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4 EM BUSCA DE UMA ESTRATÉGIA EDUCACIONAL PARA MOTIVAR

4.2 UMA INTERPRETAÇÃO DO CICLO PBL BASEADA NO

5.1.4 Mapas conceituais e ontologias

Quanto aos mapas conceituais e ontologias, percebemos que são importantes recursos para a representação do conhecimento apreendido. Eles permitem que os estudantes expressem tanto a visão específica dos temas como uma visão sistêmica. Isso contribui para uma formação que desenvolve o potencial de integração e flexibilidade da mente humana, fundamentais para atuação na sociedade atual. Também são importantes recursos para promover a integração entre disciplinas técnicas e humanísticas, já que tanto os mapas conceituais como as ontologias podem auxiliar os estudantes na compreensão de outros conhecimentos, como por exemplo, na modelagem de dados, que consiste numa atividade realizada freqüentemente em disciplinas que tratam da produção de software. Conforme nos explica Ontoria (2005), existem outras formas de representação semelhantes aos mapas conceituais, que se aproximam dos modelos conceituais desenvolvidos pelos estudantes de ECOMP desde o primeiro semestre do curso:

• Diagrama de fluxo: representa a sucessão temporal de acontecimentos, não a ordem de inclusão;

• Organogramas: São representações de uma hierarquia, não de significados, mas de unidades ou funções administrativas;

• Redes conceituais: expressam hierarquias de significados, de tal maneira que os conceitos mais gerais explicitam-se em uma série de conceitos mais concretos que descrevem o significado dos primeiros;

• Redes semânticas: são também chamadas redes semânticas porque pretendem fundamentalmente estabelecer relações de significado entre os conceitos (nós) que representam.

• Resumos: constituem o marco conceitual de uma disciplina ou área escolar, que recolhe os elementos essenciais do conteúdo e os contextualiza conceitualmente.

• Esquemas: Novak os distingue dos mapas com base nas três características que explicamos anteriormente: a seleção é muito mais intensa nos mapas, sua linguagem mais enxuta, a hierarquização mais estrita do que nos esquemas e também é maior o seu impacto visual.

Percebemos que nas turmas de EXA 829 - TFH, por se tratar de um MI obrigatório oferecido para estudantes do primeiro e segundo semestres, observamos um melhor resultado com o uso de mapas conceituais. A elaboração de ontologias aproximou-se do objetivo visado nas turmas de EXA 829 – EC. Acreditamos que isso se relaciona ao fato de se tratar de um componente optativo que normalmente conta com a participação de estudantes de semestres mais avançados, e que, normalmente, já cursaram ou cursam EI que abordam temas que dialogam com a técnica de elaboração das ontologias. Portanto, sugerimos que ontologias sejam utilizadas em turmas que já tenham visto assuntos específicos do curso, como linguagem de programação e modelagem de dados, para que possam ser mais bem exploradas.

Por exemplo, nas turmas da disciplina EXA 890 – EC solicitamos inicialmente para os estudantes a elaboração de diagramas de classes a partir da atividade da chuva de conceitos relacionada aos primeiros tópicos estudados. Esse diagrama é explorado no EI EXA 804 – EI4 – Programação, composto pelos módulos EXA805 – Algoritmos e Programação II, EXA806 – Estruturas de Dados e EXA807 – Estruturas Discretas, que a maior parte deles estava cursando no semestre. A partir dessa associação de conhecimentos trabalhados em disciplinas diferentes, começamos a preparar o estudante para a atividade com as ontologias, e a fazer com que refletissem que os saberes são integrados. Em seguida, sorteamos para cada estudante, um capítulo do livro de MASIERO (2004), e recomendamos que elaborassem a ontologia referente ao capítulo.

A atividade de elaboração de mapas conceituais e ontologias, realizada com freqüência, pode nos conduzir à confecção de uma ontologia do domínio “disciplina”, que será muito relevante quando desejarmos recuperar alguma informação para nos auxiliar no planejamento das atividades de semestres subseqüentes. Também poderá servir para a confecção de páginas da Internet sobre os temas e para compartilharmos informações com outros cursos, já que os documentos produzidos (i.e. XML) são semi-estruturados e podem ser processados automaticamente pelo computador. Se essa estratégia for adotada por outros professores, com o passar do tempo, poderemos utilizar as ontologias do domínio “disciplina” para verificação de conceitos interdisciplinares, de forma automática. Isso também poderá nos auxiliar na elaboração dos problemas que são trabalhados nos EI, previstos na dinâmica do método PBL.

Observa-se, a partir da Figura 5.5, que na turma EXA 829 - TFH 02, dos 28 estudantes que responderam ao questionário, 14 acharam os mapas conceituais Excelentes; 9 acharam Ótimos; 4 acharam Bons; 1 achou Regular e nenhum achou Ruim.

