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EXEMPLOS Camada base

3.2 MAPEANDO DADOS RELEVANTES: A DEFINIÇÃO DE UM UNIVERSO DE ANÁLISE

Conforme Charmaz (2006, p. 2), os princípios da teoria baseada nos dados favorecem e demandam a exploração analítica dos dados já na fase inicial da pesquisa. Assim, desde o princípio, o pesquisador deve levar em conta o máximo de informações contextuais e teóricas sobre o objeto de estudo, entendendo a pesquisa como um processo cíclico, que envolve a coleta dos dados, a condução da análise a partir dos dados de teorias prévias, a reformulação dessas teorias com base numa testagem cada vez mais centrada nos dados até que padrões de recorrência sejam encontrados (DAVIS, 1995). É nesse sentido que, nesta seção, apresentamos informações gerais sobre nosso contexto de estudo, a partir da constatação de que as áreas de Química e de Engenharia apresentam uma produtividade relevante de RAGs (conforme discorremos na Introdução deste estudo e, de modo especial no contexto brasileiro, pelos motivos que brevemente explanamos na subseção 2.2.2).

Definir a cena social subjacente a esta pesquisa demanda que façamos algumas observações quanto à organização das áreas do conhecimento e quanto aos critérios de

avaliação da publicação científica no Brasil, pois é sobre esses dados que alguns pontos fundamentais para o nosso estudo se sustentam.

Em nosso país, a CAPES, fundação atrelada ao Ministério da Educação, é o órgão responsável pela classificação das áreas do conhecimento, pela avaliação da pós-graduação stricto sensu (Mestrado e Doutorado) e pela classificação dos periódicos científicos por meio do sistema de avaliação Qualis, que relaciona e estratifica a produção científica quanto ao âmbito de circulação (local, nacional ou internacional) e à qualidade (A1, A2, B1, B2, B3, B4 e C) (CAPES, 2014a).

De acordo com a CAPES (2014b), 48 subáreas do conhecimento estão cadastradas em seu sistema e se apresentam organizadas, por critérios de afinidade, em três níveis: i) Grandes áreas; ii) Áreas; e iii) Subáreas (Figura 8).

Figura 8 – Classificação das áreas do conhecimento segundo a CAPES e filiações da Química e das Engenharias

Fonte: Elaborado pela autora.

Desse modo, podemos indicar que, no Brasil, Química integra a Área de Ciências Exatas e da Terra e Engenharias é uma Área da CAPES que apresenta quatro subáreas: Engenharias I envolve a Engenharia Civil e áreas afins; Engenharias II, a Engenharia Química e áreas afins; Engenharias III engloba a Engenharia Mecânica e áreas afins; e Engenharias IV, a Engenharia

Elétrica e áreas afins.17 Por isso, essa área é denominada, e assim adotaremos neste estudo, Engenharias, no plural18.

A produção intelectual dos pesquisadores vinculados a cada uma dessas Grandes Áreas é um fator preponderante para a avaliação dos programas de pós-graduação aos quais eles pertencem e, consequentemente, para a distribuição de fomentos e incentivos entre esses programas (CAPES, 2014a). Cabe aos representantes de cada área do conhecimento junto à CAPES deliberar sobre os critérios específicos para a definição do Qualis. A Coordenação de Área da Química, por exemplo, define o teto mínimo e máximo de cada estrato do Qualis com base no Fator de Impacto dos periódicos científicos, calculado pelo Institute for Scientific Information (ISI) e publicado no Journal Citation Reports (JCR)19 (CAPES, 2016a). Além disso, segundo os Critérios de Classificação do Qualis da área de Química (CAPES, 2016a), são considerados periódicos avaliáveis aqueles que apresentam Fator de Impacto superior a zero, periodicidade trimestral, têm corpo editorial qualificado, constam em pelo menos uma das bases de dados de divulgação da produção científica reconhecidas pela área (Scielo, SCimago e JCR)20, são avaliados por pares, apresentam ISSN (International Standard Serial Number) e têm uma página eletrônica de fácil acesso e atualizada.

