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2 Diferentes escolas na análise dos fenómenos de comunicação

2.2 Símbolos e signos

Um signo cria-se num determinado contexto cultural e pode representar qualquer objecto, categoria ou conjunto bem como figurar conceitos, valores e qualidades. Regra geral, no contexto da comunicação humana, os signos consistem em representações gráficas, objectos visíveis, sons e até sensações olfactivas e tácteis que podem estar estruturados em sistemas de signos. Podem ser signos ou símbolos, por exemplo, um astro, um país, uma região, uma nação, uma espécie biológica, uma obra de arte, pictórica ou literária, um edifício, um ornamento, uma peça de vestuário, uma arma, um utensílio, uma ferramenta, máquina ou sistema, ou outros.

Considera-se que a comunicação humana, verbal ou não verbal, directa ou mediada, se faz através de signos e de sistemas de signos e o campo científico em que se analisa esse processo é a Semiótica.

2.2.1 Semiótica e Semiologia

Segundo Santaella [LS 83] e Nöth [WN 95] o nome semiótica vem da raiz grega semeion que quer dizer signo, definindo-a como “ a ciência dos signos, é a ciência de toda e qualquer linguagem.... A Semiótica é a ciência que tem por objecto de investigação todas as linguagens possíveis, ou seja, que tem por objectivo o exame dos modos de constituição de todo e qualquer fenómeno de produção de significação e de sentido” [LS 83].

Semiótica e Semiologia são, por vezes, utilizadas como sinónimos mas, na verdade, a Semiologia é a Linguística de Saussure que é aplicada à linguagem verbal (oral ou escrita), às linguagens dos surdos-mudos, etc. e a Semióticaestuda os conceitos relativos a todas as linguagens, humanas ou não humanas [WN 95].

A Semiologia na tradição de Poinsot, Locke e Peirce “não tem como princípio ou quase exclusiva inspiração a fala e a língua humana. Ela vê na semiose um processo muito mais vasto e fundamental envolvendo o universo como físico no processo da semiose humana, e fazendo da semiose humana uma parte da semiose da natureza” [JD 90].

2.2.2 Origens e percurso da Semiótica

“O estudo dos signos é tão antigo como o próprio pensamento filosófico. Efectivamente não é outra a tese a retirar dos estudos de Ernst Cassirer na sua Filosofia das Formas Simbólicas, nomeadamente quando mostra que a questão da linguagem, e concomitantemente a dos signos, é tão antiga como a questão do ser. Testemunho dessa antiguidade é claramente o diálogo Crátilo de Platão”[AF 06].

Galeno (139-199), médico grego de Pérgamo, chamou semiótica à arte de diagnosticar a partir dos sintomas das doenças e de outros sinais mostrados pelos pacientes.

Em 1690, JohnLocke (1632-1704), médico e filosofo inglês, publicou um ensaio Essay Concerning Human Understanding [JL 1690] no qual considerou a Semiótica (Semeiotiké), a Física e a Ética, os ramos principais do conhecimento humana [JL 1690].

Em 1964, Thomas Sebeok (1920-2001) usa pela primeira vez a terminologia Semiotiks na colectânea por ele organizada, Approaches to Semiotics [TS 64].

A semiótica contemporânea desenvolveu-se tal como é referido por Fidalgo5 a partir dos trabalhos dos dois investigadores, Peirce e Saussure, tendo Peirce abordado a semiótica seguindo a via lógico-filosófica e Saussure criado a semiologia linguística que abriu caminho ao estruturalismo. [AF 06].

Peirce sustentava a sua semiótica na Fenomenologia, descrição e análise das experiências do homem, em todos os momentos da vida, sendo o fenómeno tudo aquilo , real ou não, que é percebido pelo homem e estabelecendo três Categorias do Pensamento e da Natureza ou Categorias Universais do Signo:

• Primeiridade, corresponde ao acaso, o fenómeno no seu estado puro que se apresenta à consciência;

• Secundidade, corresponde à acção e reacção, é o conflito da consciência com o fenómeno, buscando entendê-lo;

• Terceiridade, o processo, a mediação, é a interpretação e generalização dos fenómenos.

Saussure encarava a Linguística como um ramo duma ciência mais geral dos signos, que propôs designar-se como Semiologia na qual são conceitos fundamentais:

• a teoria do valor postulando que os signos linguísticos estão relacionados de forma diferencial e negativa;

• a separação entre língua e fala onde a fala é uma manifestação individual não passível de análise;

• a visão sincrónica da linguística em contraste com a visão diacrónica da linguística histórica realizada até ao século XIX.

