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Métodos sistemáticos de classificação dos tipos

5 Comunicação visual e comunicação gráfica

6.3 Métodos sistemáticos de classificação dos tipos

Ao imenso acervo de formas de letras, acumulado no decorrer dos mais de 500 anos da tipografia, vieram juntar-se, nas últimas décadas, milhares de fontes de tipo digitais. Depois da vulgarização das tecnologias informáticas de processamento de texto, grande parte do tipo de design anterior a estas tecnologias, utilizado na composição tipográfica dita “ a quente”, manual e por linotipia, e “a frio”, no curto período da fotocomposição, foi recuperado para a tipografia digital.

Para além da reformulação informática das colecções tipográficas “clássicas”, este período, iniciado pelos anos 80 do século XX, tem sido caracterizado pela inovação formal constante e pela prolixidade, o que levaria para limites nem sequer inimagináveis, a constituição, já materialmente impossível, de um catálogo de todas as fontes tipográficas existentes. Razões, como a pressão do mercado para a permanente inovação, levam a este movimento. A possibilidade material do aparecimento constante de novas fontes de tipo, tem explicação fácil: pôr à disposição dos impressores, um jogo operacional de tipo material, implicava, para além do seu estudo e desenho, a gravação de punções, a elaboração de matrizes para fundição e a fundição, industrial e em série, de cada uma das letras e demais caracteres, operações laboriosas e energeticamente gulosas. Uma fonte tipográfica digital, é uma aplicação informática que pode, facilmente, ser distribuída através da internet. A sua programação é complexa, mas está preestabelecida e normalizada e faz-se com software especializado, que a facilita. Uma fonte informática, integra, as especificações gráficas das letras e dos outros caracteres e as regras geométricas da sua associação. Bom ou mau, também o desenho desses elementos é muito facilitado pelo software de desenho vectorial. Tudo isto leva a que, junto com a oferta de fontes de grande qualidade, edições de companhias especializadas ou de autores independentes, cuidadosos e competentes, prolifere também lixo tipográfico, fontes de fraca qualidade, quer informática quer tipográfica.

A grande quantidade e variedade de oferta de fontes tipográficas digitais, de qualidade muito diversa, veio tornar particularmente importante a sua classificação sistemática. Não existe, no entanto, um método único, inequívoco e indiscutível para a classificação tipográfica, que pode obedecer a diferentes critérios, como, por exemplo, a “genética” de um tipo de letra, ou a estrutura e a disposição relativa dos elementos que a compõem.

A análise estrutural da forma da letra, foi iniciada por grandes figuras da Renascença, como Albrecht Dürer (1471–1528), Luca Pacioli (1445-ca.1517), Leonardo da Vinci (1452-1519) e Geoffroy Tory (1480-1533), que se interessaram pela geometria da letra e pelas proporções dos seus elementos estruturais, que todos eles relacionaram com as proporções do corpo humano (Fig. 66).36

A taxinomia tipográfi ca racional, a divisão em famílias, da letra, baseada na análise das subtilezas geométricas do seu desenho, sobretudo do remate das suas extremidades, as patilhas, a caracterização das chamadas invariantes tipográfi cas, caixa alta, caixa baixa, redondo, itálico, fi no, negrito, os métodos de medida do tipo são relativamente recentes e vieram substituir regras empíricas, quase sempre locais ou regionais, que se foram estabelecendo no decorrer dos séculos.

Fig. 66 - Estudos de letra de Fra Luca Pacioli, Geoffroy Tory e de Albrecht Dürer. “Pacioli”, fonte digital criada a

A primeira sistematização tipográfica moderna, a classificação Thibaudeau, apareceu em 1921, em França, publicada na obra de Francis Thibaudeau (1860-1925), “La Lettre d’Imprimerie”, onde são caracterizadas, a partir da forma das patilhas ou remates das letras, quatro grandes famílias: Elzévirs, com patilhas triangulares; Didots, com patilhas filiformes, contrastando com os cheios da letra; Egípcias, com patilhas rectangulares e Antigas, sem patilha37. A estas, juntou Thibaudeau, duas categorias suplementares, “Escritas” e “Fantasias”. Explicou esta classificação e outros conceitos e teorias tipográficos, na obra acima referida e em “Manuel français de typographie moderne”, publicado em 1934 (Fig. 67).