Na Área de Engenharias, cada uma das quatro Subáreas estabelecidas pela classificação da CAPES (Figura 8), possui critérios específicos para a definição do Qualis. A Área de Engenharias II, por exemplo, define como periódico classificável no estrato A1, aqueles

17 Segundo os Documentos de Área de cada uma das quatro Engenharias (CAPES, 2016b; 2016d; 2016e; 2016f),

cada uma delas comporta as seguintes Especialidades: i) Engenharias I: Engenharia Civil, Engenharia de Construção Civil, Engenharia de Estruturas, Engenharia Geotécnica, Engenharia de Recursos Hídricos, Engenharia Sanitária e Ambiental, Engenharia de Transportes e Engenharia Urbana; ii) Engenharias II: Engenharia Química, Engenharia Nuclear, Engenharia de Materiais, Engenharia Metalúrgica e Engenharia de Minas; iii) Engenharias III: Engenharia Mecânica, Engenharia de Produção, Engenharia Aeroespacial e Engenharia Naval e Oceânica; e iv) Engenharia IV: Engenharia Elétrica (Engenharia Eletrônica e Automação, Engenharia da Informação, Engenharia de Automação e Sistemas, Engenharia de Computação, Engenharia de Eletricidade, Engenharia de Teleinformática, Engenharia Elétrica, Engenharia Elétrica e de Computação, Engenharia Eletrônica, Engenharia Eletrônica e Computação, Gestão de Redes de Telecomunicações, Microeletrônica, Telecomunicações) e Engenharia Biomédica (Bioengenharia, Engenharia Biomédica).

18 Essa decisão almeja meramente evitar confusões quanto à categorização definida pela CAPES, pois temos

consciência de que essa classificação não coincide com classificações internacionais, as quais, inclusive, diferenciam subáreas da Química.

19 Fator de Impacto é um recurso usado para comparar diferentes periódicos científicos de uma dada área e reflete

o número médio de citações de artigos científicos publicados em determinado periódico durante os dois anos anteriores àquele em que é feito o cálculo do Fator de Impacto. Eugene Garfield é o criador do Fator de Impacto e também do Institute for Scientific Information (ISI), hoje parte da Thomson Reuters. Desde 1972, o Fator de Impacto é calculados anualmente para os periódicos indexados ao ISI e depois publicados no Journal Citation

Reports (JCR), também da Thomson Reuters (GARFIELD, 1998; PINTO; ANDRADE, 1999).

20 Bases de dados ou indexadores online são plataformas que reúnem um conjunto de títulos de periódicos

científicos e oferecem gratuitamente, a partir da inserção de uma palavra-chave, informações gerais (p. ex., título, autores, informações sobre o periódico, resumo acadêmico, resumo acadêmico gráfico) de artigos acadêmicos originais publicados em tais periódicos sem que seja necessário ao leitor procurar minuciosamente todos os periódicos de uma determinada área.

específicos da área de Engenharias II e de áreas afins. Da mesma forma que ocorre na área de Química, o teto mínimo e máximo de cada estrato do Qualis dos periódicos científicos da área de Engenharias II é calculado com base no Fator de Impacto (CAPES, 2016b).

As informações que acabamos de relatar nos auxiliaram a delimitar o espaço de coleta dos corpora (textual e contextual) segundo a classificação da CAPES (2014a). Com base nessas informações gerais, passamos à descrição dos critérios utilizados para a definição desses universos de análise.

3.2.1 Universo de análise textual

No processo de definição de nosso universo de análise textual, decidimos focar nossa investigação em periódicos científicos das subáreas de Química e de Engenharias classificados com Qualis A1 no sistema da CAPES, seguindo o pressuposto de que, por expressarem o melhor da produção intelectual em cada área, esses periódicos seriam de grande relevância e abrangência, principalmente no cenário de pesquisa brasileiro nessas áreas. Assim, por meio de uma consulta à Plataforma Sucupira21 (CAPES, 2016c), que permite o acesso ao Qualis dos periódicos científicos conforme a área do conhecimento a que pertencem, encontramos 88 títulos de periódicos científicos Qualis A1 para a Química e 372 títulos de periódicos científicos Qualis A1, no somatório das quatro entradas para Engenharias (I, II, III e IV).

Diante do grande número de periódicos científicos Qualis A1 encontrados, efetivamos mais uma delimitação em nosso universo de análise textual, limitando-o aos periódicos científicos Qualis A1 que exigem o RAG como um critério obrigatório para publicação de artigos acadêmicos, pois, dessa forma, poderíamos trabalhar com periódicos que apresentam regularidade e sistematicidade na prática de RAGs. Para tanto, a partir das Instruções para autores de cada um dos 460 periódicos22, verificamos quais deles indicavam a submissão obrigatória de um RAG e, assim, chegamos a 37 títulos de periódicos científicos de Química e 42 títulos de periódicos científicos de Engenharias (um de Engenharias I, 32 de Engenharias II e nove de Engenharias III). O resultado dessa investigação quantitativa pode ser consultado de forma resumida na Tabela 1.