2.2.3 Processo de comunicação e processo de significação

Eco entende que o signo se insere no processo da comunicação segundo o anteriormente referido modelo de Shannon e Weaver não considerando que os estímulos sejam signos por ausência de representação de outro objecto [UE 77].

2.2.4 Significante, significado e referente Desde os Estóicos que se distinguem no processo sígnico:

• semainon, o signo propriamente dito, considerado como entidade física; • semainomenon; o que é dito pelo signo e que não é uma entidade física; • pragma, objecto, entidade física, acontecimento ou acção, referido pelo signo.

Ecoretoma esta estrutura simplificada do signo, utilizando os termos significante, significado e referente como os equivalentes, respectivamente, de semainon, semainomenon e pragma [UE 77] (Fig. 5).

Fig. 5 - Estrutura simplificada do signo, segundo Eco [UE 77].

Note-se ainda que outros autores utilizaram diferentes nomenclaturas para significante, significado e referente.6

2.2.5 Dimensões do signo

Eco tal como Morris [UE 77] considera três dimensões do signo ou três formas de o abordar: • semântica, o signo considerado em relação ao que significa;

• sintáctica, as regras da combinação dos signos em sequências e estruturas;

• pragmática, o signo encarado a partir das suas origens, dos seus efeitos, dos seus usos. 2.2.6 Caracterização e classificações de signos

Os signos podem não ter significado para além de si próprios, podem ser unívocos, referirem-se a outros símbolos ou à significação, serem equívocos, plurívocos e ainda vagos ou poéticos.

Para além disso, Piercedefiniu unitariamente como signos:

• rema, termo simples ou descrição ou ainda função proposicional; • dicisigno, proposição, por exemplo,”Sócrates é mortal”;

Foram também definidos por Pierce os seguintes signos:

• qualisigno ou tone, “uma qualidade que é um signo”, característica significante, por exemplo, o tom de voz com que se pronuncia uma palavra.

• sinsigno ou token, “uma coisa ou um acontecimento factualmente existente que é um signo”por exemplo, ex. uma palavra num texto [UE 77].

• legissigno ou type, “uma lei que é um signo”, por exemplo, uma palavra tal como é definida nos dicionários [UE 77].

Segundo Peirce (cit. [UE 77] os signos podem ser classificados de acordo com: • a natureza da fonte ou do receptor, ou seja:

o artificiais, os que são produzidos por alguém, com a intenção de comunicar segundo um determinado código;

o naturais, os que são sintomas e indícios, expressivos de um estado de alma;

o verdadeiramente naturais os que são sintomas ou indícios, consequentes a qualquer fenómeno físico, recebidos por seres humanos e interpretados em função da cultura e experiência anteriores.

o o grau de especificidade sígnica;

o a intenção e grau de consciência do seu emissor; o pelo canal físico ou pelo aparelho receptor humano; o pela relação com o seu significado;

o pela replicabilidade do significante;

o pelo tipo de ligação pressuposta com o referente; o pelo comportamento que estimulam no destinatário. Nota7

Importa ainda referir que os signos simples podem ser: • identificadores que se subdividem em: • indicadores; • descritores; • nominadores. • designadores; • apreciadores; • prescritores;

• formadores que se subdividem-se em: • determinadores;

• conectores. Nota8

Os signos podem ainda ser: • únicos;

• replicáveis que podem ter:

• valor sinsígnico, como é caso das palavras, dos diagramas e de símbolos; • valor de qualisigno como é caso das notas de banco ou das fotografias.

Finalmente, do ponto de vista da ligação do signo com o referente, Peirce [UE 77], estabeleceu três categorias de signos:

• índice é um signo com um vínculo físico com o objecto;

• ícone é um signo que possui atributos semelhantes a particularidades do objecto; • símbolo é um signo cuja relação com o objecto é arbitrária [UE 77].

2.3 Cibernética

A palavra cibernética, do inglês cybernetics, tem a mesma origem que “governar”, deriva do grego kibernetes, que significa estar ao leme, pilotar, dirigir um navio. Platão utilizou-a, aplicando-a, metaforicamente, à liderança politica. Foi nesse sentido que, em 1834, André-Marie Ampère (1775-1836), físico, fundador da electrodinâmica, trouxe cybernétique para o francês, num ensaio sobre a filosofia das ciências, Exposition analytique d’une classification naturelle, [AA 1834 e 1843], para denominar as ciências políticas. [PCW 07].