Figura 5.5 – Avaliação de elaboração de mapas conceituais na disciplina EXA 829 – TFH 02.

Conforme expressado pelos estudantes, os mapas conceituais ajudam-lhes a entender como funciona o raciocínio e quão atentos estão às explicações; facilita-lhes bastante o tratamento de conceitos e conseqüentemente melhora a aprendizagem; ajuda-lhes a fixar os temas, pois é similar ao processo mental; representam uma ótima forma de representar e socializar o conhecimento e desenvolve o raciocínio. Contudo, 1 estudante também comentou que não se adaptou muito aos mapas conceituais e sentiram pouco entusiasmados com a elaboração dos modelos.

No final do curso de EXA 890 – EC 02, pedimos que os estudantes respondessem às seguintes questões: já havia ouvido falar em ontologia? O que achou do tema? Tem relação com algum outro assunto visto no curso? O que achou da atividade? Como foi o processo de elaboração? O que achou do Protégé? Já havia ouvido falar em Web Semântica?

De 22 estudantes matriculados, dois nunca freqüentaram e houve a desistência de um deles. Dos 19 estudantes que freqüentaram o curso, 15 fizeram o trabalho e 13 responderam ao questionário. Quanto à experiência com as ontologias, comentaram que haviam ouvido falar sobre elas ao longo do MI EXA 829- TFH, mas nunca haviam elaborado; comentaram que o tema é interessante, mas que sentiram dificuldade logo no início da atividade; relacionaram as ontologias com os conceitos básicos de Programação Orientada a Objetos (i.e. Classes, Atributos, Relacionamentos, Indivíduos etc.) e com a Linguagem de Modelagem Unificada (UML) que estavam sendo vistos no EXA804 – EI4 – Programação; foi quase unânime a dificuldade inicial com o software Protégé, que, segundo eles, não é intuitivo; e também comentaram que ouviram falar de Web Semântica em uma palestra ministrada em EXA829 – TFH.

Outra pergunta relacionada às ontologias foi se as atividades solicitadas despertaram o interesse em continuar pesquisando o tema, 11 estudantes disseram que sim, e 6 responderam que não.

Observamos que a forma como as ontologias foram trabalhadas no curso de ética também provocou resultados diferentes daqueles que havíamos esperado. Alguns estudantes expressaram dificuldade em trabalhar com o software Protégé e com a elaboração de ontologias. Isso pode acarretar um efeito contrário ao esperado. Isso pode ser observado a partir de uma carta que foi anexada em uma das verificações de aprendizagem do componente, por um dos estudantes da turma, que comenta que o curso estava interessante até o momento que as ontologias começaram a ser solicitadas:

Quando começou o período de pré-matrícula para este semestre eu não pretendia de forma nenhuma pegar a disciplina. Porém, quando vi o horário era a única que se encaixava no meu tempo livre e eu estava precisando cursar ainda uma disciplina de formação humanística. Então, decidi cursá-la. Quando começaram as aulas, eu simplesmente me apaixonei pela disciplina: o conteúdo, o estudo da origem da ética, a forma como o conteúdo estava sendo passado, eu estava adorando isso tudo. Sei que não sou muito participativa nas aulas, mas pode ter certeza que eu tinha um grande contentamento e uma certeza de ter feito uma excelente escolha. Só que, aproximadamente no meio do

semestre, a metodologia tomou outro rumo e eu, sinceramente, não simpatizei com ela. Isso me causou desânimo, o que acarretou uma queda em minha freqüência em sala (... ) na verdade, tenho verdadeira antipatia pelas ontologias, talvez seja até um pré-conceito, já que não fiz as mesmas e não pude perceber a importância que elas podem ter (Estudante 1).

Percebemos, ainda, que a quantidade de ontologias solicitadas também influencia no processo, quando são solicitadas freqüentemente podem tornar o processo de aprendizagem cansativo e monótono para o estudante. Elas devem representar um meio, nunca a finalidade principal de componentes curriculares de formação humanística, porque aqueles estudantes que procuram nesses espaços de reflexão um momento para a ludicidade, para a relação com o outro e a própria relação consigo mesmo, que buscam nos encontros um amparo, um alívio de tensões e temores que, segundo afirmam, são provocados pelos desafios enfrentados nas disciplinas de formação técnica, essa estratégia poderá afastá-los do curso e desmotivá-los ainda mais. Entendemos, ainda, que o professor deverá ter um especial cuidado com a confecção das primeiras ontologias, orientando os estudantes tanto no processo de elaboração quanto no uso das ferramentas necessárias.