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3 RESISTÊNCIA DOS ESTUDANTES DE ENGENHARIA ÀS

3.3 FORMAÇÃO DO PENSAMENTO OCIDENTAL

3.3.4 Movimentos revolucionários que influenciaram a formação do pensamento

Conforme Burke (2003), os principais movimentos que influenciaram decisivamente a formação do pensamento ocidental foram o Renascimento, a Revolução Científica, o Iluminismo e a Revolução industrial.

• Renascimento: o movimento humanista associado ao Renascimento foi, pelo menos nas intenções, um movimento menos de inovação do que de ressurgimento, o ressurgimento da tradição clássica. Mas esse movimento foi inovador, e consciente disso, no sentido de se opor a muito do saber convencional dos “escolásticos”, em outras palavras, dos filósofos e teólogos que dominavam as universidades da “Idade Média”. Os próprios termos “escolásticos” e “Idade Média” foram invenções dos humanistas dessa época, a fim de definir a si mesmos mais claramente por contraste com o passado. Os humanistas desenvolviam suas idéias na discussão, mas seus debates tinham lugar fora do ambiente das universidades, onde grupos estabelecidos há mais tempo tendiam a ser hostis às novas idéias, em uma nova espécie de instituição que criaram para si mesmos, a “academia”. As idéias dos humanistas se infiltraram gradualmente nas universidades, especialmente no sentido de influenciar mais que os regulamentos oficiais, os currículos não oficiais. Quando isso acontece, contudo, a fase mais crítica do movimento humanista chegava ao fim. O desafio ao saber constituído vinha agora da “nova filosofia”, em outras palavras, do que hoje chamamos “ciência” (Burke, 2003, p. 40-42).

• Revolução científica: A chamada “nova filosofia”, “filosofia natural” ou “filosofia mecânica” do século XVII foi um processo ainda mais autoconsciente de inovação intelectual do que o Renascimento, pois envolvia a rejeição tanto da tradição clássica quanto da medieval, inclusive de uma visão de mundo baseada nas idéias de Aristóteles e Ptolomeu. As novas idéias estavam associadas a um movimento em geral conhecido como Revolução Científica. Assim como os humanistas, mas em escala mais grandiosa, os adeptos do novo movimento tentaram incorporar conhecimentos alternativos ao saber estabelecido. A química,

por exemplo, devia muito à tradição artesanal da metalurgia. A botânica se desenvolveu a partir do conhecimento dos jardineiros e curandeiros populares. Embora alguns líderes do movimento trabalhassem em universidades, havia considerável oposição à nova filosofia em círculos acadêmicos. Em reação à oposição, os que apoiavam a nova abordagem fundaram suas próprias organizações, que de muitas maneiras lembravam as academias humanistas, ainda que com mais ênfase no estudo da natureza. Durante o século XVIII, os princípios da ciência experimental desenvolveram-se por meio de múltiplas aplicações. As descobertas são muitas, sobretudo no campo dos conhecimentos de natureza física. Pois no domínio do que hoje denominamos de ciências humanas, o procedimento especulativo dos filósofos predomina. O que não impede que façam grandes reflexões sobre a condição do homem social e gozem de uma considerável influência na sociedade, particularmente junto às classes dominantes. Não chamamos, aliás, em vão o século XVIII de o “Século das Luzes”, nome da corrente de pensamentos elaborada e difundida pelos filósofos.

