• Nenhum resultado encontrado

Origens e percurso do Design Gráfi co

Processo de resolução de problemas

6 Acompanhamento da produção

13.3 Origens e percurso do Design Gráfi co

Viu-se atrás, que, a estruturação dos documentos, a composição das páginas, a inclusão de ilustrações e de outros elementos gráfi cos, têm uma história milenar, que acompanha a história da própria escrita, ela própria nascida de formas anteriores de expressão gráfi ca.

Durante a Idade Média produziram-se inovações particularmente importantes: o “livro conteúdo”, antes materializado, por exemplo, como rolo, tomou a forma de “objecto livro”, reconhecível nos moldes que toma hoje; a evolução da escrita levou esta à estrutura de maiúsculas e minúsculas; à introdução dos sinais diacríticos; a formas da letra muito próximas daquelas hoje utilizadas; os códices eram frequentemente iluminados, as iluminuras eram desenhados, depois do copista escrever o texto, nos espaços por ele determinados, a estrutura das páginas resultantes, em muitos casos comunicacionalmente efi caz, não aparecendo, para quem as vê hoje, absurda ou chocante. O papel, de origem chinesa foi trazido para a Europa pelos árabes através da rota das sedas; inventaram-se as tintas à base de óleo; foram-se aperfeiçoando as prensas verticais de parafuso, que tinham entre outras utilizações, o do fabrico do vinho e do azeite; no âmbito da joalharia, aperfeiçoaram-se técnicas de gravação e de fundição de pequenas peças metálicas. Desenvolveu-se uma indústria de impressão tabular, que produzia sobretudo imagens religiosas e cartas de jogar. O número de letrados aumentou e transvazou dos limites do mundo eclesiástico e jurídico; fundaram-se na Europa universidades em grande número; o livro começou a tornar-se uma mercadoria, que inclusivamente se vendia nas feiras; Os mosteiros perderam o monopólio do seu fabrico. O comércio e as comunicações tornaram-se mais abertos. A riqueza aumentou.

A tipografi a por caracteres móveis, de invenção atribuída a Gutenberg47, surgiu com condições

para fi car, para se desenvolver e não parar de evoluir. O mesmo não tinha acontecido na China, onde, séculos antes, fora inventada uma primeira vez, a complexidade do sistema de escrita chinês, com cerca de 50.000 caracteres, não o permitiu.

Gutenberg (1400-1468) e outros dos primeiros tipógrafos alemães a ele associados como Johann Fust e Peter Schoeffer pouco cuidaram de da forma da letra limitando-se a gravar e fundir tipo que imitava a letra gótica manuscrita, corrente na época. Maior cuidado teve Gutenberg com a composição e com o arranjo das páginas, como está provado, por exemplo, pela beleza da Bíblia de 42 linhas (cerca de 1455). Ainda em vida de Gutenberg, em 1461, passados poucos anos da invenção da tipografi a, datada cerca de 1440, Albrecht Pfi ster (1420–1470), de Bamberg, na Baviera, imprimiu livros ilustrados com gravuras em madeira.

Associa-se a génese do design gráfi co, sem que, obviamente, se lhe desse, então, esse nome, a esse momento da história, em que a replicação dos documentos começou a ser mecanizada, industrial48.

Manifesta-se claramente, logo depois, no período marcado pela actividade de criadores como o editor e impressor veneziano Aldo Manuci (1450-1515) e daquele que hoje se chamaria seu director de arte Fancesco Griffo (1450-1519) e do francês Claude Garamond (1480-1561), criador de tipos, moldador de punções tipográfi cos, fundidor, impressor. Estes homens, de grande craveira intelectual, se não inventaram a tipografi a como processo técnico, contribuíram defi nitivamente para que ela se tornasse no sinónimo do design da letra, ou design tipográfi co, por terem renovado completamente a forma da letra, criando, ou promovendo a sua elaboração, tipo, que ainda hoje se utiliza correntemente, nas suas versões digitais, mas também, porque contribuíram fundamentalmente para o enorme acervo, acumulado no decorrer dos séculos, onde se inclui o desenho das letras e as regras de arrumação de texto e outros elementos nas páginas, essenciais à clareza da comunicação. Esta massa de conhecimentos, de leis, de formas, de técnicas, etc. constitui o fundamento daquilo que hoje se entende por design gráfi co49.

