos indivíduos, e, por outro, um documento reflexivo que tenta expressar a visão do observador, as suas preocupações e ideias.

3.4.4. Documentos

Yin (2005) considera que os documentos são uma fonte de dados com um valor global. São uma fonte estável, que pode ser vista e (re)vista o número de vezes que se pretender, exacta, que contém referências e particularidades de acontecimentos e que permite uma ampla abertura, abarcando vários acontecimentos e diferentes ambientes. Para Tuckman (2005) os documentos podem ser preparados pelos participantes e observadores, ser descritivos ou interpretativos e assumir diversos formatos.

Neste estudo, foram analisados os documentos escritos dos 3 grupos participantes (as suas resoluções dos problemas propostos), as notas de campo efectuadas pela investigadora, e os documentos que resultaram das transcrições das entrevistas áudio-gravadas e realizadas aos elementos dos grupos participantes (individualmente e em grupo). Particularmente para as entrevistas, para facilitar a sua referência, utiliza-se a sigla E de entrevista, seguida dos números 1, 2 ou 3, consoante se trate da primeira, segunda ou terceira entrevista. No caso das entrevistas de grupo utiliza-se a sigla E3 seguida das iniciais dos nomes dos formandos: E3-CM; E3-CR e E3-JS.

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