Apaixonado por música, Thibaudeau compôs uma cantata a Gutenberg, cuja interpretação dirigiu, em 1891, em Angers [DE 07].

• Classificação Thibaudeau

o Elzévirs (Patilhas triangulares). Nome dado em honra da família de tipógrafos holandeses, Elzevier ou Elzevir. Os Garamond, Palatino e Times são aqui agrupados.

o Didots (Patilhas filiformes) Letras com grande contraste entre os cheios e os finos, correspondem aos Didones da classificação Vox-Atypi. Exemplos: Didot, Bodoni, Baskerville...

o Egípcias (Patilhas rectangulares). Correspondem às Mecanas da classificação Vox- Atypi. Exemplos : Memphis, Rockwell...

o Antigas (Sem patilhas, ou sans serif em inglês). Na classificação Vox-Atypi, correspondem às Lineares.

A obra de Francis Thibaudeau motivou Samuel Théodore William Monod, dito Maximilien Vox, (1894–1974), francês também, a procurar desenvolvê-la e aperfeiçoá-la. De 1928 a 1934 apresentou na publicação periódica “Les divertissements typographiques”, na forma de modelos de composição as séries tipográficas das fundições Debergny-Peignot. Em 1936 elaborou um “Standard typographique” para a companhia ferroviária PLM, que foi reeditado, em 1943, para companhia ferroviária nacional francesa, SNCF. Iniciador dos seminários internacionais gráficos, de Lur, na Provença, com o editor Emmanuel Ollive, fundou em 1949, a importante revista de artes gráficas Caractère. Vox foi também escritor, gravador em madeira, ilustrador de livros e jornalista.

A sua classificação de 1952 é feita em função da estrutura técnica e artística dos caracteres, ancorada na evolução histórica das formas na escrita e na tipografia e já não, apenas, pelas características das patilhas. Esta classificação veio a ser adoptada em 1962, em Verona, pela ATYPi, Associação Tipográfica Internacional. Na classificação Vox-Atypi o grupo Elzévir é dividido em: Humanas; Garaldas; Reais; Incisas. As escritas são divididas em Manuais e Scriptes; Juntam-se-lhes duas famílias, a das góticas Fractura e uma outra congregando os caracteres não latinos (Fig. 68).38

• Classificação Vox-Atypi

o Humanas. Caracteres latinos, do fim do séc. XV em Veneza, influenciados pelos manuscritos humanistas da época e também letra contemporânea neles inspirada, e caracterizada pelo aspecto pesado resultante do fraco contraste das espessuras da letra, pelo eixo, inclinado para trás e pela travessa oblíqua do ‘e’. �

o Garaldas. Este nome foi inventado em homenagem aos criadores do género de letra por ele abrangido, o gravador de caracteres francês Claude Garamond e o editor e impressor veneziano Aldo Manuci. As Garaldas, derivadas das humanas, têm proporções mais delicadas e junções mais abertas. A travessa do “e” toma a forma horizontal.

o Reais. Nome que refere as encomendas de tipo pela coroa, no período clássico do séc. XIX. São consideradas como estando na transição entre as Garaldas e as Didones. Os contrastes dos traços são acentuados, o eixo tende a endireitar-se, as patilhas tornam-se mais finas.

o Didones. O nome deste grupo homenageia a dinastia de editores e impressores franceses, Didot e o impressor parmesão Gianbattista Bodoni. Caracterizam- se pela verticalidade, forte contraste entre cheios e finos e patilhas perfeitamente horizontais.

o Mecanas. Também chamadas Egípcias em referencia ao grande interesse que reinava pela egiptologia no princípio do séc. XIX, época em que apareceu este género de letra. São caracterizadas pelas patilhas espessas e pelo fraco contraste entre finos e cheios.

o Lineares. Conjunto dos caracteres sem patilha, que foram também chamados, conforme as épocas, Grotesca, Antiga ou Baton.

o Incisas. Nome dado ao tipo com formas aparentadas com os caracteres gravados na pedra ou no metal, têm patilhas pequenas e triangulares.

o Escritas. De inspiração caligráfica, parecem escritas à pena. o Manuais. Inspiram-se da escrita desenhada ao pincel.

o Fracturas. Do alemão Fraktur, agrupa a letra quebrada, vulgarmente chamada gótica, em referencia a escritas medievais. Os caracteres deste grupo distinguem-se pela formas pontiagudas e angulosas.

o Não-Latinas. Família heterogénea que agrupa as versões tipográficas das escritas não baseadas no alfabeto latino.