Em inglês, a palavra aparece em 1948 em Cybernetics or Control and Communication in the Animal and the Machine, uma obra de Norbert Wiener. [NW 48] Este texto insere-se nas actividades de um grupo interdisciplinar de cientistas americanos reunidos, por iniciativa da fundação Macy em 1946, para reflectir sobre o tema Circular Causal and Feedback Mechanisms in Biological and Social Systems (Casualidade Circular e Mecanismos de Retorno na Biologia e nos Sistemas Sociais), aquilo a que se veio a chamar Cibernética [PCW 07].

Nesse grupo juntavam-se, entre outros, Warren Mc Culloch (1892-1969), um neurofisiologista apaixonado pela lógica que, desde 1923, tinha procurado uma correspondência entre o cálculo lógico das proposições e as regras da excitação e inibição dos neurónios no sistema nervoso, John von Neumann (1903-1957), um dos mais brilhantes matemáticos da sua geração, que, entre outras coisas, participou de modo decisivo no desenvolvimento dos computadores, Claude Shannon (1916–2001), um dos fundadores da teoria da informação, os fisiologistas Lorente de No (1902-1990) e Arturo Rosenblueth (1900-1970) e, pelo lado das ciências humanas, Gregory Bateson (1904-1980) e Margaret Mead (1901-1978)[PCW 07].

A Cibernética, outra perspectiva de análise da Comunicação, é a da ciência do controlo dos sistemas, materiais ou virtuais, criada em 1948 pelo americano Norbert Wiener (1894-1964) entendendo-se como sistemas entidades como uma sociedade, uma economia, uma rede de computadores, uma máquina, uma empresa, uma célula, um organismo, um cérebro, um indivíduo ou um ecossistema [PCW 07].

A cibernética pressupõe os conceitos de comunicação, retorno ou feedback, de auto-regulação ou homeoestase e de autopoiese, ou capacidade de autoregeneração de um sistema preocupando- se mais com os aspectos esquemáticos do funcionamento dos seus objectos do que com as características da sua construção material [PCW 07].

Couffignal (1902-1966) , outro dos pioneiros da cibernética, definiu-a como “arte de assegurar a eficiência da acção” [LC 07]. Para o filósofo Warren McCulloch [PCW 07] a cibernética era uma epistemologia experimental centrada na comunicação no interior de um observador ou entre um observador e o seu ambiente.

Beer (1926-2002), teórico da gestão, definiu a cibernética como a ciência da organização [PCW 07]. O antropologista Gregory Bateson[PCW 07] fez notar que, enquanto as ciências anteriores lidavam com matéria e energia, a nova ciência cibernética concentrava-se na forma e nos padrões. Para Margaret Mead a cibernética era “uma forma de ver as coisas e uma linguagem para exprimir o que se vê”[WCS 07].

As relações entre a cibernética actual e o estudo da comunicação ultrapassam largamente aquelas imediatamente consequentes ao facto do controlo, em qualquer sistema, implicar intrinsecamente a codificação, transmissão, recepção e feedback de informação (Fig. 6 ).

As aplicações da Cibernética à análise e regulação dos fenómenos sociais leva a que essa disciplina seja empregue no estudo e no controlo da comunicação de massas, da comunicação no interior de grupos, das organizações e das empresas, nas actividades da propaganda, de publicidade e de marketing.

Como ilustração veja-se a publicação de Wiener The Human Use of Human Beings: Cybernetics and Society onde se prevê o fim do trabalho humano substituído por máquinas inteligentes e alerta os responsáveis políticos para as consequências duma utilização da cibernética não acompanhada por uma evolução “pós-industrial” das estruturas da sociedade [NW 50].

Um texto de interesse actual sobre a degenerescência da cibernética social no campo da comunicação é o artigo do brasileiro Delfim Soares de que se transcreve o resumo:

“Análise da fragilidade democrática das redes de comunicação. As revoluções da comunicação situam-se no aparato tecnológico e não na estrutura social. As redes cibernéticas aumentam a ilusão de participação democrática, mas o aperfeiçoamento tecnológico aprofunda o totalitarismo do sistema, instaurando o globalitarismo. A diversidade dos meios disfarça os fins da homogeneização universal, do mesmo modo que aparências democráticas fortalecem o globalitarismo sistémico”. Revolução cibernética na comunicação e ilusão democrática [DS 07].