21 A Plataforma Sucupira, cujo nome homenageia o professor Newton Sucupira, autor do Parecer nº 977 de 1965,

que conceituou, formatou e institucionalizou a pós-graduação brasileira nos moldes atuais, “é uma nova e importante ferramenta para coletar informações, realizar análises e avaliações e ser a base de referência do Sistema Nacional de Pós-Graduação (SNPG)” (CAPES, 2016c). Por meio da plataforma, no menu Consultas é possível acessar o item Qualis, onde podem ser consultados as estratificações de periódicos científicos de todas as áreas catalogadas pela CAPES.

Tabela 1 – Periódicos científicos Qualis A1 de Engenharias e de Química

ENGENHARIAS QUÍMICA

I II III IV

Total de Periódicos Científicos Total de Periódicos Científicos

75 115 154 93

88 37223

Apresentam Resumo Acadêmico Gráfico Apresentam Resumo Acadêmico Gráfico 37 (49,3%) 81 (71,3%) 73 (47,4%) 15 (16,1%) 53 (60,2%) 206 (55,4%)24

Obrigatoriedade de Resumo Acadêmico Gráfico Obrigatoriedade de Resumo Acadêmico Gráfico 1 (1,3%) 32 (28,6%) 9 (5,8%) 0 (0%) 37 (42,0%) 42 (11,3%) Fonte: Elaborado pela autora.

A Tabela 1 mostra similaridade percentual entre as áreas em termos de ocorrência de RAGs (55,4% nas Engenharias e 60,2% na Química). Há, entretanto, uma discrepância entre as áreas quando focamos a obrigatoriedade do RAG (11,3% nas Engenharias e 42% na Química), apontando que a produção de RAGs é notável nas duas áreas, porém mais regular e naturalizada na Química. Além disso, vale destacar que a subárea de Engenharia II, a qual se destaca quanto à obrigatoriedade do RAG em comparação às demais subáreas de Engenharias, é justamente a subárea que apresenta intersecção com a Química, pois integra a Engenharia Química e áreas afins.

De posse dessas informações, constatamos ser impossível diferenciar os periódicos científicos Qualis A1, quanto a sua relevância no estrato, pois todos são classificados como A1, sem nenhuma outra diferenciação. Nesse sentido, buscamos auxílio no Fator de Impacto de cada periódico científico e escalonamos os 37 periódicos científicos da Química e os 42 das Engenharias do maior ao menor Fator de Impacto25. Durante esse escalonamento, entretanto,

23 Alguns periódicos figuram para mais de uma subárea das Engenharias. 24 Nesta tese, todos os valores percentuais serão apresentados arredondados.

25 Para essa tarefa, utilizando o proxy da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), que nos possibilitou o

acesso a conteúdos acadêmicos não liberados para os usuários comuns da Word Wide Web, acessamos a plataforma do Institute for Scientific Information (ISI Web of Knowledge) e, posteriormente, o banco de dados do Journal

Citation Reports (ISI WEB OF KNOWLEDGE, 2016), onde encontramos o Fator de Impacto dos periódicos

observamos que nove periódicos científicos eram concomitantemente classificados como Qualis A1 para a Química e para, pelo menos, uma das Engenharias.

Essa informação nos fez atentar para a inter-relação existente entre as áreas e repensar a estratégia de definição de nosso universo de análise, que passaria a considerar três grupos de periódicos científicos: i) específicos da subárea de Química; ii) específicos da subárea de Engenharias; e iii) comuns tanto à subárea de Química quanto à de Engenharias. Para definir os periódicos científicos pertencentes a cada um desses grupos, investigamos o Qualis dos 42 periódicos científicos das Engenharias e dos 37 da Química em todos os estratos (A1, A2, B1, B2, B3, B4 e C). Assim, pudemos observar quais periódicos apresentavam inter-relação entre as áreas, ainda que com Qualis diferentes de A1 e quais eram exclusivamente pertencentes à Química ou às Engenharias (Quadro 5).

Quadro 5 – Periódicos científicos de Química, Engenharias e Interdisciplinares, do maior ao menor Fator de Impacto e conforme classificação no sistema Qualis.

PERIÓDICOS CIENTÍFICOS