Esta foi foi também época de fi guras como Albrecht Dürer (1471–1528), Luca Pacioli (1445- ca.1517), Leonardo da Vinci (1452-1519) e Geoffroy Tory (1480-1533), que se interessaram pela geometria da letra e pelas proporções dos seus elementos estruturais. A obra de Pacioli De divina proportione inspirou regras geométricas e traçados de paginação que continuam válidos. Novas técnicas de gravura e de impressão se vieram juntar à tipografi a e à xilogravura ou gravura em madeira, sua antecessora e companheira de estrada. Não competindo com a tipografi a no domínio textual, as várias formas de gravura em metal, essencialmente em cobre, permitiram a impressão de imagens com detalhes mais ricos do que a xilogravura.

Senefeld (1771-1834) inventou a litografi a em 1796, processo de impressão que permitia a grande e rápida tiragem de, por exemplo, cartazes. A impressão tipográfi ca benefi cia do progresso mecânico trazido pela revolução Industrial, é motorizada pelo vapor, aparecem as primeiras prensas rotativas. Novo impacto tecnológico vem com o aparecimento da fotografi a em1839 (Fig. 97 a 99).

A Revolução Industrial e o séc. XIX trouxeram à indústria gráfi ca um sem-número de aperfeiçoamentos, inovações e inventos na mecânica das prensas, nas formas de gravação e composição, nos acabamentos, no fabrico dos papéis e das tintas. Tudo isto transformou a impressão artesanal em indústrias mecanizadas, permitindo assim a produção rápida e em quantidade. Destacaremos as prensas rotativas (patente deWilliam Nicholson em 1803, sistema

operacional de Frederick Koening, em 1812, ambos em Inglaterra) a composição mecânica (Monotype de Tolberi Lanston, em 1894, e Linotype de Ottmar Mergenthaler, de 1886, ambos nos EUA); sistemas fotográfi cos de gravação (J.W. Osboum, 1859); a fabricação mecânica do papel (Nicholas Louis Robert, em França, em 1798, e Sealy Fourdronier em Inglaterra); a utilização de óleos minerais no fabrico de tintas; e a introdução de máquinas de cortar, dobrar (Black, 1851), coser, e outros (Fig. 100 a 103).

No séc. XX acentuam-se os processos de racionalização e do desenvolvimento das tecnologias. Apareceram o offset (George Mann, a rotativa offset em 1903, EUA, impressão em folha-de-fl andres, Ira Rubel, aplicação à impressão em papel, 1905, EUA) e a rotogravura, sendo esta o desenvolvimento de um processo utilizado desde 1785 na impressão de papel de parede. Desenvolveram-se notavelmente os processos fotomecânicos (Fig. 104, 105). A partir da segunda metade do século os sistemas de fotocomposição destronaram a linotipia. Em 1972 aparecem as primeiras máquinas de composição sustentadas em sistemas informáticos. Em 1985 foi divulgada a linguagem de descrição de páginas Post-Script da Adobe Systems, popularizou-se composição tipográfi ca e a paginação utilizando computadores pessoais.

A informática e a robótica penetram na indústria gráfi ca, desenvolvendo-se a automatização de muitas tarefas.

Fig. 97 - Retrato de Margaretha Van Eyck. Várias circunstâncias concorreram para viabilizar a emergência da

tipografi a por caracteres móveis. Uma dessas circunstâncias foi a invenção da tinta de óleo por Van Eyck, poucos anos antes da invenção da tipografi a. Ao contrário da tinta de água, a tinta de óleo “agarra” ao metal [MVE].

Fig. 98 - Concorreram também para viabilizar a tipografi a, a utilização das prensas de parafuso, imagem tirada de

uma iluminura do Comentário ao Apocalipse do Mosteiro do Lorvão [Pan I] e as técnicas de gravura em metal na ourivesaria e no adorno de armas, ainda hoje praticado como se vê na imagem, a qual mostra um gravador na fábrica

4 5 1

3

Fig. 102 - Inventado na China, o papel foi trazido para o ocidente pelos árabes, seguindo a rota da seda[PAP];

reconstituição de ofi cina chinesa de fabrico de papel[PAP1]; Antigo moínho de papel em Leiria, actualmente em recuperação segundo projecto de Siza Vieira [PAP2]; maceração de pasta de papel, rconstituição no museu do papel em Fabriano, Itália[PAP3].

Fig. 103 - Prensa de papel hidráulica, medieval, conservada no museu de Fabriano[PAP4]; labor num moínho de

Fig. 104 - Fábrica de Papel do Prado, Lousã, fotografi a dos fi ns do séc. XIX [PAP7]; fábrica de papel Nordland,

Fig. 105 - pintura a óleo de Robert Thom, Ira Rubel e a sua prensa de offset [OFF1]; processo de impressão offset,

01 - rolo da chapa, 02 - rolos de molha, 03 - rolos de tintagem, 04 - rolo do cauchu, 05 - rolo pressor, 06 - papel virgem, 07 - papel impresso [OFF2].