• Aldo Novarese (1920-1995), propôs em Turim, em1980, uma classificação em 10 famílias, com base na forma dos remates da letra ( Fig. 69).

• Outras classificações:

o DIN 16518-Em 1964, Herman Zapf apresentou, com Willy Mengel, a norma DIN 16518, a qual desenvolve a Classificação da ATYPI detalhando-a com referencias concretas. Na DIN 16518, as famílias Humanas e Garaldas são reunidas num só grupo: Renascença Antiga (Quadro 9).

Quadro 9 - Classificação tipográfica segundo a norma DIN 16518.

�DIN 16518 1964 1 Venezianische Renaissance-Antiqua; 2 Französische Renaissance-Antiqua; 3 Barock-Antiqua; 4 Klassizistische Antiqua; 5 Serifenbetonte Linear-Antiqua; 6 Serifenlose Linear-Antiqua; 7 Antiqua-Varianten; 8 Schreibschriften; 9 Handschriftliche Antiqua; 10 Gebrochene Schriften; 11 Fremde Schriften.

o British Standards Classification of Typefaces, (BS 2961) de 1967, segue na generalidade, o sistema de classificação Style Era39. Entre as diferenças entre as duas classificações, nota-se que a BS 2961 faz menor diferenciação entre as categorias catalogadas no grupo Old Style, não definindo o Dutch-English Old Style e inclui mais elementos no grupo denominado Sans Serif. Adiciona categorias como Glyphic e Graphic (Quadro 10).

Quadro 10 - Classificação tipográfica segundo a norma BS 2961.

BS 2961 1967 1 Humanist; 2 Garald; 3 Transitional; 4 Didone; 5 Mechanistic;

6 Lineal: a Lineal Grotesque; b Lineal Neo-Grotesque c Lineal Geometric; d Lineal Humanist;

7 Incised; 8 Script; 9 Manual; 10 Black Letter; 11 Non-Latin.

Quadro 11- Categorias tipográficas em francês, inglês e alemão

Francês Inglês Alemão

Humanes Humanistic Venetianische Antiqua Garaldes Garaldic Renaissance Antiqua Réales Transitional Barok Antiqua

Didones Didonic Klassisistische Antiqua Mécanes Mechanistic Serifenbetonte Linear Antiqua Linéales Lineal Serifenlose Linear Antiqua Incises Incised Sonstige Antiqua Varianten Scriptes Script Schreibschriften

Manuaires Manual Handschriftliche Antiqua Fractures Black Letter Gebrochen Schriften Non latines Non latin Fremde Schriftarten

• O W3C,organismo de normalisação das teccnologias da Web, definiu para a sua norma de apresentação CSS cinco categorias genéricas de fontes.40

o serif : letra com patilha o sans-serif : letra sem patilha

o cursive : letra com aparência manuscrita

o fantasy : fontes cujos caracteres são exóticos mais decorativos do que utilizáveis em textos longos.

o monospace : fontes com espacejamento fixo, como nas máquinas de escrever. o ISO/IEC/9541-1O , Annex A font classification, define as estruturas da letra nas

fontes tipográficas: 3. ISO/IEC 9541-1:1991; 2:1991; -3:1994 o Information technology – Font information interchange

o Part 1: Architecture (available in English only) o Part 2: Interchange; Format

Marcel Jacno e Jean Alessandrini

São também notáveis as classificações propostas pelos designers gráficos e tipográficos Marcel Jacno e Jean Alessandrini. que abaixo resumimos (Fig. 70).

o Marcel Jacno cuja classificação de (1904-1989), apresentada em 1978 baseia-se apenas em 4 estilos de letra: linear; romano antigo; romano moderno; egípcio. Para Jacno todos os alfabetos têm os mesmos elementos estruturais. É a diferença (ou a ausência) dos seus elementos de alinhamento ou de elementos decorativos que determina a sua pertença a uma dessas categorias.

o Jean Alessandrini (Marseille,1942), cuja classificação Codex 80, de 1980, é baseada numa grelha de 11 factores, ditos variáveis independentes. Não entrando em ruptura com classificações anteriores, Alessandrini amplifica-as, trazendo detalhes às incidências geográficas, históricas e estilísticas.