• Iluminismo: O século XVII marca um ponto de inflexão na história do conhecimento europeu em diversos aspectos. Em primeiro lugar, o monopólio virtual da educação superior desfrutado pelas universidades foi posto à prova nesse momento. Embora em 1700 já existissem algumas instituições alternativas de educação superior, no século XVIII essas iniciativas se multiplicaram, foram fundadas academias de artes em várias regiões da Europa e academias para dissidentes da Igreja da Inglaterra, excluídos de Oxford e de Cambridge. Essas academias dissidentes ensinavam um currículo menos tradicional que as universidades, tendo sido projetadas mais para homens de negócios do que para nobres, e dedicando atenção especial à filosofia moderna, à filosofia natural e à história moderna. Em segundo lugar, conforme Burke (2003), assistimos ao surgimento do instituto de pesquisa, do pesquisador profissional e, de fato, da própria idéia de “pesquisa”. A palavra “pesquisa” em diversas línguas deriva da origem comum “busca”. Junto com a palavra “pesquisa” outros termos vieram a ter uso regular, notadamente “investigação”, que se ampliou para além do contexto legal original, e “experimento”, que se restringiu a partir de seu sentido original de teste em geral para o de teste das leis da natureza em particular. Esse conjunto de termos sugere uma consciência crescente, em certos círculos, de necessidade de buscas para que o conhecimento fosse sistemático, profissional, útil e cooperativo. Em terceiro lugar, os letrados, especialmente na França, estavam mais profundamente envolvidos que nunca com projetos de reforma econômica, social e política, em outras palavras, com o Iluminismo, que é um conceito que sintetiza diversas tradições, correntes intelectuais e atitudes religiosas, que

dá ênfase à idéia de progresso e perfectibilidade humana, assim como a defesa do conhecimento racional como meio para a superação de preconceitos e ideologias tradicionais. É uma atitude geral de pensamento e de ação. Os iluministas admitiam que os seres humanos estão em condição de tornar este mundo um mundo melhor - mediante introspecção, livre exercício das capacidades humanas e do engajamento político-social.

• Revolução industrial: No século XIX a ciência triunfa. No domínio das ciências da natureza, o ritmo e o número das descobertas abundam. Mas, saem dos laboratórios para ter aplicações práticas: ciência e tecnologia encontram-se. A pesquisa fundamental, cujo objetivo é conhecer pelo próprio conhecimento, é acompanhada pela pesquisa aplicada, a qual visa a resolver problemas concretos. Tais descobertas e suas aplicações práticas modificam profundamente a fisionomia do século. Todos, ou quase todos, os domínios da atividade humana são atingidos. O ser humano do século XIX percebe, com clareza, essas mudanças e os melhoramentos que trazem para a sua vida. É, aliás, provavelmente o primeiro na história a morrer em um mundo profundamente diferente daquele que o viu nascer. A época lhe parece repleta de maravilhas, e isso graças à ciência que lhe surge como fonte inesgotável de progresso.

Segundo os historiadores, houve pelo menos duas revoluções industriais: a primeira começou antes dos últimos trinta anos do século XVIII, caracterizada por novas tecnologias como a máquina a vapor, a fiadeira, o processo Cort em metarlugia e, de forma mais geral, a substituição das ferramentas manuais pelas máquinas; a segunda, aproximadamente cem anos depois, destacou-se pelo desenvolvimento da eletricidade, do motor de combustão interna, de produtos químicos com base científica, da fundição eficiente de aço e pelo início das tecnologias de comunicação, com difusão do telégrafo e a invenção do telefone. Embora as fábricas sejam associadas à primeira Revolução Industrial, por quase um século elas não foram concomitantes com o uso da máquina a vapor, bastante utilizada em pequenas oficinas artesanais, enquanto muitas fábricas grandes continuavam a usar fontes melhoradas de energia hidráulica. Foi o motor elétrico que tanto tornou possível quanto induziu a organização do trabalho em larga escala nas fábricas industriais (CASTELLS, 2003)

Entre a primeira revolução industrial e a segunda há continuidades fundamentais, assim como algumas diferenças cruciais. A principal é a importância decisiva de conhecimentos científicos para sustentar e guiar o desenvolvimento tecnológico.

• Revolução das TICs – Conforme comentamos no Capítulo 1, tal revolução se inicia por volta do ano de 1946 e contribui decisivamente para o fortalecimento do conhecimento técnico-científico, ao promover o desenvolvimento de tecnologias de informação e comunicação.