A Imprensa Nacional editou, em 1971, um catálogo (Fig. 71) no qual apresentava, pela primeira vez em Portugal, uma classifi cação estilística reconhecida internacionalmente, concretizada na Classifi cação Morfológica Decimal. Esse catálogo, em edições posteriores foi enriquecido com nova apresentação gráfi ca e novas séries alfabéticas . Lê-se na sua apresentação:

o “Da classifi cação de P. Thibaudeau à de Maximilian Vox e à de Aldo Novarese passou- se à mais recente e, naturalmente, à mais completa, proposta por G. Pellitteri, que, no campo da tipologia, tem uma obra «difi cilmente superável», no dizer de H. Morison (EUA)...”

o “...Cada série é identifi cada por um nome referente ao estilo tipológico, pela classe decimal (dois números à cabeça da página), pela indicação numérica e nome do tipo, seguido das suas características codifi cadas por símbolos (inclinado, redondo, estreito, largo, claro, seminegro ou negro, etc.) e fi nalmente, pelo número do código mecanográfi co...”

Classificações tipográficas de produtores de fontes

Os principais produtores de tipo reconverteram a sua actividade e dedicam-se hoje à criação e comercialização de fontes digitais. Em vários casos, essas empresas têm sistemas de classificação próprios (Quadro 12) [CTPG].

Quadro 12 - Classificações tipográficas Monotype, BitStream, LinoType, Adobe Sistems, Microsoft, URW++ e Panose.

Monotype 1970 1- Antique; 2 Blackletter; 3- Brush Script; 4- Clarendon; 5- Copperplate Script; 6- Didones; 7- Egyptian; 8- Fat Face; 9- Garaldes;

10- Geometric Sans Serif; 11- Glyphic; 12- Gothic; 13- Grotesque; 14- Humanist; 15- Informal Script; 16- Inline Face; 17- Ionic; 18- Italic; 19- Latin; 20- Lineale; 21- Monoline; 22- Modern Face; 23- Oldface; 24- Oldstyle; 25- Outline; 26- Sans Serif; 27- Script; 28- Shadow; 29- Stencil Letter; 30- Titling; 31 Transitional; 32 Venetian.

BitStream 1986 1- Oldstyle; 2- Transitional; 3- Modern;

4- Clarendon; 5- Slabserif; 6- Latin; 7- Freeform; 8- Sanserif; 9- Engravers; 10- Stencil;

11- Strike-On; 12- Computer;13- Decorated; 14- Script; 15- Exotic; 16- Pi; … Non-Roman.

LinoType 1998 1- Old Face; 2- Transitional; 3- Modern Face; 4- Slab Serif; 5- Sans Serif;

6- Decorative & Display;

7- Script & Brush; 8- Blackletter; 9- Non-Roman; 10- Pi.

Adobe Sistems 1991 1- Venetian; 2- Garalde; 3- Transitional; 4- Didone; 5- Slab Serif; 6- Sans Serif;

7- Glyphic; 8- Script; 9- Display; 10- Blackletter; 11- Symbol; 12- Non-Latin.

Microsoft 1991 1- Roman; 2- Swiss; 3- Modern; 4- Script 5- Decorative.

URW++ 1996 1- Roman Serif: a- Old Style; b- Transitional; c- Modern Style; d- Heavy Serif; e- Glyphic; f- Round; g- Roman Sans.

2- Linear Serif: a- Slab Serif; b- Glyphic; c- Round; 3- Linear Sans; a- Old Style; b- Transitional; c- Modern Style; d- Geometric; e- Round; f- Blackletter; 4- Script: a- Old Style; b- Modern Style; c- Freeform; d- Linear; e- Display; 5- Technical: a- Computer; b- Typewriter; c- Stencil; d- Traffic.

6- Non-Latin. 7- Symbols.